24 de Setembro - Quarta - Evangelho - Lc
9,1-6
E chamou os doze e começou a
enviá-los dois a dois e dava a eles autoridade sobre os espíritos impuros. De dois em dois como se fossem
testemunhas de uma verdade perante o mundo que não a conhecia. Evidentemente, a
verdade era o Reino para o qual deviam se preparar com nova mentalidade. A
autoridade sobre os espíritos impuros ou imundos é como o carimbo da divindade
ao dominar os que na época se consideravam seus inimigos e triunfadores na luta
entre o bem e o mal. O triunfo sobre eles indicava que o seu reino estava no
fim e um novo reinado prestes a ser instaurado: o reinado da luz, da verdade e
do bem em nome de Jesus, o representante do Deus vivo. Lucas em lugar paralelo,
expressamente fala de proclamar o reino de Deus. O envio de dois em dois era
próprio do tempo, pelo que dizia respeito aos mensageiros enviados para atestar
uma mensagem. Também podemos ver nessa situação uma oportunidade para o mútuo
apoio em situações difíceis. Jesus, no início de sua escolha, chama de dois em
dois os irmãos pescadores. Os espíritos imundos: cremos que esta autoridade é
para fazer calar os mesmos como Jesus fez na sinagoga de Cafarnaum ou
expulsá-los como no caso da sogra de Simão, pois era considerada essa doença
como causada por um espírito. Os enfermos que curam eram os indispostos,
para distingui-los dos que estavam mal e dos débeis. Não cremos que exista uma
diferença real entre os termos que expressam uma mesma realidade: a doença.
E
ordenou a eles de modo que não tomem para [o] caminho se não unicamente bordão,
nem alforje, nem pão, nem cobre na cintura. Mas tendo atado [as] sandálias e
não vestissem duas túnicas. As ordens eram umas positivas: bordão,
sandálias e uma túnica. Coisas necessárias para o caminho, pois nunca se
caminhava descalço e um bordão era necessário tanto para se apoiar naqueles
caminhos rudes e difíceis como arma defensiva contra os bandidos. Uma túnica é
o mínimo que devia cobrir um corpo nu, ou seja, o necessário. As ordens
negativas eram: não levar o alforje, que correspondia não ao cesto onde os
judeus carregavam as provisões, especialmente o pão e vinho em sua peregrinação
para Jerusalém, mas ao embornal dos mendigos que muitos missionários ambulantes
levavam em suas missões. Também impede o dinheiro que era carregado numa bolsa
na cintura ou dentro da faixa com que se atava a túnica ao redor dos rins. O
texto fala de cobre, as moedas mais pobres sem ouro ou prata. Evidentemente com
isto queria dizer que não podiam recolher qualquer dinheiro, nem como pobres,
em sua missão. O texto de Mateus fala denão possuir ouro, nem prata, nem cobre
em seus cintos, nem sacola de provisões para o caminho nem duas túnicas, nem
sandálias, nem bordão. Lucas diz que ordenou não tomar nada para o caminho, nem
bordões, nem embornal, nem pão, nem prata, nem duas túnicas por cabeça.
Dos textos vemos que não coincidem nos detalhes, especialmente Mateus para quem
o bordão e as sandálias eram tão descartáveis como os alforjes e a túnica
sobressalente. Os enviava com recursos até menores que os que tinham os
mendigos, os mais pobres, para indicar que seu trabalho missionário não
dependia dos valores humanos, mas da confiança que a Ele deviam: ao jovem rico
manda dar tudo aos pobres para segui-lo. A pobreza era uma das características
de Jesus, que não tinha nem onde reclinar a cabeça.
Se nas
ordens anteriores era o caminho quem ditava as condições de pobreza para evitar
se enriquecer com o pretexto da missão, agora coloca os discípulos como
hóspedes gratuitos daqueles que aceitam o Evangelho. Caso não sejam recebidos,
Jesus anuncia o que deve ser feito, profetizando que tal cidade teria um fim
ainda pior do que foi dado às cidades que representavam no mundo antigo dos
judeus o pecado propriamente dito. E
todos que não vos receberem nem vos ouvirem, saindo dali sacudi o pó sob vossos
pés para testemunho. Em verdade vos digo: Mais tolerável será no dia da
condenação para os de Sodoma e de Gomorra do que para aquela cidade. Era
costume entre os judeus em cada cidade haver um encarregado que se ocupava da
comida e vestuário dos peregrinos. Sacudir o pó das sandálias era um gesto que
o israelita fazia ao voltar de terra pagã. Dado que a terra participa do
caráter de seus habitantes, despedir-se dos ímpios, comporta liberar-se também
de seu pó. Sacudir o pó das sandálias não era uma maldição, mas um testemunho
de que tal cidade era comparada a uma cidade pagã. Mas o final dessa cidade e
de seu povo será o mesmo que Jesus anuncia contra as cidades em que tantos
milagres foram feitos e que não se converteram. Se o destino das cidades é
igualado, também é igualada a missão dos apóstolos e a missão de Jesus.
E
tendo saído pregavam para que se convertessem. Embora
Marcos não tenha narrado como Mateus que foram enviados para proclamar que o
Reino estava às portas ou como Lucas diz para proclamar o Reino de Deus e curar
os doentes, agora Marcos nos dá uma idéia de qual era o fim da missão
apostólica. O arrependimento foi uma constante da pregação do Batista, do
início da pregação de Jesus aos judeus, da proclamação de Pedro logo após a
manifestação de Pentecostes. Mas quando se dirigem aos pagãos só pedem a fé.
E
lançavam muitos demônios e ungiam com óleo muitos adoentados e saravam. O caso
dos demônios é único aqui em Marcos, e também é única a narração de que ungiam
os enfermos com óleo e sanavam. Deste resultado da missão também se tornam
testemunhas tanto Mateus como Lucas. Porém, será Tiago quem de novo falará
sobre a unção como uso corrente entre os membros da Igreja. Aqui está a base do
sacramento da Unção aos Enfermos. A expulsão dos demônios (seja qual for a
natureza dos tais) e a cura dos doentes eram a prova de que os apóstolos eram
enviados por um ser superior às forças humanas. Como no caso de Pedro, a cura
do aleijado deu ocasião para suscitar a fé nos presentes, e de se reafirmar na
rejeição de Jesus pelos culpados. Também as curas eram a base da conversão ao
Evangelho dos cidadãos presentes.
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