Dia: 16/02/2013
Lc 5,27-32
Eu não vim chamar os justos, mas sim os
pecadores para a conversão.
Este Evangelho narra a vocação de S.
Mateus, que aqui é chamado de Levi. A sua profissão – cobrador de impostos –
era considerada impura, pelo fato de tocar em moeda estrangeira. Por isso,
todos os cobradores de impostos eram considerados pecadores. Jesus não tinha
esse preconceito.
No grande banquete oferecido por Mateus,
além de cobradores de impostos havia pecadores de verdade, e Jesus estava feliz
no meio deles. Diante do protesto, ele explicou: “Eu não vim chamar os justos,
mas sim os pecadores para a conversão”. A frase não exclui ninguém do chamado
de Jesus. É apenas um convite aos que se consideram justos para a conversão,
pois “o justo cai sete vezes por dia”.
“Os que são sadios não precisam de
médico, mas sim os que estão doentes.” Os fariseus não entenderam essa frase
pronunciada também para eles, os doentes terminais do orgulho, auto-suficiência
e hipocrisia.
“Deus é rico em misericórdia. Por causa
do grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos por causa das nossas
faltas, ele nos deu a vida com Cristo. É por graça que vós sois salvos” (Ef
2,4-5.7-9). “Deus retira o pobre do monte de lixo...” (Cântico de Ana – 1Sm 2).
“Derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes” (Magnificat).
Quando Davi cometeu um grande pecado,
mandando matar Urias para se casar com a sua esposa Betsabéia, Deus o perdoou
completamente. Tanto que escolheu Salomão, o segundo filho dele com Betsabéia
(2Sm 12,24), para continuar a geração do Povo de Deus.
“O Senhor é bondade e retidão. Ele
aponta o caminho aos pecadores” (Sl 25,8). Esse amor de Deus pelos pecadores
nos encanta, seduz e nos dá esperança, pois quem não é pecador? “Tu me
seduziste, Senhor, e eu me deixei seduzir” (Jr 20). Deus não nos trata conforme
nossos erros (Sl 103,8-14).
“Aquele que não ama não conhece a Deus,
porque Deus é amor” (1Jo 4,8). Nós temos amor, Deus é amor. “Nós conhecemos e
cremos no amor que Deus tem para conosco. Deus é amor, e quem permanece no amor
permanece em Deus e Deus permanece nele” (1Jo 4,16).
Esse grande amor de Jesus pelos
pecadores é mostrado também no seu acolhimento à mulher adúltera, ao Zaqueu, à
Samaritana, a S. Paulo... Ele não podia ver ninguém longe de Deus, que já se
aproximava para o cativar.
Jesus perdoou até os que o mataram, e
rezou por eles: “Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem!” E ele nos pede
para fazermos a mesma coisa: “Não julgueis...” (Mt 7,1-7).
A misericórdia, que é o amor aos
pecadores e aos que sofrem, é uma das Bem-aventuranças: “Felizes os
misericordiosos...” (Mt 5,7).
S. Paulo nos pede: “Irmãos, tende em vós
os mesmos sentimentos de Cristo Jesus...” (Fl 2,6). Assim, as Comunidades
cristãs são chamadas a continuar o amor misericordioso de Deus Pai, manifestado
em Jesus. A Comunidade é compreensiva para com todos, é agente de inclusão dos
pecadores.
Diante de pessoas que praticam ações
más, mesmo que sejam os piores crimes, devemos pensar: a misericórdia de Deus é
maior que o erro dessa pessoa. E assim, amá-la, acolhê-la e ajudá-la a se
levantar. A Igreja acolhe o pecador, não o pecado que ele cometeu, por isso o
ajuda a vencer o pecado.
“Quero misericórdia e não sacrifício”
(Mt 9,13). Jesus criticava incansavelmente o culto vazio e hipócrita dos que se
crêem em ordem com Deus por cumprir determinados ritos cultuais, como
sacrifícios, dízimos e jejuns, enquanto esquecem a disponibilidade perante
Deus, o amor fraterno e a reconciliação fraterna.
Faz parte do amor misericordioso usar o
dinheiro não apenas em benefício de si mesmo e da família, mas dos que precisam
para viver dignamente. É a economia a serviço da vida. Muitos adoram e servem ao
dinheiro, como se ele fosse um deus. Cabe uma pergunta: quem é Deus em nossa
vida? Em que lugar Ele está entre os valores que buscamos? Que esta Campanha da
Fraternidade nos prepare melhor para a Páscoa.
Certa vez, numa sala de aula, uma menina
perguntou à professora: “O que é amor?” A professora sentiu que não só aquela
criança, mas toda a classe merecia uma resposta à altura. Como já estava na
hora do recreio, ela pediu que cada aluno desse uma volta pelo pátio da escola
e trouxesse o que mais despertasse nele o sentimento de amor.
As crianças saíram muito interessadas.
Quando terminou o recreio, voltaram e começaram a apresentar os objetos que
trouxeram. Uma trouxe uma flor, outra trouxe uma borboleta, outra criança pediu
emprestado a uma funcionária a sua aliança e trouxe...
Terminada a apresentação, a professora
notou que uma menina estava toda envergonhada, porque não havia trazido nada.
Então, dirigiu-se à aluna e perguntou: “Meu bem, por que você não trouxe nada?”
A garotinha, timidamente, respondeu: “Desculpe, professora, eu vi a flor, mas
não quis apanhá-la. Preferi que ela continuasse enfeitando o jardim da escola.
Vi a borboleta, leve e colorida, mas eu nunca teria coragem de segurar um
animalzinho tão bonito. Isso pode machucá-la. Vi também um ninho com filhotes
de sabiá, mas nem mexi; se eu soubesse o que eles comem, até levaria alimento
para eles”.
Emocionada, a professora explicou para
as crianças: “Esta aluna fez a melhor escolha: Não trouxe objetos, mas trouxe
para nós, em seu coração, o perfume do amor”. E deu à menina a nota máxima.
O respeito e a proteção da vida é o que
mais desperta em nós o sentimento de amor.
Na oração Salve Rainha, nós chamamos
Maria Santíssima de Mãe de misericórdia. Ela é também o refúgio dos pecadores.
Mãe de misericórdia, rogai por nós!
Eu não vim chamar os justos, mas sim os
pecadores para a conversão.
Padre Queiroz
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