Dia 16
Eu não vim para chamar justos, mas sim pecadores – Padre Queiroz
Este
Evangelho narra a vocação do Apóstolo e Evangelista S. Mateus, que era chamado
também de Levi. Além da generosidade e prontidão em acolher o chamado, Mateus
mostrou a sua alegria, convidando Jesus e sua comitiva para uma refeição em sua
casa.
E havia na comitiva de Jesus muitos cobradores de impostos, que os
fariseus consideravam impuros porque tocavam em moeda estrangeira, e
consideravam também traidores do povo, porque eram judeus que trabalhavam para
o império romano.
Havia também muitos “pecadores”: pessoas pobres que não conseguiam
comprar determinados animais e oferecê-los no Templo para a purificação de seus
pecados. Esses pecados eram desobediência à Torá, o livro das prescrições
religiosas judaicas. Jesus não excluía essa gente, por isso elas o seguiam com
alegria.
Mas os doutores da Lei protestaram: “Por que ele come com cobradores de
impostos e pecadores?” Doutores da Lei eram como os nossos atuais catequistas
das Comunidades. Eles eram entendidos em coisas de religião, e admiravam a
doutrina de Jesus, por isso gostavam de ouvi-lo, mas não se atreviam a
considerar-se discípulos dele. Jesus explicou: “Eu não vim para chamar justos,
mas sim pecadores”.
Jesus várias vezes criticou essas leis que olhavam apenas o lado externo
e não o coração da pessoa. E ele não as seguia, pelo contrário, dava
preferência às pessoas marginalizadas pela sociedade do seu tempo. Imagine
Jesus no meio dessa gente! E ainda tomando refeição, o que significa união e
amizade!
Para entrar na Família de Deus, temos de empregar alguns meios, que
talvez custem, mas estão facilmente ao nosso alcance. O primeiro é libertar-nos
do preconceito de classe. Que deixemos de dividir o povo entre bons e maus,
entre os que podemos cumprimentar e os que não podemos, entre os que devemos
amar e os que não devemos. Que aprendamos que Deus não odeia nem os ricos, nem
os mal educados, nem os de esquerda ou de direita, e que seu plano
misericordioso contempla a salvação de todos e todas.
As nossas Comunidades são chamadas a continuar essa atitude de Jesus, de
não ter preconceito de ninguém, acolher a todos e todas, especialmente os
excluídos. “Eu não vim para chamar justos, mas sim pecadores”.
Como é bom ser misericordioso, isto é, amar uma pessoa que vive de forma
errada! Não amamos o erro, mas a pessoa.
Afinal, nós também somos pecadores. Um dia Jesus reclamou daqueles que
vêem um cisco no olho do irmão, e não vêem a trave no próprio olho. Se olharmos
sinceramente para nós mesmos, com certeza seremos mais misericordiosos para com
os que erram.
Certa vez, um grupo de rãs estava pulando distraidamente num campo, e
caíram numa cisterna velha. Pronto, não conseguiram mais sair dali. Como havia
água no fundo da cisterna, elas não morreram.
Com o passar do tempo, elas se reproduziram e contaram a história para
seus filhotes: “Nós estamos aqui porque caímos. Existe, lá fora, um mundo muito
mais bonito. Tem sol, flores, borboletas, centopéias...”
Entretanto, quando elas morreram, e os seus filhotes foram contar para
seus filhos, estes já não acreditaram muito. Pensavam que aquilo era uma
invenção, uma fantasia. O mundo era mesmo redondo e escuro, exatamente como o
fundo da cisterna.
E assim, com o passar das gerações, aquelas histórias viraram contos de
fadas.
Muitas vezes, acontece algo semelhante em relação à Redenção. As pessoas
falam: “Felicidade não existe. O mundo é triste mesmo, só tem mentira,
corrupção e violência!”
Falam isso porque não conhecem aquele outro mundo que Adão e Eva
perderam e que Jesus recuperou para nós. É um mundo mais bonito, e possível de
ser construído, porque está presente nas Comunidades cristãs. Basta acreditar
no sonho e fazê-lo virar realidade. “A fé é a demonstração de realidades que
não se vêem” (Hb 11,1).
Precisamos, como Jesus, ir atrás das pessoas que estão mergulhadas no
pecado, e convidá-las para esse novo mundo.
A mãe não exclui nenhum filho, e se preocupa mais com os afastados,
rebeldes e problemáticos. Que ela nos ajude a imitar o seu Filho.
Eu não vim para chamar justos, mas sim pecadores.
Padre Queiroz
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