Domingo de Ramos da
Paixão do Senhor da Quaresma
9 de Abril de 2017
Cor: Vermelho
Evangelho - Mt 26,14-27,66
Domingo de ramos
marca o início da Semana Santa, na qual vamos com todo respeito e devoção
relembrar o sofrimento, paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. É bom
lembrar mais uma vez, que Jesus não morre nesta semana. Portanto, não se
explica atitudes piegas de lágrimas e gestos piedosos exagerados.
O mais importante
é o final da Semana Santa, que termina no Domingo de Páscoa, onde comemoramos a
ressureição de Jesus, e a nossa conversão.
Neste dia, a alegria é dupla. Alegria pelo aniversário da volta de Jesus
a vida, e alegria pela nossa volta a vida em abundância, a vida em estado de
graça.
Nesse domingo nós festejamos a entrada triunfal de
Jesus na cidade de Jerusalém montado em uma jumenta. Episódio que
significa a manifestação de sua grandeza, porém com humildade.
O povo aclamou Jesus, reconhecendo a sua divindade.
Hoje também existem muitos cristãos pelo mundo todo que reconhecem Jesus
como o Messias, o enviado do Pai ao mundo para salvação da humanidade.
A liturgia de Domingo de Ramos retrata fielmente a
sequência da realidade vivida e sofrida pelo Filho de Deus na
Terra. Ela divide-se em duas partes:
1ª - PROCIÇÃO DE
RAMOS - É uma cena de um rei se aproximando vitoriosamente em uma
cidade, aclamado pelo povo. Ele não vinha em uma carruagem luxuosa
puxada por vários cavalos fogosos, ou em uma limousine...
Mas o carinho daquele povo era de reconhecimento
pelos milagres recebidos, era uma recepção calorosa e sincera de pessoas
simples que não tendo nada para dar ao homenageado, dava o seu louvor, e
colocaram tapetes de folhagem gritando Hosana! Hosana ao rei que se
aproxima deles com toda glória, ao mesmo tempo com toda humildade.
2ª PAIXÃO E
MORTE - No Domingo de Ramos, festejamos este fato histórico, de grande alegria,
para em seguida, depois da procissão, lembrar outro fato histórico, o da paixão
e morte daquele que veio ao mundo para nos fornecer tudo o que precisamos para
nos livrar do fogo eterno e um dia desfrutar das maravilhas do Paraíso.
Muitos que viram aquela cena, ficaram admirados com
a glória de Jesus, semelhante a um rei quando entrava em Jerusalém. Já outros
pensaram que se tratasse de uma brincadeira festiva...
Um grande contraste marca então, a liturgia deste
domingo: Na primeira parte, alegria pela glória do Filho de Deus, entre os
humildes. Para em seguida, vermos o rosto de Jesus envolto em grande tristeza,
por estar sendo humilhado pelos algozes a mando da elite que o queria ver
eliminado.
Na verdade são vários contrastes. Veja:
Guerrico d’Igny nos ajuda meditar na comemoração do domingo dos ramos:
“A procissão nos leva a pensar em honras reservadas ao rei; a leitura da paixão
mostra os castigos reservados aos ladrões. Num primeiro momento ele é cercado
de glória e honra, do outro não tem beleza nem formosura (Is. 53,2). Na
procissão ele é a alegria dos homens e glória do povo, do outro lado, o
opróbrio dos homens e objeto de desprezo dos homens” (Sl. 22,7). De um lado é
aclamado: hosana ao filho de Davi. Bendito o que vem, o rei, em nome do Senhor”
(Mc. 11,10); de outro lado é declarado digno de morte e é ridicularizado o que
se dizia rei de Israel. Num primeiro momento vai-se ao encontro dele com ramos
de palmas. Do outro lado as mesmas mãos machucam seu rosto e o golpeiam com uma
cana. Na procissão é cumulado de louvores, na liturgia no templo é coberto de
insultos. De um lado as pessoas cobrem a estrada por onde ele passa com vestes
e mantos, de outro lado é despojado de suas vestes. Num momento é acolhido em
Jerusalém como rei justo e salvador e de outro é expulso de Jerusalém como um
criminoso e um impostor. Senta-se sobre um asno, cercado de honra, depois é
suspenso no madeiro da cruz, marcado pela flagelação, coberto de chagas,
abandonado pelos seus… Se queremos, irmãos, seguir nosso caminho sem vacilar
tanto nos momentos felizes como nas adversidades, contemplemos o senhor cercado
de honra na procissão dos ramos, coberto de ultrajes e de sofrimentos na paixão…
tal mudança de circunstâncias não mudou seus pensamentos….” (Guerrico d’Igny)
Depois da procissão, na leitura e reflexão do
segundo Evangelho, nós lembramos a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, aquele
que se entregou por nós. Aquele deixou que o matassem. Aquele que morreu
em oferenda ao Pai pelo perdão dos nossos pecados.
Iniciamos a homilia pela traição de Judas, aquele
que entregou Jesus aos soldados por trinta moedas. Muitos questionam: Mas Jesus
não era conhecido de todos, principalmente ao sumo sacerdote, doutores da Lei e
escribas? Por que Ele teria de ser entregue, ou identificado por Judas?
Sim. Jesus naquela altura de sua vida, era
conhecido por muitos, mas não para os soldados romanos que foram
prendê-lO. Além disso, a prisão de Jesus aconteceu à noite, e também tanto
Jesus como os seus amigos, os apóstolos, se vestiam mais ou menos iguais.
Portanto, era necessário que alguém, no caso Judas, mostrasse de alguma forma
quem realmente era Jesus, para que não fosse preso o homem errado. Não que os
judeus estivessem preocupados em não matar outra pessoa inocente, mas sim,
porque eles estavam obcecados e determinados a prender Jesus e não outro.
E dessa forma, foi entregue um inocente para ser
condenado a morte de cruz. Hoje também muitos inocentes são presos por
engano, ou são mortos confundidos com outros que praticaram alguma atrocidade,
ou que não cumpriram os regulamentos do crime organizado.
Antes de sua morte, Jesus e seus apóstolos
comemoraram a Páscoa, e nesse encontro Jesus inventou: A missa, a Eucaristia
e o sacerdócio.
A MISSA, porque aquele jantar foi a primeira missa
realizada na Terra, e que é repetida em todos os altares do mundo inteiro
diariamente, pelos sacerdotes e cristãos católicos.
A EUCARISTIA, porque Jesus tomando o pão e
abençoando-o, disse: “Isto é o meu corpo...”
O SACERDÓCIO, porque Ele disse: “Fazei
isso em memória de mim...” Dando o poder aos apóstolos, de
transformar o pão e o vinho em seu corpo e seu sangue. Também disse em outro
momento: “Eis que estarei convosco até a consumação dos séculos”, o que
significa que aqueles primeiros padres seriam substituídos por outros até o fim
dos tempos.
Pedro O negou por três vezes. E você? E eu?
Quantas vezes já negamos a Jesus? Não dá nem para contar. Se tivéssemos
agora em notas de cem reais ou de cinqüenta, em relação às vezes em que negamos
Jesus, estaríamos ricos!
Negamos Jesus quando não respeitando os seus
ensinamentos, agimos de acordo com o nosso egoísmo, de acordo com o instinto,
de acordo com os ditames da carne, de acordo com a ditadura do liberalismo, de
acordo com a moda, de acordo com o consumismo, enfim, de acordo com o mundo.
Negamos Jesus quando temos vergonha de nos confessar cristãos diante dos homens
e das mulheres, como o fez Pedro com medo de também ser preso e morto.
Negamos Jesus quando não nos preparamos adequadamente para fazer um bom sermão,
uma boa homilia, e confiando no nosso conhecimento próprio, nos aventuramos a
falar algumas palavras de improviso, nos esquecendo que a catequese é a coisa
mais importante da santa missa, depois da Eucaristia. Negamos Jesus
quando pecamos, quando ignoramos o nosso irmão, quando o excluímos,
quando o discriminamos, etc.
Jesus começou a ficar triste e angustiado, e foi
com os discípulos ao um lugar chamado Getsêmani para rezar. Também nós
por vezes ficamos angustiados quando alguma coisa não está dando certo em nossa
vida, quando ficamos doentes, por exemplo, quando perdemos um ente
querido, quando se aproxima a nossa hora como foi o caso de Jesus Deus e
homem. E para nos dar o exemplo, Jesus enquanto homem se dirigiu ao Pai.
Ele estava nervoso. Pois enquanto Deus, Ele sabia de tudo pelo qual iria
passar. E enquanto homem, sentia uma tristeza mortal. "Então Jesus lhes disse:
'Minha alma está triste até á morte. Ficai aqui e vigiai comigo!'
Este mesmo Jesus-homem, sentiu-se abandonado
pelo Pai nos seus minutos finais de vida, e bradou: 'Meu Deus,
meu Deus, por que me abandonaste?'
Muitos de nós também já nos sentimos abandonados
por Deus por várias vezes na vida. E costumamos perguntar: Por que, meu Deus?!
Meus irmãos. Precisamos confiar mais em Deus!
Precisamos rezar mais. Aquele momento de angústia, assim como de
desespero que Jesus-homem experimentou, passou logo. Enquanto que nós,
pela nossa falta de fé e pela ausência de oração, podemos ficar dias
angustiados e infelizes quando algo ruim nos acontece.
Mas a final. Por que mataram Jesus? Esta
é uma pergunta que paira o tempo todo na mente daqueles que participam ou
assistem a Paixão de Cristo. Acontece que naqueles tempos,
na Galileia, lugar de gente explorada e marginalizada, para a qual a
missão de Jesus se tornou, de fato, uma boa nova, a qual trazia, junto
com suas ações as palavras, a libertação dos oprimidos, dos humilhados, dos
deixados de lado. E esse trabalho de conscientização, atraiu sobre a pessoa de
Jesus, a ira dos poderosos injustos. Jesus estava atrapalhando os seus negócios
tão lucrativos.
Para entender melhor isso, é importante aqui nos
reportar a realidade político-econômica e social porque passava a
sociedade do tempo de Jesus:
Além da invasão romana, aquela sociedade, os
cristãos da Galiléia, estava sofrendo o ataque ou a invasão dos
“bandidos” que fizeram uma verdadeira tomada de Jerusalém. Aconteceu que
pequenos proprietários rurais que perderam suas terras pelos altos impostos, e
pela improdutividade gerada pela infertilidade do ano sabático, que
segundo o judaísmo, era um ano sem plantar, e a isso convém acrescentar os
altos juros cobrados pelos saduceus os quais lhes emprestavam dinheiro,
esses pequenos proprietários rurais revoltados passaram a assaltar em grupos.
Eles se escondiam nas cavernas, e assaltavam principalmente as caravanas
romanas, e num trabalho semelhante ao de Robin hood, eles repartiam o produto
do roubo com os excluídos. Por isso, os chamados “bandidos”, contavam com
o apoio e a simpatia do povo faminto e explorado pelos ricos proprietários de
terras, entre eles, os sumos sacerdotes e doutores da Lei.
A fúria e a revolta desses pequenos
proprietários de terra chegou ao ponto deles invadirem Jerusalém onde se
achavam os arquivos e os documentos de suas dívidas injustas dos seus credores
exploradores, entre eles, os anciãos, membros do Sinédrio, sumos sacerdotes.
Naquela ocasião, que foi no ano de 66, os “bandidos” queimaram os
referidos documentos e mataram os seus respectivos credores.
Foi por isso que Jesus foi escolhido no lugar de
Barrabás, condenado e morto como se fosse um bandido, e até sendo
crucificado entre dois deles, numa manifestação da prepotência da elite judaica
que arrolou o poder romano para concretizar aquela chacina, ou a morte de
um inocente, o qual foi condenado exatamente por ser justo. Por defender os
pobres da exploração dos ricos.
O ladrão Dimas que Jesus perdoou no seu momento
final na cruz, na realidade, não era um assassino cruel, mas sim um daqueles
chamados “bandidos” que na companhia de outros agricultores revoltados,
reclamava, apesar de forma violenta, os seus direitos de ter um a vida com
abundância.
Jesus foi preso à noite. Por isso, era necessário
alguém, que no caso foi Judas, para indicá-lo aos soldados romanos que vieram
prendê-lo.
A
morte de Jesus já estava decretada pelas autoridades religiosas. Só restava
apenas pegá-lo quando menos se esperasse. Por isso mesmo, Jesus só ficava em
Jerusalém durante o dia, à noite dormia fora da cidade. Ele bem sabia que entre
os discípulos havia um traidor. Assim se explica o aspecto clandestino da
ida de Jesus à noite a uma casa da cidade para celebrar a Páscoa.
Jesus é a vida que
nasce da morte. No mundo inteiro, a repetição diária da celebração da
Paixão do Senhor na Santa Missa, é necessária e indispensável para nos fazer
entender o que significa a vitória do derrotado, o sucesso do fracassado, a
glória da humilhação, a vida que nasce da morte.
A morte de Jesus, portanto, não ocorreu
por acaso, mas é resultado de um plano diabólico de morte arquitetado pelos
líderes religiosos e políticos, para anular a sua ação libertadora.
Porém, nada disso adiantou. Jesus
ressuscitou e está vivo no meio de nós, assim como suas idéias, a sua Boa Nova,
o Evangelho, que continua vivo até hoje no nosso meio, fertilizando as nossas
mentes para semearmos o amor de Deus e a conscientização entre os oprimidos e
os explorados.
Bom domingo. José
Salviano.
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