XXV DOMINGO DO TEMPO COMUM 21/09/2014
1ª Leitura Isaias 55,6-9
Salmo 144(145), 18ª “O Senhor se aproximou dos que o invocam”
2ª Leitura Filipenses 1,20c-24.27ª
Evangelho Mateus 20, 1-16a
"A desconcertante Justiça de Deus: A VINHA DO SENHOR."
O Sindicalista conversa com Mateus, tentando ajudá-lo a entender a
reclamação dos operários da primeira hora.
Sindicalista - Olha Mateus, vamos e convenhamos, o pessoal que
ralou o dia inteiro merecia um salário melhor, trata-se de uma jornada de
trabalho desigual, é uma questão de mérito.
Mateus - Olha, aqui não é questão de mérito, mas sim do que foi
combinado, escrito no contrato de trabalho, foi ajustado um Denário por dia,
que, aliás, é o salário comumente pago por um dia de trabalho, com esse valor
dá para comprar oito quilos de pão... Não há nada de errado.
O Teólogo entrou na conversa: Mateus, esse sindicalista não pegou o
espírito da "coisa", para mim o Senhor está atirando no passarinho
para acertar no Coelho, o alvo é outro, não é?
Mateus (sorrindo) - Sim, as lideranças da nossa religião judaica
pensavam assim, que a nossa raça era a escolhida, a predileta de Deus Eterno,
isso começou logo depois do Exílio na reconstrução do templo, eles queriam algo
mais de Deus, do que o restante dos homens possivelmente pensava em maiores
bênçãos em bens materiais e patrimônio, para serem prósperos... e coisas assim.
Teólogo - E o que seria hoje esse Um Denário que é a mesma paga de
Deus a todos os homens?
Mateus - Ah sim, é o Amor do Deus Eterno, que ao ser manifestado em
Jesus de Nazaré, perde o seu particularismo judaico e é oferecido a toda
humanidade na forma de Salvação, coisa que os nossos mais tradicionais não
conseguiam engolir...
Teólogo: E a conclusão desse ensinamento então...
Mateus - Uma conclusão óbvia, Deus ama a todos os homens, e os
assiste com a sua graça de acordo com a necessidade de cada um, e não por
aquilo que fazem de bom ou de mal, ou que deixam de fazer... A Salvação é pura
iniciativa do Pai Eterno, nossas ações em nada conseguem mudar essa ação
amorosa de Deus na nossa vida e na vida das pessoas. Temos assim o privilégio
de ser colaboradores de Deus, como o homem sempre foi, na construção do Reino e
na História da Salvação...
Considerações:
Quem já ficou desempregado meses a fio a espera de uma vaga, sabe o
quanto esta é uma experiência triste, a reserva financeira vai se acabando, as
despesas vão sendo cortadas e só se mantém o essencial, e se a vaga demora a
chegar, até aquilo que é essencial, como a alimentação, por exemplo, vai
começando a rarear. Não tendo nem o essencial para dar à família, o
desempregado vai aos poucos perdendo a auto-estima, começa a andar pelas ruas e
praças meio sem destino, ou então, o que é pior, torna-se freqüentador dos
botecos da vida, onde se joga muita conversa fora e reclama da situação,
tomando “umas e outras” que algum amigo oferece, um conhecido contou-me que se
tornou um alcoólatra quando ficou desempregado, ficar sem fazer nada não é
coisa boa, pois dizem até que “mente ociosa é oficina do capeta”.
Fiz esta introdução porque me parece ser esta a situação do pessoal
da última hora, mencionado nesse evangelho, e que deviam estar bem desanimados
quando foram para a praça no final de tarde, jogar conversa fora ou quem sabe,
“bater um truquinho”. A colheita em uma vinha carecia de muita mão de obra e
para os desempregados era uma ótima oportunidade para ganhar uns “cobres”. Nos
que buscam uma oportunidade, sempre há os madrugadores, que acreditam naquele
ditado “Quem madruga, Deus ajuda”, eles botam fé em seu potencial e se colocam
a disposição bem cedo, para serem logo contratados.
Há os que já estão meio calejados e que dormem um pouco mais, mas
às nove horas já estão na praça, à espera de quem os contrate, pois também se
julgam eficientes. Não faltam aqueles que só acordam para o almoço, mas ouvindo
falar que tem vaga na empreitada, preparam um “miojo”para não perder muito
tempo, e vão voando para a praça, nem que seja ao Meio Dia, pois acreditam que
também têm chance. A notícia corre rápida e chega até a turma do “Ainda resta
uma esperança”, que também animados resolvem arriscar e vão para a praça às
três horas da tarde, dando a maior sorte porque acabaram também contratados.
Mas agora, falemos dos desanimados, que já estão a tempo vivendo de
JURO, “juro que vou pagar”, para não sucumbirem, assumiram dívidas com o
padeiro, açougueiro, leiteiro, verdureiro, aquele dia para eles já está perdido
e então vão para a praça às cinco da tarde, só para saber se há alguma
novidade, e são surpreendidos pelo Dono da empreiteira, que os interroga,
porque estão ali parados, sem fazer nada... Ninguém nos contratou, não temos
nenhum valor, ninguém presta atenção no nosso sofrimento, ninguém nos confia um
serviço, onde possamos ganhar o pão para o nosso sustento! E foi assim a
ladainha de lamentações. A Turma das cinco nem acreditou, quando o Patrão
mandou que fossem para a vinha, juntar-se aos outros trabalhadores. Certamente
pensaram que fossem fazer Terceira turma, mas às dezoito horas em ponto, soou o
apito e a jornada de trabalho acabou, trabalharam só uma hora, não ia dar nem
para o leite e o filãozinho... Pensaram os trabalhadores. Então veio a surpresa
agradável, foram os primeirões a receber e ganharam uma moeda de prata, que
dava para fazer a compra do mês e ainda pagar umas contas, imaginem a alegria
desses trabalhadores de última hora.
O clima era de festa e alegria quando a turma dos Madrugadores,
profissionais competentes, que deram duro o dia inteiro, desde o nascer do sol,
armou o maior barraco e chamaram o sindicato, pois não acharam certo receber
apenas uma moeda de prata, tinham plena certeza de que iriam receber muito
mais, pois se julgavam merecedores, mas o Patrão os lembrou sobre o contrato
assinado: o pagamento da diária seria uma moeda de prata.
Na religião de Israel e no cristianismo de hoje, acontece a mesma
coisa, o título de cristãos e o fato de ser membro de uma igreja, faz com que
as pessoas sintam-se privilegiadas diante de Deus, merecedores de sua graça, do
seu amor, das suas bênçãos e de todos os seus favores, se a pessoa atua em
alguma pastoral ou movimento, então aumenta a obrigatoriedade de Deus atender.
Infelizmente é essa a imagem que muitos fazem de Deus, que sempre surpreende os
que buscam conhecê-lo melhor.
Na parábola em questão, contratou pessoas sem nenhum valor, e que,
entretanto, apesar de terem chegado muito depois dos Madrugadores, foram alvos
da mesma atenção e receberam o mesmo tratamento. Na verdade, ao invés de sermos
a imagem e semelhança de Deus, muitas vezes projetamos Nele a nossa imagem e
semelhança, para que seja bom com quem mereça, que trate as pessoas a partir
dos seus merecimentos, o que na lógica humana é muito justo. Porém, o amor e a
justiça de Deus vai sempre buscar os últimos, os renegados, o que não tem mais
nenhuma chance diante da sociedade “perfeita” ou da religião padrão, os que não
têm o que fazer porque ainda não acharam um sentido para suas vidas. Os
desprezados, tratados com frieza e que nunca são levados a sério.
E quando descobrimos que Deus os ama tanto quanto a nós, que nos
julgamos “justos” em vez de fazermos com eles uma grande festa, manifestando
alegria, agimos como o irmão mais velho do Filho Pródigo: derrubamos o beiço e
nos recusamos a entrar na casa do Pai, isso é, a vivermos na comunhão com Deus,
ao lado dos trabalhadores da última hora, sonhamos com um céu especial e nos
frustramos ao ver que o coração de Deus, cheio de misericórdia, manifestada em
Jesus, há lugar para todos os homens
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