31
Dezembro 2019
Tempo do Natal - 7º dia da Oitava do Natal
Lectio
Primeira leitura: 1 João 2, 18-21
18*Meus filhos, estamos na última hora.
Ouvistes dizer que há-de vir um Anticristo; pois bem, já apareceram muitos
anticristos; por isso reconhecemos que é a última hora. 19*Eles saíram de entre
nós, mas não eram dos nossos, porque, se tivessem sido dos nossos, teriam
permanecido connosco; mas aconteceu assim para que ficasse claro que nenhum
deles é dos nossos. 20*Vós, porém, tendes uma unção recebida do Santo e todos
estais instruídos. 21Não vos escrevi por não saberdes a verdade, mas porque a
sabeis, e também que da verdade não vem nenhuma mentira.
S. João exorta a comunidade cristã à
vigilância pela iminência da «última hora» da história, marcado por um violento
ataque do «anticristo», símbolo de todas as forças hostis a Deus e
personificadas nos heréticos. O tempo final da história não deve ser entendido
em sentido cronológico mas teológico, isto, como tempo decisivo e último da
vinda de Cristo, tempo de luta, de perseguição e de provação para a fé da
comunidade. O agudizar das dificuldades indica que o fim está próximo.
Vislumbra-se já no horizonte o perfil de um mundo novo. O sinal mais evidente
vem dos heréticos que difundem a mentira. Embora tivessem pertencido à
comunidade, mostram-se agora seus inimigos, ao abandonarem a Igreja e ao
criar-lhe dificuldades.
É duro verificar que Deus possa permitir a
Satanás encontrar instrumentos da sua acção dentro da própria comunidade
eclesial. Mas, a esses instrumentos, opõem-se os verdadeiros discípulos de
Jesus, aqueles que receberam «a unção do Santo» (cf. v. 20), isto é, a palavra
de Cristo e o seu Espírito que, pelo baptismo, lhes ensina a verdade completa
(cf. Jo 14, 26). Essa verdade refere-se a Jesus, o Verbo de Deus feito carne,
como professa o Apóstolo, e não um Jesus aparentemente humano, figura de uma
realidade apenas espiritual, como dizem os hereges docetas.
Evangelho: João 1, 1-18
1*No princípio já existia o Verbo; o Verbo
estava em Deus; o Verbo era Deus. 2No princípio Ele estava em Deus; 3*por Ele é
que tudo começou a existir; sem Ele nada veio à existência. 4*Nele é que estava
a Vida de tudo o que veio a existir. E a Vida era a Luz dos homens. 5A Luz
brilhou nas trevas, mas as trevas não a receberam. 6*Apareceu um homem enviado
por Deus, que se chamava João. 7Este vinha como testemunha, para dar testemunho
da Luz e todos crerem por meio dele. 8Ele não era a Luz, mas vinha para dar
testemunho da Luz. 9*O Verbo era a luz verdadeira, que, ao vir ao mundo, a todo
o homem ilumina. 10*Ele estava no mundo e por Ele o mundo veio à existência,
mas o mundo não o reconheceu. 11*Veio para o que era seu, e os seus não o
receberam. 12*Mas, a quantos o receberam, aos que nele crêem, deu-lhes o poder
de se tornarem filhos de Deus. 13*Estes não nasceram de laços de sangue, nem de
um impulso da carne, nem da vontade de um homem, mas sim de Deus. 14*E o Verbo
fez-se homem e veio habitar connosco. E nós contemplámos a sua glória,
Caixa de texto: Tempo do Natal 31|Dezembro
a glória que possui como Filho Unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade. 15*João deu testemunho dele ao clamar: «Este era aquele de quem eu disse: 'O que vem depois de mim passou-me à frente, porque existia antes de mim.'» 16*Sim, todos nós participamos da sua plenitude, recebendo graças sobre graças. 17*É que a Lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram-nos por Jesus Cristo. 18*A Deus nunca ninguém o viu. O Filho Unigénito, que é Deus e que está no seio do Pai, foi Ele quem o deu a conhecer.
a glória que possui como Filho Unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade. 15*João deu testemunho dele ao clamar: «Este era aquele de quem eu disse: 'O que vem depois de mim passou-me à frente, porque existia antes de mim.'» 16*Sim, todos nós participamos da sua plenitude, recebendo graças sobre graças. 17*É que a Lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram-nos por Jesus Cristo. 18*A Deus nunca ninguém o viu. O Filho Unigénito, que é Deus e que está no seio do Pai, foi Ele quem o deu a conhecer.
Ao contrário dos evangelhos da infância, o
prólogo de S. João não narra os acontecimentos históricos do nascimento e da
infância de Jesus. De forma poética, descreve a origem do Verbo na eternidade
de Deus e a sua pessoa divina no amplo quadro bíblico do projecto de salvação,
que Deus traz para o homem.
Começa pela preexistência do Verbo (vv. 1-5),
real e em comunhão de vida com o Pai; o Verbo pode falar-nos do Pai porque
possui a eternidade, a personalidade e a divindade (v. 1). Depois fala da vinda
histórica do Verbo para meio dos homens (vv. 6-13), de cuja luz deu testemunho
João Baptista (vv. 6-8); a luz põe o homem perante a necessidade de fazer uma
opção de vida: recusá-la ou acolhê-la, permanecer na incredulidade ou aderir à
fé (vv. 9-11); o acolhimento favorável tem por consequência a filiação divina,
que não procede da carne ou do sangue, isto é de possibilidades humanas (vv.
12-13). Finalmente, a Incarnação do Verbo (v. 14) como ponto central do
prólogo. Este Verbo já tinha entrado na história humana por meio da criação,
mas agora vem habitar entre os homens de um modo activo: «O Verbo fez-se
homem», na fragilidade de Jesus de Nazaré, para mostrar o amor infinito de
Deus. Nele, a humanidade crente pode contemplar a glória do Senhor, a glória de
Jesus, o Revelador perfeito e escatológico da Palavra que nos faz livres, o
verdadeiro Mediador humano-divino entre o Pai e humanidade, o único que nos
manifesta Deus e no-lo faz conhecer (vv. 17-18).
Meditatio
«Todos nós participamos da sua plenitude,
recebendo graças sobre graças», diz-nos João no Prólogo do seu evangelho. Vamos
partir desta frase para n os colocarmos numa atitude de acção de graças, neste
último dia do ano. Ao longo dele, fomos recebendo cada dia graça sobre graça,
cada um segundo as suas necessidades e capacidades de receber. E, as graças que
recebemos este ano, preparam as que havemos de receber no ano que vai começar.
Recebemos a graça do perdão misericordioso de
Deus para os nossos pecados e para termos coragem de avançar no caminho da
santidade. Recebemos luz para avançarmos, dia a dia no ano que termina. Essa
luz também n&at
ilde;o deixará de brilhar sobre nós no ano que começa. A luz é o próprio Filho de Deus feito homem: «Eu sou a Luz do mundo». Essa luz é-nos dada como força e como amor, sobretudo na Eucaristia. Há que acolhê-la de coração aberto e disponível para todos os dons e surpresas de Deus.
ilde;o deixará de brilhar sobre nós no ano que começa. A luz é o próprio Filho de Deus feito homem: «Eu sou a Luz do mundo». Essa luz é-nos dada como força e como amor, sobretudo na Eucaristia. Há que acolhê-la de coração aberto e disponível para todos os dons e surpresas de Deus.
A falta dessa abertura levou alguns cristãos,
logo na primitiva Igreja, à heresia. Não aceitavam que Deus se pudesse fazer
homem e, mais ainda, homem pobre, homem frágil. Ao longo da história, e ainda
em nossos dias, não faltam falsos profetas e mestres de falsidade, que se
servem do nome de Cristo para propagar as suas ideias e doutrinas. Muitas
vezes, provêm das próprias comunidades cristãs. Há que distinguir o verdadeiro
do falso. A verdadeira doutrina traz alegria e paz interior.
O dom e o mistério de pertencer à Igreja têm
como única garantia a fidelidade à Palavra de Cristo, em humilde e permanente
busca da verdade. Recusar a Igreja é recusar a Cristo, a verdade e a vida (cf.
Jo 14, 6). Recusar a Igreja é não acreditar no Evangelho e na Palavra de Jesus,
é viver nas trevas, no não-sentido. O verdadeiro discípulo de Jesus é aquele
que, tendo recebido a unção do Espírito Santo, se deixa conduzir suavemente
pela sua acção e pela sua verdade, reconhecendo os caminhos de Deus, esperando
a sua vinda sem alarmismos nem fantasias milenaristas. A Incarnação de Cristo
impregnou toda a história e toda a vida dos homens, porque só nele reside a
plenitude da vida e toda a aspiração de felicidade e o homem entrou de pleno
direito entre os familiares de Deus.
O fim do ano civil recorda-nos que a história
humana é guiada por Deus. Para Ele a nossa gratidão e a nossa súplica de vida
nova que sempre nos quer oferecer.
Escreve o Pe. Dehon: «O fim do ano é imagem do
fim da vida; lembra-nos esse fim. Entremos nos sentimentos de Ezequias, que
vendo-se à beira da morte, se humilhava e
deplorava as suas faltas... Mas não será
também preciso dar graças a Nosso Senhor pelos benefícios que recebemos este
ano? Ele suportou-nos, perdoou-nos, abençoou as nossas obras. O seu Coração
abriu-se largamente a nós. Não será justo sermos reconhecidos?» (Leão Dehon,
OSP 4, p. 603s.).
Oratio
Senhor, quero hoje rezar-te com Ângela de
Foligno:
«Meu Deus, faz-me digna de conhecer o
altíssimo mistério da tua ardente caridade, o mistério profundíssimo da tua
Incarnação. Fizeste-te homem por nós. Desta carne começa a vida da nossa
eternidade... Ó amor que todo Te dás! Aniquilaste-te a Ti mesmo, desfizeste-te
a Ti, para me fazeres a mim; assumiste os farrapos de um servo vilíssimo, para
me dares o manto real e a veste divina...
Por isto que entendo, que compreendo com toda
mim mesma - que Tu nasceste em mim - sê bendito, ó Senhor! Ó abismo de luz!
Toda a luz está em mim, se eu vejo isto, se compreendo isto: que Tu nasceste em
mim. Na verdade, esta inteligência é uma meta: a meta da alegria... Ó Deus, não
criado, torna-me digna de me afundar neste abismo de amor, de sustentar em mim
o ardor da tua caridade. Faz-me digna de compreender a inefável caridade que
nos comunicaste quando, por meio da Incarnação, nos manifestas-te Jesus Cristo
como teu Filho, quando Jesus Cristo Te manifestou a nós como Pai.
Ó abismo de amor! A alma que Te contempla
eleva-se admiravelmente acima da terra, eleva-se acima de si mesma e paira,
pacificada, no mar da serenidade».
Contemplatio
S. João é o pregador do amor. Todo o seu
evangelho está neste espírito. A sua primeira página é uma elevação de amor
para o Verbo incarnado. «Nós vimos, diz, o Filho de Deus cheio de graça e de
glória». Só ele descreve as núpcias tocantes de Caná, o colóquio com a
Samaritana, a grande promessa da Eucaristia, a parábola do bom Pastor, a
ressurreição de Lázaro, o lava-pés e os discursos tão ternos do Bom Mestre
durante a Ceia e depois da Ceia. Narra a abertura do Coração de Jesus.
As suas epístolas pregam a caridade: «Deus é
caridade... amou-nos primeiro... deu- nos o seu Filho por nosso amor. Portanto,
amemo-lo também da nossa parte». E sem cessar repete: «Amemo-nos uns aos
outros».
Vivendo junto de Maria e da Eucaristia,
caminha para a consumação do amor. Chega à união mística mais intensa com Nosso
Senhor, às visões, às revelações. O céu está aberto para ele. Descreve-o
inteiramente. Mas sobretudo o Cordeiro triunfante retém o seu olhar: o Cordeiro
sempre ferido no Coração e imolado, o Cordeiro que é bem o laço de amor entre
Deus e nós.
Avancemos humilde e progressivamente no amor
com S. João (Leão Dehon, OSP 3, p. 404s.)
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Participamos da plenitude do Verbo; dele recebemos graças sobre graças». (Jo 1, 16).
«Participamos da plenitude do Verbo; dele recebemos graças sobre graças». (Jo 1, 16).
Nenhum comentário:
Postar um comentário