Dia 14
Neste Evangelho, Jesus nos fala
abertamente a respeito das perseguições que sofrerá, dos seus sofrimentos e
morte, mas afirma que ressuscitará ao terceiro dia. E ele nos alerta que, se
quisermos segui-lo, a nossa sorte será a mesma. Mas garante: “Quem perder sua
vida por causa de mim, esse a salvará”.
Ser cristão não é título honorífico, mas
tem um alto preço: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome
sua cruz cada dia e siga-me”. Cada dia porque o importante é a
perseverança nos pequenos atos e acontecimentos de cada dia, anos a fio. Os
verbos renunciar, carregar a cruz e seguir a Jesus são sinônimos, como o são
perder a vida e salva-la definitivamente.
Este é o segredo da quaresma: passar
pela cruz para chegar à Páscoa; perder a vida para a ganhar, como Cristo e em
plena solidariedade com ele. A ressurreição é um presente maravilhoso de Deus,
mas tem um preço, que é o mesmo preço que Jesus pagou: a cruz, e a cruz até o
fim, até a morte.
Como a nossa natureza é ferida pelo
pecado, faz parte do seguimento de Jesus a renúncia a nós mesmos. Portanto, não
é pouca renúncia; aliás é a maior renúncia que existe. Por outro lado, a
recompensa não será pequena: a vida eterna, isto é, a vida sem fim com Deus e
com a sua e nossa Família, numa felicidade também infinita.
Concluindo, Jesus nos motiva a segui-lo,
apesar desses tropeços: “O que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, se se
perde e se destrói a si mesmo?” Destrói-se a si mesmo porque sua vida abundante
vai terminar na morte. Depois, será um eterno sofrimento.
Nós celebramos todos os anos a Páscoa,
não é só para recordar e agradecer a Deus a redenção.. O acontecimento, pela
graça de Deus, se torna atual e a redenção, em seus efeitos, acontece
novamente. Passado um ano, nós estamos em situação diferente, vivendo em
contexto de vida, por isso precisamos ser novamente redimidos e transformados
por Cristo.
Por isso que o batismo tem relevância na
Páscoa. É um reassumir do nosso Batismo, com suas glórias e compromissos. A
palavra penitência resume bem a caminhada quaresmal, porque é um esforço
acentuado de vida nova e transformada pelo Evangelho.
Os três grandes sacramentos da renovação
quaresmal são o Batismo, a Confissão e a Eucaristia, porque os três são
eminentemente sacramentos pascais.
A nossa celebração da quaresma não
consiste apenas no acréscimo de algumas devoções e exercícios de ascese. Somos
parte de uma sociedade, e nela colaboramos em suas virtudes e pecados. Cada
cristão que se santifica, santifica o mundo em volta de si.
A Campanha da Fraternidade de 2012 foi
ecumênica, entretanto, nós não podemos conviver com as outras religiões cristãs
como se todas fossem válidas, verdadeiras e como se todas levassem para o céu.
Jesus disse: “A verdade vos libertará” (Jo 8,32). Ele fundou uma Igreja só. Maria
Santíssima é a Mãe dessa Igreja. São verdades permanentes, que devem ser ditas
em qualquer lugar ou situação, e nunca serem omitidas. Ocultar Maria não é um
caminho que leva ao ecumenismo.
Fazer uma Campanha da Fraternidade
ecumênica consiste em trabalharmos junto com outras religiões, já que a
campanha interessa aos dois lados. Mas, faz parte da amizade a autenticidade,
mas sem provocações, cada um respeitando o seu amigo do jeito que ele é e
pensa. Nenhum amigo verdadeiro impede que o outro exponha as suas convicções.
Pontos secundários podemos deixar de
lado, mas valores permanentes nunca. E Maria é para nós um valor permanente.
Por isso, durante o trabalho juntos, os “evangélicos” têm de nos “engolir” como
somos, assim como nós temos de “engoli-los” como são. Ocultar Maria em um
trabalho ecumênico é falta de autenticidade, pois todos sabem que gostamos dela
e portanto aquela nossa atitude não corresponde ao que pensamos.
E Maria é para nós um valor permanente.
Podem estar certos, Maria quer estar presente no nosso trabalho ecumênico e ela
não vai atrapalhar o ecumenismo, assim como uma mãe não atrapalha a união dos
seus filhos. Maria Santíssima é fecunda; sem ela o nosso trabalho fica estéril.
Ocultá-la no ecumenismo seria um equívoco que não podemos cometer.
Havia, certa vez, um senhor que morava
no sertão, muito distante da cidade. Ele tinha um violino e gostava de tocá-lo.
Mas o violino desafinou, e ele não tinha o diapasão, um instrumento que dá para
o músico uma nota no tom natural, a fim de que, a partir dela ele afine o
instrumento musical. Então o homem mandou uma carta para um radialista, de cujo
programa ele gostava muito, pedindo que ele lhe desse, pelo rádio a nota
"la". Logo que recebeu a carta, o radialista tocou várias vezes a nota
"la", e o homem afinou o seu violino.
Quaresma é tempo de afinarmos o nosso
violino com Cristo, nosso caminho, verdade e vida. O radialista que nos trás a
nota é a Sagrada Escritura, interpretada de acordo com quem a escreveu, que é a
Igreja.
O Papa Bento 16, quando esteve em
Aparecida, disse que a causa que leva um grande número de católicos brasileiros
passarem para as outras religiões é a falta de catequese, especialmente
catequese sobre a Igreja. Não podemos deixar de falar certas verdades sobre a
Igreja, “para não ofender ninguém”.
Se estivermos junto com Maria
Santíssima, ela não permitirá que morramos com o nosso violino desafinado, pois
isto estragaria a beleza da orquestra do céu. Se tivermos alguma nota perdida,
peçamos a ela que com certeza nos ajudará a encontrá-la.
Quem perder sua vida por causa de mim,
esse a salvará.
Padre Antonio Queiroz
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