24 de Novembro
Sábado, 19/11/2011
Lc 20,27-40
Neste Evangelho, nós temos a cena dos
saduceus apresentando a Jesus o caso da mulher de sete maridos, como um
argumento contrário à ressurreição dos mortos.
Mas eles entendiam errado a
ressurreição; pensavam que os que acreditam nela afirmam que no céu nós
viveríamos igualzinho aqui na terra, isto é, teríamos de comer, de beber, de
dormir, teríamos também o casamento...
Jesus explica que, após a nossa morte, o
nosso corpo será glorificado; não morreremos, mais e seremos iguais aos anjos.
Os homens não terão esposas nem as mulheres terão maridos.
Nós não sabemos em detalhes como será a
nossa vida após a morte, e nem precisamos saber agora. Basta conhecermos o
caminho para chegarmos ao Céu, que é Jesus e o seu Evangelho, presentes na
Igreja, una, santa, católica e apostólica.
Quando participamos da Santa Missa, ou
rezamos o terço, nós dizemos, na profissão de fé: "Creio na ressurreição
da carne". O Prefácio da Missa dos mortos diz assim: "Com a morte, a
vida não é tirada, mas transformada. Desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado
nos céus um corpo imperecível". Não será outro corpo, será este mesmo que
temos, mas transformado, glorificado.
Jesus falava que ia ressuscitar (Cf Mc
8,31ss; 9,31ss), e sempre pregava que todos nós ressuscitaremos. Como é bom
saber que a nossa vida é eterna, que tivemos um começo, mas não teremos fim! A
fé na ressurreição nos dá forças para enfrentar as dificuldades, e até o risco
de vida. Os homens podem matar o corpo, mas a alma, nunca.
Jesus ressuscitou algumas pessoas
(Lázaro, o filho da viúva de Naim...) para nos mostrar que tem poder e
conhecimento sobre a vida após a morte. Apesar de esses milagres terem sido
completamente diferentes da ressurreição dele e nossa, pois Lázaro e o filho da
viúva simplesmente retornaram à vida terrena e mortal. Mas os milagres valeram
para provar o poder de Jesus sobre a morte e sobre o que acontece depois.
Jesus, com a sua ressurreição, derrotou
a morte. Ela continua existindo, mas perdeu a sua força. "A morte foi
tragada pela vida; onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu
aguilhão?" (1Cor 15,54-55). Isso nos dá uma alegria e uma coragem
invencíveis!
Deus não é Deus dos mortos, mas dos
vivos. Toda a Bíblia apresenta Deus como Deus da vida, e que faz do homem e da
mulher seus amigos, como fez com os três citados por Jesus: Abraão, Isac e
Jacó. Se Deus fez aliança com eles, podia deixá-los desaparecerem para sempre?
Nunca! Esse é o argumento de Jesus.
A ressurreição foi sendo revelada aos
poucos. No começo, o Povo de Deus não conhecia essa verdade. Mas tinha uma vaga
consciência dela, baseado justamente no argumento acima: Deus ama o ser humano,
quer que ele ou ela viva e não desapareça, e pode fazer isso. Portanto o faz.
Por isso que exageravam a duração da
vida dos justos, por exemplo, de Matusalém, que viveu 969 anos (Cf Gn 5,27).
Jesus veio e revelou a verdade completa: Deus não só prolonga a vida humana,
ele a tornou eterna. "Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim
viverá eternamente".
"Eu vim para que todos tenham vida,
e a tenham em abundância." Uma vida em abundância não pode acabar logo. Na
luta pela vida, nós descobrimos o rosto de Deus, pois ele é o Deus da vida, o
Deus que quer vida, e vida plena para todos.
A ressurreição nossa é obra de Deus,
fruto do seu poder. É ele que nos tomará e nos transformará. O mesmo Deus que
um dia nos criou, nos recriará. A ciência não consegue entender nem explicar
esse mistério. Ele é sobrenatural. O livro de Jó é um argumento a favor da
ressurreição. Esse livro mostra que a ressurreição é um mistério, mas sem ela a
vida seria um absurdo.
A nossa melhor atitude diante das
realidades futuras é jogar-nos nas mãos de Deus, como fez Jesus, antes de
morrer: "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito". Nós não sabemos
como será, mas Deus, nosso bom Pai, sabe, e isso nos basta.
Como que é gratificante saber que vamos
ressuscitar! Saber que Deus nos ama tanto, que nos criou eternos! Ele não quer
separar-se de nós nunca. "Tu não me abandonarás no túmulo, e viverei à tua
direita para sempre" (Sl 16).
Entretanto, a fé na ressurreição nos
leva a sermos prudentes e vigilantes, pois não sabemos o dia nem a hora.
"O que adianta a alguém ganhar o mundo inteiro, se perde a própria
vida?" (Mt 16,26). "Não ajunteis para vós tesouros na terra" (Mt
6,19).
Certa vez, a muitos anos atrás, um
operário e um cavaleiro se encontraram numa estação de trem. Os dois se
apresentaram, conversaram e compraram as passagens na mesma cabine, porque
aquele trem tinha cabines para duas pessoas. O trem chegou e eles embarcaram.
Na estação seguinte, entrou também um
padre. Ao verem o padre passar no corredor, o cavaleiro comentou, com um ar de
desprezo: "Para que serve um padre?" Como quem diz: O padre não serve
para nada.
O operário não respondeu. Lá na frente,
quando o trem atravessava uma grande floresta, o operário disse ao cavaleiro:
"Estamos sós. Ninguém nos vê nem nos ouve. O que você faria se eu o
estrangulasse agora, lhe tomasse todo o seu dinheiro e, aproveitando uma curva,
pulasse esta janela?"
Pálido de medo, o cavaleiro respondeu:
"Você se engana, eu não trago dinheiro comigo". "Mentira"
retrucou o operário. "Você tem aí trinta mil Reais. Eu o vi pegar no
banco."
"Você cometeria dois crimes:
homicídio e roubo", disse o cavaleiro.
"Homicídio e roubo nada significam
para quem não crê em Deus. Se eu pensasse como você, e não fizesse isso agora,
eu seria um bobo. Mas você não tenha medo, porque eu fui educado por padres, e
eles me ensinaram os dez mandamentos: não furtar, não matar etc. E me ensinaram
que existe uma vida eterna após a morte, com o Céu para os bons e o inferno
para os maus. Entendeu agora para que serve o padre?"
Certamente aquele cavaleiro até se
esqueceu do cavalo!
A nossa vida não termina na morte, por
isso vamos preparar-nos bem para o que vem depois!
A ressurreição é o prêmio de Deus aos
justos. Maria Santíssima era tão santa que foi elevada por Deus ao céu em corpo
e alma. Que ela nos ajude a vivermos de acordo com essa gratificante verdade da
ressurreição.
Deus não é Deus dos mortos, mas dos
vivos.
Padre Queiroz
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