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Janeiro 2021
Tempo Comum - Anos Ímpares - III Semana -
Quarta-feira
Lectio
Primeira leitura: Hebreus 10, 11-18
11Todo o sacerdote da antiga aliança se
apresenta diariamente para oferecer o culto, oferecendo muitas vezes os mesmos
sacrifícios, que nunca podem apagar os pecados. 12Cristo, porém, depois de
oferecer pelos pecados um único sacrifício, sentou-se para sempre à direita de
Deus, 13esperando, por último, que os seus inimigos sejam postos como estrado
dos seus pés. 14De facto, com uma só oferta, Ele tornou perfeitos para sempre
os que são santificados. 15É o que o Espírito Santo também nos atesta. De
facto, depois disse: 16Esta é a aliança que estabelecerei com eles, depois daqueles
dias, diz o Senhor: 'Porei as minhas leis nos seus corações e gravá-las-ei nas
suas mentes; 17e não mais me recordarei dos seus pecados nem das suas
iniquidades.' 18Ora, onde há perdão dos pecados, já não há necessidade de
oferenda pelos pecados.
As reflexões do autor continuam centradas na
superioridade do sacerdócio e do sacrifício de Cristo relativamente a todos os
sacrifícios oferecidos pelo sacerdócio de Aarão. Dirigindo-se a judeo-cristãos
que passam por um momento de crise e de saudade do antigo culto, o autor
estabelece uma relação directa entre os sacerdotes do templo e Cristo. Os
primeiros apresentam-se submetidos a uma permanente e vã repetição de ritos que
não chegam a purificar as consciências e a libertar do pecado. São sacrifícios
externos, apenas sombra do verdadeiro sacrifício. Ergue-se diante deles a
figura majestosa de Cristo que, tendo oferecido «uma só vez» a sua vida em
obediência ao Pai, está «agora» na sua presença e «sentado» à sua direita, à
espera que amadureçam todos os frutos da obra de salvação realizada. Agora está
aberto, e assim permanece para sempre, o acesso ao verdadeiro «Santos dos
santos». Assim, segundo o autor da Carta, realiza-se a profecia de Jeremias
(31, 33ss.) sobre a «nova aliança»: Deus escreveu a sua lei no coração do homem
e perdoou os seus pecados. Agora, cada homem é potencialmente filho de Deus, no
Filho muito amado. A Igreja, ao oferecer todos os dias o sacrifício
eucarístico, não repete o evento da paixão-morte de Jesus, mas renova para todo
os homens, cada dia, aquele único sacrifício. Assim, oferece a cada um a
possibilidade de entrar livremente em comunhão vital com Cristo e tornar-se
membro vivo do seu corpo místico.
Evangelho: Mc 4, 1-20
Naquele tempo, 1Jesus, começou a ensinar De
novo à beira-mar. Uma enorme multidão vem agrupar-se junto dele e, por isso,
sobe para um barco e senta-se nele, no mar, ficando a multidão em terra, junto
ao mar. 2Ensinava-lhes muitas coisas em parábolas e dizia nos seus
ensinamentos: 3«Escutai: o semeador saiu a semear. 4Enquanto semeava, uma parte
da semente caiu à beira do caminho e vieram as aves e comeram-na. 5Outra caiu
em terreno pedregoso, onde não havia muita terra e logo brotou, por não ter
profundidade de terra; 6mas, quando o sol se ergueu, foi queimada e, por não
ter raiz, secou. 7Outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram,
sufocaram-na, e não deu fruto. 8Outra caiu em terra boa e, crescendo e
vicejando, deu fruto e produziu a trinta, a sessenta e a cem por um.» 9E dizia:
«Quem tem ouvidos para ouvir, oiça.» 10Ao ficar só, os que o rodeavam,
juntamente com os Doze, perguntaram-lhe o sentido da parábola. 11Respondeu: «A
vós é dado conhecer o mistério do Reino de Deus; mas, aos que estão de fora,
tudo se lhes propõe em parábolas, 12para que ao olhar, olhem e não vejam, ao
ouvir, oiçam e não compreendam, não vão eles converter-se e ser perdoados.» 13E
acrescentou: «Não compreendeis esta parábola? Como compreendereis então todas
as outras parábolas? 14O semeador semeia a palavra. 15Os que estão ao longo do
caminho são aqueles em quem a palavra é semeada; e, mal a ouvem, chega Satanás
e tira a palavra semeada neles. 16Do mesmo modo, os que recebem a semente em
terreno pedregoso, são aqueles que, ao ouvirem a palavra, logo a recebem com
alegria, 17mas não têm raiz em si próprios, são inconstantes e, quando surge a
tribulação ou a perseguição por causa da palavra, logo desfalecem. 18Outros há
que recebem a semente entre espinhos; esses ouvem a palavra, 19mas os cuidados
do mundo, a sedução das riquezas e as restantes ambições entram neles e sufocam
a palavra, que fica infrutífera. 20Aqueles que recebem a semente em boa terra
são os que ouvem a palavra, a recebem, dão fruto e produzem a trinta, a
sessenta e a cem por um.»
O reino de Deus é proclamado pela palavra.
Marcos, na secção que hoje abre, oferece-nos uma teologia da palavra do reino.
Jesus começa a falar «em parábolas». Era o método usado pelos rabinos. As
parábolas são «histórias» aparentemente simples, mas com um elemento-surpresa e
uma conclusão inesperada que convidam a procurar um segundo significado, para
além do imediato.
A parábola começa e termina com dois imperativos: «Escutai» (v. ). Em sentido
bíblico, «escutai» significa «obedecei», isto é, dai a vossa adesão
(ob-audire). Jesus quer entrar em relação viva com as pessoas a quem se dirige.
Começa por centrar a atenção dos ouvintes na generosa sementeira. Mas logo a
centra na semente. Vem, depois, a tipologia dos terrenos que recebem a semente.
Há um evidente exagero ao falar da «boa terra». A imagem da colheita sugere o
fim dos tempos. A parábola, ao fim e ao cabo, diz-nos que o Messias está
próximo e descreve a abundância de graça do Reino messiânico.
No diálogo com «os que o rodeavam», a semente é claramente identificada com a
Palavra, e os terrenos correspondem às diferentes reacções suscitadas pela
pregação dos apóstolos. Jesus veio realizar a missão de semear a Palavra.
Semeou com generosidade, movido pelo excessivo amor que tudo crê, também que o
deserto há-de florescer. Assim nos faz compreender também que a Palavra deve
ser pregada a todos, sem desânimo, sem medo de fracassar. A seu tempo dará
fruto.
Meditatio
O mistério de Cristo é o mistério de uma
natureza humana «tornada perfeita» por meio do sofrimento: «Convinha que aquele
por quem e para quem existem todas as coisas, querendo levar muitos filhos à
glória, levasse à perfeição, por meio dos sofrimentos, o autor da sua salvação»
(Heb 2, 10). Depois desta afirmação, o autor descreve os sofrimentos de Cristo
e conclui: Jesus «tornado perfeito, tornou-se para todos os que lhe obedecem
fonte de salvação eterna, tendo sido proclamado por Deus Sumo Sacerdote segundo
a ordem de Melquisedec» (Heb 5, 9-10). Pode parecer-nos estranho aplicar a
Cristo a expressão «tornar perfeito» que, no Antigo Testamento, só é usado em
referência à consagração dos sacerdotes, cujas mã
os, e toda a sua pessoa, hão-de ser tornadas perfeitas para oferecer a Deus o
sacrifico. Cristo foi transformado pelo seu sacrifício para se tornar o
sacerdote absolutamente perfeito.
Mas a consagração sacerdotal de Cristo, obtida no seu sacrifício, vale para
Ele, mas também para nós: «com uma só oferta, Ele tornou perfeitos para sempre
os que são santificados» (v. 14). Aqui está a grande novidade: o autor aplica
aos cristãos o mesmo verbo que aplicou acerca de Cristo «tornar perfeito».
Cristo recebe a consagração sacerdotal e, ao mesmo tempo, confere-a a nós. Com
o seu sacrifício, Cristo tornou-nos, também a nós, capazes de nos apresentar a
Deus em atitude sacerdotal, apresentando ofertas. Por isso, graças ao sacrifico
de Cristo, podemos aproximar-nos com toda a confiança diante de Deus, entrar no
santuário mais secreto.
Na afirmação: «com uma só oferta, Ele tornou perfeitos para sempre os que são
santificados» (v. 14), podemos distinguir dois aspectos: somos verdadeiramente
consagrados a Deus e podemos oferecer o sacrifício; a nossa santificação é
apenas um começo que exige desenvolvimento, crescimento: «tornou perfeitos para
sempre os que são santificados» (v. 14). A santificação recebida no baptismo
há-de desenvolver-se cada dia, aplicando à nossa pessoa o sacrifício de Cristo,
mas também revivendo-o, de modo especial, nos nossos próprios sofrimentos e
tribulações.
A presença misteriosa do cristão em Cristo morto e ressuscitado é expressa por
Paulo com a simples expressão «en Christo» (in Christo) usado 164 vezes nas
suas cartas, com diferentes matizes. Na Primeira Carta a Timóteo fala do
mistério de Cristo como o grande mistério da piedade (3, 16). Deste mistério da
piedade todo o baptizado participa: «Com uma só oferta (sacrifício, oblação),
(Cristo) tornou perfeitos para sempre os que foram santificados» (Heb 10, 14;
cf. 5, 9). A espiritualidade oblativa dehoniana é uma espiritualidade
tipicamente baptismal (cf. Cst n. 13). A nossa missão dehoniana impele-nos a
ser testemunhas desta espiritualidade baptismal com a nossa vida e com a nossa
palavra junto dos irmãos cristãos.
O sacerdócio de Cristo não é um sacerdócio clerical, mas laical (cf. Heb 5,
6.10). Se todo o cristão participa do sacerdócio de Cristo é preciso
desclericalizar o sacerdócio. Com isto não queremos confundir o sacerdócio
universal com o sacerdócio ministerial; mas sem o primeiro, não existe o
segundo. A função essencial do sacerdote é «oferecer». Não há sacerdócio sem uma
vítima para oferecer. Jesus é a vítima do Seu sacerdócio (cf. Heb 5, 7-10). E é
mesmo a sua atitude oblativa que constitui a essência do Seu sacerdócio (cf.
Heb 10, 5-18). É o «Ecce venio», o «eis-me aqui!» (Heb 10, 7). As nossas
Constituições afirmam: «Para o Padre Dehon, o Ecce Venio (Heb 10,7) define a
atitude fundamental da nossa vida» (Cst 58; cf. n. 6). O Oblato-Sacerdote do
Coração de Jesus, tal como Cristo, deve oferecer a si mesmo, no seu dia a dia
(cf. Lc 9, 23). E, pela acção transformadora do Espírito Santo, todas as suas
acções, mesmo as mais humildes, são qualificadas como sacerdotais e
sacrificiais.
Oratio
Ó Pai, que estás nos céus, nós Te adoramos e
damos graças, porque em Cristo nos revelaste o mistério do teu amor e nos
chamaste a ser santos e imaculados pela caridade. Do seu Coração trespassado
obtivemos a vida e o perdão dos pecados. Nessa fonte de água viva fomos
consagrados sacerdotes do teu amor. Unidos a Jesus, renovamos a oferta da nossa
vida pelo advento do teu Reino. Nós Te apresentamos a nossa castidade, a nossa
pobreza e a nossa obediência, com a nossa vida fraterna e o nosso apostolado,
para que, unidas à dos irmãos, nos obtenham a plenitude da tua misericórdia.
Pai Santo, faz de nós um sacrifício perene para louvor da tua glória. Ámen.
Contemplatio
Nosso Senhor, depois do ouro e do incenso,
pede a mirra... São os sofrimentos, seja qual for o seu nome e venham donde
vierem, que devem ser suportados em espírito de puro amor, por amor e com amor,
em espírito de reparação e de expiação, em união com os sofrimentos de Nosso
Senhor. Têm então um grande valor e uma grande eficácia, por pequenos que sejam
em si mesmos e mesmo que não dêem nas vistas. Assim, portanto, os três dons,
são um coração para amar, um corpo para sofrer, uma vontade para ser
sacrificada e em tudo submetida à vontade divina. Nosso Senhor não deu ele
próprio o exemplo mais perfeito deste tríplice dom para com o seu Pai? Onde é
que é possível encontrar-se um coração que tenha amado mais puramente e mais
generosamente que o do nosso Salvador, o Coração da vítima do amor? Quem há que
mais dolorosamente tenha sofrido? E por quem? E porquê? E a sua vontade não era
a do seu Pai celeste! Ele recordou-o muitas vezes no Evangelho. Recordemo-nos
somente do seu Ecce Venio, que deve ser a máxima favorita dos amigos do seu
Coração, esta palavra que deve estar em cada instante sobre os seus lábios, mas
ainda mais nos seus corações. Nesta palavra estão contidos os três sacrifícios
que resumem toda a sua vocação, a sua missão. «Meu Deus, destes-me um corpo
para ser sacrificado, para sofrer, um coração para amar e para sofrer também,
uma vontade para ser imolada como a mais preciosa vítima e a mais agradável a
Deus». Aí está o que deve ser o sacrifício oferecido cada dia ao Cordeiro santo
e imaculado e com ele ao seu Pai. Esta era também a disposição que Maria
exprimia com o seu Ecce ancilla. Ela abandonava-se ao amor divino e estava
pronta a tudo sacrificar à divina vontade. (Leão Dehon, OSP 3, p. 33s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Um coração para amar, um corpo para sofrer, uma vontade para ser oferecida»
(Leão Dehon, OSP 3, p. 33)».
DEUS te abençoe e te ilumine. Obrigado pela reflexão.
ResponderExcluirSanta Maria, Rio Grande do Sul.
Eu, Jair Ferreira da Cidade de Cruz das Almas, na Bahia da Diocese Nossa Senhora do Bom Sucesso, leio e reflito sobre as leituras diária dessa equipe(José Salviano, Helena Serpa, Olívia Coutinho, Dehoniamos, Jorge Lorente, Vera Lúcia, Maria de Lourdes Cury Macedo) colocando em prática no meu dia-dia, obrigado a todos que doaram um pouco do seu tempo para evangelizar, catequizar e edificar o reino de Deus, que o Senhor Jesus Cristo e Nossa Mãe Maria Santíssima continue iluminando a todos. Abraços fraternos.
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