02 de dezembro
“É louco quem julgar poder poupar a luz do dia para se servir dela
durante a noite.” (Giovanni Guareschi)
Mt 8,5-11
Muitos virão do Oriente e do Ocidente para o Reino do Céu.
Este Evangelho narra a cura do empregado do
oficial romano. Chamam a nossa atenção a fé e a humildade do oficial, resumidas
na sua frase: “Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa. Dize uma
só palavra e o meu empregado ficará curado”. Junto com Jesus, a Igreja expressa
a sua admiração à atitude desse oficial, repetindo a sua frase em todas as
Missas, na hora da Comunhão.
Ele tinha tanta certeza da divindade de Jesus e do seu poder sobre as
doenças, que achava que apenas uma palavra de Jesus já devolveria a saúde ao
seu empregado.
A fé é o segredo da felicidade. Quem tem fé “tira de letra” todas as
dificuldades e obstáculos que aparecem na vida. Quem tem fé sabe que uma
doença, por mais grave que seja, para Deus é um grãozinho de areia.
A fé é uma graça que Deus dá a quem ele quer, do Oriente ou do Ocidente,
do Norte ou do Sul. Jesus se referiu aos pontos cardeais, para dizer, primeiro,
que todas as pessoas do mundo recebem as graças suficientes para ter fé,
esperança e caridade, e para se salvar. Deus ama a todos e não faz distinção de
qualquer espécie entre as pessoas.
Segundo, para dizer aos judeus que eles não eram o povo privilegiado de
Deus, como pensavam. Não existe povo privilegiado diante de Deus. Simplesmente,
Israel recebeu a missão de preparar a vinda do Messias, só isso.
A fé é uma graça que Deus dá a todos os seres humanos indistintamente,
sem nenhuma restrição em relação à raça, ao país ou a qualquer outra distinção.
Quem tem fé faz como o oficial fez: vai atrás de Jesus, expõe o seu
problema e acredita que Jesus quer e pode resolver, portanto vai resolver. Por
isso, quem tem fé não entra em pânico, não se revolta, não desilude, não
alvoroça, não perde a alegria nem a esperança, mesmo nas situações mais
desafiadores, pois sabe que nenhum problema é maior que Deus.
Ter fé é muito mais que acreditar com a cabeça; é acreditar com o corpo
inteiro; por isso já dá o primeiro passo no novo caminho que pediu a Deus. Mas,
é claro, ter fé é seguir um caminho novo, traçado não por nós, mas por Deus
para nós.
“A fé é a certeza daquilo que ainda se espera, a demonstração de
realidades que não se vêem” (Hb 11,1). É caminhar “como se visse o invisível”
(Hb 11,27).
O exemplo de Moisés, na travessia do Mar Vermelho, nos mostra bem o que
é fé: “Moisés estendeu o bastão sobre o mar e durante a noite inteira o Senhor
fez soprar sobre o mar um vento leste muito forte, fazendo recuarem as águas...
E assim os hebreus puderam atravessar” (Ex 14,21-22).
Dá impressão que no início as águas não se afastavam, mas Moisés ficou
firme, com o seu bastão estendido sobre o mar. Deus quer que nós mostremos a fé
nele, mesmo sem ver uma resposta imediata. Em vez de uma noite, ele pode
demorar dias ou até anos para nos atender. Mas se permanecermos com o nosso
bastão estendido, ele se manifesta e, com toda a certeza, separará as águas.
Nós queremos crescer na fé, porque dela nasce a esperança, e das duas
nasce a caridade. Assim, vivendo as três virtudes teologais, seremos certamente
felizes, agora e por toda a eternidade.
Certa vez, em um mosteiro, um noviço chegou para o mestre e disse:
“Padre mestre, penso que não tenho vocação. Não consigo guardar na memória o
que leio na Bíblia, nem as palestras do senhor”.
O mestre não respondeu imediatamente a questão. Apenas disse ao jovem:
“Pegue aquele cesto de junco, desça ao riacho, encha-o de água e traga aqui”.
O noviço olhou para o cesto, todo furado e sujo, e achou muito estranha
a ordem. Mas obedeceu. Desceu ao riacho, encheu o cesto de água e começou a
subir. Quando chegou até o mestre já não havia água, pois se escorreu toda
pelos buracos.
O mestre lhe pediu que repetisse a viagem. O noviço voltou ao riacho,
afundou o cesto na água, encheu-o e veio trazendo. Mas novamente chegou com o
cesto vazio.
Então o mesmo perguntou: “Meu filho, o que você aprendeu?” O rapaz
respondeu na hora: “Que cesto de junco não transporta água”.
O mestre lhe disse: “Olhe para o cesto. Vê alguma diferença?” O noviço
olhou e disse com um sorriso: “Vejo que o cesto, que antes estava todo sujo e
empoeirado, agora está limpo. Se a água não chegou aqui, pelo menos lavou o
cesto!”
O mestre concluiu: “Nada importa que você não consiga guardar na memória
os textos bíblicos e as palestras; o importante é que a sua vida fique limpa
diante de Deus”.
Em relação ao Evangelho de hoje, podemos dizer também: Importa obedecer
as Leis de Deus, mesmo que não as entendamos na hora. Deus, o legislador, é
mais inteligente que nós, e sabe que seus mandamentos, se não transportam água,
pelo menos lavam o cesto.
Isabel elogiou a fé da sua prima Maria Santíssima: “Feliz aquele que
acreditou, pois aquilo que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido” (Lc
1,45). Maria nunca vacilou na fé, nem na hora mais difícil, que foi a cruz. Que
ela nos ajude a crescer na fé.
Muitos virão do Oriente e do Ocidente para o Reino do Céu.
Padre Queiroz
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