3 Abril
2021
Sábado - Semana Santa
O LUTO DE MARIA E DOS APÓSTOLOS E A PROVAÇÃO
DE MADALENA
Et vidit duos angelos in albis, sedentes, unum
ad caput et unum ad pedes, ubi positum fuerat corpus Jesu. Dicunt ei illi:
Mulier, quid pioras? Dicit eis:
Quia tulerunt Dominum meum et nescio ubi
posuerunt eum (Jo 20,12-13).
E viu dois anjos vestidos de branco, sentados,
um à cabeceira e outro aos pés, onde jazera o corpo de Jesus. Disseram-lhe
eles: Mulher, porque choras? Porque levaram o meu Senhor, respondeu, e não sei
onde O puseram (Jo 20, 12-13).
Primeiro Prelúdio. A Santíssima Virgem exprime
a sua dor com calma em casa de S. João. Madalena, mais agitada, corre a comprar
perfumes e vai ao sepulcro.
Segundo Prelúdio. luto, compaixão e amor, tais
são as disposições de que devo penetrar-me hoje para cumprir a minha missão de
discípulo do Sagrado Coração.
PRIMEIRO PONTO: Luto de Maria, de S. João e de
Madalena. - Durante o grande luto do sábado, Maria, os discípulos e as santas
mulheres permaneceram em casa, por causa do Sabbat. «Sabbato autem siluerunt
secundum msndetun» (Lc 23, 56).
Para Maria, havia um outro motivo: Era costume
entre os Judeus que a pessoa mais estreitamente unida ao defunto, a sua mãe, a
sua esposa, a irmã permanecesse em casa durante o grande luto, enquanto que os
outros membros da família iam visitar o sepulcro. Na morte de Lázaro, era
Madalena que permanecia em casa: Maria autem domi sedebat(Jo 11, 20).
A casa para Maria, era em casa de João.
Tinha-a tomado consigo por ordem de Nosso Senhor. Ex illa hora accepit eam
discipulus in sua (Jo 19, 27). Pedro também estava lá, não deixava João
naqueles dias.
Nós podemos facilmente pensar que Madalena
permaneceu também junto de Maria. Unidas ao pé da cruz, estavam unidas no luto.
A presença de Maria adoçava o luto de Madalena. A presença de Madalena, que
tinha sido toda regada pelo sangue de Jesus, era para Maria como um resto de
Jesus mesmo.
Maria abandona-se menos à dor do que Madalena.
A sua fé não lhe deixa perder de vista os ensinamentos da Escritura.
Ela sabe que a alma santa de Jesus não será
abandonada nos infernos e que Deus não permitirá que o corpo do Santo conheça a
corrupção: Quoniam non derelinques animam meam in inferno, nec dabis Sanctum
tuum videre corruptionem (SI 15, 9). /371
Ela espera a sua próxima visita. Medita sobre
a grandeza do sacrifício e do amor de Jesus e sobre os felizes frutos que a sua
Paixão há-de produzir: Conservabat omnia verba hoc in corde suo (Lc 2, 19).
SEGUNDO PONTO: Amor e fidelidade de Maria. -
Madalena ela também nos dá um grande exemplo de fidelidade e de perseverança no
amor de Nosso Senhor. Ela não tem repouso, não pode viver longe do seu
Bem-Amado. Faz-lhe falta o seu Deus, procurá-lo-á. O seu tesouro está no
sepulcro, lá também está o seu coração. As provações não extinguiram as chamas
do seu amor: Aquae multae non potuerunt extinguere caritatem (Cant. 8).
o seu amor foi purificado no cadinho dos
sofrimentos. É preciso que a sua fidelidade reduplique: o seu Bem-Amado foi tão
cruelmente traído, abandonado! É preciso que a sua dedicação seja
verdadeiramente reparadora.
Logo que a lei de Deus o permite, sai com as
outras duas Maria para comprar perfumes (Mc 16, 1). Por modéstia, não sai
sozinha, consulta Pedro, João e Maria, como lhes irá prestar contas quando
tiver encontrado o túmulo vazio. A obediência à Igreja e a união a Maria são as
marcas do verdadeiro espírito de Deus. Depois da compra dos perfumes, Madalena
faz uma visita ao sepulcro com uma só companhia:
Vespere autem sabbati, venit cum altera Maria
videre sepulcrum (Mt 28, 1). Toma o caminho do Calvário, ainda é escuro, revê
em espírito todas as cenas da sexta-feira. Tem medo de pisar aos pés o precioso
sangue. A cruz está ainda lá, é terrível no meio das sombras da noite. O
sepulcro está solitário, os guardas dormitam. Madalena sentase e chora. A hora
da consolação não chegou. Nosso Senhor deixa-a nas suas angústias e, todavia,
fortifica a sua coragem. Volta para a casa de dor, não encontrou o seu
Bem-Amado: Per noctem quaesivi quem diligit anima mea. Quaesivi et non inveni
(Cant 3, 2). - Quando tivermos perdido a presença de Nosso Senhor, procuremo-lo
assiduamente como Madalena.
TERCEIRO PONTO: Ardor de Madalena e as suas
provações. - O coração amante de Madalena não conhece nem atraso nem desânimo.
Logo que isto é possível: Valde mane, valde diluculo, cum adhuc tenebrae essent
(Mc, Lc, Jo), Madalena sai com as outras duas Marias para voltar ao Calvário.
Ela adianta-se, corre. Como o esposo dos Cânticos, ela disse: «Leventer-me-ei
de noite e percorrerei a cidade; nas ruas, nas praças públicas procurarei
aquele que o meu coração ama. Perguntarei aos guardas das portas da cidade: Não
o vistes por acaso»? (Cant 3, 1).
Durante esta noite, ela dizia com o Salmista:
«A minha alma suspira por vós, ó meu Deus, como o veado sedento pela água das
fontes. Quando vos tornarei a ver, Ó meu Deus? Quando hei-de comparecer diante
da vossa face? Enquanto derramo lágrimas inextinguíveis, os meus inimigos
riem-se e dizem-me: Onde está o teu Deus? ... Ó minha alma, espera mesmo assim,
porque ainda o hás-de louvar, o teu Senhor e o teu Deus» (SI 41).
Mas Nosso Senhor quer provar ainda mais a sua
fidelidade e a sua constância.
Chegando ao Calvário, Madalena vê que a pedra
foi retirada e que o sepulcro está vazio. Não pensava na ressurreição,
procurava o corpo magoado e dilacerado do seu Salvador para lhe prestar o
piedoso dever de uma sepultura digna dele. Mesmo esta esperança é desenganada.
Não lhe resta mais nada senão chorar pelo seu Jesus! É como se fosse fulminada.
Todavia, ela não sucumbe à sua dor, adora, humilha-se, recorda-se dos seus
pecados que justificam esta privação do seu Jesus, do seu Salvador bem-amado.
Resoluções. - Maria, João, Madalena e as
santas mulheres são os nossos modelos nesta jornada de compaixão e de
reparação. São os únicos amigos fiéis do Coração de Jesus. Unir-me-ei a eles
hoje e todos os dias. Procurarei o meu Jesus como Madalena, todas as vezes que
tiver perdido a sua presença sensível. Não desanimarei nunca na minha fé, na
minha confiança e no meu amor.
Colóquio com Maria.
(Leão Dehon, OSP 3, p. 370ss. Tradução do Pe.
José Jacinto Ferreira de Farias, SCJ)
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