23 de junho - Evangelho - Mt 7,1-5
A partir do capítulo 7 de S. Mateus, que hoje começamos a ver, o
discurso da montanha parece tomar uma nova profundidade, orientado mais em
particular para os discípulos, isto é, para os membros da comunidade cristã de
Mateus e de todos os tempos. O contraste exagerado entre o cisco no
olho alheio e a trave no próprio pode refletir um provérbio popular de então, a
rápida observação das faltas dos outros, em contraste com a tolerância das
faltas do próprio caráter, é tema comum em todos os povos e línguas. E por
isso, os homens ao longo dos tempos foram compondo provérbios que iluminam
claramente as suas culturas e tradições.
No provérbio de hoje Jesus pretende
chamar a atenção dos seus discípulos para um perigo que os cerca: o perigo de
se considerarem perfeitos e superiores e por isso se separarem dos outros, como
fariseus. O significado da palavra fariseu é separado.
O sentido
que tem aqui o verbo julgar não é simplesmente fazer-se uma
opinião, algo que dificilmente poderemos evitar, mas julgar duramente, ou seja,
condenar os outros, como se diz na passagem paralela de S. Lucas: Não
julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai
e sereis perdoados (6, 37).
O julgamento pertence a Deus e não a
nós, porque só Deus conhece a fundo o coração do homem. Constituir-se em juiz
dos outros é uma ousadia irresponsável, é tomar o lugar de Deus. Deus nos
aceita e ama todos tal como somos, e olha-nos com amor de Pai que dissimula as
faltas dos seus filhos, a quem vê através do seu próprio Filho, Cristo.
Se, anteriormente, ao longo do discurso
da montanha, Jesus falou do perdão das ofensas e do amor inclusivamente ao
inimigo, para tentar aproximar-nos ao menos um pouco da perfeição de Deus,
agora está apontando à imitação da sua misericórdia. Como diz o livro da
Sabedoria, Deus compadece-se de todos corrige os que caem para que se convertam
e acreditem n’Ele.
À medida que usarmos com os outros,
usá-la-ão conosco. Isso não quer dizer que Deus – a quem não se menciona no
texto por respeito – nos julgará com a nossa medida injusta e impiedosa. Esse
não é o seu modo de proceder. Certamente, quem age assim com os outros,
expõe-se a um julgamento mais severo para si mesmo.
Deus teria, digamos, duas medidas para o
seu julgamento: uma de justiça, outra de misericórdia. Ele medir-nos-á com
aquela que nós utilizarmos, nesta vida, com os irmãos. É a mesma lição da
parábola do devedor insolvente que é perdoado e não perdoa, ou a contida petição
do Pai-nosso: perdoa as nossas ofensas… O que condena o irmão auto-exclui-se do
perdão de Deus e cai sob a jurisdição da lei, que não deixará de acusá-lo e
condenar como imperfeito que é.
Todos somos imperfeitos, tanto e mais
que os outros, ainda que, julgando-os com superioridade, os desprezemos. Tal
atitude, desprovida de amor, provém da nossa própria cegueira que nos impede de
ver os nossos defeitos. Manter a conscientemente tal postura é hipocrisia
astuta, cujo modelo no evangelho são escribas e fariseus.
É muito velho o costume de criticar os
outros. Assim, pensamos justificar-nos a nós como melhores. Mas, a experiência
demonstra que os mais críticos, os que julgam ser perfeitos, saber tudo e ter a
melhor solução para qualquer problema, costumam ser os que menos fazem e levam
aos outros.
Um olhar no espelho, uma vista de olhos
à nossa pequenez e insignificância, à nossa “trave” no olho, minimizará sem
dúvida as falhas dos outros, e far-nos-á mais tolerantes e acolhedores,
pensando que os outros também têm que suportar-nos a nós. Conhecer as nossas
próprias limitações, admiti-las e aceitá-las ensinar-nos-á, a saber, estar e
viver com os outros. Assim, caminharemos em verdade e simplicidade, com ânimo
de fraternidade, tolerância e compreensão para com os outros sem os condenar.
Se Deus é otimista a respeito do homem e
o ama apesar de tudo, o discípulo de Cristo há-de fazer o mesmo em relação aos
seus irmãos. Este é um caminho mais seguro para a realização e a felicidade
pessoal do que o engano da presunção.
Meu
irmão, minha irmã, nós não temos o direito de julgar, ao menos que tiremos
primeiro a trave que está no nosso olho. Ou seja, se eu sou um exemplo, no caso
tenho todo direito de julgar, mas através da Escritura, logo, se eu sou um
homem integro diante de Deus no que concerne a alguma prática, seja ela
confessional, doutrinária, ou moral, tenho duas ferramentas em mãos e que
contribuem entre si para o julgamento Cristão; Primeiro: O fato que a Escritura
Sagrada condena expressamente determinada prática, e em segundo, eu sou um
homem que não pratico tais coisas, e assim, a trave do meu olho já foi
tirada, e se eu tirei a trave do meu olho, tenho todo o
argumento para tirar o argueiro do olho do meu irmão.
Pai, livra-me de julgar meus semelhantes
de maneira severa e impiedosa. Que eu seja misericordioso com eles, assim como
és misericordioso comigo.
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