QUARTA FEIRA DA 20ª SEMANA
DO TC 20/08/2014
1ª Leitura Ezequiel 34, 1-11
Salmo22 (23) “O Senhor é o Pastor que me conduz, não
me falta coisa alguma”
EvangelhoMateus 20, 1-16ª
"A VINHA DO SENHOR!"
Quem já
ficou desempregado meses a fio a espera de uma vaga, sabe o quanto esta é uma
experiência triste, a reserva financeira vai se acabando, as despesas vão sendo
cortadas e só se mantém o essencial, e se a vaga demora a chegar, até aquilo
que é essencial, como a alimentação, por exemplo, vai começando a rarear.
Não tendo
nem o essencial para dar à família, o desempregado vai aos poucos perdendo a
auto-estima, começa a andar pelas ruas e praças meio sem destino, ou então, o
que é pior, torna-se freqüentador dos botecos da vida, onde se joga muita
conversa fora e reclama da situação, tomando “umas e outras” que algum amigo
oferece, um conhecido contou-me que se tornou um alcoólatra quando ficou
desempregado, ficar sem fazer nada não é coisa boa, pois dizem até que “mente
ociosa é oficina do capeta”.
Fiz esta
introdução porque me parece ser esta a situação do pessoal da última hora,
mencionado nesse evangelho, e que deviam estar bem desanimados quando foram
para a praça no final de tarde, jogar conversa fora ou quem sabe, “bater um
truquinho”. A colheita em uma vinha carecia de muita mão de obra e para os
desempregados era uma ótima oportunidade para ganhar uns “cobres”. Nos que
buscam uma oportunidade, sempre há os madrugadores, que acreditam naquele
ditado “Quem madruga, Deus ajuda”, eles botam fé em seu potencial e se colocam
a disposição bem cedo, para serem logo contratados.
Há os que
já estão meio calejados e que dormem um pouco mais, mas às nove horas já estão
na praça, à espera de quem os contrate, pois também se julgam eficientes. Não
faltam aqueles que só acordam para o almoço, mas ouvindo falar que tem vaga na
empreitada, preparam um “miojo”para não perder muito tempo, e vão voando para a
praça, nem que seja ao Meio Dia, pois acreditam que também têm chance. A
notícia corre rápida e chega até a turma do “Ainda resta uma esperança”, que
também animados resolvem arriscar e vão para a praça às três horas da tarde,
dando a maior sorte porque acabaram também contratados.
Mas agora,
falemos dos desanimados, que já estão a tempo vivendo de JURO, “juro que vou
pagar”, para não sucumbirem, assumiram dívidas com o padeiro, açougueiro,
leiteiro, verdureiro, aquele dia para eles já está perdido e então vão para a
praça às cinco da tarde, só para saber se há alguma novidade, e são
surpreendidos pelo Dono da empreiteira, que os interroga, porque estão ali
parados, sem fazer nada... Ninguém nos contratou, não temos nenhum valor,
ninguém presta atenção no nosso sofrimento, ninguém nos confia um serviço, onde
possamos ganhar o pão para o nosso sustento! E foi assim a ladainha de
lamentações. A Turma das cinco nem acreditou, quando o Patrão mandou que fossem
para a vinha, juntar-se aos outros trabalhadores. Certamente pensaram que
fossem fazer Terceira turma, mas às dezoito horas em ponto, soou o apito e a
jornada de trabalho acabou, trabalharam só uma hora, não ia dar nem para o
leite e o filãozinho... Pensaram os trabalhadores. Então veio a surpresa
agradável, foram os primeirões a receber e ganharam uma moeda de prata, que
dava para fazer a compra do mês e ainda pagar umas contas, imaginem a alegria
desses trabalhadores de última hora.
O clima
era de festa e alegria quando a turma dos Madrugadores, profissionais
competentes, que deram duro o dia inteiro, desde o nascer do sol, armou o maior
barraco e chamaram o sindicato, pois não acharam certo receber apenas uma moeda
de prata, tinham plena certeza de que iriam receber muito mais, pois se
julgavam merecedores, mas o Patrão os lembrou sobre o contrato assinado: o
pagamento da diária seria uma moeda de prata.
Na
religião de Israel e no cristianismo de hoje, acontece a mesma coisa, o título
de cristãos e o fato de ser membro de uma igreja, faz com que as pessoas
sintam-se privilegiadas diante de Deus, merecedores de sua graça, do seu amor,
das suas bênçãos e de todos os seus favores, se a pessoa atua em alguma
pastoral ou movimento, então aumenta a obrigatoriedade de Deus atender.
Infelizmente é essa a imagem que muitos fazem de Deus, que sempre surpreende os
que buscam conhecê-lo melhor.
Na
parábola em questão, contratou pessoas sem nenhum valor, e que, entretanto,
apesar de terem chegado muito depois dos Madrugadores, foram alvos da mesma
atenção e receberam o mesmo tratamento. Na verdade, ao invés de sermos a imagem
e semelhança de Deus, muitas vezes projetamos Nele a nossa imagem e semelhança,
para que seja bom com quem mereça, que trate as pessoas a partir dos seus
merecimentos, o que na lógica humana é muito justo.
Porém, o
amor e a justiça de Deus vai sempre buscar os últimos, os renegados, o que não
tem mais nenhuma chance diante da sociedade “perfeita” ou da religião padrão,
os que não têm o que fazer porque ainda não acharam um sentido para suas vidas.
Os desprezados, tratados com frieza e que nunca são levados a sério.
E quando
descobrimos que Deus os ama tanto quanto a nós, que nos julgamos “justos” em
vez de fazermos com eles uma grande festa, manifestando alegria, agimos como o
irmão mais velho do Filho Pródigo: derrubamos o beiço e nos recusamos a entrar na
casa do Pai, isso é, a vivermos na comunhão com Deus, ao lado dos trabalhadores
da última hora, sonhamos com um céu especial e nos frustramos ao ver que o
coração de Deus, cheio de misericórdia, manifestada em Jesus, há lugar para
todos os homens.
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