21 de junho - Evangelho - Mt 6,24-34
Essa é a
grande ansiedade que pervade as almas de povos e nações dos últimos tempos, ou
seja, a frenética busca dos bens materiais. Eis a liturgia de hoje a nos
indicar uma profunda solução para as crises atuais: a da desgastada questão
social e a da economia mundial. Estamos
diante de dois senhores que não admitem rivais: “Ninguém pode servir a dois
senhores: Porque, ou há de odiar um e amar o outro, ou há de afeiçoar-se a um e
desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas”. Este Evangelho faz
parte do famoso Sermão da Montanha, do qual São Mateus transcreve as partes
essenciais. Nele transparece a forte advertência do Divino Mestre contra o
desvario dos que se afanam pelos tesouros deste mundo e acabam por se perder em
meio às aflitivas preocupações da vida presente. E se esquecem que o apego às
riquezas constitui uma real escravidão.
As
riquezas, se são mais amadas do que a família, os filhos, apartam o homem do
amor de Deus. Neste versículo, é muito sutil e preciso o emprego do verbo
servir, e não qualquer outro, pois o problema central não está em ter bens materiais,
mas sim no valor que a eles se tributa e, sobretudo, no afeto que se lhes
tenha. Em sua substância, encontramos aqui um desdobramento do Decálogo, em
particular do primeiro mandamento, tal como o próprio Deus o declarou através
de Seus profetas: “Não terás outros deuses diante de Mim. Não farás para ti
imagem alguma, nem escultura [...]. Não adorarás tais coisas, nem as servirás;
Eu sou o Senhor, o teu Deus” (Ex 20, 3-5).
O apego
às riquezas constitui, a partir de certo grau, uma real escravidão e “ninguém
pode servir a dois senhores quando mandam coisas contrárias, nem mesmo quando
ordenam coisas diferentes, porque a própria natureza impede que o amor do servo
se reparta para dois senhores diversos”.
Lembre-se:
um servo não pode entregar sua vontade a dois senhores. Havendo um apreço
desequilibrado pelos bens deste mundo, quem o possua terá conferido a esses
bens o caráter de senhorio. Ora, sabemos o quanto a escravidão, em si mesma, é
avassaladora. As faculdades do escravo pertencem ao senhor e a este deve ele
entregar todo o seu serviço. “Um senhor pode ter muitos servos, mas um servo
não pode ter muitos senhores; pois o próprio do senhor é governar o servo, e
não precisamente amá-lo; o específico do servo, porém, é amar, e não governar
seu senhor; o mando pode dividir-se, mas o amor, não. Com isso, Cristo indica
que as riquezas se gastam injustamente não só quando são injustas. Mas, até
mesmo, quando não foram adquiridas por maus meios, se são amadas, apartam o
homem do amor de Deus.
Ninguém
pode servir a dois senhores, como disse antes: ‘É impossível que um rico entre
no Reino dos Céus’ (Mt 19, 23). Observa o autor da obra imperfeita que ninguém
pode servir a dois senhores, e não diz que ninguém pode ter dois senhores. Dá o
nome de senhor a qualquer coisa a que nos tenhamos entregado em demasia, à qual
servimos de alguma maneira: ‘Não sabeis que, quando vos ofereceis a alguém para
lhe obedecer, sois escravos daquele a quem obedeceis, quer seja do pecado para
a morte, quer da obediência para a justiça?’ (Rm 6, 16). E São Pedro: ‘O homem
é feito escravo daquele que o venceu’ (2 Pd 2, 19).
O verbo
servir empregado neste versículo refere-se à situação de um servo que, sem
restrição alguma, entrega sua vontade a um senhor, figura muito de acordo com a
inclinação para os extremos, tão característica dos orientais. Neste caso,
torna-se impossível ao servo obedecer a um segundo senhor que lhe dê qualquer
incumbência oposta e simultânea à exigida pelo primeiro. Ademais, acabará por
amar menos seu autêntico senhor, atitude à qual equivale o significado do termo
“odiar”. Na realidade, Deus não quer apenas uma parte de nosso coração, ainda
que esta seja grande. Ele o deseja na sua íntegra, e essa entrega deve ser
realizada por nós com alegria, generosidade e constância.
Dois
senhores rivais: Deus e o dinheiro. O Divino Mestre nos coloca diante de dois
senhores diametralmente opostos no que concerne aos seus respectivos
interesses: Deus e o dinheiro. O primeiro nos exige a crença n’Ele e em Suas
revelações, a esperança em Suas promessas, com amor total, além da prática da
castidade, da humildade, como também do cortejo de todas as virtudes. O
dinheiro cobra de nós, e nos inspira ambição, volúpia de prazeres, vaidade,
orgulho, menosprezo do próximo, etc. Um nos dá forças para praticar o bem e a
este inclina nossas paixões, enquanto o outro nos arrasta para o mal e nele nos
vicia. O Céu e sua eterna felicidade constituem o estímulo para os esforços
exigidos por um dos senhores. A terra e seus prazeres fugazes são os atrativos
oferecidos pelo outro.
Esses
dois senhores não admitem rivais. O pior rival do dinheiro é Deus, e
vice-versa. Por isso, a desgraça do rico que entrega seu coração aos bens da
terra consiste em buscar em vão sua felicidade neles; e a desgraça do pobre, em
iludir-se com a pseudo felicidade oferecida pelas riquezas.
É
preciso ter sempre diante dos olhos o quanto são opostos entre si, Deus e o
mundo. Por isso, não queiramos servir a ambos ao mesmo tempo: “Não vos
sujeiteis ao mesmo jugo com os infiéis. Que união pode haver entre a justiça e
a iniqüidade? Ou que sociedade entre a luz e as trevas? E que concórdia entre
Cristo e Belial? Ou que de comum entre o fiel e o infiel? E que relação entre o
templo de Deus e os ídolos? Porque vós sois templos de Deus vivo” (2 Cor 6,
14-16).
Pai,
centra toda minha vida na busca do teu Reino e na justiça que dele vem, de
forma que nenhuma outra preocupação possa ser importante para mim.
Padre Bantu Mendonça
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