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de Outubro - Segunda - Evangelho
- Lc 10,25-37
Este Evangelho começa com duas perguntas de um
mestre da Lei a Jesus, pra pô-lo em dificuldade. São pontos sobre os quais não
havia acordo nas escolas rabínicas. Jesus, na sua sabedoria, faz com que o
próprio mestre da Lei responda as duas.
A primeira é: “Que devo fazer para receber em
herança a vida eterna?” O próprio mestre da Lei responde: “Amarás o Senhor teu
Deus...”
Entretanto, o mestre da Lei não se dá por vencido e
faz outra pergunta: “E quem é o meu próximo?” Também sobre esta questão eles se
dividiam. Para uns, eram os amigos. Para outros, eram os parentes. Para outros,
eram os da mesma nação ou raça...
O mestre da Lei quer saber quais são os limites do
amor. Jesus fala que não tem limites. São todos e todas que encontrarmos pelos
caminhos da vida, como o samaritano, que cuidou de um judeu, povo rival.
Todo homem e toda mulher que encontrarmos pela
vida, e estão em situação de necessidade, são nossos próximos.
Dos três viajantes que, no caminho, se encontraram
com o ferido, os dois primeiros são membros ativos e líderes da religião: o
sacerdote, e o levita que tinha uma função parecida com os nossos líderes
cristãos. Com isso, Jesus deixa claro que o que vale para entrar no céu não são
títulos ou cargos importantes na Igreja, mas a prática da caridade.
Já o amor do samaritano foi bonito: espontâneo,
desinteressado, generoso, terno, serviçal, eficaz e gratuito.
Após terminar a parábola, Jesus devolve a segunda
pergunta ao seu interlocutor, mas a inverte. Ele não focaliza o destinatário
(quem é o meu próximo?), e sim o seu sujeito: “Qual dos três foi o próximo do
homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” E o mestre da Lei respondeu
corretamente, usando inclusive uma expressão bíblica: “Foi aquele que usou de
misericórdia para com ele”.
A conclusão de Jesus – “Vai e faze a mesma coisa” –
é dirigida a todos nós. O amor verdadeiro sempre coloca como centro o outro,
não eu. A pergunta correta que devemos nos fazer hoje é: “Quem espera ajuda de
mim?” Vemos que o amor não tem limites, pois ele parte das necessidades do
outro.
O sacerdote e o levita viram o ferido, mas seguiram
adiante pelo outro lado do caminho. Eles se colocaram propositalmente à
distância do necessitado. Corresponde um pouco aos nossos condomínios fechados,
muros altos, vidros fumê nos carros... são estratégias atuais de seguir em
frente pelo outro lado. Já quem ama faz o contrário: quer estar no meio dos
necessitados.
Como vemos, a parábola é atual, e toca no núcleo da
nossa vida cristã, que é o amor ao próximo. É o que Jesus, como Juiz, vai
cobrar de nós no Juízo final: “Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o
Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo!... Pois eu estava
doente, e cuidastes de mim”
(Mt 25,34ss).
Ser o próximo do outro é não apenas estar perto,
mas estar perto de coração, aproximar-se afetiva e efetivamente dele. Quem tem
o coração duro, fica distante de quem está próximo em situação de necessidade.
Isso pode acontecer dentro das famílias e até das comunidades religiosas.
O capitalismo interessa-se pelo próximo, mas apenas
por uma parte dele: o seu bolso. Até no caso de doença, ou de acidente como foi
este da parábola, o capitalista vê como oportunidade de ganhar dinheiro.
“Este mandamento que hoje te dou não é difícil
demais, nem está fora do teu alcance... Está em teu coração, para que o possas
cumprir” (Dt 30,10-14). De fato esta lei do amor ao próximo já está escrita em
nosso coração desde que nascemos. Se alguém não a cumprir, não terá desculpas.
Uma maneira frutuosa de meditar sobre esta parábola
é tentar descobrir com qual dos personagens que aparecem nela nós mais nos
parecemos. Claro que o nosso desejo é nos parecer com o samaritano, e até com
Jesus. Mas a resposta verdadeira nós a damos com a nossa vida concreta do dia a
dia. Será que nos parecemos com o dono da pensão: fazemos o bem quando somos
remunerados? Ou somos como o sacerdote e o levita: vivemos tão preocupados com
os nossos afazeres que “nem vemos” quem está em necessidade ao nosso lado? Ou,
pior ainda, somos assaltantes disfarçados do nosso próximo? A sociedade atual
que construímos mostra claro que os “bons samaritanos” não passam de uns 5%.
Claro que cada um de nós se julga entre esses 5%. No entanto, o resultado está
aí.
Certa vez, numa grande região, faltou chuva e a
colheita foi pobre. Entretanto, uma grande fazenda, que tinha irrigação
artificial, teve uma colheita abundante. O administrador encheu os celeiros,
depois disse para o dono da fazenda: “A colheita ruim aumentou o preço dos
cereais. Agora é o tempo propício para vender e ganhar muito dinheiro”. O
fazendeiro respondeu: “Eu penso nos pobres lavradores que não colheram nada e
estão com as suas despensas vazias. Agora é tempo propício para dar”.
O amor é assim, freqüentemente ele inverte o
pensamento cego dos capitalistas, baseado na sede de lucro.
Existem pessoas que disfarçam o seu egoísmo, como
aquele que disse: “Os homens são maus. Só pensam em si. Só eu penso em mim!”
Quem falou isso não percebe que a primeira pessoa má do mundo é ele mesmo!
É próprio das mães perceber as necessidades dos
filhos e colocar-se ao lado deles. Vamos pedir à nossa querida Mãe Maria
Santíssima que nos ajude a ser bons samaritanos, socorrendo o nosso próximo em
suas necessidades, e assim “recebendo como herança a vida eterna” Mãe do amor,
rogai por nós.
E quem é o meu próximo?
Pe. Queiroz
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