DIA 17 SEXTA Mc 2,1-12
Jesus está em casa, e novamente uma
multidão lhe cerca. Multidão é o mundo que nos cerca hoje, com suas filosofias.
Dentre ela estão aqueles que querem apenas ouvir, outros que querem ouvir para
refutar, gente que está ali porque todo mundo também está. Enfim, existem
pessoas que buscam Jesus pelos mais variados motivos.
Independente dos motivos, Jesus
simplesmente os recebe, com sua simplicidade esmagadora, e apenas fala sobre o
Reino de Deus. O que é o Reino de Deus pra Jesus senão o momento onde todos são
incluídos, com suas diferenças, em uma só comunidade de aceitação. Jesus fala
sempre de um Reino onde não há maior, menor, ou melhor, pois nele somos apenas
um.
Naquele momento havia pessoas dos mais
diferentes níveis, e que se viam diferentes uns dos outros. Em todo momento
Jesus prega sobre um Reino onde todos são incluídos, e isso para pessoas que
não se enxergavam como iguais.
Então entra o miserável paralítico. Seus
amigos, que pelo simples fato de serem amigos de um doente já mostravam que não
se viam melhores ou piores que o pobre paralítico. Apenas o levaram movidos por
essa fé.
Mas não bastava apenas levar até a casa
de Jesus, pois a casa estava cheia e o paralítico não podia entrar, assim como
ele não podia ir ao templo, pois naquele “lugar santo” não havia espaço para
sua “deficiência pecadora”.
Mas eles foram ousados. Não desistiram,
acreditavam que Jesus era diferente, porque a mensagem dele era diferente, e
aquele “pobre paralítico” tinha que ouvi-la. – “Então vamos fazer o impossível
para que ele possa ouvir, pois esse Jesus é inigualável. A única saída é pelo
teto, vamos correr o risco, pois esse Jesus é inigualável”.
Então esses homens passam o paralítico
por uma brecha no telhado da casa de Jesus. Essa é a atitude de fé de quem
entende que Jesus é único, inigualável e que aquele era um momento único na
vida deles, principalmente na vida do paralítico.
Você queria motivo maior do que esse para
que Jesus se admirasse da fé deles? A fé que faz com que Jesus se admire não é
a fé no milagre da cura, mas a fé no milagre do Reino, a fé no milagre de que,
no Reino, eu posso me aproximar com ousadia na presença de Deus sem
intermediários. A fé que causa “espanto” em Cristo é a fé daqueles que entendem
que a mensagem do Reino é inigualável, e quebra com todas as barreiras que
separam. A fé que move a mão de Jesus é a fé de que no Reino todos são
realmente próximos uns dos outros.
Por mais que naquele momento eles
desejassem ver o amigo deles curado, a fé deles já os havia curado, pois eles
entenderam a importância da mensagem do Reino. E então se preocupavam com a
saúde, o bem estar de todos. Qual é a tua atitude ante aqueles que estão no
pecado? De julgar e condenar? Ou de levar para Jesus afim de que Ele os cure e
lhe perdoe os pecados?
A insistência sobre o tema do perdão dos
pecados chama a atenção, na cena da cura do homem paralítico. Assim que Jesus o
vê descer através de um buraco aberto no teto, declara que seus pecados estão
perdoados. Esta declaração provoca alguns escribas que estavam por perto. Para
eles, a palavra do Mestre soava como uma verdadeira usurpação de algo reservado
exclusivamente a Deus. Portanto, Jesus era um blasfemo! A maneira como ele
rebate a maledicência dos escribas é significativa: cura o paralítico para
provar que “o Filho do Homem tem, na Terra, o poder de perdoar os pecados”. O
gesto poderoso de cura parece insignificante diante do poder maior de perdoar
os pecados. E Jesus, de certo modo, parece sentir-se mais feliz por perdoar os
pecados do que por curar. Por quê?
O perdão dos pecados tem, também, uma
função terapêutica. Trata-se da cura do ser humano na dimensão mais profunda de
sua existência, ali onde acontece seu relacionamento com Deus. Sendo esta
dimensão invisível aos olhos, as pessoas tendem a se preocupar mais com as
dimensões aparentes de sua vida, buscando a cura quando algo não está bem no
âmbito corporal. Jesus vê além, preocupando-se por libertar quem pena sob o
peso do pecado, mais do que sob o peso da doença. O primeiro é muito mais
grave. Permanecer no pecado significa viver afastado de Deus e correr o risco
de ser condenado. Este é o motivo por que o Mestre, antes de qualquer coisa,
quer ver o ser humano liberto de seus pecados.
Para os que diferenciam entre santos e
pecadores, a atitude de Jesus no Evangelho de hoje era uma blasfêmia, já que
aquele Jesus era um homem, e como homem não podia perdoar ninguém. – “Deus não
pode aceitar esse paralítico de forma tão simples assim, isso é blasfêmia!”,
pensavam os raivosos donos do poder religioso.
Todavia, na ótica do Jesus e na ótica do
reino, nada havia sido tão simples assim, a aceitação de Deus vem da cura do
coração, do arrependimento daqueles homens demonstrado pela fé nos princípios
do Reino pregado por Jesus. A cura do arrependimento é mais séria e mais
difícil que a cura do corpo.
Fazer o paralítico andar foi um sinal
não para o paralítico, mas para todos nós que ainda não enxergamos a realidade
do Reino. A cura física do paralítico era a representação terrena, carnal,
física, daquilo que Deus, através da Sua palavra, haveria de fazer naqueles que
com fé, esperança e confiança acreditam no Seu Filho muito amado.
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