QUARTA FEIRA DA 30ª SEMANA
DO TC 31/10/2013
1ª Leitura Romanos 8, 26-30
Salmo 21 (13),6ª E meus
adversários não triunfem no momento da minha queda”
Evangelho Lucas 13, 22-30
Quando medito este
evangelho sempre me lembro do “Miudinho”, apelido de um amigo da minha
adolescência, que era bem “robusto” para não dizer que ele era “gordinho”. Por
conta da obesidade ganhou fama de ser o molenga da nossa turma onde era sempre
o último nas brincadeiras ou aprontações que fazíamos. Certa ocasião ficou
entalado em um tubo de concreto que ficava no final da rua, por onde entrávamos
sorrateiramente por uma galeria em desuso, tendo acesso a um terreno que
pertencia a Dona Assunta, e onde deliciávamos com a doçura das mangas e amoras.
O muro era alto e o
portão antigo era inacessível, até o dia em que descobrimos a tubulação e
passamos a utilizá-la sendo para nós uma aventura porque engatinhando,
varávamos coisa de três ou quatro metros por baixo do muro. Ao ficar entalado
na galeria, por causa de ser gordinho, e não saindo para frente e nem para
trás, Miudinho armou o maior berreiro chamando a atenção da vizinhança e assim,
fomos pegos em flagrante pela proprietária do terreno, enquanto que os
moradores, com muito esforço conseguiram desentalar o coitado do Miudinho.
Decidimos, a partir daquele dia, deixá-lo fora de nossas aventuras porque ele
não conseguia ter agilidade para nos acompanhar. O reino do céu é meio parecido
com aquele terreno baldio, palco das nossas aventuras e onde curtíamos a doçura
da fruta madurinha á sombra de grandes árvores: o acesso é por uma passagem bem
estreita...
A pergunta dos
discípulos, feita a Jesus, se é verdade que poucos irão se salvar, deve-se ao
fato de que a salvação, para eles, era uma espécie de troféu, com que Deus
premiava os que faziam boas obras e observavam com rigor a lei e todos os
demais preceitos religiosos. Nós cristãos, que pertencemos à igreja, devemos
também pensar nisso e perguntar se iremos nos salvar... Jesus nos alerta que a
passagem é bem estreita e requer certo esforço de quem se fez discípulo. Há uma
porta larga do ritualismo e do seguimento da lei, há eventos religiosos que
reúne milhares de pessoas, há igrejas cristãs de todas as denominações, cujos
templos ficam lotados de fiéis nos finais de semana. Será que nesta religião
sem compromisso, todos já tem o passaporte carimbado para entrar no reino?
Para passar pela
porta estreita é preciso se fazer pequeno e ter no coração e na mente esta
consciência de que a salvação é dom de Deus e não fruto das nossas obras ou
práticas religiosas, quem pensa diferente disso é semelhante ao meu amigo
Miudinho e vai acabar ficando “entalado” no seu egoísmo e orgulho. Mas ser
pequeno também significa servir aos irmãos e irmãs, a palavra servir vem de
servo, escravo, aquele que se rebaixa, que se curva diante do outro, Jesus fez
isso no “Lava-pés”, fazendo uma tarefa que pertencia a um escravo, o que
prefigurou o rebaixamento final que iria ocorrer em Jerusalém, para onde Jesus
caminha decidido a entregar-se por todos.
Portanto, o amor que
se rebaixa traduzindo-se em serviço é que faz de nós verdadeiros cristãos,
Filhos do Pai, que nos vocaciona para o amor, irmãos de Jesus, servo maior com
quem nos identificamos e por quem somos reconhecidos. Os que pensam que já
estão salvos, com um pé na vaga do céu, só porque pertencem a esta ou aquela
denominação religiosa, e são observantes zelosos de toda doutrina e preceito,
irão certamente ficar bem desapontados porque o Senhor não os reconhecerá como
diz o evangelho: “Nós não saíamos de sua casa, comíamos e bebíamos na tua
presença...”. “Sumam”! Não sei quem são vocês! Não os conheço!”--- dirá o
Senhor”.
Diácono José da Cruz
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim SP
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