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quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Argumentos para a pregação no XXIX Domingo do Tempo Comum - Diácono José da Cru



Argumentos para a pregação no XXIX Domingo do Tempo Comum
                                                                                                      (Diácono José da Cruz)

Nosso Professor de Exegese sempre nos dizia “Falem com o Texto e façam-lhe perguntas”. De tanto ouvir isso comecei a praticar,  e a reflexão sobre o XXIX Domingo do TC  ficou mais ou menos assim :
Quem eram os amalecitas que aparecem na primeira leitura?
Era  um povo descendente de Esaú, que viviam no deserto, região de Negueb inclusive na área do Monte Sinai. Eram especialistas em atacar de surpresa pelos flancos ao povo adversário.
Onde eles estavam quando foram atacados pelos amalecitas?
Estavam há algumas semanas de marcha, quando saíram do Egito, e bem próximos do Monte Sinai .
Não dá a impressão de que Moisés preferiu ficar rezando e mandou Josué fazer a parte mais difícil, que era combater com seus homens os Amalecitas?
É uma impressão falsa, pois Josué era um grande estrategista em combate e tinha homens bem preparados para essa empreitada que seria difícil. Moisés era o Grande Líder, o ungido e iluminado de Deus, era o Mediador entre a Comunidade Israelita e Deus. Na verdade as duas tarefas não foram fáceis, ficar por horas a fio no alto da colina, em clima de oração fervorosa, intercedendo por seu povo, era algo que requeria muito esforço e perseverança.
Mas Moisés não estava sozinho, inclusive precisou de ajuda na oração?
Sim, pois o combate é uma ação bem articulada, uma equipe mais numerosa foi para a linha de frente, outra equipe menor, formada por Moisés, Aarão e Hur, partiram para a colina para se entregarem a oração. A Vitória no combate foi uma soma de todas essas ações.
Então, podemos concluir que na comunidade precisa de gente que reze e de pessoas que partam logo para a ação que se faz necessária?
Do ponto de vista do Carisma próprio, não há a menor dúvida que sim. Entretanto, se permanecermos nessa premissa, iremos justificar os cristãos que nunca querem compromisso com nada pois preferem ficar só na oração, ou dos outros, que só trabalham nas pastorais e movimentos, mas não tem uma Espiritualidade mais sólida.
Então que conclusão importante, o texto deixa para nós?
O texto mostra o perfil de uma comunidade fiel á sua missão, e que tem uma meta: a terra prometida, mas antes deverá fazer uma profunda experiência com Deus na Assembléia do Sinai. uma comunidade orante  e atuante ao mesmo tempo, é uma comunidade solidária, nas atitudes de Aarão e Hur, que dão apoio e sustentação ao Líder Moisés. Quando o Líder da Comunidade, da Pastoral ou do Movimento, tem apoio dos demais, a ação logrará pleno Êxito. Quando há divergências e hostilidade, da parte da comunidade ao Líder, a ação ficará truncada. A Oração diante dos desafios e necessidades, que visam o bem comum, clama pela ação Divina, que concretamente se faz presente nas ações humanas dentro da comunidade.
Importante frisar que a oração sempre brota do coração dos fracos e pequenos, que só podem contar com o Socorro Divino, como reza o refrão do Salmo. Israel não tinha um exército fabuloso,  contavam apenas com armas rudimentares, próprias dos Beduínos do deserto. Seriam presas fáceis nas mãos dos Amalecitas, superiores em armamento e estratégias. Atacá-los nessas condições poderia ser um suicídio. Porém, a Ação Divina reverte o quadro. O Homem forte, arrogante e prepotente, se julga auto- suficiente e não tem necessidade de Deus em seus empreendimentos...É este o perfil do Homem Contemporâneo, que quer sempre avançar em sua marcha, contando só com seus próprios recursos.
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A viúva do Evangelho, que papel ocupa na reflexão?
Um papel importante. Ela representa o pobre, o fraco, o pequeno, que não tem com quem contar e a quem pedir por Socorro. Tratava-se de uma classe realmente marginalizada e excluída onde as mulheres viúvas não tinham direito algum.
Parece que a viúva era muito insistente em sua ação reivindicatória, isso não era um exagero do autor?
De modo algum, pois temos que considerar que as mulheres Judaicas casavam-se na adolescência e muitas enviuvavam ainda jovem. Um parente mais próximo do falecido ficava com todos os seus bens, e se quisesse ficar com ela, então estaria abrigada, caso contrário, ficaria desamparada e vivendo de caridade.
Então o evangelho não quer falar sobre um problema social de exclusão da viúva?
De modo algum. O que está em foco é a oração e não podemos nos esquecer que se trata de uma parábola para ilustrar um ensinamento, que aliás, já está explicitado no início do evangelho  : A Necessidade de orar sempre, sem jamais deixar de fazê-lo!
Então a reflexão já está pronta?
De certa forma sim, mas há alguns detalhes muito importantes que nos ajudam a aprofundar a reflexão.  Primeiro a ousadia da mulher, que mesmo sabendo que sua petição junto ao Juíz, poderia dar em nada, não desistiu.
Esse Juíz parece “comprado” pela outra parte...
Sim, era um Juíz iníquo, não tinha respeito nem com Deus e muito menos com os  homens. A sua Justiça só tinha um lado: o dos ricos e poderosos!
A Viúva o venceu pelo cansaço?
Não é só isso...O texto mostra uma Viúva guerreira, que vai a luta pela sua dignidade, e que não desiste em seus argumentos, mostrando-se disposta a ir até as últimas consequências...O Juiz  não estava acostumado com fracos resistentes, mas com fracos resignados, gente que acha que não compensa se organizar, se mobilizar por algo, gente conformada e acomodada. Diferente da postura da Viúva...
Enfim, podemos dizer que o Juiz tremeu na base?
Sim. As autoridades constituídas tremem na base quando o povo se mobiliza por seus direitos.
A reflexão saiu da proposta de pensar na Oração...
Não! Estamos chegando no coração da reflexão, oração sem ação, não resulta em nada. Na atitude da viúva nós temos o clamor e a ação ao mesmo tempo, aprimorando a reflexão da primeira leitura.
A viúva teve Fé em quem, afinal? Nela mesma ou em Deus? No juiz não dava para acreditar, já que ele estava de rabo preso com a outra parte, mais poderosa.
Trata-se de uma parábola, mas ao acreditar em si mesma e no seu poder de reivindicar, de maneira enérgica, junto ao Juiz, ela acreditava em Deus, que a capacitava para isso. A Espiritualidade da Viúva, embora não esteja em cheque na parábola, está explicitada em sua ação firme por seus direitos.
Mas a Fé não é , antes de mais nada, crer em Deus e em sua ação Divina a nosso favor?
Sem dúvida, mas já vimos na primeira leitura que essa Ação Divina está concretamente presente na Ação Humana. O Evangelho termina afirmando que, da parte de Deus a ação está garantida a seu devido tempo,  Ele é Fiel e jamais se omite diante das necessidades do Homem. Entretanto, da parte do homem não há garantia de que se mantenha Fiel á sua Fé.
A pergunta não poderia ser “Que tipo de Fé o Filho do Homem encontrará sobre a terra?”
Pode sim...Pois temos a Fé do Intelecto, crer com, a razão, a Fé do Experimentar, isso é, fazer a experiência querigmática  de Jesus Cristo., e a Fé da praticidade...
E qual delas é a verdadeira Fé?
A Fé é uma só, as três são as ações de Fé, que quando bem articuladas, como na primeira leitura, superam os desafios trazendo a vitória do Bem Supremo sobre as Forças do Mal.

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A Segunda Leitura dessa Liturgia, carta de São Paulo a Timóteo, parece meio deslocada na reflexão, ou é só impressão?
É apenas impressão. A recomendação Paulina ao Líder da Comunidade, na verdade serve para todos nós cristãos. Assim como um trem, que tem em si o potencial de percorrer longas distâncias, com velocidade e segurança, se lhe faltar os trilhos, ele não sairá nem do lugar.
E qual é esse trilho, onde o Cristão percorre o seu caminho, com a Fé, a oração e as ações?
É Jesus Cristo, o Verbo Encarnado, a Palavra de Deus Viva, presente em nossa História.Crendo em Cristo e na Palavra de Deus, podemos avançar seguros para a Meta estabelecida, porque a vitória virá e a Salvação será conhecida. A Sagrada Escritura, a Tradição e o Magistério da Igreja são as nossas placas indicativas de que estamos no rumo certo, no mesmo caminho que Jesus percorreu. Por isso mesmo as ações decorrentes da Palavra são verdadeiras e produzem seus efeitos, ensina, repreende, corrige e nos forma na Justiça.
Então a reflexão não tem como único tema a Oração, como pode se pensar de início?
Tem sim, a Oração é o seu único tema. Mas articulada com a ação, a Fé  e a total abertura e disponibilidade á Palavra de Deus, elementos essenciais que completam a Vida de Fé do homem e da mulher que Crê, e que por isso reza, mas também escuta Deus na sua Palavra.



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