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Dezembro 2019
ANO A
SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO DA VIRGEM SANTA MARIA
Padroeira de Portugal e Moçambique
SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO DA VIRGEM SANTA MARIA
Padroeira de Portugal e Moçambique
Tema da Solenidade da Imaculada Conceição
Na Solenidade da Imaculada Conceição somos
convidados a equacionar o tipo de resposta que damos aos desafios de Deus. Ao
propor-nos o exemplo de Maria de Nazaré, a liturgia convida-nos a acolher, com
um coração aberto e disponível, os planos de Deus para nós e para o mundo.
A segunda leitura garante-nos que Deus tem um projeto de vida plena, verdadeira e total para cada homem e para cada mulher, um projeto que desde sempre esteve na mente do próprio Deus. Esse projeto, apresentado aos homens através de Jesus Cristo, exige de cada um de nós uma resposta decidida, total e sem subterfúgios.
A primeira leitura mostra, recorrendo à história mítica de Adão e Eva, o que acontece quando rejeitamos as propostas de Deus e preferimos caminhos de egoísmo, de orgulho e de autossuficiência... Viver à margem de Deus leva, inevitavelmente, a trilhar caminhos de sofrimento, de destruição, de infelicidade e de morte.
O Evangelho apresenta a resposta de Maria ao plano de Deus. Ao contrário de Adão e Eva, Maria rejeitou o orgulho, o egoísmo e a autossuficiência e preferiu conformar a sua vida, de forma total e radical, com os planos de Deus. Do seu "sim" total, resultou salvação e vida plena para ela e para o mundo.
A segunda leitura garante-nos que Deus tem um projeto de vida plena, verdadeira e total para cada homem e para cada mulher, um projeto que desde sempre esteve na mente do próprio Deus. Esse projeto, apresentado aos homens através de Jesus Cristo, exige de cada um de nós uma resposta decidida, total e sem subterfúgios.
A primeira leitura mostra, recorrendo à história mítica de Adão e Eva, o que acontece quando rejeitamos as propostas de Deus e preferimos caminhos de egoísmo, de orgulho e de autossuficiência... Viver à margem de Deus leva, inevitavelmente, a trilhar caminhos de sofrimento, de destruição, de infelicidade e de morte.
O Evangelho apresenta a resposta de Maria ao plano de Deus. Ao contrário de Adão e Eva, Maria rejeitou o orgulho, o egoísmo e a autossuficiência e preferiu conformar a sua vida, de forma total e radical, com os planos de Deus. Do seu "sim" total, resultou salvação e vida plena para ela e para o mundo.
LEITURA I - Gen 3, 9-15.20
Leitura do Livro do Génesis
Depois de Adão ter comido da árvore,
o Senhor Deus chamou-o e disse-lhe: «Onde estás?»
Ele respondeu:
«Ouvi o rumor dos vossos passos no jardim
e, como estava nu, tive medo e escondi-me».
Disse Deus:
«Quem te deu a conhecer que estavas nu?
Terias tu comido dessa árvore, da qual te proibira comer?»
Adão respondeu:
«A mulher que me destes por companheira
deu-me do fruto da árvore e eu comi».
O Senhor Deus perguntou à mulher:
«Que fizeste?»
E a mulher respondeu:
«A serpente enganou-me e eu comi».
Disse então o Senhor Deus à serpente:
«Por teres feito semelhante coisa,
maldita sejas entre todos os animais domésticos
e entre todos os animais selvagens.
Hás de rastejar e comer do pó da terra
todos os dias da tua vida.
Estabelecerei inimizade entre ti e a mulher,
entre a tua descendência e a descendência dela.
Esta te esmagará a cabeça
e tu a atingirás no calcanhar».
O homem deu à mulher o nome de 'Eva',
porque ela foi a mãe de todos os viventes.
o Senhor Deus chamou-o e disse-lhe: «Onde estás?»
Ele respondeu:
«Ouvi o rumor dos vossos passos no jardim
e, como estava nu, tive medo e escondi-me».
Disse Deus:
«Quem te deu a conhecer que estavas nu?
Terias tu comido dessa árvore, da qual te proibira comer?»
Adão respondeu:
«A mulher que me destes por companheira
deu-me do fruto da árvore e eu comi».
O Senhor Deus perguntou à mulher:
«Que fizeste?»
E a mulher respondeu:
«A serpente enganou-me e eu comi».
Disse então o Senhor Deus à serpente:
«Por teres feito semelhante coisa,
maldita sejas entre todos os animais domésticos
e entre todos os animais selvagens.
Hás de rastejar e comer do pó da terra
todos os dias da tua vida.
Estabelecerei inimizade entre ti e a mulher,
entre a tua descendência e a descendência dela.
Esta te esmagará a cabeça
e tu a atingirás no calcanhar».
O homem deu à mulher o nome de 'Eva',
porque ela foi a mãe de todos os viventes.
AMBIENTE
O relato jahwista de Gn 2,4b-3,24 sobre as
origens da vida e do pecado, ao qual pertence o texto que hoje nos é proposto
como primeira leitura, é, de acordo com a maioria dos comentadores, um texto do
séc. X a.C., que deve ter aparecido em Judá na época do rei Salomão.
Apresenta-se num estilo exuberante e vivo e parece ser obra de um catequista
popular, que ensina recorrendo a imagens sugestivas, coloridas e fortes.
Não podemos, de forma nenhuma, ver neste texto uma reportagem jornalística de acontecimentos passados na aurora da humanidade. A finalidade do autor não é científica ou histórica, mas teológica: mais do que ensinar como o mundo e o homem apareceram, ele quer dizer-nos que na origem da vida e do homem está Jahwéh e que na origem do mal e do pecado estão as opções erradas do homem. Trata-se, portanto, de uma página de catequese.
Esta longa reflexão sobre as origens da vida e do mal que desfeia o mundo está estruturada num esquema tripartido, com duas situações claramente opostas e uma realidade central que aparece como charneira e ao redor da qual giram a primeira e a terceira parte...
Na primeira parte (cf. Gn 2,4b-25), o autor descreve a criação do paraíso e do homem; apresenta a criação de Deus como um espaço ideal de felicidade, onde tudo é bom e o homem vive em comunhão total com o criador e com as outras criaturas.
Na segunda parte (cf. Gn 3,1-7), o autor descreve o pecado do homem e da mulher; mostra como as opções erradas do homem introduziram na comunhão do homem com Deus e com o resto da criação fatores de desequilíbrio e de morte.
Na terceira parte (cf. Gn 3,8-24), o autor apresenta o homem e a mulher confrontados com o resultado das suas opções erradas e as consequências que daí advieram, quer para o homem, quer para o resto da criação.
Na perspetiva do catequista jahwista, Deus criou o homem para a felicidade... Então, pergunta ele, como é que hoje conhecemos o egoísmo, a injustiça, a violência que desfeiam o mundo? A resposta é: algures na história humana, o homem que Deus criou livre e feliz fez escolhas erradas e introduziu na criação boa de Deus dinamismos de sofrimento e de morte.
O nosso texto pertence à terceira parte do tríptico. Os personagens intervenientes são Deus, que "passeia no jardim à brisa do dia" (vers. 8a), Adão e Eva, que se esconderam de Deus por entre o arvoredo do jardim (vers. 8b).
Não podemos, de forma nenhuma, ver neste texto uma reportagem jornalística de acontecimentos passados na aurora da humanidade. A finalidade do autor não é científica ou histórica, mas teológica: mais do que ensinar como o mundo e o homem apareceram, ele quer dizer-nos que na origem da vida e do homem está Jahwéh e que na origem do mal e do pecado estão as opções erradas do homem. Trata-se, portanto, de uma página de catequese.
Esta longa reflexão sobre as origens da vida e do mal que desfeia o mundo está estruturada num esquema tripartido, com duas situações claramente opostas e uma realidade central que aparece como charneira e ao redor da qual giram a primeira e a terceira parte...
Na primeira parte (cf. Gn 2,4b-25), o autor descreve a criação do paraíso e do homem; apresenta a criação de Deus como um espaço ideal de felicidade, onde tudo é bom e o homem vive em comunhão total com o criador e com as outras criaturas.
Na segunda parte (cf. Gn 3,1-7), o autor descreve o pecado do homem e da mulher; mostra como as opções erradas do homem introduziram na comunhão do homem com Deus e com o resto da criação fatores de desequilíbrio e de morte.
Na terceira parte (cf. Gn 3,8-24), o autor apresenta o homem e a mulher confrontados com o resultado das suas opções erradas e as consequências que daí advieram, quer para o homem, quer para o resto da criação.
Na perspetiva do catequista jahwista, Deus criou o homem para a felicidade... Então, pergunta ele, como é que hoje conhecemos o egoísmo, a injustiça, a violência que desfeiam o mundo? A resposta é: algures na história humana, o homem que Deus criou livre e feliz fez escolhas erradas e introduziu na criação boa de Deus dinamismos de sofrimento e de morte.
O nosso texto pertence à terceira parte do tríptico. Os personagens intervenientes são Deus, que "passeia no jardim à brisa do dia" (vers. 8a), Adão e Eva, que se esconderam de Deus por entre o arvoredo do jardim (vers. 8b).
MENSAGEM
A nossa leitura começa com a
"investigação" de Deus... Antes de proferir a sua acusação, Deus - o
acusador e juiz - investiga, descobre e estabelece os factos.
Primeira pergunta feita por Deus ao homem: "onde estás?" A resposta do homem é já uma confissão da sua culpabilidade: "ouvi o rumor dos vossos passos no jardim e, como estava nu, tive medo e escondi-me" (vers. 9-10). A vergonha e o medo são sinal de uma perturbação interior, de uma rutura com a anterior situação de inocência, de harmonia, de serenidade e de paz. Como é que o homem chegou a esta situação? Evidentemente, desobedecendo a Deus e percorrendo caminhos contrários àqueles que Deus lhe havia proposto. A resposta do homem trai, portanto, o seu segredo e a sua culpa.
Depois desta constatação, a segunda pergunta feita por Deus ao homem é meramente retórica: "terias tu comido dessa árvore, da qual te proibira de comer?" (vers. 11). A árvore em causa, a "árvore do conhecimento do bem e do mal", significa o orgulho, a autossuficiência, o prescindir de Deus e das suas propostas, o querer decidir por si só o que é bem e o que é mal, o pôr-se a si próprio em lugar de Deus, o reivindicar autonomia total em relação ao criador. A situação do homem, perturbado e em rutura, é já uma resposta clara à pergunta de Deus... É evidente que o homem "comeu da árvore proibida", isto é, escolheu um caminho de orgulho e de autossuficiência em relação a Deus. Daí a vergonha e o medo.
Ao defender-se, o homem acusa a mulher e, ao mesmo tempo, acusa veladamente o próprio Deus pela situação em que está: "a mulher que me deste por companheira deu-me do fruto da árvore e eu comi" (vers. 12). Adão representa essa humanidade que, mergulhada no egoísmo e na autossuficiência, esqueceu os dons de Deus e vê em Deus um adversário; por outro lado, a resposta de Adão mostra, igualmente, uma humanidade que quebrou a sua unidade e se instalou na cobardia, na falta de solidariedade, no ódio. Escolher caminhos contrários aos de Deus não pode senão conduzir a uma vida de rutura com Deus e com os outros irmãos.
Vem, depois, a "defesa" da mulher: "a serpente enganou-me e eu comi" (vers. 13). Entre os povos cananeus, a serpente estava ligada aos rituais de fertilidade e de fecundidade. Os israelitas deixavam-se fascinar por esses cultos e, com frequência, abandonavam Jahwéh para seguir os rituais religiosos dos cananeus e assegurar, assim, a fecundidade dos campos e dos rebanhos. Na época em que o autor jahwista escreve, a serpente era, pois, o "fruto proibido", que seduzia os crentes e os levava a abandonar a Lei de Deus. A "serpente" é, neste contexto, um símbolo literário de tudo aquilo que afastava os israelitas de Jahwéh. A resposta da "mulher" confirma tudo aquilo que até agora estava sugerido: é verdade, a humanidade que Deus criou prescindiu de Deus, ignorou as suas propostas e enveredou por outros caminhos. Achou, no seu egoísmo e autossuficiência, que podia encontrar a verdadeira vida à margem de Deus, prescindindo das propostas de Deus.
Diante disto, não são precisas mais perguntas. Está claramente definida a culpa de uma humanidade que pensou poder ser feliz em caminhos de egoísmo e de autossuficiência, totalmente à margem dos caminhos que foram propostos por Deus.
Que tem Deus a acrescentar? Pouco mais, a não ser condenar como falsos e enganosos esses cultos e essas tentações que seduziam os israelitas e os colocavam fora da dinâmica da Aliança e dos mandamentos (vers. 14-15). O nosso catequista jahwista sabe que a serpente é um animal miserável, que passa toda a sua existência mordendo o pó da terra. O autor vai servir-se deste dado para pintar, plasticamente, a condenação radical de tudo aquilo que leva os homens a afastar-se dos caminhos de Deus e a enveredar por caminhos de egoísmo e de autossuficiência.
O que é que significa a inimizade e a luta entre a "descendência" da mulher e a "descendência" da serpente? Provavelmente, o autor jahwista está apenas a dar uma explicação etiológica (uma "etiologia" é uma tentativa de explicar o porquê de uma determinada realidade que o autor conhece no seu tempo, a partir de um pretenso acontecimento primordial, que seria o responsável pela situação atual) para o facto de a serpente inspirar horror aos humanos e de toda a gente lhe procurar "esmagar a cabeça"; mas a interpretação judaica e cristã viu nestas palavras uma profecia messiânica: Deus anuncia que um "filho da mulher" (o Messias) acabará com as consequências do pecado e inserirá a humanidade numa dinâmica de graça.
Atenção: o autor sagrado não está a falar de um pecado cometido nos primórdios da humanidade pelo primeiro homem e pela primeira mulher; mas está a falar do pecado cometido por todos os homens e mulheres de todos os tempos... Ele está apenas a ensinar que a raiz de todos os males está no facto de o homem prescindir de Deus e construir o mundo a partir de critérios de egoísmo e de autossuficiência. Não conhecemos bem este quadro?
Primeira pergunta feita por Deus ao homem: "onde estás?" A resposta do homem é já uma confissão da sua culpabilidade: "ouvi o rumor dos vossos passos no jardim e, como estava nu, tive medo e escondi-me" (vers. 9-10). A vergonha e o medo são sinal de uma perturbação interior, de uma rutura com a anterior situação de inocência, de harmonia, de serenidade e de paz. Como é que o homem chegou a esta situação? Evidentemente, desobedecendo a Deus e percorrendo caminhos contrários àqueles que Deus lhe havia proposto. A resposta do homem trai, portanto, o seu segredo e a sua culpa.
Depois desta constatação, a segunda pergunta feita por Deus ao homem é meramente retórica: "terias tu comido dessa árvore, da qual te proibira de comer?" (vers. 11). A árvore em causa, a "árvore do conhecimento do bem e do mal", significa o orgulho, a autossuficiência, o prescindir de Deus e das suas propostas, o querer decidir por si só o que é bem e o que é mal, o pôr-se a si próprio em lugar de Deus, o reivindicar autonomia total em relação ao criador. A situação do homem, perturbado e em rutura, é já uma resposta clara à pergunta de Deus... É evidente que o homem "comeu da árvore proibida", isto é, escolheu um caminho de orgulho e de autossuficiência em relação a Deus. Daí a vergonha e o medo.
Ao defender-se, o homem acusa a mulher e, ao mesmo tempo, acusa veladamente o próprio Deus pela situação em que está: "a mulher que me deste por companheira deu-me do fruto da árvore e eu comi" (vers. 12). Adão representa essa humanidade que, mergulhada no egoísmo e na autossuficiência, esqueceu os dons de Deus e vê em Deus um adversário; por outro lado, a resposta de Adão mostra, igualmente, uma humanidade que quebrou a sua unidade e se instalou na cobardia, na falta de solidariedade, no ódio. Escolher caminhos contrários aos de Deus não pode senão conduzir a uma vida de rutura com Deus e com os outros irmãos.
Vem, depois, a "defesa" da mulher: "a serpente enganou-me e eu comi" (vers. 13). Entre os povos cananeus, a serpente estava ligada aos rituais de fertilidade e de fecundidade. Os israelitas deixavam-se fascinar por esses cultos e, com frequência, abandonavam Jahwéh para seguir os rituais religiosos dos cananeus e assegurar, assim, a fecundidade dos campos e dos rebanhos. Na época em que o autor jahwista escreve, a serpente era, pois, o "fruto proibido", que seduzia os crentes e os levava a abandonar a Lei de Deus. A "serpente" é, neste contexto, um símbolo literário de tudo aquilo que afastava os israelitas de Jahwéh. A resposta da "mulher" confirma tudo aquilo que até agora estava sugerido: é verdade, a humanidade que Deus criou prescindiu de Deus, ignorou as suas propostas e enveredou por outros caminhos. Achou, no seu egoísmo e autossuficiência, que podia encontrar a verdadeira vida à margem de Deus, prescindindo das propostas de Deus.
Diante disto, não são precisas mais perguntas. Está claramente definida a culpa de uma humanidade que pensou poder ser feliz em caminhos de egoísmo e de autossuficiência, totalmente à margem dos caminhos que foram propostos por Deus.
Que tem Deus a acrescentar? Pouco mais, a não ser condenar como falsos e enganosos esses cultos e essas tentações que seduziam os israelitas e os colocavam fora da dinâmica da Aliança e dos mandamentos (vers. 14-15). O nosso catequista jahwista sabe que a serpente é um animal miserável, que passa toda a sua existência mordendo o pó da terra. O autor vai servir-se deste dado para pintar, plasticamente, a condenação radical de tudo aquilo que leva os homens a afastar-se dos caminhos de Deus e a enveredar por caminhos de egoísmo e de autossuficiência.
O que é que significa a inimizade e a luta entre a "descendência" da mulher e a "descendência" da serpente? Provavelmente, o autor jahwista está apenas a dar uma explicação etiológica (uma "etiologia" é uma tentativa de explicar o porquê de uma determinada realidade que o autor conhece no seu tempo, a partir de um pretenso acontecimento primordial, que seria o responsável pela situação atual) para o facto de a serpente inspirar horror aos humanos e de toda a gente lhe procurar "esmagar a cabeça"; mas a interpretação judaica e cristã viu nestas palavras uma profecia messiânica: Deus anuncia que um "filho da mulher" (o Messias) acabará com as consequências do pecado e inserirá a humanidade numa dinâmica de graça.
Atenção: o autor sagrado não está a falar de um pecado cometido nos primórdios da humanidade pelo primeiro homem e pela primeira mulher; mas está a falar do pecado cometido por todos os homens e mulheres de todos os tempos... Ele está apenas a ensinar que a raiz de todos os males está no facto de o homem prescindir de Deus e construir o mundo a partir de critérios de egoísmo e de autossuficiência. Não conhecemos bem este quadro?
ATUALIZAÇÃO
• Um dos mistérios que mais questiona os
nossos contemporâneos é o mistério do mal... Esse mal que vemos, todos os dias,
tornar sombria e deprimente essa "casa" que é o mundo, vem de Deus,
ou vem do homem? A Palavra de Deus responde: o mal nunca vem de Deus... Deus
criou-nos para a vida e para a felicidade e deu-nos todas as condições para
imprimirmos à nossa existência uma dinâmica de vida, de felicidade, de
realização plena.
• O mal resulta das nossas escolhas erradas,
do nosso orgulho, do nosso egoísmo e autossuficiência. Quando o homem escolhe
viver orgulhosamente só, ignorando as propostas de Deus e prescindindo do amor,
constrói cidades de egoísmo, de injustiça, de prepotência, de sofrimento, de
pecado... Quais os caminhos que eu escolho? As propostas de Deus fazem sentido
e são, para mim, indicações seguras para a felicidade, ou prefiro ser eu
próprio a fazer as minhas escolhas, à margem das propostas de Deus?
• O nosso texto deixa também claro que
prescindir de Deus e caminhar longe dele leva o homem ao confronto e à
hostilidade com os outros homens e mulheres. Nasce, então, a injustiça, a
exploração, a violência. Os outros homens e mulheres deixam de ser irmãos para
passarem a ser ameaças ao próprio bem-estar, à própria segurança, aos próprios
interesses. Como é que eu me situo face aos meus irmãos? Como é que eu me
relaciono com aqueles que são diferentes, que invadem o meu espaço e
interesses, que me questionam e interpelam?
• O nosso texto ensina, ainda, que prescindir
de Deus e dos seus caminhos significa construir uma história de inimizade com o
resto da criação. A natureza deixa de ser, então, a casa comum que Deus
ofereceu a todos os homens como espaço de vida e de felicidade, para se tornar
algo que eu uso e exploro em meu proveito próprio, sem considerar a sua
dignidade, beleza e grandeza. O que é que a criação de Deus significa para mim:
algo que eu posso explorar de forma egoísta, ou algo que Deus ofereceu a todos
os homens e mulheres e que eu devo respeitar e guardar com amor?
SALMO RESPONSORIAL - Salmo 97 (98)
Refrão: Cantai ao Senhor um cântico novo:
o Senhor fez maravilhas.
o Senhor fez maravilhas.
Cantai ao Senhor um cântico novo,
pelas maravilhas que Ele operou.
A sua mão e o seu santo braço
Lhe deram a vitória.
pelas maravilhas que Ele operou.
A sua mão e o seu santo braço
Lhe deram a vitória.
O Senhor deu a conhecer a salvação,
revelou aos olhos das nações a sua justiça.
Recordou-Se da sua bondade e fidelidade
em favor da casa de Israel.
revelou aos olhos das nações a sua justiça.
Recordou-Se da sua bondade e fidelidade
em favor da casa de Israel.
Os confins da terra puderam ver
a salvação do nosso Deus.
Aclamai o Senhor, terra inteira,
exultai de alegria e cantai.
a salvação do nosso Deus.
Aclamai o Senhor, terra inteira,
exultai de alegria e cantai.
LEITURA II - Ef 1, 3-6.11-12
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos
Efésios
Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus
Cristo,
que do alto dos Céus nos abençoou
com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo.
N'Ele nos escolheu, antes da criação do mundo,
para sermos santos e irrepreensíveis,
em caridade, na sua presença.
Ele nos predestinou, conforme a benevolência da sua vontade,
a fim de sermos seus filhos adotivos, por Jesus Cristo,
para louvor da sua glória
e da graça que derramou sobre nós, por seu amado Filho.
Em Cristo fomos constituídos herdeiros,
por termos sido predestinados,
segundo os desígnios d'Aquele que tudo realiza
conforme a decisão da sua vontade,
para sermos um hino de louvor da sua glória,
nós que desde o começo esperámos em Cristo.
que do alto dos Céus nos abençoou
com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo.
N'Ele nos escolheu, antes da criação do mundo,
para sermos santos e irrepreensíveis,
em caridade, na sua presença.
Ele nos predestinou, conforme a benevolência da sua vontade,
a fim de sermos seus filhos adotivos, por Jesus Cristo,
para louvor da sua glória
e da graça que derramou sobre nós, por seu amado Filho.
Em Cristo fomos constituídos herdeiros,
por termos sido predestinados,
segundo os desígnios d'Aquele que tudo realiza
conforme a decisão da sua vontade,
para sermos um hino de louvor da sua glória,
nós que desde o começo esperámos em Cristo.
AMBIENTE
A cidade de Éfeso, capital da Província romana
da Ásia, estava situada na costa ocidental da Ásia Menor. O seu importante
porto e a sua numerosa população, faziam dela uma cidade florescente. Paulo
passou em Éfeso na sua segunda viagem missionária (cf. At 18,19-21) e, durante
a sua terceira viagem missionária, fez de Éfeso o quartel-general, a partir do
qual evangelizou toda a zona ocidental da Ásia Menor.
A Carta aos Efésios é, provavelmente, um dos exemplares de uma "carta circular" enviada a várias igrejas da Ásia Menor, numa altura em que Paulo está na prisão (em Roma?). O seu portador é um tal Tíquico. Estamos por volta dos anos 58/60.
Alguns veem nesta carta uma espécie de síntese da teologia paulina, numa altura em que a missão do apóstolo está praticamente terminada no oriente. O tema mais importante da Carta aos Efésios é aquilo que o autor chama "o mistério": trata-se do projeto salvador de Deus, definido e elaborado desde sempre, escondido durante séculos, revelado e concretizado plenamente em Jesus, comunicado aos apóstolos e, nos "últimos tempos", tornado presente no mundo pela Igreja.
O texto que nos é hoje proposto aparece no início da carta. É parte de um hino litúrgico que deve ter circulado nas comunidades cristãs antes de ser enxertado aqui por Paulo. Este hino dá graças pela ação do Pai (cf. Ef 1,3-6), do Filho (cf. Ef 1,7-12) e do Espírito Santo (cf. Ef 1,13-14) no sentido de oferecer aos homens a salvação.
A Carta aos Efésios é, provavelmente, um dos exemplares de uma "carta circular" enviada a várias igrejas da Ásia Menor, numa altura em que Paulo está na prisão (em Roma?). O seu portador é um tal Tíquico. Estamos por volta dos anos 58/60.
Alguns veem nesta carta uma espécie de síntese da teologia paulina, numa altura em que a missão do apóstolo está praticamente terminada no oriente. O tema mais importante da Carta aos Efésios é aquilo que o autor chama "o mistério": trata-se do projeto salvador de Deus, definido e elaborado desde sempre, escondido durante séculos, revelado e concretizado plenamente em Jesus, comunicado aos apóstolos e, nos "últimos tempos", tornado presente no mundo pela Igreja.
O texto que nos é hoje proposto aparece no início da carta. É parte de um hino litúrgico que deve ter circulado nas comunidades cristãs antes de ser enxertado aqui por Paulo. Este hino dá graças pela ação do Pai (cf. Ef 1,3-6), do Filho (cf. Ef 1,7-12) e do Espírito Santo (cf. Ef 1,13-14) no sentido de oferecer aos homens a salvação.
MENSAGEM
A ação de graças dirige-se a Deus, pois Ele é
a fonte última de todas as graças concedidas aos homens. Essas graças atingiram
os homens através do Filho, Jesus Cristo.
Qual é então, segundo este hino, a ação do Pai?
O Pai, no seu amor, elegeu-nos desde sempre, "antes da criação do mundo". Elegeu-nos para quê? A resposta é: "para sermos santos e irrepreensíveis". A palavra "santo" indica a situação de alguém que foi separado do mundo e consagrado a Deus, para o serviço de Deus; a palavra "irrepreensível" era usada para falar das vítimas oferecidas em sacrifício a Deus, que deviam ser imaculadas e sem defeito... Significa, pois, uma santidade, isto é, uma consagração a Deus verdadeira e radical.
Além de nos eleger, o Pai predestinou-nos "para sermos seus filhos adotivos". Através de Cristo, o Pai ofereceu-nos a sua vida e integrou-nos na sua família na qualidade de filhos. O fim desta ação de Deus é o louvor da sua glória.
"Eleição" e "adoção como filhos" resultam do imenso amor de Deus pelos homens, um amor que é gratuito, incondicional e radical.
E Jesus Cristo, o Filho, que papel teve neste processo?
Nos vers. 7-10, que, no entanto, a liturgia deste dia não conservou, o autor do hino refere-se ao sangue derramado de Cristo e ao seu significado redentor. A morte de Jesus na cruz é o sinal evidente do espantoso amor de Deus pelos homens; e dessa forma, Deus ensinou-nos a viver no amor, no amor total e radical. Através de Cristo, Deus derramou sobre nós a sua graça, tornando-nos pessoas novas e diferentes, capazes de viver no amor. Assim, Deus manifestou-nos o seu projeto de salvação, que o hino chama "o mistério", e que consiste em levar-nos a uma identificação plena com Jesus, na sua ilimitada capacidade de amar e de dar vida, a uma unidade e harmonia totais com Jesus. Identificando-nos com Cristo e ensinando-nos a viver no amor total e radical, Deus reconciliou-nos consigo, com todos os outros e com a própria natureza. Da ação redentora de Cristo nasceu, pois, um Homem Novo, capaz de um novo tipo de relacionamento com Deus, com os outros homens e mulheres e com toda a criação, não marcado pelo egoísmo, pelo orgulho, pela autossuficiência, mas marcado pelo amor e pelo dom da vida.
Dessa forma, e voltamos agora a retomar o texto que a liturgia deste dia nos propõe, em Cristo fomos constituídos filhos de Deus e herdeiros da salvação, conforme o projeto de Deus preparado desde toda a eternidade em nosso favor (vers. 11-12).
Qual é então, segundo este hino, a ação do Pai?
O Pai, no seu amor, elegeu-nos desde sempre, "antes da criação do mundo". Elegeu-nos para quê? A resposta é: "para sermos santos e irrepreensíveis". A palavra "santo" indica a situação de alguém que foi separado do mundo e consagrado a Deus, para o serviço de Deus; a palavra "irrepreensível" era usada para falar das vítimas oferecidas em sacrifício a Deus, que deviam ser imaculadas e sem defeito... Significa, pois, uma santidade, isto é, uma consagração a Deus verdadeira e radical.
Além de nos eleger, o Pai predestinou-nos "para sermos seus filhos adotivos". Através de Cristo, o Pai ofereceu-nos a sua vida e integrou-nos na sua família na qualidade de filhos. O fim desta ação de Deus é o louvor da sua glória.
"Eleição" e "adoção como filhos" resultam do imenso amor de Deus pelos homens, um amor que é gratuito, incondicional e radical.
E Jesus Cristo, o Filho, que papel teve neste processo?
Nos vers. 7-10, que, no entanto, a liturgia deste dia não conservou, o autor do hino refere-se ao sangue derramado de Cristo e ao seu significado redentor. A morte de Jesus na cruz é o sinal evidente do espantoso amor de Deus pelos homens; e dessa forma, Deus ensinou-nos a viver no amor, no amor total e radical. Através de Cristo, Deus derramou sobre nós a sua graça, tornando-nos pessoas novas e diferentes, capazes de viver no amor. Assim, Deus manifestou-nos o seu projeto de salvação, que o hino chama "o mistério", e que consiste em levar-nos a uma identificação plena com Jesus, na sua ilimitada capacidade de amar e de dar vida, a uma unidade e harmonia totais com Jesus. Identificando-nos com Cristo e ensinando-nos a viver no amor total e radical, Deus reconciliou-nos consigo, com todos os outros e com a própria natureza. Da ação redentora de Cristo nasceu, pois, um Homem Novo, capaz de um novo tipo de relacionamento com Deus, com os outros homens e mulheres e com toda a criação, não marcado pelo egoísmo, pelo orgulho, pela autossuficiência, mas marcado pelo amor e pelo dom da vida.
Dessa forma, e voltamos agora a retomar o texto que a liturgia deste dia nos propõe, em Cristo fomos constituídos filhos de Deus e herdeiros da salvação, conforme o projeto de Deus preparado desde toda a eternidade em nosso favor (vers. 11-12).
ATUALIZAÇÃO
• O nosso texto afirma, de forma clara, que
Deus tem um projeto de vida plena e total para os homens, um projeto que desde
sempre esteve na mente de Deus. É muito importante termos isto em conta: não
somos um acidente de percurso na evolução inexorável do cosmos, mas somos
atores principais de uma história de amor que o nosso Deus sempre sonhou e que
Ele quis escrever e viver connosco... No meio das nossas desilusões e dos
nossos sofrimentos, da nossa finitude e do nosso pecado, dos nossos medos e dos
nossos dramas, não esqueçamos que somos filhos amados de Deus, a quem Ele
oferece continuamente a vida definitiva, a verdadeira felicidade.
• De acordo com o nosso texto, Deus
"elegeu-nos... para sermos santos e irrepreensíveis". Já vimos que
"ser santo" significa ser consagrado para o serviço de Deus. O que é
que isto implica em termos concretos? Entre outras coisas, implica tentar
descobrir o plano de Deus, o projeto que Ele tem para cada um de nós e
concretizá-lo dia a dia com verdade, fidelidade e radicalidade. No meio das
solicitações do mundo e das exigências da nossa vida profissional, social e familiar,
temos tempo para Deus, para dialogar com Ele e para tentar perceber os seus
projetos e propostas? E temos disponibilidade e vontade de concretizar as suas
propostas, mesmo quando elas não são conciliáveis com os nossos interesses
pessoais?
• O nosso texto afirma, ainda, a centralidade
de Cristo nesta história de amor que Deus quis viver connosco... Jesus veio ao
nosso encontro, cumprindo com radicalidade a vontade do Pai e oferecendo-se até
à morte para nos ensinar a viver no amor. Como é que assumimos e vivemos essa
proposta de amor que Jesus nos apresentou? Aprendemos com Ele a amar sem
exceção e com radicalidade?
ALELUIA - cf. Lc 1, 28
Aleluia. Aleluia.
Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor é
convosco,
bendita sois Vós entre as mulheres.
bendita sois Vós entre as mulheres.
EVANGELHO - Lc 1, 26-38
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo
São Lucas
Naquele tempo,
o Anjo Gabriel foi enviado por Deus
a uma cidade da Galileia chamada Nazaré,
a uma Virgem desposada com um homem chamado José.
O nome da Virgem era Maria.
Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo:
«Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo».
Ela ficou perturbada com estas palavras
e pensava que saudação seria aquela.
Disse-lhe o Anjo:
«Não temas, Maria,
porque encontraste graça diante de Deus.
Conceberás e darás à luz um Filho,
a quem porás o nome de Jesus.
Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo.
O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David;
reinará eternamente sobre a casa de Jacob
e o seu reinado não terá fim».
Maria disse ao Anjo:
«Como será isto, se eu não conheço homem?».
O Anjo respondeu-lhe:
«O Espírito Santo virá sobre ti
e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra.
Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus.
E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice
e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril;
porque a Deus nada é impossível».
Maria disse então:
«Eis a escrava do Senhor;
faça-se em mim segundo a tua palavra».
o Anjo Gabriel foi enviado por Deus
a uma cidade da Galileia chamada Nazaré,
a uma Virgem desposada com um homem chamado José.
O nome da Virgem era Maria.
Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo:
«Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo».
Ela ficou perturbada com estas palavras
e pensava que saudação seria aquela.
Disse-lhe o Anjo:
«Não temas, Maria,
porque encontraste graça diante de Deus.
Conceberás e darás à luz um Filho,
a quem porás o nome de Jesus.
Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo.
O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David;
reinará eternamente sobre a casa de Jacob
e o seu reinado não terá fim».
Maria disse ao Anjo:
«Como será isto, se eu não conheço homem?».
O Anjo respondeu-lhe:
«O Espírito Santo virá sobre ti
e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra.
Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus.
E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice
e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril;
porque a Deus nada é impossível».
Maria disse então:
«Eis a escrava do Senhor;
faça-se em mim segundo a tua palavra».
AMBIENTE
O texto que nos é hoje proposto pertence ao
"Evangelho da Infância" na versão de Lucas. De acordo com os
biblistas atuais, os textos do "Evangelho da Infância" pertencem a um
género literário especial, chamado homologese. Este género não pretende ser um
relato jornalístico e histórico de acontecimentos; mas é, sobretudo, uma catequese
destinada a proclamar certas realidades salvíficas: que Jesus é o Messias, que
Ele vem de Deus, que Ele é o "Deus connosco". Desenvolve-se em forma
de narração e recorre às técnicas do midrash haggádico, uma técnica de leitura
e de interpretação do texto sagrado usada pelos rabbis judeus da época de
Jesus. A homologese utiliza e mistura tipologias (factos e pessoas do Antigo
Testamento, encontram a sua correspondência em factos e pessoas do Novo
Testamento) e aparições apocalípticas (anjos, aparições, sonhos) para fazer
avançar a narração e para explicitar determinada catequese sobre Jesus. O
Evangelho que nos é hoje proposto deve ser entendido a esta luz: não interessa,
pois, estar aqui à procura de factos históricos; interessa, sobretudo, perceber
o que é que a catequese cristã primitiva nos ensina, através destas narrações,
sobre Jesus.
A cena situa-nos numa aldeia da Galileia, chamada Nazaré. A Galileia, região a norte da Palestina, à volta do Lago de Tiberíades, era considerada pelos judeus uma terra longínqua e estranha, em permanente contacto com as populações pagãs e onde se praticava uma religião heterodoxa, influenciada pelos costumes e pelas tradições pagãs. Daí a convicção dos mestres judeus de Jerusalém de que "da Galileia não pode vir nada de bom". Quanto a Nazaré, era uma aldeia pobre e ignorada, nunca nomeada na história religiosa judaica e, portanto, de acordo com a mentalidade judaica, completamente à margem dos caminhos de Deus e da salvação.
Maria, a jovem de Nazaré que está no centro deste episódio, era "uma virgem desposada com um homem chamado José". O casamento hebraico considerava o compromisso matrimonial em duas etapas: havia uma primeira fase, na qual os noivos se prometiam um ao outro (os "esponsais"); só numa segunda fase surgia o compromisso definitivo (as cerimónias do matrimónio propriamente dito)... Entre os "esponsais" e o rito do matrimónio, passava um tempo mais ou menos longo, durante o qual qualquer uma das partes podia voltar atrás, ainda que sofrendo uma penalidade. Durante os "esponsais", os noivos não viviam em comum; mas o compromisso que os dois assumiam tinha já um carácter estável, de tal forma que, se surgia um filho, este era considerado filho legítimo de ambos. A Lei de Moisés considerava a infidelidade da "prometida" como uma ofensa semelhante à infidelidade da esposa (cf. Dt 22,23-27)... E a união entre os dois "prometidos" só podia dissolver-se com a fórmula jurídica do divórcio. José e Maria estavam, portanto, na situação de "prometidos": ainda não tinham celebrado o matrimónio, mas já tinham celebrado os "esponsais".
A cena situa-nos numa aldeia da Galileia, chamada Nazaré. A Galileia, região a norte da Palestina, à volta do Lago de Tiberíades, era considerada pelos judeus uma terra longínqua e estranha, em permanente contacto com as populações pagãs e onde se praticava uma religião heterodoxa, influenciada pelos costumes e pelas tradições pagãs. Daí a convicção dos mestres judeus de Jerusalém de que "da Galileia não pode vir nada de bom". Quanto a Nazaré, era uma aldeia pobre e ignorada, nunca nomeada na história religiosa judaica e, portanto, de acordo com a mentalidade judaica, completamente à margem dos caminhos de Deus e da salvação.
Maria, a jovem de Nazaré que está no centro deste episódio, era "uma virgem desposada com um homem chamado José". O casamento hebraico considerava o compromisso matrimonial em duas etapas: havia uma primeira fase, na qual os noivos se prometiam um ao outro (os "esponsais"); só numa segunda fase surgia o compromisso definitivo (as cerimónias do matrimónio propriamente dito)... Entre os "esponsais" e o rito do matrimónio, passava um tempo mais ou menos longo, durante o qual qualquer uma das partes podia voltar atrás, ainda que sofrendo uma penalidade. Durante os "esponsais", os noivos não viviam em comum; mas o compromisso que os dois assumiam tinha já um carácter estável, de tal forma que, se surgia um filho, este era considerado filho legítimo de ambos. A Lei de Moisés considerava a infidelidade da "prometida" como uma ofensa semelhante à infidelidade da esposa (cf. Dt 22,23-27)... E a união entre os dois "prometidos" só podia dissolver-se com a fórmula jurídica do divórcio. José e Maria estavam, portanto, na situação de "prometidos": ainda não tinham celebrado o matrimónio, mas já tinham celebrado os "esponsais".
MENSAGEM
Depois da apresentação do "ambiente"
do quadro, Lucas apresenta o diálogo entre Maria e o anjo.
A conversa começa com a saudação do anjo. Na boca deste, são colocados termos e expressões com ressonância vétero-testamentária, ligados a contextos de eleição, de vocação e de missão. Assim, o termo "ave" (em grego, "kaire") com que o anjo se dirige a Maria é mais do que uma saudação: é o eco dos anúncios de salvação à "filha de Sião", uma figura fraca e delicada que personifica o Povo de Israel, em cuja fraqueza se apresenta e representa essa salvação oferecida por Deus e que Israel deve testemunhar diante dos outros povos (cf. 2 Re 19,21-28; Is 1,8;12,6; Jer 4,31; Sof 3,14-17). A expressão "cheia de graça" significa que Maria é objeto da predileção e do amor de Deus. A outra expressão "o Senhor está contigo" é uma expressão que aparece com frequência ligada aos relatos de vocação no Antigo Testamento (cf. Ex 3,12 - vocação de Moisés; Jz 6,12 - vocação de Gedeão; Jer 1,8.19 - vocação de Jeremias) e que serve para assegurar ao "chamado" a assistência de Deus na missão que lhe é pedida. Estamos, portanto, diante do "relato de vocação" de Maria: a visita do anjo destina-se a apresentar à jovem de Nazaré uma proposta de Deus. Essa proposta vai exigir uma resposta clara de Maria.
Qual é, então, o papel proposto a Maria no projeto de Deus?
A Maria, Deus propõe que aceite ser a mãe de um "filho" especial... Desse "filho" diz-se, em primeiro lugar, que ele se chamará "Jesus". O nome significa "Deus salva". Além disso, esse "filho" é apresentado pelo anjo como o "Filho do Altíssimo", que herdará "o trono de seu pai David" e cujo reinado "não terá fim". As palavras do anjo levam-nos a 2 Sm 7 e à promessa feita por Deus ao rei David através das palavras do profeta Nathan. Esse "filho" é descrito nos mesmos termos em que a teologia de Israel descrevia o "messias" libertador. O que é proposto a Maria é, pois, que ela aceite ser a mãe desse "messias" que Israel esperava, o libertador enviado por Deus ao seu Povo para lhe oferecer a vida e a salvação definitivas.
Como é que Maria responde ao projeto de Deus?
A resposta de Maria começa com uma objeção... A objeção faz sempre parte dos relatos de vocação do Antigo Testamento (cf. Ex 3,11; 6,30; Is 6,5; Jer 1,6). É uma reação natural de um "chamado", assustado com a perspetiva do compromisso com algo que o ultrapassa; mas é, sobretudo, uma forma de mostrar a grandeza e o poder de Deus que, apesar da fragilidade e das limitações dos "chamados", faz deles instrumentos da sua salvação no meio dos homens e do mundo.
Diante da "objeção", o anjo garante a Maria que o Espírito Santo virá sobre ela e a cobrirá com a sua sombra. Este Espírito é o mesmo que foi derramado sobre os juízes (Oteniel - cf. Jz 3,10; Gedeão - cf. Jz 6,34; Jefté - cf. Jz 11,29; Sansão - cf. Jz 14,6), sobre os reis (Saul - cf. 1 Sm 11,6; David - cf. 1 Sm 16,13), sobre os profetas (cf. Maria, a profetisa irmã de Aarão - cf. Ex 15,20; os anciãos de Israel - cf. Nm 11,25-26; Ezequiel - cf. Ez 2,1; 3,12; o Trito-Isaías - cf. Is 61,1), a fim de que eles pudessem ser uma presença eficaz da salvação de Deus no meio do mundo. A "sombra" ou "nuvem" leva-nos, também, à "coluna de nuvem" (cf. Ex 13,21) que acompanhava a caminhada do Povo de Deus em marcha pelo deserto, indicando o caminho para a Terra Prometida da liberdade e da vida nova. A questão é a seguinte: apesar da fragilidade de Maria, Deus vai, através dela, fazer-se presente no mundo para oferecer a salvação a todos os homens.
O relato termina com a resposta final de Maria: "eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra". Afirmar-se como "serva" significa, mais do que humildade, reconhecer que se é um eleito de Deus e aceitar essa eleição, com tudo o que ela implica, pois, no Antigo Testamento, ser "servo do Senhor" é um título de glória, reservado àqueles que Deus escolheu, que Ele reservou para o seu serviço e que Ele enviou ao mundo com uma missão (essa designação aparece, por exemplo, no Deutero-Isaías - cf. Is 42,1; 49,3; 50,10; 52,13; 53,2.11 - em referência à figura enigmática do "servo de Jahwéh"). Desta forma, Maria reconhece que Deus a escolheu, aceita com disponibilidade essa escolha e manifesta a sua disposição de cumprir, com fidelidade, o projeto de Deus.
A conversa começa com a saudação do anjo. Na boca deste, são colocados termos e expressões com ressonância vétero-testamentária, ligados a contextos de eleição, de vocação e de missão. Assim, o termo "ave" (em grego, "kaire") com que o anjo se dirige a Maria é mais do que uma saudação: é o eco dos anúncios de salvação à "filha de Sião", uma figura fraca e delicada que personifica o Povo de Israel, em cuja fraqueza se apresenta e representa essa salvação oferecida por Deus e que Israel deve testemunhar diante dos outros povos (cf. 2 Re 19,21-28; Is 1,8;12,6; Jer 4,31; Sof 3,14-17). A expressão "cheia de graça" significa que Maria é objeto da predileção e do amor de Deus. A outra expressão "o Senhor está contigo" é uma expressão que aparece com frequência ligada aos relatos de vocação no Antigo Testamento (cf. Ex 3,12 - vocação de Moisés; Jz 6,12 - vocação de Gedeão; Jer 1,8.19 - vocação de Jeremias) e que serve para assegurar ao "chamado" a assistência de Deus na missão que lhe é pedida. Estamos, portanto, diante do "relato de vocação" de Maria: a visita do anjo destina-se a apresentar à jovem de Nazaré uma proposta de Deus. Essa proposta vai exigir uma resposta clara de Maria.
Qual é, então, o papel proposto a Maria no projeto de Deus?
A Maria, Deus propõe que aceite ser a mãe de um "filho" especial... Desse "filho" diz-se, em primeiro lugar, que ele se chamará "Jesus". O nome significa "Deus salva". Além disso, esse "filho" é apresentado pelo anjo como o "Filho do Altíssimo", que herdará "o trono de seu pai David" e cujo reinado "não terá fim". As palavras do anjo levam-nos a 2 Sm 7 e à promessa feita por Deus ao rei David através das palavras do profeta Nathan. Esse "filho" é descrito nos mesmos termos em que a teologia de Israel descrevia o "messias" libertador. O que é proposto a Maria é, pois, que ela aceite ser a mãe desse "messias" que Israel esperava, o libertador enviado por Deus ao seu Povo para lhe oferecer a vida e a salvação definitivas.
Como é que Maria responde ao projeto de Deus?
A resposta de Maria começa com uma objeção... A objeção faz sempre parte dos relatos de vocação do Antigo Testamento (cf. Ex 3,11; 6,30; Is 6,5; Jer 1,6). É uma reação natural de um "chamado", assustado com a perspetiva do compromisso com algo que o ultrapassa; mas é, sobretudo, uma forma de mostrar a grandeza e o poder de Deus que, apesar da fragilidade e das limitações dos "chamados", faz deles instrumentos da sua salvação no meio dos homens e do mundo.
Diante da "objeção", o anjo garante a Maria que o Espírito Santo virá sobre ela e a cobrirá com a sua sombra. Este Espírito é o mesmo que foi derramado sobre os juízes (Oteniel - cf. Jz 3,10; Gedeão - cf. Jz 6,34; Jefté - cf. Jz 11,29; Sansão - cf. Jz 14,6), sobre os reis (Saul - cf. 1 Sm 11,6; David - cf. 1 Sm 16,13), sobre os profetas (cf. Maria, a profetisa irmã de Aarão - cf. Ex 15,20; os anciãos de Israel - cf. Nm 11,25-26; Ezequiel - cf. Ez 2,1; 3,12; o Trito-Isaías - cf. Is 61,1), a fim de que eles pudessem ser uma presença eficaz da salvação de Deus no meio do mundo. A "sombra" ou "nuvem" leva-nos, também, à "coluna de nuvem" (cf. Ex 13,21) que acompanhava a caminhada do Povo de Deus em marcha pelo deserto, indicando o caminho para a Terra Prometida da liberdade e da vida nova. A questão é a seguinte: apesar da fragilidade de Maria, Deus vai, através dela, fazer-se presente no mundo para oferecer a salvação a todos os homens.
O relato termina com a resposta final de Maria: "eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra". Afirmar-se como "serva" significa, mais do que humildade, reconhecer que se é um eleito de Deus e aceitar essa eleição, com tudo o que ela implica, pois, no Antigo Testamento, ser "servo do Senhor" é um título de glória, reservado àqueles que Deus escolheu, que Ele reservou para o seu serviço e que Ele enviou ao mundo com uma missão (essa designação aparece, por exemplo, no Deutero-Isaías - cf. Is 42,1; 49,3; 50,10; 52,13; 53,2.11 - em referência à figura enigmática do "servo de Jahwéh"). Desta forma, Maria reconhece que Deus a escolheu, aceita com disponibilidade essa escolha e manifesta a sua disposição de cumprir, com fidelidade, o projeto de Deus.
ATUALIZAÇÃO
• A liturgia deste dia afirma, de forma clara
e insofismável, que Deus ama os homens e tem um projeto de vida plena para lhes
oferecer. Como é que esse Deus cheio de amor pelos seus filhos intervém na
história humana e concretiza, dia a dia, essa oferta de salvação? A história de
Maria de Nazaré, bem como a de tantos outros "chamados", responde, de
forma clara, a esta questão: é através de homens e mulheres atentos aos
projetos de Deus e de coração disponível para o serviço dos irmãos que Deus
atua no mundo, que Ele manifesta aos homens o seu amor, que Ele convida cada
pessoa a percorrer os caminhos da felicidade e da realização plena. Já pensámos
que é através dos nossos gestos de amor, de partilha e de serviço que Deus se
torna presente no mundo e transforma o mundo?
• Outra questão é a dos instrumentos de que
Deus se serve para realizar os seus planos... Maria era uma jovem mulher de uma
aldeia obscura dessa "Galileia dos pagãos" de onde não podia
"vir nada de bom". Não consta que tivesse uma significativa
preparação intelectual, extraordinários conhecimentos teológicos, ou amigos
poderosos nos círculos de poder e de influência da Palestina de então... Apesar
disso, foi escolhida por Deus para desempenhar um papel primordial na etapa
mais significativa na história da salvação. A história vocacional de Maria
deixa claro que, na perspetiva de Deus, não são o poder, a riqueza, a importância
ou a visibilidade social que determinam a capacidade para levar a cabo uma
missão. Deus age através de homens e mulheres, independentemente das suas
qualidades humanas. O que é decisivo é a disponibilidade e o amor com que se
acolhem e testemunham as propostas de Deus.
• Diante dos apelos de Deus ao compromisso,
qual deve ser a resposta do homem? É aí que somos colocados diante do exemplo
de Maria... Confrontada com os planos de Deus, Maria responde com um
"sim" total e incondicional. Naturalmente, ela tinha o seu programa
de vida e os seus projetos pessoais; mas, diante do apelo de Deus, esses
projetos pessoais passaram naturalmente e sem dramas a um plano secundário. Na
atitude de Maria não há qualquer sinal de egoísmo, de comodismo, de orgulho,
mas há uma entrega total nas mãos de Deus e um acolhimento radical dos caminhos
de Deus. O testemunho de Maria é um testemunho questionante, que nos interpela
fortemente... Que atitude assumimos diante dos projetos de Deus: acolhemo-los
sem reservas, com amor e disponibilidade, numa atitude de entrega total a Deus,
ou assumimos uma atitude egoísta de defesa intransigente dos nossos projetos
pessoais e dos nossos interesses egoístas?
• É possível alguém entregar-se tão cegamente
a Deus, sem reservas, sem medir os prós e os contras? Como é que se chega a
esta confiança incondicional em Deus e nos seus projetos? Naturalmente, não se
chega a esta confiança cega em Deus e nos seus planos sem uma vida de diálogo,
de comunhão, de intimidade com Deus. Maria de Nazaré foi, certamente, uma
mulher para quem Deus ocupava o primeiro lugar e era a prioridade fundamental.
Maria de Nazaré foi, certamente, uma pessoa de oração e de fé, que fez a
experiência do encontro com Deus e aprendeu a confiar totalmente n'Ele. No meio
da agitação de todos os dias, encontro tempo e disponibilidade para ouvir Deus,
para viver em comunhão com Ele, para tentar perceber os seus sinais nas
indicações que Ele me dá dia a dia?
SUGESTÃO PARA REFLEXÃO NA SOLENIDADE DA
IMACULADA CONCEIÇÃO
Ler e refletir a Nota Pastoral dos Bispos
Portugueses:
"Na celebração do 150º aniversário da definição dogmática da Imaculada Conceição"
(Conferência Episcopal Portuguesa, Fátima, 11 de novembro de 2004)
"Na celebração do 150º aniversário da definição dogmática da Imaculada Conceição"
(Conferência Episcopal Portuguesa, Fátima, 11 de novembro de 2004)
1. Desde os primórdios da sua história,
Portugal soube sempre acolher-se ao regaço da Mãe de Jesus. Como povo em
crescimento e em busca da consolidação de fronteiras, dedicou, desde os
primeiros tempos da sua história, uma terna e filial afeição à Virgem Maria que
escolhera como sua Senhora.
De entre as inúmeras invocações, com que a Ela se dirige, sobressai, desde muito cedo, no horizonte de um culto sempre crescente, a da Imaculada Conceição. No Calendário de Salisbury, adotado pelo primeiro bispo de Lisboa reconquistada, Gilberto Hastings (1147-1166), já figurava a referência ao mistério de Maria Imaculada.
À medida que Portugal se consolidava e se expandia pelo mundo, a veneração e devoção à sua Senhora ia aumentando. No século XVII, o culto de Maria, no Mistério da sua Imaculada Conceição, fazia parte da cultura nacional. Sinais disso, entre muitos outros, são: a consagração de Portugal a Maria Imaculada, a entrega da coroa real à imagem da Senhora da Conceição de Vila Viçosa, pelo Rei D. João IV, e o juramento a que se obrigou o corpo docente da Universidade de Coimbra - de defender e ensinar que Maria fora concebida sem pecado
No dia 8 de Dezembro de 1854, Pio IX, depois de ter consultado o episcopado do mundo inteiro, declarou solenemente, fazendo apelo à autoridade suprema do seu magistério: "A doutrina segundo a qual a Bem-aventurada Virgem Maria, no primeiro instante da sua conceição, foi por especial privilégio de Deus Omnipotente, com vista aos méritos de Jesus Cristo, Salvador do género humano, preservada imune de toda a mácula do pecado original, é revelada por Deus e deve por isso ser acreditada por todos os fieis, firmemente e com constância" (Bula Ineffabilis Deus - 08-12-1854).
Esta definição dogmática, nada acrescentou à fé e devoção do povo português, mas contribuiu, e muito, para as confirmar e robustecer. Prova disso, foi o dinamismo suscitado entre os fiéis de Portugal, no sentido de erguer um monumento nacional que assinalasse a definição de Pio IX. Em 1869 concluía-se esse primeiro monumento, no Sameiro, seguindo-se-lhe a construção dum santuário dedicado à Imaculada Conceição de Maria, cuja imagem foi coroada solenemente há cem anos.
A Conferência Episcopal Portuguesa, tendo tudo isto presente, quer associar-se às celebrações da Igreja Universal, que assinalam os 150 anos da definição do dogma com o objetivo de estimular os cristãos a um maior aprofundamento desta verdade de fé; e espera, com esta nota, poder contribuir para uma maior veneração d'Aquela que foi redimida de um modo original, pelos méritos do nosso único Salvador, Jesus Cristo.
De entre as inúmeras invocações, com que a Ela se dirige, sobressai, desde muito cedo, no horizonte de um culto sempre crescente, a da Imaculada Conceição. No Calendário de Salisbury, adotado pelo primeiro bispo de Lisboa reconquistada, Gilberto Hastings (1147-1166), já figurava a referência ao mistério de Maria Imaculada.
À medida que Portugal se consolidava e se expandia pelo mundo, a veneração e devoção à sua Senhora ia aumentando. No século XVII, o culto de Maria, no Mistério da sua Imaculada Conceição, fazia parte da cultura nacional. Sinais disso, entre muitos outros, são: a consagração de Portugal a Maria Imaculada, a entrega da coroa real à imagem da Senhora da Conceição de Vila Viçosa, pelo Rei D. João IV, e o juramento a que se obrigou o corpo docente da Universidade de Coimbra - de defender e ensinar que Maria fora concebida sem pecado
No dia 8 de Dezembro de 1854, Pio IX, depois de ter consultado o episcopado do mundo inteiro, declarou solenemente, fazendo apelo à autoridade suprema do seu magistério: "A doutrina segundo a qual a Bem-aventurada Virgem Maria, no primeiro instante da sua conceição, foi por especial privilégio de Deus Omnipotente, com vista aos méritos de Jesus Cristo, Salvador do género humano, preservada imune de toda a mácula do pecado original, é revelada por Deus e deve por isso ser acreditada por todos os fieis, firmemente e com constância" (Bula Ineffabilis Deus - 08-12-1854).
Esta definição dogmática, nada acrescentou à fé e devoção do povo português, mas contribuiu, e muito, para as confirmar e robustecer. Prova disso, foi o dinamismo suscitado entre os fiéis de Portugal, no sentido de erguer um monumento nacional que assinalasse a definição de Pio IX. Em 1869 concluía-se esse primeiro monumento, no Sameiro, seguindo-se-lhe a construção dum santuário dedicado à Imaculada Conceição de Maria, cuja imagem foi coroada solenemente há cem anos.
A Conferência Episcopal Portuguesa, tendo tudo isto presente, quer associar-se às celebrações da Igreja Universal, que assinalam os 150 anos da definição do dogma com o objetivo de estimular os cristãos a um maior aprofundamento desta verdade de fé; e espera, com esta nota, poder contribuir para uma maior veneração d'Aquela que foi redimida de um modo original, pelos méritos do nosso único Salvador, Jesus Cristo.
2. A iconografia da Imaculada pode ser motivo
fecundo de meditação. As alusões bíblicas e teológicas são uma fonte de
catequese de longo alcance.
O dragão pisado pela Virgem lembra antes de mais o mítico Leviatã (Is 27,1; Sl 74,14), monstro marinho que na Bíblia evoca a resistência das águas primordiais ao poder criador e redentor de Deus. Na mesma tradição, esse triunfo de Deus sobre a antiga serpente tem concretização histórica na anunciada vitória da descendência de Eva: "ela esmagar-te-á a cabeça, ao tentares mordê-la no calcanhar" (Gn 3,9-15). Ecos desse combate cósmico percorrem as visões do Apocalipse e estão presentes no sinal aparecido no céu de "uma mulher vestida de Sol, tendo a Lua debaixo dos seus pés e coroada de doze estrelas" (Ap 12,1-6.15-17).
A descendência de Eva e a mulher do Apocalipse personificam o povo de Deus de que nascerá a seu tempo o Messias, o Emanuel, Deus connosco.
Para a Tradição cristã, esses símbolos enraízam na história. Assim, os Padres da Igreja não cessam de apelidar a Mãe de Jesus de Nova Eva, Filha de Sião, Aquela que, na sua plenitude de graça, realiza o que em Eva estava prefigurado. Não por mérito próprio, mas como a mais perfeitamente redimida ou como diz o Vaticano II: "remida de modo mais sublime" (LG 53), Maria agiganta-se, aos nossos olhos como verdadeiramente "cheia de graça".
O dragão pisado pela Virgem lembra antes de mais o mítico Leviatã (Is 27,1; Sl 74,14), monstro marinho que na Bíblia evoca a resistência das águas primordiais ao poder criador e redentor de Deus. Na mesma tradição, esse triunfo de Deus sobre a antiga serpente tem concretização histórica na anunciada vitória da descendência de Eva: "ela esmagar-te-á a cabeça, ao tentares mordê-la no calcanhar" (Gn 3,9-15). Ecos desse combate cósmico percorrem as visões do Apocalipse e estão presentes no sinal aparecido no céu de "uma mulher vestida de Sol, tendo a Lua debaixo dos seus pés e coroada de doze estrelas" (Ap 12,1-6.15-17).
A descendência de Eva e a mulher do Apocalipse personificam o povo de Deus de que nascerá a seu tempo o Messias, o Emanuel, Deus connosco.
Para a Tradição cristã, esses símbolos enraízam na história. Assim, os Padres da Igreja não cessam de apelidar a Mãe de Jesus de Nova Eva, Filha de Sião, Aquela que, na sua plenitude de graça, realiza o que em Eva estava prefigurado. Não por mérito próprio, mas como a mais perfeitamente redimida ou como diz o Vaticano II: "remida de modo mais sublime" (LG 53), Maria agiganta-se, aos nossos olhos como verdadeiramente "cheia de graça".
3. Segundo o testemunho de Lucas, a
maternidade de Maria implicou um ato livre de fé, mais decisivo para a história
pública da salvação do que a fé de Abraão ou a Aliança do Sinai.
Ato de confiante aceitação, tornou-o possível a ação prévia da graça divina, como recorda o Anjo na sua saudação: "Salve, ó cheia da graça, o Senhor está contigo" (Lc 1,28). Na linguagem dos teólogos, a obediência na fé, sem a qual Maria não seria a Mãe de Deus, é pura graça do mesmo Deus.
Sem a graça divina, a razão e a liberdade humanas permanecem irremediavelmente fechadas em si mesmas, envolvidas por sombras e desejos de uma humanidade pecadora. A jovem de Nazaré abriu caminho à salvação de todos por um ato de desprendimento pessoal: uma resposta arriscada, mas livre e graciosa, ao apelo de Deus para ser Mãe do Salvador. A resposta nasceu de um chamamento, cuja radicalidade e liberdade plena, no caso especial de Maria, a fé cristã assinala, fazendo-as remontar ao primeiro momento da sua existência, o momento da sua Conceição Imaculada.
Ato de confiante aceitação, tornou-o possível a ação prévia da graça divina, como recorda o Anjo na sua saudação: "Salve, ó cheia da graça, o Senhor está contigo" (Lc 1,28). Na linguagem dos teólogos, a obediência na fé, sem a qual Maria não seria a Mãe de Deus, é pura graça do mesmo Deus.
Sem a graça divina, a razão e a liberdade humanas permanecem irremediavelmente fechadas em si mesmas, envolvidas por sombras e desejos de uma humanidade pecadora. A jovem de Nazaré abriu caminho à salvação de todos por um ato de desprendimento pessoal: uma resposta arriscada, mas livre e graciosa, ao apelo de Deus para ser Mãe do Salvador. A resposta nasceu de um chamamento, cuja radicalidade e liberdade plena, no caso especial de Maria, a fé cristã assinala, fazendo-as remontar ao primeiro momento da sua existência, o momento da sua Conceição Imaculada.
4. Todos pecámos em Adão; e todos fomos
redimidos e salvos em Cristo (cf. Rm 5,17-18).
A nossa salvação aconteceu graças aos méritos de Jesus Cristo, que por nós se entregou como Redentor dos pecados que contraímos. A salvação de Maria foi igualmente alcançada mercê da Redenção de seu Filho que Lhe aplicou os seus méritos, preservando-a de contrair o pecado.
Santo Agostinho, na senda de São Paulo, confirma que todos pecaram "exceto a Virgem Santa Maria, a respeito da Qual, pela honra do Senhor, não é permitido que qualquer questão se levante relacionada com o pecado" (De Natura et Gratia, c. 42).
O pecado tolda a consciência e endurece o coração. Cheia de graça, Maria, concebida sem pecado, sofre com redobrada violência, a Paixão e Morte de seu Filho, consequência dos pecados dos homens. Bem avisava Simeão que uma espada lhe atravessaria a alma. Tudo isto, aliás, é sentido e vivido pelo povo fiel que encontra, no Coração Imaculado de Maria, um refúgio de Mãe, sempre disponível para acolher as alegrias e tristezas dos filhos e filhas de Deus. Mas o sentido da fé faz-nos ainda descobrir, em Maria, uma outra dimensão de vida: Ela, que não foi tocada pelo pecado, tem uma especial sensibilidade de afeto maternal para com aqueles que pecam; intercede por eles e acompanha-os, de perto, para que se convertam e vivam como verdadeiros filhos de Deus.
A nossa salvação aconteceu graças aos méritos de Jesus Cristo, que por nós se entregou como Redentor dos pecados que contraímos. A salvação de Maria foi igualmente alcançada mercê da Redenção de seu Filho que Lhe aplicou os seus méritos, preservando-a de contrair o pecado.
Santo Agostinho, na senda de São Paulo, confirma que todos pecaram "exceto a Virgem Santa Maria, a respeito da Qual, pela honra do Senhor, não é permitido que qualquer questão se levante relacionada com o pecado" (De Natura et Gratia, c. 42).
O pecado tolda a consciência e endurece o coração. Cheia de graça, Maria, concebida sem pecado, sofre com redobrada violência, a Paixão e Morte de seu Filho, consequência dos pecados dos homens. Bem avisava Simeão que uma espada lhe atravessaria a alma. Tudo isto, aliás, é sentido e vivido pelo povo fiel que encontra, no Coração Imaculado de Maria, um refúgio de Mãe, sempre disponível para acolher as alegrias e tristezas dos filhos e filhas de Deus. Mas o sentido da fé faz-nos ainda descobrir, em Maria, uma outra dimensão de vida: Ela, que não foi tocada pelo pecado, tem uma especial sensibilidade de afeto maternal para com aqueles que pecam; intercede por eles e acompanha-os, de perto, para que se convertam e vivam como verdadeiros filhos de Deus.
5. Meditar no mistério da Imaculada Conceição
de Maria há de levar-nos, antes de mais, ao apreço pelo mistério amoroso da
ação redentora de seu divino Filho. Tal Redenção refulge, esplendorosamente, na
pessoa de Maria, primeira redimida. Nela se revela a delicadeza da Providência
divina que chama cada homem e cada mulher a colaborar na obra da salvação de
todos: antes de mais, pelo exercício de uma grande radicalidade e liberdade
interior, inspiradas nos apelos de Deus e enraizados no dom gratuito do seu
amor; depois, pela correspondência a esse dom, na total fidelidade à nossa
filiação divina que Maria, como Mãe, quer tornar cada vez mais sólida em nós.
A Rosa de Ouro que o Santo Padre oferece, tão carinhosa e paternalmente, ao Santuário do Sameiro, aí ficará como marca indelével de uma presença simbólica do Sumo Pontífice e do seu amor devocional a Nossa Senhora.
Queira Deus que um tal gesto papal se transforme num permanente apelo, para todos os portugueses, no sentido de cultivarmos e mantermos sempre viçosas as rosas do nosso amor a Maria. Que ela não nos deixe murchar a fé e a devoção que tantos séculos de história construíram no coração das gentes desta praia lusitana.
A Rosa de Ouro que o Santo Padre oferece, tão carinhosa e paternalmente, ao Santuário do Sameiro, aí ficará como marca indelével de uma presença simbólica do Sumo Pontífice e do seu amor devocional a Nossa Senhora.
Queira Deus que um tal gesto papal se transforme num permanente apelo, para todos os portugueses, no sentido de cultivarmos e mantermos sempre viçosas as rosas do nosso amor a Maria. Que ela não nos deixe murchar a fé e a devoção que tantos séculos de história construíram no coração das gentes desta praia lusitana.
Que Maria Santíssima, nossa Mãe Imaculada,
olhe para Portugal e por Portugal bem como por toda a humanidade, nos difíceis
caminhos da paz.
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
Tel. 218540900 - Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.org
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
Tel. 218540900 - Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.org
Obrigado Senhor, Obrigado Dehonianos !!!
ResponderExcluirGostei demais da explicação, principalmente da primeira leitura. Não é fácil encontrar explicação assim, bem fácil de entender e ensinar.Deus lhes abençoe.
ResponderExcluirLourdes