Dedicação da Basílica de Latrão 09/11/2013 Sábado
1ª Leitura Ezequiel 47,1-2.2.8-9.12
Salmo 45 (46), 5 “Os braços de um rio alegram a cidade de Deus, o
Santuário
do Altíssimo”
2ª Leitura 1 Cor3,9c-11.16-17
Evangelho João 2, 13-22
"O TEMPLO VIVO" - Diac. José da Cruz
A casa onde morávamos, nos anos 60, esquina das ruas Albertina
Nascimento com a Tarcísio Nascimento em Votorantim, era incompatível com a
nossa classe social, meu pai era um simples operário e a casa de cinco cômodos
era bonita e espaçosa, a sala era o espaço onde recebíamos as visitas. Certo
dia veio a nossa casa a Dona Dita, uma senhora humilde que minha mãe gostava
muito de acolher, sempre a ajudando como podia. Minha Irmã havia encerado o
corredor e a sala, e a mulher, ao entrar, pedindo licença, tirou o chinelo sujo
de barro, pois havia chovido àquele dia, mas minha mãe lhe disse: “Olhe Dona
Dita, a senhora é muito mais importante que esta casa , e esta sala limpa e
organizada, é justamente para receber a senhora, por isso pode por o chinelo e
fique a vontade”
Lembro-me que nos meus nove anos, depois que a mulher se foi, perguntei
à minha mãe se era mesmo verdade que a Dona Dita, tão pobrezinha daquele jeito,
era assim tão importante, ao que minha mãe respondeu: ”As pessoas, ricas ou
pobres, inteligentes ou ignorantes, são importantes e devem ser sempre
recebidas com respeito e amizade, porque nelas mora o Deus vivo, é uma ofensa
ao nosso Deus, exigir que um pobrezinho tire o sapato ou o chinelo, para não
sujar a nossa casa”. AH Dona Georgina minha primeira catequista! Como lhe sou
grato por ensinar-me esta lição, apreendida com a Palavra de Deus!
O comentário simples da minha mãe, é a homilia de hoje, pois Jesus,
indignado por terem feito do templo sagrado um lugar de comércio, expulsa da
casa do Pai os profanadores do templo. Ao afirmar, que o zelo por vossa casa me
devora, Jesus não se refere somente ao templo em si, edificação material, mas
ao templo vivo que é o homem, onde, exatamente como minha mãe me ensinou, está
presente o Deus vivo
Todas as igrejas cristãs, enquanto lugar consagrado a Deus, onde o povo
se reúne para o culto, deve e precisa ser respeitado como tal, porque se
apresenta como sinal dessa presença real de Jesus em sua igreja. A Festa
litúrgica dessa sexta feira, dia 09 de Novembro – Dedicação da Basílica de
Latrão, que não quer simplesmente
prestar homenagem a um lugar histórico para a igreja católica, como é a Basílica
de Latrão, que no século IV, quando o imperador Teodósio decretou o
Cristianismo como a Religião oficial do Império, tornou-se a residência oficial
do Papa, passando depois a ser uma Basílica.
Ao celebrar essa festa tão importante, a Igreja nos oferece esta
reflexão da Palavra de Deus, sobre o sentido do templo, enquanto lugar da
presença de Deus, e o templo vivo onde Deus habita que é no coração do homem,
conferindo-lhe uma dignidade especial, a ponto de Paulo nos dizer, diante de
pecados que profanam o corpo –“ Não sabeis que vossos corpos são templos do
Espírito Santo?”
É na teologia joanina que o corpo será compreendido enquanto morada de
Deus, templo do Deus Altíssimo, afirmando e confirmando desta maneira, que lá
nas profundezas do nosso ser existencial, envolvendo todas as nossas dimensões,
Cristo Jesus se faz presente, graças a efusão do Espírito Santo, o Santíssimo,
Perfeitíssimo e Todo Poderoso, vem participar da vida dos homens, não dentro de
um conformismo com o domínio do mal, por causa das fraquezas e da
concupiscência da carne, antes, para os resgatar, apontar-lhes o único caminho
que é Ele mesmo.
Nesse sentido a morte já não existe, o homem tornou-se propriedade
exclusiva de Deus, através da encarnação de Jesus, nada poderá derrotá-lo,
nenhuma outra força será maior do que a graça santificante e operante, que
preenche todo o seu ser. Esse resgate da dignidade humana, esta total renovação
e renascimento, é o maior de todos os sinais que Jesus apresenta aos seus
interlocutores neste evangelho - “Destruam
este templo e em três dias eu o levantarei!”
Este Santuário que traz em si o
Deus vivo e encarnado na história, em Jesus de Nazaré, vem sendo todos os dias
e de todas as formas profanado, violentado, banalizado, mercantilizado, feito
em ruínas. Não se discute aqui o caráter sagrado dos nossos templos cristãos,
mas o que deve nos questionar é a essência daquilo que Jesus ensina-nos neste
evangelho: que como cristãos deste terceiro milênio, devemos todos ter este
mesmo zelo que nos devora, pela vida e dignidade dos nossos irmãos. Não estaria
na hora de usarmos o “chicote da indignação”, diante de certas ideologias para
quem a vida humana nada vale?.Poderíamos começar em nossas comunidades,
acolhendo todos os que vêm sendo vítimas desta profanação. (Consagração da
Basílica de Latrão) João 2, 13-22.
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