Festa do Baptismo do Senhor – Ano B
10 Janeiro 2021
ANO B
FESTA DO BATISMO DO SENHOR
Tema da Festa do Baptismo do Senhor
A liturgia deste domingo tem como cenário de
fundo o projecto salvador de Deus. No baptismo de Jesus nas margens do Jordão,
revela-se o Filho amado de Deus, que veio ao mundo enviado pelo Pai, com a
missão de salvar e libertar os homens. Cumprindo o projecto do Pai, Ele fez-se
um de nós, partilhou a nossa fragilidade e humanidade, libertou-nos do egoísmo
e do pecado e empenhou-Se em promover-nos, para que pudéssemos chegar à vida em
plenitude.
A primeira leitura anuncia um misterioso “Servo”, escolhido por Deus e enviado
aos homens para instaurar um mundo de justiça e de paz sem fim… Investido do
Espírito de Deus, ele concretizará essa missão com humildade e simplicidade,
sem recorrer ao poder, à imposição, à prepotência, pois esses esquemas não são
os de Deus.
No Evangelho, aparece-nos a concretização da promessa profética: Jesus é o
Filho/”Servo” enviado pelo Pai, sobre quem repousa o Espírito e cuja missão é
realizar a libertação dos homens. Obedecendo ao Pai, Ele tornou-Se pessoa,
identificou-Se com as fragilidades dos homens, caminhou ao lado deles, a fim de
os promover e de os levar à reconciliação com Deus, à vida em plenitude.
A segunda leitura reafirma que Jesus é o Filho amado que o Pai enviou ao mundo
para concretizar um projecto de salvação; por isso, Ele “passou pelo mundo
fazendo o bem” e libertando todos os que eram oprimidos. É este o testemunho
que os discípulos devem dar, para que a salvação que Deus oferece chegue a
todos os povos da terra.
LEITURA I – Is 42,1-4.6-7
Leitura do Livro de Isaías
Diz o Senhor:
«Eis o meu servo, a quem Eu protejo,
o meu eleito, enlevo da minha alma.
Sobre ele fiz repousar o meu espírito,
para que leve a justiça às nações.
Não gritará, nem levantará a voz,
nem se fará ouvir nas praças;
não quebrará a cana fendida,
nem apagará a torcida que ainda fumega:
proclamará fielmente a justiça.
Não desfalecerá nem desistirá,
enquanto não estabelecer a justiça na terra,
a doutrina que as ilhas longínquas esperam.
Fui Eu, o Senhor, que te chamei segundo a justiça;
tomei-te pela mão, formei-te
e fiz de ti a aliança do povo e a luz das nações,
para abrires os olhos aos cegos,
tirares do cárcere os prisioneiros
e da prisão os que habitam nas trevas».
AMBIENTE
O nosso texto pertence ao “Livro da
Consolação” do Deutero-Isaías (cf. Is 40-55). “Deutero-Isaías” é um nome
convencional com que os biblistas designam um profeta anónimo da escola de
Isaías, que cumpriu a sua missão profética na Babilónia, entre os exilados
judeus. Estamos na fase final do Exílio, entre 550 e 539 a.C.; os judeus
exilados estão frustrados e desorientados pois, apesar das promessas do profeta
Ezequiel, a libertação tarda… Será que Deus se esqueceu do seu Povo? Será que
as promessas proféticas eram apenas “conversa fiada”?
O Deutero-Isaías aparece então com uma mensagem destinada a consolar os
exilados. Começa por anunciar a iminência da libertação e por comparar a saída
da Babilónia ao antigo êxodo, quando Deus libertou o seu Povo da escravidão do
Egipto (cf. Is 40-48); depois, anuncia a reconstrução de Jerusalém, essa cidade
que a guerra reduziu a cinzas, mas à qual Deus vai fazer regressar a alegria e
a paz sem fim (cf. Is 49-55).
No meio desta proposta “consoladora” aparecem, contudo, quatro textos (cf. Is
42,1-9; 49,1-13; 50,4-11; 52,13-53,12) que fogem um tanto a esta temática. São
cânticos que falam de uma personagem misteriosa e enigmática, que os biblistas
designam como o “Servo de Jahwéh”: ele é um predilecto de Jahwéh, a quem Deus
chamou, a quem confiou uma missão profética e a quem enviou aos homens de todo
o mundo; a sua missão cumpre-se no sofrimento e numa entrega incondicional à
Palavra; o sofrimento do profeta tem, contudo, um valor expiatório e redentor,
pois dele resulta o perdão para o pecado do Povo; Deus aprecia o sacrifício
deste “Servo” e recompensá-lo-á, fazendo-o triunfar diante dos seus detractores
e adversários.
O texto que hoje nos é proposto é parte do primeiro cântico do “Servo” (cf. Is
42,1-9). É possível que a personagem referenciada neste primeiro cântico seja
Ciro, rei dos persas, o homem a quem Deus confiou a libertação do seu Povo…
MENSAGEM
O nosso texto tem duas partes; ambas afirmam –
como se estivéssemos diante de dois movimentos concêntricos, que partem do
mesmo lugar e terminam da mesma forma – a eleição do “Servo” e a sua missão. No
entanto, a primeira desenvolve mais o aspecto do chamamento; a segunda define
melhor a questão da missão.
Na primeira parte (vers. 1-4), afirma-se que o “Servo” é um “eleito” (“behir”)
de Deus, isto é, alguém que Deus se dignou “escolher” (“bahar”) entre muitos,
em vista de uma função ou missão especial (cf. Nm 16,5.7; 17,20; Dt 4,37;
7,6.7; 10,15; 14,2; 18,5; 21,5; 1 Sm 2,28; 10,24; 2 Sm 6,21; 1 Re 3,8; etc.).
Estamos no contexto da “eleição”, isto é, no contexto em que Deus destaca
alguém de entre muitos para o seu serviço.
A “ordenação” do “Servo” realiza-se através do dom do Espírito (“ruah”), que
dará ao “Servo” o alento de Jahwéh, a capacidade para levar a cabo a missão: é
o mesmo Espírito que Deus derrama sobre os chefes carismáticos do Povo de Deus
(cf. Jz 33,10; 1 Sm 9,17; 16,12-13). Animado por esse Espírito, o “Servo” irá
levar “a justiça (‘mishpat’) às nações”: será uma missão de âmbito universal,
que consistirá na implementação das decisões justas dos tribunais, base de uma
ordem social consentânea com os esquemas e os projectos de Deus. A
implementação dessa “nova ordem” não se dará com o recurso à força, à
violência, ao espectáculo, mas com a bondade, a mansidão, a simplicidade que
definem a lógica de Deus. Sobretudo, o “Servo” actuará com simplicidade, sem
nada impor e sem desanimar perante as dificuldades da missão.
Na segunda parte (vers. 6-7), começa-se por afirmar que o “Servo” foi “chamado”
pelo Senhor e, imediatamente, passa-se à finalidade desse chamamento: instaurar
“a justiça” (“tzedeq”) – isto é, a missão do “Servo” é o estabelecimento de uma
recta ordem social. Explicitando melhor a missão do “Servo”, Deus convida-o a
ser “a luz das nações&
rdquo; e, em concreto, a abrir os olhos aos cegos, a tirar do cárcere os
prisioneiros e da prisão os que habitam nas trevas. É, portanto, uma missão de
libertação e de salvação.
Nas duas partes fica claro que o “Servo” é um instrumento através do qual Deus
actua no mundo para levar a salvação aos homens: Ele é alguém que Deus escolheu
entre muitos, a quem chamou e a quem confiou uma missão – trazer a justiça,
propor a todas as nações uma nova ordem social da qual desaparecerão as trevas
que alienam e impedem de caminhar e oferecer a todos os homens a liberdade e a
paz. Deus não só está na origem (escolha, chamamento e envio) da missão do
“Servo”, mas acompanhará a concretização da missão e possibilitará o seu êxito:
para levar a cabo a missão, o “Servo” contará com a ajuda do Espírito de Deus,
que lhe dará a força de assumir a missão e de concretizá-la.
ACTUALIZAÇÃO
A reflexão pode partir das seguintes questões:
• A figura misteriosa e enigmática do “Servo”
de que fala o Deutero-Isaías apresenta evidentes pontos de contacto com a
figura de Jesus… Os primeiros cristãos – colocados perante a dificuldade de
explicar como é que o Messias tinha sido condenado pelos homens e pregado na
cruz – irão utilizar os cânticos do “Servo” para justificar o sofrimento e o
aparente fracasso humano de Jesus: Ele é esse “eleito de Deus”, que recebeu a
plenitude do Espírito, que veio ao encontro dos homens com a missão de trazer a
justiça e a paz definitivas, que sofreu e morreu para ser fiel a essa missão
que o Pai lhe confiou.
• A história do “Servo” mostra-nos, desde já,
que Deus actua através de instrumentos a quem Ele confia a transformação do
mundo e a libertação dos homens. Tenho consciência de que cada baptizado é um
instrumento de Deus na renovação e transformação do mundo? Estou disposto a
corresponder ao chamamento de Deus e a assumir os meus compromissos quanto a
esta questão, ou prefiro fechar-me no meu canto e demitir-me da minha responsabilidade
profética? Os pobres, os oprimidos, todos os que “jazem nas trevas e nas sobras
da morte” podem contar com o meu apoio e empenho?
• Convém não esquecer que a missão profética
só faz sentido à luz de Deus e que tudo parte da iniciativa de Deus: é Ele que
escolhe, que chama, que envia e que capacita para a missão… Aquilo que eu faço,
por mais válido que seja, não é obra minha, mas sim de Deus; o meu êxito na
missão não resulta das minhas qualidades, mas da iniciativa de Deus que age em
mim e através de mim.
• Atentemos ainda na forma de actuar do
“Servo”: ele não se impõe pela força, pela violência, pelo dinheiro, ou pelos
amigos poderosos; mas actua com suavidade, com mansidão, no respeito pela
liberdade dos outros… É esta lógica – a lógica de Deus – que eu utilizo no
desempenho da missão profética que Deus me confiou?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 28 (29)
Refrão: O Senhor abençoará o seu povo na paz.
Tributai ao Senhor, filhos de Deus,
tributai ao Senhor glória e poder.
Tributai ao Senhor a glória do seu nome,
adorai o Senhor com ornamentos sagrados.
A vos do Senhor ressoa sobre as nuvens,
o Senhor está sobre a vastidão das águas.
A voz do Senhor é poderosa,
a voz do Senhor é majestosa.
A majestade de Deus faz ecoar o seu trovão
e no seu templo todos clamam: Glória!
Sobre as águas do dilúvio senta-Se o Senhor,
o Senhor senta-Se como rei eterno.
LEITURA II – Actos 10,34-38
Leitura dos Actos dos Apóstolos
Naqueles dias,
Pedro tomou a palavra e disse:
«Na verdade,
eu reconheço que Deus não faz acepção de pessoas,
mas, em qualquer nação,
aquele que O teme e pratica a justiça é-Lhe agradável.
Ele enviou a sua palavra aos filhos de Israel,
anunciando a paz por Jesus Cristo, que é o Senhor de todos.
Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia,
a começar pela Galileia,
depois do baptismo que João pregou:
Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré,
que passou fazendo o bem
e curando todos os que eram oprimidos pelo demónio,
porque Deus estava com Ele».
AMBIENTE
Os “Actos dos Apóstolos” são uma catequese
sobre a “etapa da Igreja”, isto é, sobre a forma como os discípulos assumiram
ou continuaram o projecto salvador do Pai e o levaram – após a partida de Jesus
deste mundo – a todos os homens.
O livro divide-se em duas partes. Na primeira (cf. Act 1-12), a reflexão
apresenta-nos a difusão do Evangelho dentro das fronteiras palestinas, por
acção de Pedro e dos Doze; a segunda (cf. Act 13-28) apresenta-nos a expansão
do Evangelho fora da Palestina (até Roma), sobretudo por acção de Paulo.
O nosso texto de hoje está integrado na primeira parte dos “Actos”. Insere-se
numa perícopa que descreve a actividade missionária de Pedro na planície do Sharon
(cf. Act 9,32-11,18) – isto é, na planície junto da orla mediterrânica
palestina. Em concreto, o texto propõe-nos o testemunho e a catequese de Pedro
em Cesareia, em casa do centurião romano Cornélio. Convocado pelo Espírito (cf.
Act 10,19-20), Pedro entra em casa de Cornélio, expõe-lhe o essencial da fé e
baptiza-o, bem como a toda a sua família (cf. Act 10,23b-48). O episódio é
importante porque Cornélio é o primeiro pagão a cem por cento a ser admitido ao
cristianismo por um dos Doze: significa que a vida nova que nasce de Jesus se
destina a todos os homens.
MENSAGEM
No seu discurso, Pedro começa por reconhecer
que a proposta de salvação oferecida por Deus e trazida por Cristo é universal
e se destina a todas as pessoas, sem distinção de qualquer tipo (vers. 34-36).
Israel foi, na verdade, o primeiro receptor privilegiado da Palavra de Deus;
mas Cristo veio trazer a “boa nova da paz” (salvação) a todos os homens; e
agora, por intermédio das testemunhas de Jesus, essa proposta de salvação que o
Pai faz chegar “a qualquer nação que o teme e põe em prática a justiça” – ou
seja, a todo o homem e mulher, sem distinção de raça, de cor, de estatuto
social, que aceita a proposta e adere a Jesus.
Depois de definir os contornos universais da proposta salvadora de Deus, Pedro
apresenta uma espécie de resumo da fé primitiva (vers. 37-38). É, nem mais nem
menos, do que o pôr em acto a missão fundamental dos discípulos: anunciar Jesus
e testemunhar essa salvação que deve chegar a todos os homens. A leitura que
nos é propost
a conserva apenas a parte inicial do “kerigma” primitivo e resume a actividade
de Jesus que “passou pelo mundo fazendo o bem e curando todos os que eram
oprimidos pelo demónio, porque Deus estava com Ele” (vers. 38). No entanto, o
anúncio de Pedro continua (embora a nossa leitura de hoje não o refira) com a
catequese sobre a morte (vers. 39), sobre a ressurreição (vers. 40) e sobre a
dimensão salvífica da vida de Jesus (vers. 43).
ACTUALIZAÇÃO
Na reflexão e partilha, considerar os
seguintes elementos:
• Jesus de Nazaré “passou pelo mundo fazendo o
bem e curando todos os que eram oprimidos pelo demónio”. Nos seus gestos de
bondade, de misericórdia, de perdão, de solidariedade, de amor, os homens
encontraram o projecto libertador de Deus em acção… Esse projecto continua hoje
em acção no mundo? Nós, cristãos, comprometidos com Cristo e com a sua missão
desde o nosso baptismo, testemunhamos, em gestos concretos, a bondade, a
misericórdia, o perdão e o amor de Deus pelos homens? Empenhamo-nos em libertar
todos os que são oprimidos pelo demónio do egoísmo, da injustiça, da
exploração, da solidão, da doença, do analfabetismo, do sofrimento?
• “Reconheço que Deus não faz acepção de
pessoas” – diz Pedro no seu discurso em casa de Cornélio. E nós, filhos deste
Deus que ama a todos da mesma forma e que a todos oferece igualmente a
salvação, aceitamos todos os irmãos da mesma forma, reconhecendo a igualdade
fundamental de todos os homens em direitos e dignidade? Que sentido fazem então
as discriminações por causa da cor da pele, da raça, do sexo, da orientação
sexual ou do estatuto social?
ALELUIA – cf. Mc 9,6
Aleluia. Aleluia.
Abriram-se os céus e ouviu-se a voz do Pai:
«Este é o meu Filho muito amado: escutai-O».
EVANGELHO – Mc 1,7-11
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo
São Marcos
Naquele tempo,
João começou a pregar, dizendo:
«Vai chegar depois de mim
quem é mais forte do que eu,
diante do qual eu não sou digno de me inclinar
para desatar as correias das suas sandálias.
Eu baptizo na água,
mas Ele baptizar-vos-á no Espírito Santo».
Sucedeu que, naqueles dias,
Jesus veio de Nazaré da Galileia
e foi baptizado por João no rio Jordão.
Ao subir da água, viu os céus rasgarem-se
e o Espírito, como uma pomba, descer sobre ele.
E dos céus ouviu-se uma voz:
«Tu és o meu Filho muito amado,
em Ti pus toda a minha complacência».
AMBIENTE
O Evangelho deste domingo apresenta o encontro
entre Jesus e João Baptista, nas margens do rio Jordão. Na circunstância, Jesus
foi baptizado por João.
João Baptista foi o guia carismático de um movimento de cariz popular, que
anunciava a proximidade do “juízo de Deus”. A sua mensagem estava centrada na
urgência da conversão (pois, na opinião de João, a intervenção definitiva de
Deus na história para destruir o mal estava iminente) e incluía um rito de
purificação pela água.
O “baptismo” proposto por João não era, na verdade, uma novidade insólita. O
judaísmo conhecia ritos diversos de imersão na água, sempre ligados a contextos
de purificação ou de mudança de vida. Era, inclusive, um rito usado na
integração dos “prosélitos” (os pagãos que aderiam ao judaísmo) na comunidade
do Povo de Deus.
Na perspectiva de João, provavelmente, este “baptismo” é um rito de iniciação à
comunidade messiânica: quem aceitava este “baptismo”, renunciava ao pecado,
convertia-se a uma vida nova e passava a integrar a comunidade do Messias.
O que é que Jesus tem a ver com isto? Que sentido faz Ele apresentar-Se a João
para receber este “baptismo” de purificação, de arrependimento e de perdão dos
pecados?
O texto que hoje nos é proposto faz parte de um conjunto de três cenas iniciais
(cf. Mc 1,2-8; 1,9-11; 1,12-13) nas quais Marcos apresenta Jesus como o
Messias, Filho de Deus. Nesse tríptico, fica desde logo definida a missão
específica e a verdadeira identidade de Jesus. Estas indicações iniciais irão
depois ser desenvolvidas e completadas ao longo do Evangelho.
MENSAGEM
Quem é, pois, Jesus e qual a sua missão, de
acordo com a mensagem do episódio que a liturgia de hoje nos propõe?
Na primeira parte do nosso texto (vers. 7-8), Marcos apresenta o testemunho de
João Baptista sobre Jesus. Aí, Jesus é definido por João como “Aquele que é
mais forte do que eu, diante do qual não sou digno de me inclinar para lhe
desatar as correias das sandálias” e como “Aquele que há-de baptizar-vos no
Espírito Santo”. Tanto a fortaleza como o baptismo no Espírito são
prerrogativas que caracterizam o Messias que Israel esperava (cf. Is 9,5-6;
11,2). O testemunho de João não oferece dúvidas: Jesus é esse Messias anunciado
pelos profetas, que Deus vai enviar para libertar o seu Povo e para lhe dar a
vida definitiva.
O testemunho de João irá, logo, ser confirmado pelo testemunho do próprio Deus.
Na cena do baptismo, Marcos faz referência a uma voz vinda do céu que apresenta
Jesus como “o meu Filho muito amado” (vers. 11). Esse Messias esperado é também
o Filho amado de Deus, enviado aos homens para os “baptizar no Espírito” e para
os inserir numa dinâmica de vida nova – a vida no Espírito.
O testemunho de Deus é acompanhado por três factos estranhos que, no entanto,
devem ser entendidos em referência a factos e símbolos do Antigo Testamento…
Assim, a abertura do céu significa a união da terra e do céu. A imagem
inspira-se, provavelmente, em Is 63,19, onde o profeta pede a Deus que “abra os
céus” e desça ao encontro do seu Povo, refazendo essa relação que o pecado do
Povo interrompeu. Desta forma, Marcos anuncia que a actividade de Jesus vai
reconciliar o céu e a terra, vai refazer a comunhão entre Deus e os homens.
O símbolo da pomba não é imediatamente claro… Provavelmente, não se trata de
uma alusão à pomba que Noé libertou e que retornou à arca (cf. Gn 8,8-12); é
mais provável que a pomba (em certas tradições judaicas, símbolo do Espírito de
Deus que, no início, pairava sobra as águas – cf. Gn 1,2) evoque a nova criação
que terá lugar a partir da actividade que Jesus vai iniciar.
Temos, finalmente, a voz do céu. Trata-se de uma forma muito usada pelos rabbis
para expressar a opinião de Deus acerca de uma pessoa ou de um acontecimento.
Essa voz declara que Jesus é o Filho de Deus; e fá-lo com uma fórmula tomada
desse cântico do “Servo de Jahwéh” que vimos
na primeira leitura de hoje (cf. Is 42,1)… Afirma-se, de forma clara, que Jesus
é o Filho de Deus… Mas a referência ao Servo de Jahwéh sugere que a missão de
Jesus não se desenrolará no triunfalismo, mas na obediência total ao Pai; não
se cumprirá com poder e prepotência, mas na suavidade, na simplicidade, no
respeito pelos homens (“não gritará, nem levantará a voz; não quebrará a cana
fendida, nem apagará a torcida que ainda fumega” – Is 42,2-3).
Porque é que Jesus quis ser baptizado por João? Jesus necessitava de um
baptismo cujo significado primordial estava ligado à penitência, ao perdão dos
pecados e à mudança de vida? Ao receber este baptismo de penitência e de perdão
dos pecados (do qual não precisava, porque Ele não conheceu o pecado), Jesus
solidarizou-Se com o homem limitado e pecador, assumiu a sua condição,
colocou-Se ao lado dos homens para os ajudar a sair dessa situação e para
percorrer com eles o caminho da libertação, o caminho da vida plena. Esse era o
projecto do Pai, que Jesus cumpriu integralmente.
A cena do baptismo de Jesus revela portanto, essencialmente, que Jesus é o
Filho de Deus, que o Pai envia ao mundo a fim de cumprir um projecto de
libertação em favor dos homens. Como verdadeiro Filho, Ele obedece ao Pai e
cumpre o plano salvador do Pai; por isso, vem ao encontro dos homens,
solidariza-Se com eles, assume as suas fragilidades, caminha com eles, refaz a
comunhão entre Deus e os homens que o pecado havia interrompido e conduz os
homens ao encontro da vida em plenitude. Da actividade de Jesus, o Filho de
Deus que cumpre a vontade do Pai, resultará uma nova criação, uma nova
humanidade.
ACTUALIZAÇÃO
Na reflexão, ter em conta as seguintes
questões:
• No episódio do baptismo, Jesus aparece como
o Filho amado, que o Pai enviou ao encontro dos homens para os libertar e para
os inserir numa dinâmica de comunhão e de vida nova. Nessa cena revela-se,
portanto, a preocupação de Deus e o imenso amor que Ele nos dedica… É bonita
esta história de um Deus que envia o próprio Filho ao mundo, que pede a esse
Filho que Se solidarize com as dores e limitações dos homens e que, através da
acção do Filho, reconcilia os homens consigo e fá-los chegar à vida em
plenitude. Aquilo que nos é pedido é que correspondamos ao amor do Pai,
acolhendo a sua oferta de salvação e seguindo Jesus no amor, na entrega, no dom
da vida. Ora, no dia do nosso baptismo, comprometemo-nos com esse projecto…
Temos, depois disso, renovado diariamente o nosso compromisso e percorrido, com
coerência, esse caminho que Jesus veio propor-nos?
• A celebração do baptismo do Senhor leva-nos
até um Jesus que assume plenamente a sua condição de “Filho” e que se faz
obediente ao Pai, cumprindo integralmente o projecto do Pai de dar vida ao
homem. É esta mesma atitude de obediência radical, de entrega incondicional, de
confiança absoluta que eu assumo na minha relação com Deus? O projecto de Deus
é, para mim, mais importante de que os meus projectos pessoais ou do que os
desafios que o mundo me faz?
• O episódio do baptismo de Jesus coloca-nos
frente a frente com um Deus que aceitou identificar-Se com o homem, partilhar a
sua humanidade e fragilidade, a fim de oferecer ao homem um caminho de
liberdade e de vida plena. Eu, filho deste Deus, aceito ir ao encontro dos meus
irmãos mais desfavorecidos e estender-lhes a mão? Partilho a sorte dos pobres,
dos sofredores, dos injustiçados, sofro na alma as suas dores, aceito
identificar-me com eles e participar dos seus sofrimentos, a fim de melhor os
ajudar a conquistar a liberdade e a vida plena? Não tenho medo de me sujar ao
lado dos pecadores, dos marginalizados, se isso contribuir para os promover e
para lhes dar mais dignidade e mais esperança?
• No baptismo, Jesus tomou consciência da sua
missão (essa missão que o Pai Lhe confiou), recebeu o Espírito e partiu em
viagem pelos caminhos poeirentos da Palestina, a testemunhar o projecto
libertador do Pai. Eu, que no baptismo aderi a Jesus e recebi o Espírito que me
capacitou para a missão, tenho sido uma testemunha séria e comprometida desse
programa em que Jesus Se empenhou e pelo qual Ele deu a vida?
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O DOMINGO DO
BAPTISMO DO SENHOR
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao Domingo do Baptismo do Senhor, procurar
meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em
cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária
da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos
eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para
viver em pleno a Palavra de Deus.
2. PALAVRA DE VIDA.
Rosto de Deus, de Cristo, da Igreja… Acolhemos o Rosto de Deus que está acima
de tudo e está tão próximo de nós, que nos dá gratuitamente todos os seus dons.
Acolhemos o Rosto do Filho bem-amado, revelação da ternura e do amor do Pai, saboreando
com Cristo o gosto infinito da relação íntima e única que O une ao Abba, Pai.
Acolhemos na nossa fé no Rosto da Palavra, que nos empenha ao compromisso e ao
anúncio.
3. UM PONTO DE ATENÇÃO.
Neste dia tão significativo em que as comunidades vivem este sacramento da
iniciação cristã, pode-se aproveitar para apelar à presença das famílias que
celebraram baptismos durante o ano. Depois, valorizar alguns momentos da
celebração: rito penitencial com a aspersão da água; acompanhar gestualmente
(um grupo de crianças e jovens) a cena do Baptismo de Jesus no Evangelho;
procurar partilhar sobre a forma como vivemos o nosso Baptismo (homilia
partilhada, se possível); escolher a oração eucarística para celebrações com
crianças, envolvendo a assembleia nas respostas previstas; colocar as crianças
junto do altar do Pai Nosso até à comunhão, onde reconhecemos a presença de
Cristo no sinal do Pão partilhado.
4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…
Um tempo novo abre-se diante de nós: Jesus vai seguir, com toda a liberdade, o caminho
de Jerusalém e nós iremos acompanhar, ao longo do ano litúrgico, o seu ensino e
redescobrir os sinais que Ele realiza. Fazendo memória dos baptismos que a
Igreja celebra e do nosso próprio baptismo, somos convidados a seguir os passos
de Cristo. Que Ele nos envolva no seu seguimento e nos leve a viver juntos como
irmãos!
https://youtu.be/kAwdP_A_b1o
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
scj.lu@netcabo.pt – www.dehonianos.org
Eu, Jair Ferreira da Cidade de Cruz das Almas, na Bahia da Diocese Nossa Senhora do Bom Sucesso, leio e reflito sobre as leituras diária dessa equipe(José Salviano, Helena Serpa, Olívia Coutinho, Dehoniamos, Jorge Lorente, Vera Lúcia, Maria de Lourdes Cury Macedo) colocando em prática no meu dia-dia, obrigado a todos que doaram um pouco do seu tempo para evangelizar, catequizar e edificar o reino de Deus, que o Senhor Jesus Cristo e Nossa Mãe Maria Santíssima continue iluminando a todos. Abraços fraternos.
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