SEGUNDO
DOMINGO DO TC 19/01/2014
1ª
Leitura Isaias 49, 3.5-6
Salmo
39(40)8 a.9 a “Eis que venho fazer a vossa vontade meu Deus,é o que me agrada”
2ª
Leitura 1Cor 1, 1-3
Evangelho
João 1,29-34
Houve um tempo na minha infância, em que os “Reis do Ringue”
influenciava nossas brincadeiras e disputava-se em duplas, fazendo do campinho
de final de rua, nosso ringue improvisado. Havia um garoto novo, mas muito
encorpado, e além do mais com uma agilidade incrível para lutar, quem lutava ao
seu lado, saia-se vencedor. Nós éramos franzinos e ele era sempre o destaque,
considerado forte, sempre com pose de campeão.
Quando as lutas eram com algum menino de outro bairro, para intimidar o
adversário, o apontávamos como o grande campeão e vencedor nato, e assim, por
muito tempo foi considerado o melhor lutador da região, ninguém ousava
enfrentá-lo.
João Batista aponta aos discípulos e demais seguidores, o grande
Messias, o esperado por todos, o Ungido de Deus e revestido de todo poder, mas
o título que lhe confere deve ter provocado risos em alguns mais céticos:
Cordeiro de Deus ! Poderia utilizar-se de um título mais condizente com o poder
do Messias, quem sabe Leão ou até mesmo Urso, animal forte e poderoso entre os
demais, com força descomunal.
Mas Cordeiro era motivo até para chacota, pois o cordeiro é frágil,
indefeso, incapaz de qualquer reação diante dos que atentam contra sua vida.
Quanto á sua ação de “tirar o pecado do mundo”, esperava-se alguém que acabasse
definitivamente com os maus, premiasse os bons e eliminasse todas as forças do
mal, não muito diferente de hoje, quando diante do quadro triste de um mundo
marcado por tanto pecado, muitos nutrem no coração, a falsa esperança de que
Jesus venha nas nuvens para desmascarar o Mal e fazer triunfar o Bem. Seria
assim a vingança dos bons e justos, ver os maus serem esmagados e aniquilados
por Jesus triunfante e glorioso. Acredita-se que o traidor Judas, no fundo
pensava em uma “virada” na situação e por isso entregou Jesus aos seus
inimigos, para deliciar-se ao ver a reação der Jesus na hora “H”. Esse
pensamento equivocado prevaleceu até na hora derradeira quando entre outros
insultos se dizia “Se és de fato o Messias, desce da cruz agora...”
Não é errado pensarmos desse modo, diante do Poder e Perfeição de Deus,
e de nossas fragilidades, até João Batista tinha uma compreensão messiânica
rigorosa e severa, vivia falando em fogo que devora, em palha que iria ser
queimada quando o Reino se instalasse, para que os maus tremessem na base e se
convertessem.
Mas no evangelho de hoje, parece que “caiu a ficha” de João, duas vezes
ele declara que não conhecia Jesus, e que chegou a esse conhecimento porque
Aquele que o tinha enviado para Batizar, o revelara.
Não se compreende as coisas de Deus, o seu pensamento e seu agir, a
partir da lógica humana, mas pode-se ver os sinais que ele realiza, e João VIU
, logicamente esse Ver Teológico, transcende a nossa limitada visão carnal, ver
os sinais que Deus realiza, só é possível com os olhos da Fé, em outras
palavras, quem vive na Fé, começa a ver os acontecimentos e as pessoas com um
olhar diferente e o quadro inverte-se: aquilo que é Forte e poderoso se tornará
em ruína, aquilo que é fraco, indefeso, insignificante, irá realizar a salvação
completa, não só dos Israelitas, mas de toda humanidade.
Na primeira Leitura o Profeta, que é a Boca de Deus, já havia dito sobre
o Servo de Javé, que ele seria a Luz das Nações, e aqui, o servo de Javé é
aplicado ao povo, que estava cativo na Babilônia, totalmente derrotado e
massacrado, sem pátria e sem identidade, aliás, nas duas leituras, não é homem
que se sente forte e preparado, para algo grandioso, mas é Deus que chama
através da Vocação, o apóstolo Paulo apresenta-se desse modo á comunidade, e
Deus nunca chama os arrogantes, os prepotentes, os mais fortes, e que tem panca
de vencedor, como o meu amigo de infância, a quem me referi no início e que nós
chamávamos de “Homem Montanha”, ao contrário, Deus se alia aos pobres, fracos,
desprezados, por isso o título “Cordeiro de Deus” evoca realmente quem é Jesus,
o Deus Todo Poderoso encarnado na fragilidade humana para vencer em definitivo
as forças do mal e tirar o pecado do mundo.
O Cordeiro de Deus, o Deus imortal, Criador de todas as coisas,
Onipotente, Onipresente e Onisciente, vem como Cordeiro indefeso diante da violência
humana, vai para o matadouro mudo, sem reclamar, sem praguejar contra o Pai,
sem maldizer a própria sorte. Porque somente assim realizará sua Missão de
Salvar os homens, só o amor salva, e só DEUS É AMOR.
Aprofundar no conhecimento de Deus e poder dar testemunho como João
Batista, requer de cada cristão esse VER constante no dia a dia, os atos de
mais puro amor que Deus vai realizando, mas é sempre preciso ter em mente esse
modo de agir Divino, que sempre engana os homens que se julgam sábios e espertalhões.
Olhemos para a Eucaristia, ponto convergente da Igreja e cume da Liturgia, o
Sacerdote ergue uma hóstia frágil, que cabe na palma da nossa mão, e que até um
ventilador ligado pode fazê-la sair voando...
Entretanto, ali está escondido e oculto aos olhos dos que não crêem o
maior e mais valioso de todos os tesouros da terra. A graça de Deus em forma de
pão que alimenta e restaura as nossas forças, ajudando-nos a atravessar o
deserto da Vida terrena, como aquele Maná descido do céu ajudou o povo na travessia
do deserto, milhares de vezes ao dia esse gesto se repete, a hóstia é
apresentada repetindo-se as palavras de João: Eis o Cordeiro de Deus, aquele
que tira o pecado do mundo....Como diz São Paulo, Jesus Cristo é o mesmo ontem,
Hoje e sempre, e ainda prefere ocultar todo o seu Poder, graça, Glória e
Salvação, em algo frágil. Que a exemplo de João Batista, possamos também VER ,
e dar testemunho de que naquele pedacinho de pão está o Filho de Deus, Cristo
Jesus, nosso Deus e Senhor, aquele que criou o céu e a terra, e salva e
santifica a todos os que Nele crêem, em meio a toda humanidade.
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