27 Dezembro 2017
Tempo do Natal – 3º dia da Oitava do Natal > Festa de
S. João
Lectio
Primeira leitura: 1 João 1,1-4
Caríssimos: 1*0 que existia desde o princípio, o que
ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos e as nossas mãos
tocaram relativamente ao Verbo da Vida, 2* de facto, a Vida manifestou-se; nós
vimo-Ia, dela damos testemunho e anunciamo-vos a Vida eterna que estava junto
do Pai e que se manifestou a nós- 3*0 que nós vimos e ouvimos, isso vos
anunciamos, para que também vós estejais em comunhão connosco. E nós estamos em
comunhão com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. 4*Escrevemo-vos isto para que
a nossa alegria seja completa.
No breve prólogo à sua Primeira Carta, S. João expõe os
critérios para entrarmos em comunhão com Deus. Oferece-nos também um itinerário
de fé, e indica as defesas a usar contra o pecado.
João fundamenta a fé cristã no «Verbo da vida», de que dá
testemunho, indicando, e descrevendo de modo sintético, as suas etapas
essenciais. Mas, ao contrário do Prólogo do seu evangelho, onde acentua o
«Verbo», aqui acentua a «vida», que Jesus possui e dá. Tudo começa com a
experiência pessoal do apóstolo, no contacto com Jesus: «o que ouvimos, o que
vimos, o que contemplámos e as nossas mãos tocaram relativamente ao Verbo da
Vida» (v. 1). Esta experiência torna-se testemunho e exemplo coerente (v. 2),
anúncio corajoso, que gera comunhão entre aqueles que o escutam e abraçam a fé,
e comunhão com o próprio Pai e com o seu Filho Jesus (v. 3). Esta comunhão, por
sua vez, gera a alegria do coração (v. 4).
A palavra «nós» põe-nos diante da tradição da escola
joânica, que desenvolve o testemunho do discípulo amado, fundado na «vida
divina» tornada visível em Jesus.
Evangelho: João 20, 2-8
2*No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ter com
Simão Pedro e com o outro discípulo, o querido de Jesus, e disse-lhes: «O
Senhor foi levado do túmulo e não sabemos onde o puseram.» 3pedro saiu com o
outro discípulo e foram ao túmulo. 4Corriam os dois juntos, mas o outro
discípulo correu mais do que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. 5Inc/inou¬se
para observar e reparou que os panos de linho estavam espalmados no chão, mas
não entrou. 6*Entretanto, chegou também Simão Pedro, que o seguira. Entrou no
túmulo e ficou admirado ao ver os panos de linho espalmados no chão, 7* ao
passo que o lenço que tivera em volta da cabeça não estava espalmado no chão
juntamente com os panos de linho, mas de outro modo, enrolado noutra posição.
8Então, entrou também o outro discípulo, o que tinha chegado primeiro ao
túmulo. Viu e começou a crer.
João dá-nos neste texto uma síntese dos acontecimentos
verificados na manhã da Páscoa, em que são protagonistas Maria Madalena, Pedro
e ele próprio. A noite espiritual em que tinham mergulhado os apóstolos está
para dar lugar à experiência de fé, que começa junto ao túmulo vazio, sinal da
presença do Ressuscitado (v. 2). Ao receberem a notícia de que fora retirada a
pedra do sepulcro, e de que o corpo de Jesus lá não estava, Pedro e João foram
verificar o que sucedera. A sua corrida revela amor e veneração, e faz pensar
na Igreja que procura sinais visíveis do Senhor, especialmente quando se
encontra em dificuldade e não consegue vê-lo. João chega primeiro do que Pedro
ao sepulcro, devido à sua intuição amorosa de discípulo amado, mas é Pedro quem
entra por primeiro, devido à sua função eclesial (vv. 5- 7). Depois de observar
a ordem das várias coisas que se encontravam no sepulcro, e a paz que nele
reinava, o discípulo amado abre-se à visão da fé, acreditando nos sinais
visíveis do Senhor: «Viu e começou a crer» (v. 8). Ainda não é a fé plena na
Ressurreição. Isso só acontecerá quando o seu espírito se abrir à inteligência
das Escrituras (cf. Lc 24, 45), quando vir a pessoa do Senhor e receber o dom
do Espírito Santo, isto é, quando tiver percorrido todo o itinerário da fé.
Meditatio
S. João é uma figura de fundamental importância na Igreja
primitiva. De facto, é o discípulo amado que ensina a contemplar em Jesus, o
Filho de Deus feito homem, para nos revelar o rosto do Pai e o caminho que leva
à comunhão com Ele. Por esta razão, João é chamado teólogo. Os seus escritos
levam a acreditar em Jesus Messias e Filho de Deus (cf. Jo 20, 31). O seu
símbolo é a águia porque, como refere uma sentença rabínica, a águia é a única
ave que consegue fixar o sol sem cegar. Para João, o sol é Cristo. A sua
presença na comunidade descobre-se pela contemplação e pela inteligência da
Palavra de vida. A vida, na sua realidade mais profunda, é «a Vida eterna que
estava junto do Pai e que se manifestou a nós». Jamais contemplaremos
suficientemente este mistério de vida que se tornou perceptível para nós em Jesus,
Filho de Deus, a vida eterna que estava junto do PaiO
S. João faz-nos compreender quanta profundidade se
encontra na pessoa do Filho, na sua união com o Pai, na sua comunhão com Eleffi
Incarnação tem por objectivo tornar-nos participantes nessa comunhão divina:
estamos «em comunhão com o Pai e com o seu Filho, Jesus Cristo». A Incarnação
aconteceu em vista da comunhão. Isto é espantoso. A carne é causa de divisão!
Por causa dela, estamos num lugar e não noutro. Podemos chegar até às pessoas
queridas pelo pensamento. Mas a carne impede-nos estar em comunhão com elas. E
quantas discussões, litígios e divisões por causa dos bens materiais! O Filho
de Deus, ao assumir a nossa carne, tornou-a meio de comunhão. Tudo o que
assumiu se tornou instrumento de comunhão com Deus e entre nós. Na Eucaristia,
onde a carne de Cristo se põe ao serviço da comunhão, fazemos a comunhão, isto
é, recebemos a comunhão com o Pai e a comunhão entre nós. Para isso, Cristo
teve de sacrificar a sua carne, teve de entregá-Ia aos inimigos, para fazer
dela um sacrifício agradável, um sacrifício perfeito. Então, a vida mostrou
toda a sua força.
O evangelho de hoje leva-nos até à Páscoa, mostra-nos a
meta alcançada: a vida venceu a morte e manifestou-se. O que João viu foi esta
vitória da vida, manifestada no sepulcro pelas ligaduras, pelo sudário. O corpo
de Cristo já não está no sepulcro, porque a vida triunfou. Mas Jesus incarnado
está sempre connosco, porque a vitória sobre a morte foi alcançada para nós.
Uma outra lição que podemos tirar do evangelho de hoje é
o respeito pelos carismas, que são muitos na Igreja, para bem da mesma Igreja.
João, que tem o carisma da profecia, é respeitado Pedro, que tem o carisma da
instituição. O respeito pelo
s carismas, e a partilha na busca comum dos dons do Espírito, permite-nos penetrar no mistério, reconhecer os sinais do Ressuscitado.
s carismas, e a partilha na busca comum dos dons do Espírito, permite-nos penetrar no mistério, reconhecer os sinais do Ressuscitado.
Com S. João, também nós somos chamados a
"conhecer", isto é, fazer experiência de vida e a "crer",
isto é, a aderir com todo o coração e com toda a nossa pessoa, "ao amor
que Deus nos tem"? (1 Jo 4, 16), amor manifestado no Verbo Incarnado. Esse
inefável "amor que Deus nos tem … !", de que João é «doutor», no
dizer do Pe. Dehon, é o grande mistério para todo o cristão e, em particular,
para todo o oblato-SCJ.
É este mistério que queremos proclamar diante da
Eucaristia, diante do Crucificado de Lado aberto, diante da nossa vocação de
Oblatos-Sacerdotes do Coração de Jesus.
Oratio
Senhor Jesus Cristo, que revelaste a João, teu discípulo
amado, os misteriosos segredos da Palavra, dá-nos também a nós, hoje, e a toda
a Igreja, uma nova inteligência espiritual das Escrituras. Assim poderemos
iluminar, cada vez mais, a nossa vida espiritual, e aprender a tua ciência
sublime.
Concede à Igreja pastores sábios e santos, capazes de colher
o sentido espiritual e profundo das Escrituras e introduzir o povo de Deus na
tua intimidade. Assim todos poderemos conhecer o teu Coração, o teu pensamento,
a profundidade do teu Espírito e o modo como conduzes a história da Igreja.
Por intercessão do teu discípulo amado, faz-nos
experimentar o amor do teu Coração, e torna-nos assíduos e delicados no teu
serviço. Sempre, e em toda a parte, queremos, como S. João, realizar a tua
vontade sobre nós. Ajuda-nos!
Contemplatio
S. João teve com Jesus os laços mais íntimos: foi seu
parente, seu discípulo, seu amigo, seu herdeiro. Tiago e João eram filhos de
Salomé, parente de Maria. Eram chamados irmãos de Jesus. Era costume chamar
irmãos os parentes próximos. João deve ter conhecido Jesus menino.
Ligou-se a Ele, primeiro como discípulo com Santo André
(Jo 1, 37). Tendo ouvido João Baptista chamar Jesus Cordeiro de Deus,
deleitou-se com esse nome, meditava-o sem cessar, e lembra-o muitas vezes no
Apocalipse.
S. João está sempre junto de Jesus. Quando Jesus toma
aparte alguns apóstolos, para os mais belos milagres, para a transfiguração,
para a agonia, S. João está sempre.
Senta-se junto de Jesus. S. Pedro sabe bem que João é o
amigo e que, por meio dele, pode conhecer os segredos que Jesus não revela a
todos.
S. João pode narrar em pormenor os discursos de Jesus
depois da Ceia porque os ouviu melhor que os outros.
S. João ama como é amado. Segue Jesus por todo o lado
(Petrus vidit iI/um sequentem). Segui-Io-á até ao Calvário. Assiste à morte de
Jesus, ao golpe misterioso da lança, à sepultura. Vê de perto o lado de Jesus
aberto. Abraça-o, sem dúvida, como um dia havia de fazer S. Francisco
(Haurietis aquas in gáudio).
S. João é o herdeiro de Jesus, que lhe legou a sua mãe e
necessariamente com ela as habitações de Nazaré e as lembranças.
Jesus disse a Pedro que João devia esperá-lo e recebe-lo
na terra. Hão rever-se em Patmos. João reencontrará lá o divino Cordeiro de
lado aberto: Agnum occisum … quem pupugerunt.
Ó divina amizade, que merece contemplação e admiração
eterna! (Leão Dehon, OSP 4, p. 591s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
« O Verbo fez carne, e nós vimos a sua glória» (Jo 1, 14).
« O Verbo fez carne, e nós vimos a sua glória» (Jo 1, 14).
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