SEGUNDA FEIRA DA 22ª SEMANA DO TC 01/09/2014
1ª Leitura 1 Coríntios 2, 1-5
Salmo 118(119), 97 a “Ah, quanto amo, Senhor, a vossa Lei”
Evangelho Lucas 4, 16-30
“A PALAVRA ENCARNADA”
Ao visitar
Nazaré, cidade onde havia se criado, Jesus foi participar de uma celebração na
sua comunidade, onde sempre fazia uma leitura e depois ajudava o povo a
refletir, como fazem hoje nossos ministros leigos, que celebram a Palavra.
Podemos
até imaginar a alegria do chefe da sinagoga quando viu Jesus chegar, ele era
muito querido na comunidade, não só por ser uma pessoa simples, mas porque
falava muito bem e demonstrava uma sabedoria superior aos sacerdotes, escribas
e fariseus, sua catequese era bem prática e logo cativava. Por isso, ao vê-lo
entrar na comunidade, o chefe da sinagoga foi logo pedindo para que ele fizesse
uma leitura, porque parece que, como acontece me nossas comunidades, naquele
dia o leitor escalado não apareceu.Jesus escolheu o livro do profeta Isaias que
era o seu preferido, porque já o havia lido várias vezes e tinha a nítida
impressão de que o texto falava dele.
Conforme
Lucas que escreveu este evangelho de maneira ordenada e após muito estudo, por
este tempo Jesus estava iniciando o seu ministério, já havia sido batizado e
enfrentara com muita coragem o diabo, que no deserto tentou desviá-lo da sua
missão.
A verdade
é que Jesus tinha uma grande vontade de sair pelo mundo, ajudando as pessoas e
falando de uma coisa que sentia em seu coração, foi com certeza por isso que
naquele dia voltou à comunidade, e quando já no ambão, começou a ler o profeta
Isaias, na passagem onde diz “O Espírito do senhor está sobre mim, porque ele
me consagrou com a unção para levar a Boa notícia aos pobres, anunciar a
libertação aos cativos e aos cegos e anunciar um ano de graças do Senhor”, seu
coração começou a bater mais forte, percebeu que Deus não apenas falava para
ele, mas falava dele, da sua vida, da sua história e da sua missão. Ele já
havia sentido muito forte a presença desse Espírito de Deus no dia do seu
batismo, e no confronto com o diabo no deserto, sentiu toda a força que o
espírito lhe dava.
Nessa
celebração as coisas ficaram muitas claras para ele: a libertação com que tanto
sonhava junto com seu povo, ia muito além de uma libertação política, a palavra
tinha a força de libertar o homem também e principalmente do mal que havia no
coração, e que impedia de amar a Deus e aos irmãos. A opressão e a escravidão
do seu povo era conseqüência de todo esse mal que havia dentro de cada homem,
não só dos opressores. Precisava dizer isso aos pobres, aos cegos e oprimidos,
que um tempo novo estava começando, com essa verdade que o Pai revelara através
do profeta.
Todos
olhavam fixamente para ele à espera da homilia, o mesmo espírito que o havia
ungido acabara de transformá-lo na palavra Viva de Deus e por isso, sentando-se
como faziam os grandes Mestres, disse: “Hoje se cumpriu essa passagem que
acabastes de ouvir”
Também nós
cristãos freqüentamos a celebração da palavra em nossas comunidades onde as
leituras, mais do que falar para nós falam de nós, pois a história de Jesus é a
nossa história, também nós recebemos a graça de Deus em nosso batismo, também
nós recebemos a unção do Espírito Santo, não para termos ataques de histeria e
entrarmos em transe, mas para termos a mesma coragem de Jesus para cumprir a
nossa missão, anunciar a boa notícia aos pobres, oferecer a palavra libertadora
a quem está cego e cativo, e falar de um tempo novo onde Deus manifesta todo o
seu amor ao homem que o busca.
Para que
haja essa interação entre nós e a palavra, é necessário que nossas celebrações
sejam bem participadas e preparadas, de maneira bem organizada pensando em
todos os detalhes e aí podemos apreender com o escriba Esdras que na primeira
leitura nos oferece um ótimo roteiro para celebração da palavra de Deus, onde a
assembléia, tocada pela palavra, corresponde com gestos que manifestam o que
está no coração, diferente da liturgia do “oba-oba”, muito usada para se atrair
multidões, e que ás vezes, com tantos gestos e movimentos, acaba ficando vazia
justamente por não ser uma manifestação espontânea do que se tem no coração
tocado pela palavra de Deus.
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