23de Setembro - Terça - Evangelho - Lc 8,19-21
“Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem
a mensagem de Deus e a praticam”. Ao declarar que todo aquele que faz a
vontade de Deus é a sua família, Jesus não estava renunciando à sua família
segundo a carne. Como filho mais velho, ele continuou a cuidar do bem estar da
sua mãe. Isto foi comprovado quando, ao dar a sua vida na cruz, ele passou essa
responsabilidade ao discípulo a quem ele amava. Simplesmente Jesus define
claramente que o parentesco de ordem humana, seja a mãe, os irmãos ou irmãs que
ele tinha, não tem qualquer significado no Reino de Deus.
O relacionamento mais próximo do Senhor Jesus
é com o seu Pai, que está nos céus, o próprio Deus Pai. O único “parentesco”
permanente que Ele pode ter é de ordem espiritual – e é com aqueles que fazem a
vontade de Deus. A estes, Ele chama de meus irmãos.
Deixando de lado os laços sanguíneos,
representado pelo parentesco segundo a carne com sua mãe e seus irmãos, o
Senhor Jesus passará agora a ampliar o seu ministério a todos aqueles que o
receberem, sem distinção entre judeus e gentios. Não se dará mais exclusividade
a Israel, devido à sua incredulidade e rejeição.
O relacionamento segundo a carne passa a ser
inteiramente superado por afinidades espirituais. A obediência a Deus é agora o
fator predominante e definitivo para estabelecer tais afinidades, sem outra
distinção qualquer.
O mesmo se aplica a todo aquele que recebe
Cristo como o seu Senhor e Salvador. Ele disse: Se alguém vem a mim e ama o seu
pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos e irmãs, e até sua própria
vida mais do que a mim, não pode ser meu discípulo. Nosso relacionamento
espiritual com Cristo produz um vínculo maior do que nosso parentesco de
sangue.
Um aspecto muito importante que deve ser
esclarecido é sobre os irmãos de Jesus. Há dias uma das assíduas comentadoras
da homilia diária perguntava sobre este aspecto. Os irmãos de Jesus, como fica
claro pelo próprio texto bíblico, eram filhos de Alfeu e sua esposa, e não de
José e Maria. Em diversos lugares o Evangelho fala desses ‘irmãos’. Assim, S. Marcos
e S. Lucas referem que ‘estando Jesus a falar, disse-lhe alguém: eis que estão
lá fora tua mãe e teus irmãos que querem ver-te” (Mt 12, 46-47; Mc 3, 31-32; Lc
8, 19-20; e também em Jo 7, 1-10).
Toda a pessoa que pergunte sobre os irmãos de
Jesus somente revela a sua ignorância da própria Bíblia. Até porque as línguas
hebraica e aramaica não possuem palavras que traduzam o nosso ‘primo’ ou
‘prima’, e serve-se da palavra ‘irmão’ ou ‘irmã’.
Lê-se em Gênesis que ‘Taré era pai de Abraão e
de Harão, e que Harão gerou a Lot (Gn 11, 27) que, por conseguinte, vinha a ser
sobrinho de Abraão. Contudo, no mesmo Gênesis, mais adiante, chama a Lot ‘irmão
de Abraão’: “Disse Abraão a Lot: nós somos irmãos” (Gn 13, 8). Jacó se declara
irmão de Labão, quando, na verdade, era filho de Rebeca, irmã de Labão (Gn 29,
12-15).
No Novo Testamento, fica claríssimo que os
‘irmãos de Jesus’ não eram filhos de Nossa Senhora. Os supostos ‘irmãos de
Jesus’ são indicados por S. Marcos: “Não é este o carpinteiro, filho de Maria e
irmão de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão e não estão aqui conosco suas
irmãs?” Tiago e Judas, conforme afirma S. Lucas, eram filhos de Alfeu e
Cléofas: ‘Chamou Tiago, filho de Alfeu… e Judas, irmão de Tiago” (Lc 6, 15-16).
E ainda: “Chamou Judas, irmão de Tiago” (Lc 6, 16). Quanto a ‘José’, S. Mateus
diz que é irmão de Tiago: “Entre os quais estava… Maria, mãe de Tiago e de José
(Mt 27, 56). Em S. Mateus se lê: “Estavam ali (no Calvário), a observar de
longe…., Maria Mágdala, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de
Zebedeu”. Essa Maria, mãe de Tiago e José, não é a esposa de S. José, mas de
Cléofas, conforme S. João (19, 25). Era também a irmã de Nossa Senhora, como se
lê em S. João (19, 25): “Estavam junto à Cruz de Jesus sua mãe, a irmã de sua
mãe, Maria (esposa) de Cléofas, e Maria Madalena”. Simão, irmão dos três
outros, ‘Tiago, José e Judas’ são verdadeiramente irmãos entre si, filhos do
mesmo pai e da mesma mãe. Alfeu ou Cléofas é o pai deles.
Da mesma forma, se Nossa Senhora tivesse outros
filhos, ela não teria ficado aos cuidados de S. João Evangelista, que não era
da família, mas com seu filho mais velho, segundo ordenava a Lei de Moisés. Eis
um dilema sem saída para os protestantes, pois os ‘irmãos de Jesus’ são filhos
de Maria de Cléofas e Alfeu.
Também decorre uma pergunta: Por que nunca os
Evangelhos chamam os ‘irmãos de Jesus’ de ‘filhos de Maria’ ou de ‘José’, como
fazem em relação à Nosso Senhor? E por que, durante toda a vida da Sagrada
Família, apenas conta-se três membros: Jesus, Maria e José?
Portanto, a própria Sagrada Escritura
demonstra que os supostos ‘irmãos’ de Jesus são seus primos e não seus irmãos
carnais. Sua afirmação de que o trecho de S. Mateus tem duas passagens, uma
referindo-se à filiação carnal e a segunda à filiação espiritual fica sem
sentido, visto que não conferem com o texto bíblico. Até porque o parentesco de
sangue não é sequer mencionado pelos seus irmãos nas cartas que escreveram e
que se encontram no Novo Testamento, indicando que não davam valor a isso. Ao
invés disso, eles se dizem servos de Jesus Cristo.
Pai, que minha condição de membro da grande
família do Reino se expresse no meu modo de proceder. Pela disposição a amar,
quero dar provas de ser teu filho.
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