12 Março
2020
Lectio
Primeira leitura: Jeremias 17, 5-10
Primeira leitura: Jeremias 17, 5-10
5Isto diz o SENHOR: Maldito aquele que confia
no homem e conta somente com a força humana, afastando o seu coração do SENHOR.
6Assemelha-se ao cardo do deserto; mesmo que lhe venha algum bem, não o sente,
pois habita na secura do deserto, numa terra salobra, onde ninguém mora.
7Bendito o homem que confia no SENHOR, que tem no SENHOR a sua esperança. BÉ
como a árvore plantada perto da água, a qual estende as raízes para a corrente;
não teme quando vem o calor, e a sua folhagem fica sempre verdejante. Não a
inquieta a seca de um ano e não deixará de dar fruto. 9Nada mais enganador que
o coração, tantas vezes perverso: quem o pode conhecer? 10 Eu, o SENHOR,
penetro os corações e sondo as entranhas, a fim de recompensar cada um pela sua
conduta e pelos frutos das suas acções.
Jeremias oferece-nos duas sentenças
sapienciais. Servindo-se da contraposição, aponta claramente onde está, para o
homem, a maldição cujo resultado é a morte (w. 5- 8), e onde está a bênção cujo
resultado é a vida. O ímpio é aquele que, ainda antes de praticar o mal, apenas
confia no que é humano e se afasta interiormente do Senhor. O resultado só pode
ser a prática do mal. Aquilo em que o homem põe a sua confiança é como o
terreno donde uma árvore retira o alimento. Por isso, o ímpio é comparado a um
cardo do deserto que não pode dar fruto nem durar muito (v. 6). O homem piedoso
também se caracteriza, em primeiro lugar, pela sua atitude de confiança diante
de Deus. Por isso, é comparado a uma árvore plantada junto de um rio: não há-de
morrer de sede, nem será estéril (w. 9ss.).
Na segunda sentença, o profeta insiste na
importância do «coração», centro das decisões e da afectividade do homem. Só
Deus experimenta e avalia com justiça os comportamentos e os frutos de cada um
dos homens, porque, só Ele conhece de verdade o coração do homem e o pode
curar.
Evangelho: Lucas 16,19-31
19*«Havia um homem rico que se vestia de
púrpura e linho fino e fazia todos os dias esplêndidos banquetes. 2D*Um pobre,
chamado Lázaro, jazia ao seu portão, coberto de chagas. 21Bem desejava ele
saciar-se com o que caía da mesa do rico; mas eram os cães que vinham
lamber-lhe as chagas. 22*Ora, o pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio
de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. 23*Na morada dos mortos,
achando-se em tormentos, ergueu os olhos e viu, de longe, Abraão e também
Lázaro no seu seio. 24Então, ergueu a voz e disse: 'Pai Abraão, tem
misericórdia de mim e envia Lázaro para molhar em água a ponta de um dedo e
refrescar-me a língua, porque estou atormentado nestas chamas. ' 25Abraão
respondeu-lhe: 'Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em vida,
enquanto Lázaro recebeu somente males. Agora, ele é consolado, enquanto tu és
atormentado. 26Além disso, entre nós e vós há um grande abismo, de modo que, se
alguém pretendesse passar daqui para junto de vós, não poderia fazê-lo, nem
tão-pouco vir daí para junto de nós.' 270 rico insistiu: 'Peço-te, pai, que
envies Lázaro à casa do meu pai, pois tenho cinco irmãos; 28que os previna, a
fim de que não venham tembém para este lugar de tormento. ' 29Disse-Ihe Abraão:
'Têm Moisés e os Profetas; que os oiçam!' 30Replicou-Ihe ele: 'Não, pai Abraão;
se algum dos mortos for ter com eles, hão-de arrepender-se. ' 31 *Abraão
respondeu-lhe: 'Se não dão ouvidos a Moisés e aos Profetas, tão-pouco se
deixarão convencer, se alguém ressuscitar dentre os mortos.
S. Lucas recolhe, no capítulo 16 do seu
evangelho, os ensinamentos de Jesus sobre as riquezas. A parábola, que hoje
escutamos, ensina-nos a considerar a nossa condição actual à luz da condição
eterna. A sorte pode inverter-se. E seguem algumas aplicações práticas (v. 25).
Jesus fala-nos de um homem rico que «fazia todos os dias esplêndidos benquete»
e de um pobre significativamente chamado Lázaro (termo que significa Deus
ajuda). Atormentado pela fome e pela doença, permanece à porta do rico, à
espera de alguma migalha. Os cães comovem-se com Lázaro; mas o rico permanece
indiferente.
Chega porém o dia da morte, a que ninguém
escapa. E inverte-se a situação.
Jesus levanta um pouco o véu do tempo para nos
fazer entrever o banquete eterno, anunciado pelos profetas. Lázaro é conduzido
pelos anjos a um lugar de honra, nesse banquete, enquanto o rico é sepultado no
inferno. Do lugar dos tormentos, o rico vê Lázaro e atreve-se a pedir, por meio
dele, um mínimo gesto de conforto (v. 24). Mas as opções desta vida tornam
definitiva e imutável a condição eterna (v. 26). Nem o milagre da ressurreição
de um morto, diz Jesus, aludindo a Si mesmo, podem sacudir um coração
endurecido que se recusa a escutar o que o Senhor permanentemente ensina por
meio das Escrituras (w. 27-31).
Meditatio
Hoje, tanto a primeira leitura como o
evangelho, com imagens muito simples mas pintadas a cores fortes, nos colocam
perante o facto de que é nesta vida que decidimos o nosso destino eterno, a
vida ou a morte, sem outras possibilidades. Aquele que, nesta vida, põe a sua
confiança nos meios humanos e nas coisas materiais e, sobretudo, aquele que se
afasta do Senhor, e organiza a própria existência independentemente de Deus, é
«metdlti». O apego a uma felicidade egoísta leva à cegueira, que não permite
ver para além do imediato, do material. Não permite ver a Deus, nem a
caducidade da nossa actual condição, como não permite ver as necessidades dos
pobres que jazem à nossa porta. Aquele que confia no Senhor, reconhecendo a sua
condição de criatura, dependente e amada por Ele, é «bendito», Leva no coração
uma semente de eternidade que florescerá em felicidade e paz eternas. Por outro
lado, a verdadeira confiança em Deus é sempre acompanhada pela solidariedade
com os pobres, com pobres que o são materialmente, com os que o são
espiritualmente, mas também com os doentes, com vítimas de contrariedades e
opressões de qualquer espécie. Tanto Jeremias como Jesus nos ensinam tudo isto,
não de modo abstracto, mas com imagens expressivas como a da árvore plantada no
deserto ou junto de um rio ou como o pobre Lázaro.
O pobre Lázaro caracteriza-se pelo silêncio,
tanto diante das provações da vida como diante da falta de atenção daqueles de
quem esperava ajuda. Não grita contra Deus nem contra os homens. Permanece
silencioso e paciente no seu sofrimento físico, psicológico e espiritual,
confiando em Deus. Finalmente surge a morte e tudo se transforma. Levado pelos
anjos para o seio de Abraão, continua em silêncio. No seu rosto, primeiro
sereno e confiante, e agora glorioso, transparece outro Rosto, o de Jesus, que
se fez pobre para nos enriquecer com a sua pobreza. Sendo de condição divina, po
r nosso amor, assumiu a condição humana, para que pudéssemos participar da sua condição divina. Sendo rico fez-Se pobre, homem pobre, para que todos pudéssemos participar da sua riqueza.
r nosso amor, assumiu a condição humana, para que pudéssemos participar da sua condição divina. Sendo rico fez-Se pobre, homem pobre, para que todos pudéssemos participar da sua riqueza.
A nossa confiança em Deus leva-nos a
solidarizar-nos com o amor de Jesus por todos os homens, um "amor que
salva". Como Ele, queremos estar presentes e actuantes junto de todos os
lázaros desta humanidade de que somos parte. Queremos viver e actuar unidos
"no seu amor pelo Pai e pelos homens" (Cst 17), especialmente pelos
"pequenos" e pelos "pobres" (Cst 28), porque "Cristo
se identificou" com eles (Cst 28; cf. Mt 25, 40). Esta é a primeira, boa
nova (cf. lc 4, 19) porque os quer libertar da sua opressão, sofrimento,
pobreza. Porque os quer felizes, é para eles a primeira bem-aventurança:
"Bem-aventurados os pobres, porque deles é o Reino de Deus' (Lc 6, 20) e o
Reino de Deus é, antes de mais, Jesus pequeno e pobre, que quer elevar todos
"os pequenos ... os pobres" (Cst. 28) a "pobres em espíritd' (Mt
5, 3), onde a pobreza nem sequer já é uma desgraça, onde, mais do que a
carência de bens materiais, é realçada a mansidão e a humildade de coração, a
confiança, o abandono à vontade de Deus, dando espaço a Jesus, para que viva a
Sua pobreza na nossa pobreza.
Oratio
Senhor Jesus, que sendo rico Te fizeste pobre
por nosso amor, para nos tornar participantes da tua riqueza, dá-nos um coração
de pobre que confie apenas em Ti e saiba ser solidário com todos os lázaros
desta pobre humanidade. Que jamais caiamos na tentação de cortar relações com
eles nesta vida terrena, para que possamos tê-Ias, com eles e Contigo, na vida
eterna.
Durante esta Quaresma, queremos colocar-nos
entre os pobres e pecadores, não para sermos coniventes e cúmplices no pecado,
mas para sentirmos verdadeira necessidade da tua graça, e caminharmos para Ti
certos de que seremos libertados das nossas culpas. Confiamos em Ti, Senhor,
jamais seremos confundidos. Amen.
Contemplatio
Quem vem? É o rico herdeiro de seu Pai, que
vem despojar-se para nos enriquecer. - «Vós sabeis, diz S. Paulo, qual é a
bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que sendo rico, se fez pobre por amor de
nós, para que nos tornássemos ricos pela sua pobreze» (2Cor 8).
Senhor, sou um pobre mendigo todo coberto de
úlceras, como este Lázaro que descrevestes no Evangelho (Lc 16). Esperava à
porta do mau rico e teria sido feliz por receber os restos ou as migalhas do
festim.
Mas eu sou mais feliz do que Lázaro, porque me
dirijo a um bom rico, a um rico, cujo Coração está repleto de misericórdia e de
generosidade. Vós sois este rico. Diante do tabernáculo, estou à vossa porta.
Não são apenas as migalhas que me dareis. Ofereceis-me todo o tesouro dos
vossos méritos. Despojastes-vos para me enriquecerdes, tudo sacrificastes por
mim. Desposastes a pobreza, a humildade, os desprezos, os sofrimentos, para
pagardes todas as minhas dívidas e para me enriquecerdes com os vossos
sacrifícios.
Que vos darei, Senhor, por esta infinita
bondade do vosso Coração? Irei ter convosco com toda a confiança, é o que pedis
de mim. Esperais-me para me cumulardes com os vossos benefícios (leão Dehon,
OSP 3, p. 647).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Bendito o homem que confia no SENHOR,
que tem no SENHOR a sua esperança (Jer 17, 7).
Obrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
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