31 de agosto - DOMINGO - Evangelho
- Mt 16,21-27
Celebramos
hoje a festa da Exaltação da Santa Cruz. Esta festa chama a atenção, pois destaca
o grande paradoxo da nossa fé – foi exatamente pela cruz, o mais terrível entre
os suplícios, que veio nossa salvação.
Humanamente
falando, a morte de Jesus na cruz significava o fracasso total da Sua vida e
missão, mas, de fato, escondia a vitória de Deus sobre o mal, da vida sobre a
morte, da graça sobre o pecado – uma vitória que se manifestaria ao terceiro
dia, na Ressurreição.
Estamos diante do mistério que Paulo desvenda: “Deus escolheu o que é loucura no mundo, para
confundir os sábios; e Deus escolheu o que é fraqueza no mundo, para confundir
o que é forte. E aquilo que o mundo despreza, acha vil e diz que não tem valor,
isso Deus escolheu para destruir o que o mundo pensa que é importante” (I Cor 1,27-28).
Deus
enviou-nos o Seu Filho. O “Filho do Homem” significa o humano, o encarnado na
vida, na história. O Filho do Homem desceu do céu e será levantado. É o Verbo
que se fez carne e vimos a Sua glória. Temos aqui a dinâmica característica do
Evangelho de João: Jesus desceu do céu para elevar o humano.
João
prima pela revelação da exaltação da condição humana a partir da Encarnação do
Filho de Deus, Jesus. A elevação do Filho do Homem é a elevação do humano.
Jesus é a serpente levantada no deserto por Moisés para a salvação de toda a
humanidade.
A festa de hoje celebra a cruz, não o sofrimento. Jesus
não nos salvou por ter sofrido três horas na cruz – Ele nos salvou porque a Sua
vida foi totalmente fiel à vontade do Pai. Por causa dessa fidelidade, as Suas
opções concretas O colocaram em conflito com as estruturas de dominação
sócio-político-religiosas, o que causou o Seu assassinato judicial.
A morte de Jesus foi muito mais do que uma tentativa de
eliminar alguém que incomodasse. Era a tentativa de aniquilar o Seu movimento,
a Sua pregação, a visão de Deus e do projeto divino que Ele ensinava. A cruz então se tornava o símbolo de doação
total numa vida de fidelidade absoluta ao projeto do Pai. Era o último passo de
coerência, consequência lógica do seguimento segundo a vontade de Deus.
Assim, Jesus deixa bem claro nas páginas dos Evangelhos
que a cruz é a característica do discípulo: “Se
alguém quer me seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz, e me siga”. (Mc 8,24).
Jesus não nos convida a buscar o sofrimento, mas a
carregar a cruz – consequência de uma religião que é vivencial, que acarreta
ações e atitudes coerentes com o Deus no qual acreditamos, e que traz em seu
bojo as sementes de um conflito com todo poder opressor, pois “os meus projetos não são os projetos de
vocês, e os caminhos de vocês não são os meus caminhos”. (Is 55,8).
Paulo descobriu que pregar Cristo “sem a cruz” era
esvaziar a evangelização. Assim, declara à comunidade de Corinto: “Entre vocês eu não quis saber outra coisa a
não ser Jesus Cristo e Jesus Cristo crucificado”.(I Cor 2,2). A
cruz de Cristo é inseparável da Sua vida, pois é a consequência dela.
No entanto, a cruz também não se separa da Ressurreição,
pois ela é o resultado de tal coerência e fidelidade. A festa de hoje nos
desafia para que respondamos ao convite de Jesus para carregar a nossa cruz
numa vida de discipulado e missionariedade, continuando a Sua missão no mundo,
pois – como diz o nosso texto de hoje, – “Deus
enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo
seja salvo por meio dele”.
Padre Bantu Mendonça
ótima reflexão, me ajudou muito. Paz e bem!
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