Dia 16
Eu
não vim para chamar justos, mas sim pecadores.
Este
Evangelho nos trás três coisas:
1)
A vocação de Levi, que é o Apóstolo e evangelista S. Mateus.
2)
Escândalo e crítica dos doutores da Lei por Jesus comer junto com pessoas de má
fama.
3)
A resposta explicativa de Jesus.
Os
doutores da Lei eram como os nossos atuais catequistas. Eles seguiam as
tradições farisaicas e sempre criticavam Jesus, porque ele não as seguia. Eles
se julgavam os donos da fé do povo, e não servos, como devia ser. Jesus foi
ousado, porque convidou para ser Apóstolo um pecador público, no pensar dos
doutores da Lei e dos fariseus.
O
cobrador de impostos era, entre os judeus, uma pessoa banida religiosa e
socialmente, por colaborar com um governo estrangeiro e por ter as mãos
manchadas com o dinheiro sujo, fruto do suborno, da extorsão e da usura. Como
viviam em "estado de pecado", eram considerados excluídos da salvação
de Deus e sem possibilidade de conversão.
Além
dos cobradores de impostos, também as prostitutas, os bandidos e os leprosos
eram considerados pecadores públicos e banidos da sociedade judaica. Era
justamente no meio dessa turma que Jesus vivia. E ele explica: não veio para
chamar os justos, mas sim os pecadores. Mas esta atitude de Jesus batia de
frente com o pensar da elite religiosa e social do seu país. "Por que ele
come com cobradores de impostos e pecadores?"
Jesus
ouviu a reclamação feita aos discípulos e deu a resposta clara, que é um dos princípios
básicos da religião que ele veio fundar: "Não são as pessoas sadias que
precisam de médico, mas sim as doentes". A Comunidade cristã não pode
tornar-se um grupo fechado em si mesmo. É preciso abrir as janelas para ver os
que mais precisam da graça de Cristo, e depois abrir as portas para ir ao
encontro deles. Pois "Eu não vim para chamar justos, mas sim
pecadores".
A
palavra "justos" aqui tem um sentido irônico. São aqueles que se
julgam perfeitos, e por isso se negam a fazer qualquer mudança de comportamento.
Uma pessoa assim não abre o coração para a Palavra de Deus, pois Deus não tem
mais nada a dizer a ela, já chegou ao topo da montanha da vida cristã. São
pessoas que "engolem um camelo e pensam que é um mosquito".
Como
é bom reconhecer os próprios pecados, e em seguida acreditar na misericórdia de
Deus, que ama os pecadores! "O justo cai sete vezes por dia". O que
acontece conosco é que não temos o costume de, à noite, procurar descobrir os
pecados que cometemos durante o dia, por pequenos que sejam, e nos arrepender
deles. Todo pecado é pecado, independente do tamanho, se é grande ou pequeno.
Cristo
desce até o mundo dos pecadores, não para ficar ali, mas para subir com eles na
libertação do pecador, mostrando que Deus o ama, e ama muito.
Para
entrarmos no Reino de Deus, fundado por Jesus, precisamos ser como Deus Pai,
que manda o sol e a chuva sobre todos, maus e bons, juntos e injustos.
Precisamos libertar-nos dos preconceitos de classe, de cor, de raça ou de
qualquer outro. Que deixemos de dividir o povo entre bons e maus, entre os que
podemos cumprimentar e os que não podemos, entre os que devemos amar e os que
não devemos. Que aprendamos que todo ser humano, no fundo, é bom, porque foi
criado por Deus. E é esse "fundo bom" que devemos olhar em primeiro
lugar nas pessoas.
Como
é bom ser misericordioso, isto é, amar uma pessoa que vive de forma errada! Não
amamos o erro, mas a pessoa. Afinal, nós também somos pecadores. Um dia Jesus
reclamou daqueles que vêem um cisco no olho do irmão, e não vêem a trave no
próprio olho. Se olharmos sinceramente para nós mesmos, com certeza seremos
mais misericordiosos para com os que erram.
Certa
vez, um menino visitava sua tia, e esta o repreendeu por contar uma mentira. A
tia o advertiu: "Você sabe o que acontece com meninos que dizem
mentiras?" "Não, tia. O que acontece?", ele perguntou.
"Bem",
disse ela, "existe um homem que mora na lua, de cor esverdeada, que tem só
um olho, que desce no meio da noite e voa de volta para a lua levando os
meninos que dizem mentiras. Lá eles são espancados com varas pelo resto de sua
vida. Você ainda dirá mentiras?"
Aí
está o grande erro daquela tia: querer motivar alguém a não dizer mentiras,
através de uma mentira, e daquelas cabeludas!
Se
quisermos condenar os pecadores, caímos no mesmo erro, porque também somos
pecadores.
Maria
Santíssima não exclui nenhum de nós, seus filhos e filhas, porque essa é uma
virtude própria da mãe. Pelo contrário, os que levam vida errada são os que
mais estão presentes nas orações e preocupações da mãe. Que nossa Mãe Maria nos
ajude a imitar o seu Filho
Eu
não vim para chamar justos, mas sim pecadores.
Padre
Queiroz
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