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quinta-feira, 8 de novembro de 2018

PARTILHAR OS BENS E NÃO AS SOBRAS – Maria de Lourdes Cury Macedo.



Domingo, 11 de novembro de 2018.
Evangelho de São Marcos 12, 38-44.

Jesus está em Jerusalém no Templo, centro religioso, político, econômico e ideológico daquela época. Jesus está fazendo seu último ensinamento público no Templo e questiona o comportamento dos escribas pela ostentação, pela exploração das viúvas e pelas orações feitas para impressionar a todos. Agindo assim eles desrespeitavam o primeiro mandamento, que se refere a Deus, e ao segundo, pois exploravam os pobres, aqui na pessoa da viúva, que deveria ser protegida por eles, mas ao contrário era explorada.
Os “Escribas” ou “Doutores da Lei” transcreviam a Bíblia, estudavam e a explicavam. Os Escribas era gente estudada e desprezava a sabedoria do povo. Eram piedosos, estudiosos, observantes da Lei de Moisés, eram fiéis seguidores e mestres.
Eles insistiam muito nas coisas exteriores, visíveis, por exemplo: na observância do sábado, do jejum, da esmola, da circuncisão, gostavam de andar com roupas compridas e luxuosas. Faziam questão de ser notados e saudados por toda a parte, cumprimentados nas praças públicas, queriam ser os primeiros a receber o reconhecimento do povo, pois se consideravam os mais importantes. Eram os privilegiados, tinham lugares reservados nos banquetes e nas sinagogas, gostavam dos primeiros lugares.
No Templo ocupavam as poltronas que ficavam num nível mais elevado, em frente ao cofre que guardava os livros sagrados, o que facilitava serem notados por todos como mestres. Tudo neles era ostentação. Queriam se impor pelas aparências. Mas deixavam dominar-se pela injustiça! Como eram especialistas no Direito aplicavam as leis em seu benefício, explorando os que não tinham amparo legal. Entre os fariseus, muitos eram escribas. Eram em geral contrários à política romana, mas de um modo passivo, velado, tinham influência no governo...
Nesse Evangelho podemos perceber duas situações contrárias, mas que tem uma ligação. Os doutores da Lei, arrogantes, ricos, exploradores e a viúva pobre, humilde, explorada, que passa despercebida aos olhos dos grandes.
Jesus denuncia o grande contraste entre os professores da Lei e a viúva e diz que os doutores da Lei terão a pior condenação, enquanto a viúva foi a única coisa boa que ele viu em Jerusalém. Jesus ensinava à multidão que o seguia, que se afastasse dos doutores da Lei, pois suas atitudes eram erradas, eles eram hipócritas.
O pior de tudo isso é que os doutores da Lei em nome da religião exploravam os pobres e as viúvas e para disfarçar seus erros, abafar suas faltas faziam longas e públicas orações para serem notados, assim o povo teria um bom conceito deles. Os doutores da Lei tinham que servir de apoio legal às viúvas, mas ao invés de protegê-las, exploravam tanto, que as pobres muitas vezes tinham que lhes entregar até suas propriedades. É o próprio Jesus quem diz isso: “Exploram as viúvas e roubam suas casas, e para disfarçar fazem longas orações”(v.40ª). “Por isso eles vão receber a pior condenação”.(v.40b) Jesus os chama de hipócritas e interessados apenas em honras, trata-se de uma das passagens mais duras de todo o Evangelho. Jesus estava no Templo e observava como a multidão depositava sua oferta nos cofres. Depois um sacerdote recolhia as ofertas e dizia qual era a quantia que cada um depositara. Os ricos ficavam envaidecidos, exaltados, pois acreditavam que a abundância era bênção de Deus, sentiam-se privilegiados, abençoados e amigos de Deus.
O julgamento de Jesus é diferente. Ele vê a pobre viúva que dá duas pequenas moedas, “tudo o que ela tinha para viver”, então chama seus discípulos e dá a sentença: os pobres são os verdadeiros adoradores de Deus, pois “esta pobre viúva deu mais do que todos os outros que ofereceram esmolas. Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela na sua pobreza ofereceu tudo, tudo o que possuía para viver” (vv.43-44). Na atitude despojada dessa viúva pobre, que oferta “todo o seu viver”, transparece a atitude de Jesus de doar a própria vida, entregar-se totalmente por amor e por fidelidade ao projeto de Deus. Jesus exorta os discípulos a seguir não o exemplo dos escribas, mas sim o da pobre viúva, que centra a vida no amor gratuito a Deus.
Jesus fala do julgamento do judaísmo farisaico. Apresenta-se como advogado dos pobres e oprimidos e alerta o povo contra toda sorte de hipocrisia religiosa, condenando o modo de proceder dos escribas. Quem anuncia as coisas de Deus está sujeito ao mesmo perigo da hipocrisia e do fracasso, a exemplo dos doutores da Lei. À quem muito foi dado, muito também Deus exigirá.
A lição que podemos tirar da liturgia de hoje é que o mais importante é a partilha, a doação, a generosidade de coração, sobretudo a partilha da vida. A partilha é o oposto do acúmulo. Pessoas que não partilham e que só pensam em acumular para si e para os seus são pessoas de coração endurecido, que revelam sua pobreza interior. Quem partilha se aproxima de Deus, quem partilha revela Deus, quem partilha é de Deus.
A atitude da viúva pobre é um modelo a ser imitado na vida cristã nós precisamos fazer como ela fez, dar de coração tudo o que temos, ser generosos. A santidade a ser desejada, por todos, é a capacidade de entregar tudo, nas mãos de Deus. A verdadeira piedade consiste numa entrega total a Deus, colocando-se a seu serviço.
Quantas pessoas humildes nas nossas comunidades doam suas vidas, seu tempo, humildemente sem se aparecer, sem buscar o poder e elogios, podemos afirmar que são elas que constroem a comunidade. Suas atitudes e gestos silenciosos, escondidos, tem muito valor aos olhos de Jesus. Agradeçamos ao Senhor que aceita e valoriza os pequenos gestos de partilha e solidariedade entre nós.
Nos nossos dias também vemos acontecer a exploração dos pobres em nome da fé. Quantas pessoas tiram da boca dos filhos para doarem a Igrejas inescrupulosas, que só visam o lucro, iludindo seus fieis com promessas falsas!!!
Peçamos ao Senhor Pai de misericórdia e amor que nos ajude a despojar de toda ambição e orgulho e partilhar com generosidade e alegria, tudo o que temos, inclusive nosso tempo, nosso serviço, nossos dons, nossa vida.
Abraços em Cristo!
Maria de Lourdes





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