XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM 05/10/2014
1ª Leitura Isaias 5, 1-7
Salmo Isaias 5,7 a “A vinha do senhor dos exércitos é a casa de
Israel”
2ª Leitura Filipenses 4, 6-9
EvangelhoMateus 21, 33-43
"OS FRUTOS DA VINHA"
Recorro a lembranças da minha adolescência ao iniciar esta
reflexão, tínhamos no fundo do quintal um belo caramanchão de maracujá que meu
pai zelava com carinho, lembro que as flores muito bonitas e perfumosas,
pareciam os cravos com que Jesus foi crucificado. Na época dos frutos nos
deliciávamos com o suco que era uma gostosura e isso sem contar com a sombra
fresca em dia de muito calor, onde tínhamos um velho banco de madeira sendo o
local preferido para um descanso ou uma leitura.
Lendo esse evangelho e lembrando-se do meu pai, nas manhãs de
verão, cavocando, podando, fazendo limpeza nas folhas do maracujeiro, reflito
que é isso que Deus espera de cada um a quem, através do seu Filho, confiou a
missão de cuidar do seu reino no meio dos homens. A liderança religiosa daquele
tempo se esquivava dessa missão, e ainda aproveitava-se dela, para levar
vantagem, isso é como se tivéssemos no quintal um maracujeiro, que nos desse
flores, folhas, sombra e frutos, sem que lhe déssemos qualquer atenção.
Benefício sem dar nada em troca chama-se exploração.
É um pouco isso que acontece nos chamados crimes ambientais, onde o
homem explora a natureza, tira dela todo lucro possível, e nada faz para
restaurar a perda, daquilo que consumiu. Jesus confiou à igreja a missão de anunciar,
e ser expressão do Reino de Deus, ele a arrendou, para que todos os batizados
tomassem conta dela, cuidassem com carinho e produzisse os frutos que o mundo
precisa.
A comunidade é essa vinha, como igreja ela é sinal e expressão do
reino de Deus, a parábola fala que os vinhateiros homicidas, não só negaram dar
os frutos aos enviados pelo proprietário, como também foram violentos para com
eles, e quando acolheram acolherem o Filho, o fizeram com a intenção de matá-lo
para se apossar da sua herança. “Em nossas comunidades cristãs, não espancamos
ninguém, e muito menos matamos quem quer que seja” devem estar pensando os
leitores, ninguém na comunidade quer apossar-se de algo que pertence a outro.
Será que não?
Mas dá para se pensar que, matar alguém, nem sempre significa por
um fim a sua vida biológica, podemos matar de muitas formas, desprezo,
indiferença, preconceito, divisões, intrigas, calúnias, falta de paciência,
compreensão, moralismo exagerado com os que erram. Deus confiou-nos a Igreja
para que, como aquele maracujeiro do fundo do meu quintal, ela produza frutos
doces, dê sombra, acolhendo e abrigando as pessoas, exale o perfume do amor
verdadeiro, da retidão e da justiça, para que a comunidade seja um Oasis no
meio desse imenso deserto quente e íngreme, que às vezes é a vida das pessoas,
por conta de tantos fatores sociais, econômicos e familiares.
Nesse sentido, olhando por esse ângulo, a palavra de Deus nos
questiona se em nossas comunidades as pessoas saem saciadas e felizes. Será
que, pertencer a comunidade ou ir a nossas celebrações, é para as pessoas
motivo de alegria e prazer? E trazendo a reflexão em nível pessoal, será que
nós próprios somos uma videira viçosa, onde as pessoas encontram abrigo e
refúgio? Nossos frutos são saborosos, as pessoas comentam sobre a doçura deles,
ou trazem um azedume que gera maledicência e até reclamação?
Matar o Filho do Dono da vinha, é não anunciá-lo, não
testemunhá-lo, esquecer seus ensinamentos e colocar em nossa vida outros
valores e tendências ditadas pelo egoísmo. Na sexta feira santa da paixão, uma
grande multidão sempre lota as igrejas e acompanha o Cristo morto, a gente se
pergunta por que, e nesse evangelho encontramos a resposta, as vezes somos
também meio homicidas e anunciamos um Cristo morto, em nome da modernidade, da
ciência, da tecnologia, um Cristo morto pelo relativismo, em lugar de ser
simples arrendatários muitas vezes nos achamos donos da vinha que é a igreja, é
como se o cristianismo fosse apenas uma filosofia de vida, um pensamento e uma
ideologia muito bonita, mas que logo é sufocada pelas ideologias que o mundo
nos propõe.
O proprietário enviou servos para buscarem os frutos que lhe
pertencem, enviou seu próprio Filho que veio para ser acolhido e nos ensinar
como produzir os frutos. Estamos em um aprendizado constante com a sua palavra
e a eucaristia, temos aulas práticas e o manual de como cuidar da Vinha, que é
a Palavra de Deus. Esforcemo-nos para corresponder, e não deixemos que as
pragas do pecado destruam ou torne inexpressiva a Vinha do Senhor, pois disso,
nós todos, enquanto povo de Deus, iremos um dia prestar contas ao proprietário,
que nos confiou sua vinha, seu reino, plantado por Jesus no meio dos homens.
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
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