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de Outubro- Quarta - Evangelho -
Lc 9,57-62
Eu te seguirei para onde quer que fores.
Este Evangelho narra três exemplos de vocações. O
primeiro e o terceiro são as pessoas que se apresentam a Jesus, e o segundo é
Jesus que chama.
O primeiro vocacionado é generoso: “Eu te seguirei
para onde quer que fores”. Mas Jesus joga água fria no entusiasmo dele,
dizendo: “As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do Homem
não tem onde repousar a cabeça”. Este recado vale para nós hoje. Se alguém
assume a vocação cristã, ou qualquer específica dentro da Igreja, pensando em
ter algum retorno em bens materiais, ou em boa vida, vai dar com os burros
n’água, pois acontecerá o contrário: será pobre e carregará a cruz.
Jesus era pobre e fazia questão que as pessoas que
queriam segui-lo soubessem disso, a fim de não terem ilusões. Soubessem não só
que Jesus era pobre, mas que essa era a sorte dos seus seguidores. Deus é
infinitamente poderoso e é nosso Pai; ele não deixa nenhum de nós passar
necessidade de qualquer bem material que necessita.
Ao segundo vocacionado Jesus apresenta outra
condição: “Deixa que os mortos (espiritualmente) enterrem os seus mortos
(materialmente), mas tu, vai anunciar o Reino de Deus”. Em outras palavras, o
discípulo deve sentir-se livre frente aos compromissos com a sua família e o
seu ambiente. Dificilmente um cristão poderá sentir-se livre, se não está
disposto a viver e agir de forma diferente dos padrões aceitos pelos parentes,
vizinhos e os de sua terra natal. Por exemplo, Francisco de Assis tornar-se
mendigo, pertencendo a uma família rica.
Durante séculos, as ordens religiosas foram o
caminho quase único que libertava do todo-poderoso ambiente familiar e permitia
seguir melhor o caminho do Evangelho.
Ao terceiro vocacionado, que quer despedir-se da
família, Jesus responde: “Quem põe a mão no arado e segue olhando para trás,
não está apto para o Reino de Deus”. Há pessoas que dizem a Jesus que querem
segui-lo, mas a vida diz o contrário. Outras dizem a Jesus: eu gostaria, eu
quereria, eu tenho vontade... Nada disso vale para Jesus. O que vale para ele
é: “Eu quero”, e ponto final.
Nesta última resposta de Jesus: “Quem põe a mão no
arado e segue olhando para trás, não está apto para o Reino de Deus”, há uma referência
bíblica à mulher de Lot (Gn 19,26). Deus permitiu um grande incêndio que
destruiu Sodoma e Gomorra, duas cidades que viviam no pecado. Mas antes Deus
quis salvar os seus amigos Lot e a família. Os anjos de Deus colocaram-nos fora
da cidade e recomendaram: “Não olheis para trás (Gn 19,17). A esposa de Lot
desobedeceu e olhou para trás, e tornou-se uma estátua de sal.
O touro, quando vai numa direção, nem cerca o
segura. Assim devemos ser. Prometer pouco, mas o que prometemos, cumprimos,
ainda que caia o mundo ao nosso redor.
Vivemos uma cultura do descartável: o copo é
descartável, o guardanapo é descartável... E muitos consideram os compromissos
também descartáveis.
Sobre o casamento, alguns dizem: “O casamento dura
enquanto dura o amor”. Vêem o amor como simples sentimento. Mas amor não é só
sentimento. É compromisso. “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida
por quem ama”.
Hoje celebramos a festa de S. Jerônimo. Ele nasceu
pelo ano 340, na atual Croácia. Quando jovem, foi para Roma, a fim de estudar.
Em Roma, longe do ambiente familiar, acabou se esquecendo da boa formação que
recebera dos pais e se tornou escravo das vaidades e paixões. Formou-se em
filosofia, em grego e em hebraico.
Conheceu o cristianismo e, quando tinha 18 anos,
quis receber o batismo. Tornou-se então catecúmeno. Aos domingos, junto com os
novos colegas catecúmenos, ele visitava as catacumbas. Descendo ao fundo
daquelas galerias, ficou impressionado ao ver as gravuras e os escritos dos
primeiros mártires cristãos.
Alguns anos após o batismo, ele foi vítima de uma
peste, que matou muita gente em Roma, inclusive vários amigos dele. Um dia,
Jerônimo teve uma febre tão alta que entrou em delírio. Neste estado,
pareceu-lhe que foi levado ao tribunal de Cristo. Lá, alguém lhe perguntou:
“Quem és?” Ele respondeu: “Sou cristão”. A pessoa lhe disse: “Estás mentindo,
porque onde está o teu tesouro aí está o teu coração”. Depois que acordou,
Jerônimo pensou: É verdade. Como posso dizer que sou cristão se meu coração
está apegado a outras coisas?
Ficou tão tocado por aquela experiência que, ao
recuperar a saúde, resolveu converter-se inteiramente a Deus. Como estava muito
difícil para ele dominar os seus instintos, ingressou em um mosteiro. Ali
praticava o jejum e a penitência.
Devido ao seu amor à Sagrada Escritura, ao seu
conhecimento de línguas e à vasta cultura, Jerônimo recebeu do Papa S. Dâmaso a
missão de traduzir a Bíblia para o latim, que era a língua mais falada no mundo
da época. Para cumprir bem esta missão, ele foi transferido para um mosteiro na
cidade Belém, na Palestina.
Mas em Belém a sua luta contra as paixões e os maus
costumes adquiridos na juventude continuava. Ele unia o estudo com a oração, a
penitência e o jejum. Nas horas de tentação, chegava a bater pedras no peito, a
ponto de sair sangue. E venceu! Tornou-se um santo.
Por tudo isso, vemos que S. Jerônimo, depois que
pôs a mão no arado, não olhou para trás.
Setembro é o mês da Bíblia por causa de S.
Jerônimo.
Maria Santíssima, quando foi chamada por Deus, deu uma
resposta imediata, generosa e total. Não só acolheu o chamado, mas disse para
Deus que estava à disposição dele para o que der e vier, pois era sua escrava.
Santa Maria e S. Jerônimo, rogai por nós.
Eu te seguirei para onde quer que fores.
Pe. Queiroz
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