01º Domingo da Páscoa - Ano B
4 Abril 2021
01º Domingo da Páscoa - Ano B
ANO B
DOMINGO DE PÁSCOA
Tema do Domingo de Páscoa
A liturgia deste domingo celebra a
ressurreição e garante-nos que a vida em plenitude resulta de uma existência
feita dom e serviço em favor dos irmãos. A ressurreição de Cristo é o exemplo
concreto que confirma tudo isto.
A primeira leitura apresenta o exemplo de Cristo que "passou pelo mundo
fazendo o bem" e que, por amor, se deu até à morte; por isso, Deus
ressuscitou-O. Os discípulos, testemunhas desta dinâmica, devem anunciar este
"caminho" a todos os homens.
O Evangelho coloca-nos diante de duas atitudes face à ressurreição: a do
discípulo obstinado, que se recusa a aceitá-la porque, na sua lógica, o amor
total e a doação da vida não podem, nunca, ser geradores de vida nova; e a do
discípulo ideal, que ama Jesus e que, por isso, entende o seu caminho e a sua
proposta (a esse não o escandaliza nem o espanta que da cruz tenha nascido a
vida plena, a vida verdadeira).
A segunda leitura convida os cristãos, revestidos de Cristo pelo baptismo, a
continuarem a sua caminhada de vida nova, até à transformação plena (que
acontecerá quando, pela morte, tivermos ultrapassado a última barreira da nossa
finitude).
LEITURA I - Act 10,34.37-43
Leitura dos Actos dos Apóstolos
Naqueles dias,
Pedro tomou a palavra e disse:
«Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia,
a começar pela Galileia,
depois do baptismo que João pregou:
Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré,
que passou fazendo o bem
e curando a todos os que eram oprimidos pelo Demónio,
porque Deus estava com Ele.
Nós somos testemunhas de tudo o que Ele fez
no país dos judeus e em Jerusalém;
e eles mataram-n'O, suspendendo-O na cruz.
Deus ressuscitou-O ao terceiro dia
e permitiu-Lhe manifestar-Se, não a todo o povo,
mas às testemunhas de antemão designadas por Deus,
a nós que comemos e bebemos com Ele,
depois de ter ressuscitado dos mortos.
Jesus mandou-nos pregar ao povo
e testemunhar que Ele foi constituído por Deus
juiz dos vivos e dos mortos.
É d'Ele que todos os profetas dão o seguinte testemunho:
quem acredita n'Ele
recebe pelo seu nome a remissão dos pecados.
AMBIENTE
A obra de Lucas (Evangelho e Actos dos
Apóstolos) aparece entre os anos 80 e 90, numa fase em que a Igreja já se
encontra organizada e estruturada, mas em que começam a surgir
"mestres" pouco ortodoxos, com propostas doutrinais estranhas e, às
vezes, pouco cristãs. Neste ambiente, as comunidades cristãs começam a
necessitar de critérios claros que lhes permitam discernir a verdadeira
doutrina de Jesus da falsa doutrina dos falsos mestres.
Lucas apresenta, então, a Palavra de Jesus, transmitida pelos apóstolos sob o
impulso do Espírito Santo: é essa Palavra que contém a proposta libertadora que
Deus quer apresentar aos homens. Nos Actos, em especial, Lucas mostra como a
Igreja nasce da Palavra de Jesus, fielmente anunciada pelos apóstolos; será
esta Igreja, animada pelo Espírito, fiel à doutrina transmitida pelos
apóstolos, que tornará presente o plano salvador do Pai e o fará chegar a todos
os homens.
Neste texto, em concreto, Lucas propõe-nos o testemunho e a catequese de Pedro
em Cesareia, em casa do centurião romano Cornélio. Convocado pelo Espírito (cf.
Act 10,19-20), Pedro entra em casa de Cornélio, expõe-lhe o essencial da fé e
baptiza-o, bem como a toda a sua família (cf. Act 10,23b-48). O episódio é
importante porque Cornélio é o primeiro pagão a cem por cento a ser admitido ao
cristianismo por um dos Doze (o etíope de que se fala em Act 8,26-40 já era
"prosélito", isto é, simpatizante do judaísmo). Significa que a vida
nova que nasce de Jesus é para todos os homens.
MENSAGEM
O nosso texto é uma composição lucana, onde
ecoa o "kerigma" primitivo. Pedro começa por anunciar Jesus como
"o ungido", que tem o poder de Deus (vers. 38a); depois, descreve a
actividade de Jesus, que "passou fazendo o bem e curando todos os que eram
oprimidos" (vers. 38b); em seguida, dá testemunho da morte de Jesus na
cruz (vers. 39) e da sua ressurreição (vers. 40); finalmente, Pedro tira as
conclusões acerca da dimensão salvífica de tudo isto (vers. 43b: "quem acredita
n'Ele, recebe, pelo seu nome, a remissão dos pecados"). Esta catequese
refere também, com alguma insistência, o testemunho dos discípulos que
acompanharam, a par e passo, a caminhada histórica de Jesus (vers. 39a.41.42).
Repare-se como a ressurreição de Jesus não é apresentada como um facto isolado,
mas como o culminar de uma vida vivida na obediência ao Pai e na doação aos
homens. Depois de Jesus ter passado pelo mundo "fazendo o bem e libertando
todos os que eram oprimidos"; depois de Ele ter morrido na cruz como
consequência desse "caminho", Deus ressuscitou-O. A vida nova e plena
que a ressurreição significa parece ser o ponto de chegada de uma existência
posta ao serviço do projecto salvador e libertador de Deus. Por outro lado,
esta vida vivida na entrega e no dom é uma proposta transformadora que, uma vez
acolhida, liberta da escravidão do egoísmo e do pecado (vers. 43).
E os discípulos? Eles são aqueles que aderiram a Jesus e que acolheram a sua
proposta libertadora. Se a vida dos discípulos se identifica com a de Jesus,
eles estão a "ressuscitar" (isto é, a renascer para a vida nova e
plena). Além disso, eles são as testemunhas de tudo isto: é absolutamente
necessário que esta proposta de ressurreição, de vida plena, de vida
transfigurada, chegue a todos os homens. Trata-se de uma proposta de salvação
universal que, através dos discípulos, deve atingir todos os povos da terra,
sem distinção. Os acontecimentos do dia do Pentecostes já haviam, aliás,
anunciado a universalidade da proposta de salvação, apresentada por Jesus e
testemunhada pelos apóstolos.
ACTUALIZAÇÃO
• A ressurreição de Jesus é a consequência de
uma vida gasta a "fazer o bem e a libertar os oprimidos". Isso
significa que, sempre que alguém - na linha de Jesus - se esforça por vencer o
egoísmo, a mentira, a injustiça e por fazer triunfar o amor, está a
ressuscitar; significa que, sempre que alguém - na linha de Jesus - se dá aos
outros e manifesta, em gestos concretos, a sua entrega aos irmãos, está a
construir vida nova e plena. Eu estou a ressuscitar (porque caminho pelo mundo
fazendo o bem e libertando os oprimidos), ou a minha vida é um repisar os
velhos esquemas do egoísmo, do orgulho, do comodismo?
• A ressurreição de Jesus significa, também,
que o medo, a morte, o sofrimento, a injustiça, deixam de ter poder sobre o
homem que
ama, que se dá, que partilha a vida. Ele tem assegurada a vida plena - essa
vida que os poderes do mundo não podem destruir, atingir ou restringir. Ele
pode, assim, enfrentar o mundo com a serenidade que lhe vem da fé. Estou
consciente disto, ou deixo-me dominar pelo medo, sempre que tenho de agir para
combater aquilo que rouba a vida e a dignidade, a mim e a cada um dos meus
irmãos?
• Aos discípulos pede-se que sejam as
testemunhas da ressurreição. Nós não vimos o sepulcro vazio; mas fazemos, todos
os dias, a experiência do Senhor ressuscitado, que está vivo e que caminha ao
nosso lado nos caminhos da história. A nossa missão é testemunhar essa
realidade; no entanto, o nosso testemunho será oco e vazio se não for comprovado
pelo amor e pela doação (as marcas da vida nova de Jesus).
SALMO RESPONSORIAL - Salmo 117 (118)
Refrão 1: Este é o dia que o Senhor fez:
exultemos e cantemos de alegria.
Refrão 2: Aleluia.
Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
porque é eterna a sua misericórdia.
Diga a casa de Israel:
é eterna a sua misericórdia.
A mão do Senhor fez prodígios,
a mão do Senhor foi magnífica.
Não morrerei, mas hei-de viver
para anunciar as obras do Senhor.
A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Tudo isto veio do Senhor:
é admirável aos nossos olhos.
LEITURA II - Col 3,1-4
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos
Colossenses
Irmãos:
Se ressuscitastes com Cristo,
aspirai às coisas do alto,
onde está Cristo, sentado à direita de Deus.
Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra.
Porque vós morrestes
e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.
Quando Cristo, que é a vossa vida, Se manifestar,
também vós vos haveis de manifestar com Ele na glória.
AMBIENTE
Quando escreveu a Carta aos Colossenses, Paulo
estava na prisão (em Roma?). Epafras, seu amigo, visitou-o e falou-lhe da
"crise" por que estava a passar a Igreja de Colossos. Alguns doutores
locais ensinavam doutrinas estranhas, que misturavam especulações acerca dos
anjos (cf. Col 2,18), práticas ascéticas, rituais legalistas, prescrições sobre
os alimentos e a observância de determinadas festas (cf. Col 2,16.21): tudo
isso deveria (na opinião desses "mestres") completar a fé em Cristo,
comunicar aos crentes um conhecimento superior de Deus e dos mistérios cristãos
e possibilitar uma vida religiosa mais autêntica. Contra este sincretismo
religioso, Paulo afirma a absoluta suficiência de Cristo.
O texto que nos é proposto como segunda leitura é a introdução à reflexão moral
da carta (cf. Col 3,1-4,6). Depois de apresentar a centralidade de Cristo no
projecto salvador de Deus (cf. Col 1,13-2,23), Paulo recorda aos cristãos de
Colossos que é preciso viver de forma coerente e verdadeira o compromisso
assumido com Cristo.
MENSAGEM
Neste texto, Paulo apresenta, como ponto de
partida e base da vida cristã, a união com Cristo ressuscitado, na qual o
cristão é introduzido pelo baptismo. Ao ser baptizado, o cristão morreu para o
pecado e renasceu para uma vida nova; essa vida nova terá a sua manifestação
gloriosa quando o discípulo de Jesus ultrapassar, pela morte, as fronteiras da
vida terrena. Enquanto caminhamos ao encontro desse objectivo último, a nossa
vida tem de tender para Cristo. Em concreto, isso significa despojarmo-nos do "homem
velho" por um processo de conversão que nunca está acabado e o
revestirmo-nos - cada dia mais profundamente - da imagem de Cristo, de forma a
que nos identifiquemos com Ele pelo amor e pela entrega da vida.
No texto de Paulo está bem presente a ideia de que temos que viver com os pés
na terra, mas com a mente e o coração no céu: é lá que estão os bens eternos e
a nossa meta definitiva ("afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da
terra"). Daqui resulta um conjunto de exigências práticas que Paulo vai
enumerar, de forma bem concreta, nos versículos seguintes (cf. Col 3,5-4,1).
ACTUALIZAÇÃO
• O Baptismo introduz-nos numa dinâmica de
comunhão com Cristo ressuscitado. A partir do Baptismo, Cristo passa a ser o
centro e a referência fundamental à volta da qual se constrói toda a vida do
crente. Qual o lugar que Cristo ocupa na minha vida? Tenho consciência de que o
meu Baptismo significou um compromisso com Cristo?
• A identificação com Cristo implica o assumir
uma dinâmica de vida nova, despojada do egoísmo, do orgulho, do pecado e feita
doação a Deus e aos irmãos. O cristão torna-se então, verdadeiramente, alguém
que "aspira às coisas do alto" - quer dizer, alguém que, embora
vivendo nesta terra e desfrutando as realidades deste mundo, tem como referência
última os valores de Deus. Não se pede ao crente que seja um alienado, alguém
que viva a olhar para o céu e que se demita do compromisso com o mundo e com os
irmãos; mas pede-se-lhe que não faça dos valores do mundo a sua prioridade, a
sua referência última. A minha vida tem sido uma caminhada coerente com esta
dinâmica de vida nova que começou no dia em que fui baptizado? Esforço-me,
realmente, por me despojar do "homem velho", egoísta e escravo do
pecado, e por me revestir do "homem novo", que se identifica com
Cristo e que vive no amor, no serviço, na doação aos irmãos?
• Paulo, a partir do exemplo de Cristo,
garante-nos que esse caminho de despojamento do "homem velho" não é
um caminho de derrota e de fracasso; mas é um caminho de glória, no qual se
manifesta a realidade da vida eterna, da vida verdadeira.
• Quando, de alguma forma, tenho um papel
activo na preparação ou na celebração do sacramento do Baptismo, tenho
consciência - e procuro passar essa mensagem - de que o sacramento não é um
acto tradicional ou social (que, por acaso, até proporciona fotografias
bonitas), mas um compromisso sério e exigente com Cristo?
SEQUÊNCIA PASCAL
À Vítima pascal
ofereçam os cristãos
sacrifícios de louvor.
O Cordeiro resgatou as ovelhas:
Cristo, o Inocente,
reconciliou com o Pai os pecadores.
A morte e a vida
travaram um admirável combate:
Depois de morto,
vive e reina o Autor da vida.
Diz-nos, Maria:
Que viste no caminho?
Vi o sepulcro de Cristo vivo
e a glória do Ressuscitado.
Vi as testemunhas dos Anjos,
vi o sudário e a mortalha.
Ressuscitou Cristo, minha esperança:
precederá os seus discípulos na Galileia.
Sabemos e acreditamos:
Cristo ressuscitou dos mortos:
Ó Rei vitorioso,
tende piedade de nós.
ALELUIA - 1 Cor 5,7b-8a
Aleluia. Aleluia.
Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado:
celebremos a festa do Senhor.
EVANGELHO - Jo 20,1-9
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo
São João
No primeiro dia da semana,
Maria Madalena foi de manhãzinha, ainda escuro, ao sepulcro
e viu a pedra retirada do sepulcro.
Correu então e foi ter com Simão Pedro
e com o discípulo predilecto de Jesus
e disse-lhes:
«Levaram o Senhor do sepulcro
e não sabemos onde O puseram».
Pedro partiu com o outro discípulo
e foram ambos ao sepulcro.
Corriam os dois juntos,
mas o outro discípulo antecipou-se,
correndo mais depressa do que Pedro,
e chegou primeiro ao sepulcro.
Debruçando-se, viu as ligaduras no chão, mas não entrou.
Entretanto, chegou também Simão Pedro, que o seguira.
Entrou no sepulcro
e viu as ligaduras no chão
e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus,
não com as ligaduras, mas enrolado à parte.
Entrou também o outro discípulo
que chegara primeiro ao sepulcro:
viu e acreditou.
Na verdade, ainda não tinham entendido a Escritura,
segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos.
AMBIENTE
O Quarto Evangelho (cf. Jo 4,1-19,42)
apresenta duas partes. Na primeira, João descreve a actividade criadora e
vivificadora do Messias, no sentido de dar vida e de criar um Homem Novo - um
homem livre da escravidão do egoísmo, do pecado e da morte (para João, o último
passo dessa actividade destinada a fazer surgir o Homem Novo foi, precisamente,
a morte na cruz: aí, Jesus apresentou a última e definitiva lição - a lição do
amor total, que não guarda nada para si, mas faz da vida um dom radical ao Pai
e aos irmãos). Na segunda parte do Evangelho (cf. Jo 20,1-31), João apresenta o
resultado da acção de Jesus e mostra essa comunidade de Homens Novos, recriados
e vivificados por Jesus, que com Ele aprenderam a amar com radicalidade e a
quem Jesus abriu as portas da vida definitiva. Trata-se dessa comunidade de
homens e mulheres que se converteram e aderiram a Jesus e que, em cada dia -
mesmo diante do sepulcro vazio - são convidados a manifestar a sua fé n'Ele.
A cena situa-nos na manhã do domingo de Páscoa, em Jerusalém. João descreve a
reacção dos discípulos diante da descoberta do sepulcro vazio.
MENSAGEM
O texto começa com uma indicação aparentemente
cronológica, mas que deve ser entendida, sobretudo, em chave teológica:
"no primeiro dia da semana". Significa que aqui começou um novo ciclo
- o da nova criação, o da libertação definitiva. Este é o "primeiro
dia" de um novo tempo e de uma nova realidade - o tempo do Homem Novo, que
nasceu a partir da acção criadora e vivificadora de Jesus.
A primeira personagem em cena é Maria Madalena: ela é a primeira a dirigir-se
ao túmulo de Jesus, ainda o sol não tinha nascido, na manhã do "primeiro
dia da semana". Maria Madalena representa, no Quarto Evangelho, a nova
comunidade nascida da acção criadora e vivificadora do Messias. Inicialmente,
os discípulos acreditaram que a morte tinha triunfado e pensavam que Jesus estava
prisioneiro do sepulcro... A comunidade nascida de Jesus era, em consequência,
uma comunidade perdida, desorientada, insegura, desamparada, que ainda não
descobrira que a morte tinha sido derrotada. Por isso, procurou Jesus no
túmulo, mas, diante do sepulcro vazio, tomou consciência da ressurreição e
percebeu que a morte não tinha vencido Jesus.
Na sequência, João apresenta uma catequese sobre a dupla atitude dos discípulos
diante do mistério da morte e da ressurreição de Jesus. Essa dupla atitude é expressa
no comportamento dos dois discípulos que, na manhã da Páscoa, correram ao
túmulo de Jesus: Simão Pedro e um "outro discípulo" não identificado
(mas que parece ser esse "discípulo amado", apresentado no Quarto
Evangelho como o modelo ideal do discípulo).
João coloca, aliás, estas duas figuras lado a lado em várias circunstâncias (na
última ceia, é o "discípulo amado" que percebe quem está do lado de
Jesus e quem O vai trair - cf. Jo 13,23-25; na paixão, é ele que consegue estar
perto de Jesus no átrio do sumo sacerdote, enquanto Pedro O trai - cf. Jo
18,15-18.25-27; é ele que está junto da cruz quando Jesus morre - cf. Jo
19,25-27; é ele quem reconhece Jesus ressuscitado nesse vulto que aparece aos
discípulos no lago de Tiberíades - cf. Jo 21,7). Nas outras vezes, o
"discípulo amado" levou sempre vantagem sobre Pedro. Aqui, isso irá
acontecer outra vez: o "outro discípulo" correu mais e chegou ao
túmulo primeiro que Pedro (o facto de se dizer que ele não entrou logo pode
querer significar a sua deferência e o seu amor, que resultam da sua sintonia
com Jesus); e, depois de ver, "acreditou" (o mesmo não se diz de
Pedro).
O que é que estas duas figuras de discípulo representam?
Em geral, Pedro representa, nos Evangelhos, o discípulo obstinado, para quem a
morte significa fracasso e que se recusa a aceitar que a vida nova passe pela
humilhação da cruz (Jo 13,6-8.36-38; 18,16.17.18.25-27; cf. Mc 8,32-33; Mt
16,22-23). Ele é, em várias situações, o discípulo que tem dificuldade em
entender os valores que Jesus propõe, que raciocina de acordo com a lógica do
mundo e que não entende que a vida eterna e verdadeira possa brotar da cruz. Na
sua perspectiva, Jesus fracassou, pois insistiu - contra toda a lógica - em
servir e em dar a vida. Para ele, a doação e a entrega não podem conduzir à
vitória, mas sim à derrota; portanto, Jesus morreu e o caso está encerrado. A
eventual ressurreição de Jesus é, pois, uma hipótese absurda e sem sentido.
Ao contrário, o "outro discípulo" - o "discípulo amado" - é
aquele que está sempre próximo de Jesus, que se identifica com Jesus, que adere
incondicionalmente aos valores de Jesus, que ama Jesus. Nessa comunhão e
intimidade com Jesus, ele aprendeu e interiorizou a lógica de Jesus e percebeu
que a doação e a entrega são um caminho de vida. Para ele, faz todo o sentido
que Jesus tenha ressuscitado ("viu e acreditou" - vers. 8), pois a
vitória sobre a morte é o resultado lógico do dom da vida, do amor até ao
extremo.
Esse "outro discípulo" é, portanto, a imagem do discípulo ideal, que
está em sintonia total com Jesus, que percebe e aceita os valores de Jesus, que
está disposto a embarcar com Jesus na lógica do amor e do dom da vida, que
corre ao encontro de Jesus com um total empenho, que compreende os sinais da
ressurreição e que descobre (porque o amor leva à descoberta) que Jesus está
vivo. Ele é o paradigma do Homem Novo, do homem recriado por J
esus.
ACTUALIZAÇÃO
• Também aqui - como em várias outras
passagens do Evangelho - Pedro desempenha um papel estranho e infeliz: é o
papel de um discípulo que continua a não sintonizar com Jesus e com a sua
lógica. No entanto, não podemos ser demasiado duros com Pedro: ele é, apenas, o
paradigma de uma figura de discípulo que conhecemos bem: o discípulo que tem
dificuldade em perceber Jesus e os seus valores, pois está habituado a
funcionar de acordo com outros valores e padrões - os valores e padrões dos
homens. A lógica humana ensina-nos que o amor partilhado até à morte, o serviço
simples e sem pretensões, a doação e a entrega da vida, só conduzem ao fracasso
e não são um caminho sólido e consistente para chegar ao êxito, ao triunfo, à
glória; da cruz, do amor radical, da doação de si, não pode resultar
realização, felicidade, vida plena, êxito profissional ou social. Como nos
situamos face a esta lógica?
• O "discípulo predilecto" de que
fala o texto é o discípulo que vive em comunhão com Jesus, que se identifica
com Jesus e com os seus valores, que interiorizou e absorveu a lógica da
entrega incondicional, do dom da vida, do amor total. Modelo do verdadeiro
discípulo, ele convida-nos à identificação com Jesus, à escuta atenta e
comprometida dos valores de Jesus, ao seguimento de Jesus. Propõe-nos uma
renúncia firme a esquemas de egoísmo, de injustiça, de orgulho, de prepotência
e a realizar gestos que sejam sinais do amor, da bondade, da misericórdia e da
ternura de Deus.
• A ressurreição de Jesus prova, precisamente,
que a vida plena, a vida total, a transfiguração total da nossa realidade
finita e das nossas capacidades limitadas, passa pelo amor que se dá, com
radicalidade, até às últimas consequências. Garante-nos que a vida gasta a amar
não é perdida nem fracassada, mas é o caminho para a vida plena e verdadeira,
para a felicidade sem fim. Temos consciência disso? É nessa direcção que conduzimos
a caminhada da nossa vida?
• Pela fé, pela esperança, pelo seguimento de
Cristo e pelos sacramentos, a semente da ressurreição (o próprio Jesus) é
depositada na realidade do homem/corpo. Revestidos de Cristo, somos nova
criatura: estamos, portanto, a ressuscitar, até atingirmos a plenitude, a
maturação plena, a vida total (quando ultrapassarmos a barreira da morte
física). Aqui começa, pois, a nova humanidade.
• A figura de Pedro pode também representar,
aqui, essa velha prudência dos responsáveis institucionais da Igreja, que os
impede de ir à frente da caminhada do Povo de Deus, de arriscar, de aceitar os
desafios, de aderir ao novo, ao desconcertante, ao incompreensível. O Evangelho
de hoje sugere que é, precisamente nesse novo, desconcertante, incompreensível
à luz da lógica humana que, tantas vezes, se revela o mistério de Deus e se
encontram ecos de ressurreição e de vida nova.
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O DOMINGO DE
PÁSCOA
(adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao Domingo de Páscoa, procurar meditar a
Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia,
por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da
Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos
eclesiais, numa comunidade religiosa... Aproveitar, sobretudo, a semana para
viver em pleno a Palavra de Deus... Aproveitar, sobretudo, a Semana Santa para
viver em pleno a Palavra de Deus.
2. BILHETE DE EVANGELHO.
Demos a morte àquele que, com um olhar, dava dignidade aos feridos da vida,
então Maria Madalena reconhece-O quando Ele a chama pelo seu nome. Demos a
morte àquele que tinha falado do amor como de um dom, então Tomé reconhece-O
nas suas feridas, provas do dom da sua vida. Demos a morte àquele que tinha
declarado "felizes os construtores de paz", então os discípulos
reconhecem-n'O na sua saudação: "A paz esteja convosco!" Demos a
morte àquele que tinha partilhado o pão, então dois dos seus discípulos
reconhecem-n'O no gesto da fracção do pão a caminho de Emaús. A morte não teve
a última palavra. Doravante, quem terá a última palavra é a Vida, o Amor, a
Paz, a Fé. Tal é na nossa esperança.
3. À ECUTA DA PALAVRA.
"Ele viu e acreditou". O discípulo que Jesus amava viu aquilo que
Simão Pedro via: um túmulo vazio, com as ligaduras e o sudário... Mas João crê.
Porquê esta diferença na atitude dos dois discípulos? O amor de Pedro por Jesus
era grande. Mas com a tríplice negação, o seu amor tinha necessidade de ser
confirmado, purificado, perdoado. João, ele, o único entre os apóstolos, ficou
até ao fim. Deixou-se invadir por um amor sem falhas. Na última Ceia, tinha
sentido bater mais perto o coração do Senhor. Diante do túmulo vazio, ele sabe
que se trata de algo de infinitamente mais misterioso, mais decisivo. Muitos
homens não tiveram fé no testemunho dos apóstolos. É este amor que nos faz ver
para lá das aparências e que queimava o coração de João. "Para vós,
pergunta-nos sempre Jesus, quem sou Eu?"
4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE...
Falar verdade... Uma maneira simples de testemunhar a nossa fé na ressurreição
de Cristo no "primeiro dia da semana" seria, para nós cristãos, não
falar mais de fim da semana! Porque, evidentemente, o domingo não é o fim da
semana, mas o seu começo. O domingo é o primeiro dia, o dia do Senhor.
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
Tel. 218540900 - Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.pt
Eu, Jair Ferreira da Cidade de Cruz das Almas, na Bahia da Diocese Nossa Senhora do Bom Sucesso, leio e reflito sobre as leituras diária dessa equipe(José Salviano, Helena Serpa, Olívia Coutinho, Dehoniamos, Jorge Lorente, Vera Lúcia, Maria de Lourdes Cury Macedo) colocando em prática no meu dia-dia, obrigado a todos que doaram um pouco do seu tempo para evangelizar, catequizar e edificar o reino de Deus, que o Senhor Jesus Cristo e Nossa Mãe Maria Santíssima continue iluminando a todos. Abraços fraternos.
ResponderExcluirObrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
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