9 de Novembro-DOMINGO- Evangelho - Jo 2,13-22
Na cena do texto, Jesus vai a Jerusalém para a
primeira das três Páscoas mencionadas em João (nos Sinóticos a vida pública de
Jesus só durou um ano e eles só mencionam uma Páscoa). No Templo, que deveria
ser o lugar do culto ao Deus verdadeiro da Bíblia, o Deus de libertação, o Deus
dos pobres e sofridos, Ele encontra um verdadeiro mercado, onde, no pátio
externo, era possível comprar os animais para os sacrifícios, e trocar a moeda,
uma vez que a moeda corrente do país não era aceita no Templo. Quando atacava
esse comércio, Jesus estava indo além da mera condenação de um abuso, pois os
animais e o câmbio eram necessários para o funcionamento do Templo. Como Jesus
substituiu a purificação dos judeus no sinal das Bodas de Caná, aqui Ele
demonstra que o centro do culto judaico perdeu o seu sentido, pois a presença
de Deus, antes achada no Templo, agora deturpado pela elite religiosa e
política, doravante reside em Jesus, o Filho de Deus encarnado. Ele cumpre as
profecias de Jeremias e Zacarias que predisseram uma religião sem templo
nacionalista, explorador econômico do povo (cf. Jr 7,11-14; Zc 14,20-21).
João entende que o templo é o corpo de Jesus,
que será ressuscitado em três dias – ele usa de propósito o verbo “reerguer” em
lugar do “reconstruir” dos Sinóticos (cf. Mt 26,61). As autoridades judaicas
destruíram o sentido do Templo, abusando do povo economicamente, como vão
destruir o corpo de Jesus, matando-o; mas Jesus tem o poder de reerguer o
verdadeiro Templo onde habita Deus, na ressurreição, depois de três dias.
Mais uma vez Jesus, através de uma ação
profética, desmascara a deturpação da religião, por parte das autoridades de
Jerusalém. Embora o templo fosse muito bonito e imponente, com liturgias pomposas
bem frequentadas, a sua religião era vazia, pois escondia o rosto verdadeiro do
Deus da Bíblia. As igrejas correm este mesmo risco nos dias de hoje.
Além da descarada exploração financeira dos
seus fiéis por parte de algumas seitas (e cuidemos para não generalizarmos
aqui), aos poucos muitas comunidades cristãs perderam a sua dimensão profética
de denúncia e anúncio, configurando-se ao mundo neo-liberal de consumismo e
gratificação emocional imediata, tornando o evangelho uma mercadoria a ser vendida
através de um marketing, que jamais pode questionar os valores da sociedade
vigente.
Assim o texto de hoje nos traz um alerta –
Jesus não veio compactuar com uma religião exploradora, alienadora e aliada ao
poder, mas para encarnar as opções do Deus Javé, libertador dos males e de toda
exploração; Ele veio “para que todos tenham a vida e a vida em abundância” (Jo
10,10). Uma religião que abandona a sua função profética é tão traidora como a
religião decadente das elites do Templo.
Senhor Jesus, que eu tenha pelas coisas do Pai
o mesmo zelo que tiveste, sabendo reconhecer as exigências práticas da minha fé.
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