Argumentos para a
pregação no XXIX Domingo do Tempo Comum
(Diácono José da Cruz)
Nosso Professor de
Exegese sempre nos dizia “Falem com o Texto e façam-lhe perguntas”. De tanto
ouvir isso comecei a praticar, e a
reflexão sobre o XXIX Domingo do TC
ficou mais ou menos assim :
Quem eram os amalecitas
que aparecem na primeira leitura?
Era um povo descendente de Esaú, que viviam no
deserto, região de Negueb inclusive na área do Monte Sinai. Eram especialistas
em atacar de surpresa pelos flancos ao povo adversário.
Onde eles estavam quando
foram atacados pelos amalecitas?
Estavam há algumas
semanas de marcha, quando saíram do Egito, e bem próximos do Monte Sinai .
Não dá a impressão de que
Moisés preferiu ficar rezando e mandou Josué fazer a parte mais difícil, que
era combater com seus homens os Amalecitas?
É uma impressão falsa,
pois Josué era um grande estrategista em combate e tinha homens bem preparados
para essa empreitada que seria difícil. Moisés era o Grande Líder, o ungido e
iluminado de Deus, era o Mediador entre a Comunidade Israelita e Deus. Na
verdade as duas tarefas não foram fáceis, ficar por horas a fio no alto da
colina, em clima de oração fervorosa, intercedendo por seu povo, era algo que
requeria muito esforço e perseverança.
Mas Moisés não estava
sozinho, inclusive precisou de ajuda na oração?
Sim, pois o combate é uma
ação bem articulada, uma equipe mais numerosa foi para a linha de frente, outra
equipe menor, formada por Moisés, Aarão e Hur, partiram para a colina para se
entregarem a oração. A Vitória no combate foi uma soma de todas essas ações.
Então, podemos concluir
que na comunidade precisa de gente que reze e de pessoas que partam logo para a
ação que se faz necessária?
Do ponto de vista do
Carisma próprio, não há a menor dúvida que sim. Entretanto, se permanecermos
nessa premissa, iremos justificar os cristãos que nunca querem compromisso com
nada pois preferem ficar só na oração, ou dos outros, que só trabalham nas
pastorais e movimentos, mas não tem uma Espiritualidade mais sólida.
Então que conclusão
importante, o texto deixa para nós?
O texto mostra o perfil
de uma comunidade fiel á sua missão, e que tem uma meta: a terra prometida, mas
antes deverá fazer uma profunda experiência com Deus na Assembléia do Sinai. uma
comunidade orante e atuante ao mesmo
tempo, é uma comunidade solidária, nas atitudes de Aarão e Hur, que dão apoio e
sustentação ao Líder Moisés. Quando o Líder da Comunidade, da Pastoral ou do
Movimento, tem apoio dos demais, a ação logrará pleno Êxito. Quando há
divergências e hostilidade, da parte da comunidade ao Líder, a ação ficará
truncada. A Oração diante dos desafios e necessidades, que visam o bem comum,
clama pela ação Divina, que concretamente se faz presente nas ações humanas
dentro da comunidade.
Importante frisar que a
oração sempre brota do coração dos fracos e pequenos, que só podem contar com o
Socorro Divino, como reza o refrão do Salmo. Israel não tinha um exército
fabuloso, contavam apenas com armas
rudimentares, próprias dos Beduínos do deserto. Seriam presas fáceis nas mãos
dos Amalecitas, superiores em armamento e estratégias. Atacá-los nessas
condições poderia ser um suicídio. Porém, a Ação Divina reverte o quadro. O
Homem forte, arrogante e prepotente, se julga auto- suficiente e não tem
necessidade de Deus em seus empreendimentos...É este o perfil do Homem
Contemporâneo, que quer sempre avançar em sua marcha, contando só com seus próprios
recursos.
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A viúva do Evangelho, que
papel ocupa na reflexão?
Um papel importante. Ela
representa o pobre, o fraco, o pequeno, que não tem com quem contar e a quem pedir
por Socorro. Tratava-se de uma classe realmente marginalizada e excluída onde
as mulheres viúvas não tinham direito algum.
Parece que a viúva era
muito insistente em sua ação reivindicatória, isso não era um exagero do autor?
De modo algum, pois temos
que considerar que as mulheres Judaicas casavam-se na adolescência e muitas
enviuvavam ainda jovem. Um parente mais próximo do falecido ficava com todos os
seus bens, e se quisesse ficar com ela, então estaria abrigada, caso contrário,
ficaria desamparada e vivendo de caridade.
Então o evangelho não
quer falar sobre um problema social de exclusão da viúva?
De modo algum. O que está
em foco é a oração e não podemos nos esquecer que se trata de uma parábola para
ilustrar um ensinamento, que aliás, já está explicitado no início do
evangelho : A Necessidade de orar
sempre, sem jamais deixar de fazê-lo!
Então a reflexão já está
pronta?
De certa forma sim, mas
há alguns detalhes muito importantes que nos ajudam a aprofundar a
reflexão. Primeiro a ousadia da mulher,
que mesmo sabendo que sua petição junto ao Juíz, poderia dar em nada, não
desistiu.
Esse Juíz parece
“comprado” pela outra parte...
Sim, era um Juíz iníquo,
não tinha respeito nem com Deus e muito menos com os homens. A sua Justiça só tinha um lado: o dos
ricos e poderosos!
A Viúva o venceu pelo
cansaço?
Não é só isso...O texto
mostra uma Viúva guerreira, que vai a luta pela sua dignidade, e que não
desiste em seus argumentos, mostrando-se disposta a ir até as últimas
consequências...O Juiz não estava
acostumado com fracos resistentes, mas com fracos resignados, gente que acha
que não compensa se organizar, se mobilizar por algo, gente conformada e
acomodada. Diferente da postura da Viúva...
Enfim, podemos dizer que
o Juiz tremeu na base?
Sim. As autoridades
constituídas tremem na base quando o povo se mobiliza por seus direitos.
A reflexão saiu da
proposta de pensar na Oração...
Não! Estamos chegando no
coração da reflexão, oração sem ação, não resulta em nada. Na atitude da viúva
nós temos o clamor e a ação ao mesmo tempo, aprimorando a reflexão da primeira
leitura.
A viúva teve Fé em quem,
afinal? Nela mesma ou em Deus? No juiz não dava para acreditar, já que ele
estava de rabo preso com a outra parte, mais poderosa.
Trata-se de uma parábola,
mas ao acreditar em si mesma e no seu poder de reivindicar, de maneira
enérgica, junto ao Juiz, ela acreditava em Deus, que a capacitava para isso. A
Espiritualidade da Viúva, embora não esteja em cheque na parábola, está
explicitada em sua ação firme por seus direitos.
Mas a Fé não é , antes de
mais nada, crer em Deus e em sua ação Divina a nosso favor?
Sem dúvida, mas já vimos
na primeira leitura que essa Ação Divina está concretamente presente na Ação
Humana. O Evangelho termina afirmando que, da parte de Deus a ação está
garantida a seu devido tempo, Ele é Fiel
e jamais se omite diante das necessidades do Homem. Entretanto, da parte do
homem não há garantia de que se mantenha Fiel á sua Fé.
A pergunta não poderia
ser “Que tipo de Fé o Filho do Homem encontrará sobre a terra?”
Pode sim...Pois temos a
Fé do Intelecto, crer com, a razão, a Fé do Experimentar, isso é, fazer a
experiência querigmática de Jesus
Cristo., e a Fé da praticidade...
E qual delas é a
verdadeira Fé?
A Fé é uma só, as três
são as ações de Fé, que quando bem articuladas, como na primeira leitura,
superam os desafios trazendo a vitória do Bem Supremo sobre as Forças do Mal.
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A Segunda Leitura dessa
Liturgia, carta de São Paulo a Timóteo, parece meio deslocada na reflexão, ou é
só impressão?
É apenas impressão. A
recomendação Paulina ao Líder da Comunidade, na verdade serve para todos nós
cristãos. Assim como um trem, que tem em si o potencial de percorrer longas
distâncias, com velocidade e segurança, se lhe faltar os trilhos, ele não sairá
nem do lugar.
E qual é esse trilho,
onde o Cristão percorre o seu caminho, com a Fé, a oração e as ações?
É Jesus Cristo, o Verbo
Encarnado, a Palavra de Deus Viva, presente em nossa História.Crendo em Cristo
e na Palavra de Deus, podemos avançar seguros para a Meta estabelecida, porque
a vitória virá e a Salvação será conhecida. A Sagrada Escritura, a Tradição e o
Magistério da Igreja são as nossas placas indicativas de que estamos no rumo
certo, no mesmo caminho que Jesus percorreu. Por isso mesmo as ações
decorrentes da Palavra são verdadeiras e produzem seus efeitos, ensina,
repreende, corrige e nos forma na Justiça.
Então a reflexão não tem
como único tema a Oração, como pode se pensar de início?
Tem sim, a Oração é o seu
único tema. Mas articulada com a ação, a Fé
e a total abertura e disponibilidade á Palavra de Deus, elementos
essenciais que completam a Vida de Fé do homem e da mulher que Crê, e que por isso
reza, mas também escuta Deus na sua Palavra.
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