4 de Novembro -
Terça - Evangelho - Lc 14,15-24
Evangelho - Lc 14,15-24
7 de Novembro-Sexta - Evangelho - Lc 16,1-8
O administrador desonesto
-CANÇÃO NOVA
O Evangelho de hoje apresenta uma parábola em
certo modo bastante atual, a do administrador infiel. A personagem central é o
administrador de um proprietário de terras, figura muito popular também em
nossos campos, quando regiam sistemas usufrutuários.
Como as melhores parábolas, esta é como um drama em miniatura,
cheio de movimento e de mudanças de cena. A primeira tem como atores o
administrador e seu senhor e conclui com uma dispensa taxativa: «Já
não podes ser administrador». Este não esboça sequer uma autodefesa. Tem a consciência
suja e sabe perfeitamente que tudo aquilo que o patrão ficou sabendo a seu
respeito é certo. A segunda cena é um monólogo do administrador que acaba de
ficar sozinho. Não se dá por vencido; pensa em soluções para garantir um futuro.
A terceira cena – o administrador e os camponeses – revela a fraude que
idealizou com esse fim: «‘Tu, quanto deves?’ Ele
respondeu: ‘Cem sacos de trigo’. O administrador disse: ‘Pega a tua conta e
escreve: oitenta’». Um caso clássico de corrupção e de falsa
contabilidade que nos faz pensar em frequentes episódios parecidos em nossa
sociedade, ainda que em uma escala muito maior.
A conclusão é desconcertante: «O senhor elogiou o
administrador desonesto, porque agiu com esperteza». Será que Jesus
aprova ou estimula a corrupção? É necessário recordar a natureza totalmente
especial do ensinamento nas parábolas. A parábola não deve ser trasladada em
bloco e com todos seus detalhes ao plano do ensinamento moral, mas só naquele
aspecto que o narrador quer valorizar. E está claro qual é a idéia que Jesus
quis incutir com esta parábola.
O senhor elogia o administrador por sua sagacidade, não por outra
coisa. Não se afirma que volta atrás em sua decisão de despedir este homem. E
mais ainda, visto seu rigor inicial e a prontidão com a qual descobriu a nova
artimanha do administrador, podemos imaginar facilmente a continuação, não
relatada, da história. Após ter elogiado o administrador por sua astúcia, o
senhor deve ter-lhe ordenado que devolvesse imediatamente o fruto de suas
transações desonestas, ou pagá-las com a prisão se não pudesse saldar a dívida.
Isso, ou seja, a astúcia, é também o que Jesus elogia, fora das parábolas.
Acrescenta, de fato, quase como comentário às palavras desse senhor: «Os
filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios que os filhos da luz».
Aquele homem, frente a uma situação de
emergência, quando estava em jogo seu porvir, deu prova de duas coisas: de
extrema decisão e de grande astúcia. Atuou pronta e inteligentemente para
salvar-se. Isso – Jesus vem dizer a seus discípulos – é o que deveis fazer
também vós para pôr a salvo não o futuro terreno, que dura apenas alguns anos,
mas o futuro eterno. «A vida – dizia um filósofo antigo – não é dada a ninguém
em propriedade, mas a todos em administração» (Sêneca). Todos nós
«administradores»; por isso, devemos fazer como o homem da parábola. Ele não
deixou as coisas para amanhã, não dormiu. Está em jogo algo mais importante que
não pode ser confiado à sorte.
O Evangelho com frequência faz diversas aplicações práticas desse
ensinamento de Cristo. Aquele no qual se insiste mais tem a ver com o uso da
riqueza e do dinheiro: «Eu vos digo: usai o ‘dinheiro’,
embora iníquo, para fazer amigos. Quando acabar, eles vos receberão nas moradas
eternas». É como dizer: fazei como aquele administrador; fazei-vos
amigos daqueles que um dia, quando vos encontrardes em necessidade, possam
acolher-vos. Esses amigos poderosos, sabemos, são os pobres, já que Cristo
considera dado a Ele em pessoa o que se dá ao pobre. Os pobres, dizia Santo
Agostinho, são de certa forma, nossos correios e transportadores: eles nos
permitem transferir, desde agora, nossos bens na morada que se está construindo
para nós no céu.
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