Dia 27 de Fevereiro
As palavras de Jesus com que termina o Evangelho deste domingo marcam
com clareza o estilo que caracteriza as relações dentro da comunidade dos
discípulos. Se os poderosos deste mundo têm certa tendência, e muitos a levam à
prática, de tiranizar e oprimir seus súbditos, entre “vocês, nada disso”. Jesus
tem claro que seus discípulos lhe seguiram para servir. Exagerando um pouco,
como faz tantas vezes Jesus para deixar mais claro o que quer dizer, o que
tenha desejos de dirigir, de mandar, de ser o primeiro, não tem mais que um
caminho: fazer-se escravo de todos. O mesmo Jesus, do qual ninguém discute sua
liderança, dá exemplo: veio para
servir e dar sua vida em resgate por todos. Não se pode falar mais
claro.
Visto isto, não nos resta nada mais do que olhar o panorama deste mundo que nos tocou viver. Em todo grupo humano existe a autoridade. Até nos grupos de amigos há sempre algum que exerce a liderança. É assim nas nações, nos partidos políticos, nos grupos de vizinhos e na Igreja em todos os níveis. Há bispos, párocos, superiores, abades...
E sempre, dentro e fora da Igreja, existe a tentação de usar a posição de poder que se tem para benefício próprio, dos amigos ou familiares, dos que tem o mesmo pensamento. E, muitas vezes, muitas mais das que se reconhece publicamente, se cai - caímos - nessa tentação. O que publicamente e ante os demais se define como um serviço é no fundo uma forma de oprimir e abusar dos demais. Essa é a realidade de uma humanidade frágil como a nossa. Quase ninguém pode atirar a primeira pedra neste caso. Ou porque tem cometido algum erro ou porque é fácil cometê-lo no futuro.
Palavras revolucionárias
Visto isto, a mensagem de Jesus é revolucionária. Vai ao fundo do problema. Dá a volta na sociedade. Mas não para que os que estavam abaixo se ponham acima - cairíamos no mesmo, como tantas revoluções - senão para que não volte a ter mais acima e nem abaixo. Para que triunfe a fraternidade dos filhos e filhas de Deus. Jesus propõe uma nova forma de organizar e construir a sociedade humana. De acordo com a vontade de Deus. Uma sociedade estabelecida no amor e na justiça. Todo um programa de vida e compromisso.
Nesta linha afirmamos que o discípulo está chamado a servir - algo que tinham entendido muito bem os Zebedeos e que é de esperar que entendessem após esta lição de Jesus -. Isso não se discute. Mas conviria ter muito claro a quem ou a que se tem que servir. Porque os servidores do Estado têm muito claro que têm de servir a seus chefes, aos que por eleições ou por outro qualquer meio estão na cúspide da pirâmide de comando. A quem ou a que tem que servir o discípulo? Há que olhar a Jesus.
Evangelizar é servir
Jesus não se serviu a si mesmo. Jesus serviu e atendeu aos pobres, aos mais necessitados, aos marginalizados, acompanhou a todos aqueles com os quais se encontrou para que encontrassem a saída do buraco negro em que tantas vezes nos perdemos. E deu a chave para encontrar a boa vida, a Vida em plenitude: viver a fraternidade no limite, sentir os outros não como ameaças para minha integridade senão como irmãos e irmãs, caminhar com as mãos e os braços abertos para compartilhar, para abraçar, para amar. Esse é o serviço a que são chamados os discípulos. A esse, o que serviu Jesus, é o que tem que servir. O olhar do discípulo sai da comunidade e abarca o mundo.
Neste domingo celebramos o Domund, a Jornada Mundial das Missões. As palavras de Jesus no Evangelho assinalam a forma como se deve fazer a missão, o que é evangelizar. Não se trata de convencer a ninguém. O objetivo é servir e que através de nosso serviço cristão, as pessoas cheguem a compreender e viver que Deus é seu pai, que dele não recebemos mais que amor e que sua vontade não é que cumpramos uma série de mandamentos mais ou menos complicados e difíceis de observar, senão que sejamos felizes vivendo em fraternidade, nos amando mutuamente. Evangelizar é ser e viver como cristão, respeitando, dialogando, compreendendo, perdoando, reconciliando. Como Jesus.
Fernando Torres
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