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terça-feira, 10 de março de 2020

A parábola da vinha-Dehonianos


13 Março 2020
Lectio
Primeira leitura: Génesis 37, 3-4.12-13a.17b-28
3 Ora Israel preferia José aos seus outros filhos, porque era o filho da sua velhice, e mandara-lhe fazer uma túnica comprida.
40S irmãos, vendo que o pai o amava mais do que a todos eles, ganharam-lhe ódio e não podiam falar-lhe amigavelmente. 12 Um dia, os irmãos de José conduziram os rebanhos de seu pai para Siquém. 13 E Israel disse a José: «Os teus irmãos apascentam os rebanhos em Siquém. José seguiu os passos dos irmãos e encontrou-os em Dotain. 18 Eles viram-no de longe e, antes que se aproximasse, fizeram planos para o matar.
19 Disseram uns aos outros: «Eis que se aproxima o homem dos sonhos. 20Vamos, matemo-lo, atiremo-lo a qualquer cisterna e depois diremos que um animal feroz o devorou. Veremos, então, como se realizarão os seus sonhos.» 21Rúben ouviu-­os e quis salvá-lo das suas mãos. Então disse: «Não atentemos contra a sua vida» 22 Rúben disse ainda: «Não derrameis sangue! Atirai-o à cisterna que está no deserto, mas não levanteis a mão contra ele.»
O seu intento era livrá-lo das suas mãos para o fazer regressar ao seu pai.
23Quando José chegou junto dos irmãos, estes despojaram-no da túnica comprida que usava 24 e, agarrando-o, lançaram-no à cisterna. Esta estava vazia e sem água. 25 Depois, sentaram-se para comer. Erguendo, porém, os olhos, viram uma caravana de ismaelitas que vinha de Guilead. Os camelos estavam carregados de aroma, de bálsamo e láudano, que levavam para o Egipto. 26 Judá disse aos irmãos: «Que vantagem tiramos da morte de nosso irmão, ocultando o seu sangue?» 27Vinde, vendamo-lo aos ismaelitas e que a nossa mão não caia sobre ele, porque é nosso irmão e da nossa família.» E os irmãos consentiram. 28Passaram por ali alguns negociantes madianitas, que conseguiram tirar José da cisterna; e eles venderam-no aos ismaelitas por vinte moedas de prata. Estes levaram José para o Egipto.
A história de José é mais um exemplo de como Deus escolhe os «pequenos» (v. 3) para realizar os seus projectos de salvação. Essas escolhas de Deus suscitam, muitas vezes, o ódio e a inveja (v. 4) que levam ao afastamento, se não mesmo à eliminação, do predilecto (w. 20.28).
A história tem evidentes objectivos didácticos. A sua composição, a partir de legendas com origem em diferentes tradições literárias da Bíblia, javista, eloista, sacerdotal, explica algumas divergências como a iniciativa de salvar José ora atribuída a Ruben (v. 21), ora atribuída a Judá (w. 26s.). Há, em toda a história, um horizonte de optimismo e universalidade (v. 28): dentro das intrigas e contendas tribais, actua a invisível providência de Deus (cf. 45, 7; 50, 20), que conduz o seu eleito por aparentes caminhos de morte, mas que acaba por ser salvo e salvar a todos. José é um homem permanentemente atento aos sinais da vontade de Deus, mesmo durante os sonhos, que aprende a interpretar (cf. v. 19). A túnica de príncipe separa-o dos irmãos, cavando uma profunda incomunicabilidade entre eles (v. 4).
José é figura de Cristo: a sua perseguição e o seu sangue são o preço que o pai tem de pagar para abraçar, num só amplexo, todos os filhos, já não unidos pela corresponsabilidade no mal (v. 25), mas pelo beijo de paz que, com o perdão (cf. 45, 15), lhes é oferecido pelo irmão inocente.
Evangelho: Mateus 21, 33-43.45-46
Naquele tempo, Jesus disse aos príncipes dos sacerdotes e aos ansiãos do povo: 33 «Escutai outra parábola:
Um chefe de família plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar, construiu uma torre, arrendou-a a uns vinhateiros e ausentou-se para longe. 34Quando chegou a época das vindimas, enviou os seus servos aos vinhateiros, para receberem os frutos que lhe pertenciam. 35 Os vinhateiros, porém, apoderaram-se dos servos, bateram num, mataram outro e apedrejaram o terceiro. 36Tornou a mandar outros servos, mais numerosos do que os primeiros, e trataram-nos da mesma forma. 37 Finalmente, enviou-lhes o seu próprio filho, dizendo: 'Hão-de respeitar o meu filho. ' 38 Mas os vinhateiros, vendo o filho, disseram entre si: 'Este é o herdeiro. Matemo-lo e ficaremos com a sua herança.' 39 E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e mataram-no. 400ra bem, quando vier o dono da vinha, que fará àqueles vinhateiros?» 41 Eles responderam-lhe: «Dará morte afrontosa aos malvados e arrendará a vinha a outros vinhateiros que lhe entregarão os frutos na altura devida.» 42 Jesus disse-lhes: «Nunca lestes nas Escriturasque eram eles os visados. 46 Embora procurassem meio de o prender, temeram o povo, que o considerava profeta.
o v. 37, com o advérbio «ttnatmente. é a verdadeira pedra angular de todo o texto. Os judeus, a quem Jesus se dirige no átrio do templo, compreendem muito bem a parábola que lh:A pedra que os construtores rejeitaram transformou-se em pedra angular? Isto é obra do Senhor e é admirável aos nossos olhos?
43Por isso vos digo: O Reino de Deus ser-vos-é tirado e será confiado a um povo que produzirá os seus frutos. 45 Os sumos sacerdotes e os fariseus, ao ouvirem as suas parábolas, compreenderam es conta, inspirada na alegoria da vinha (cf. Is 5, 1-7).
Os príncipes dos sacerdotes e os anciãos são os vinhateiros que têm o privilégio de cultivar a vinha predilecta de Deus, o povo de Israel. No momento da colheita, em vez de apresentarem os frutos ao dono, que é Deus, querem apropriar-se deles e maltratam os profetas que lhes são enviados. «Finalmente, Deus envia-lhes o seu próprio Filho, que é Jesus que lhes está a falar. É a última oportunidade que Deus lhes oferece para que se tornem seus colaboradores na obra da salvação. Mas acontece exactamente o que a parábola dizia sobre os vinhateiros malvados: compreenderam que eram eles os visados e procuravam prendê-I 'O (cf. vv. 45-46). E, conduzidos habilmente por Jesus, são eles mesmos que tiram as consequências de um tal acto: o dono, que é Deus, «Dará morte afrontosa aos malvados e arrendará a vinha a outros vinhateiros que lhe entregarão os frutos na altura devida» (v. 41).
Quando Mateus escreve este evangelho, já se tinham verificado a alegoria de Isaías e a profecia de Jesus: os chefes do povo de Israel tinham efectivamente matado o Filho fora da vinha - fora dos muros de Jerusalém - e a cidade santa já tinha sido destruída por Tito, no ano 70, e caído em mãos estrangeiras, o império romano. Os novos vinhateiros, os pagãos convertidos, cultivavam a nova vinha, a Igreja, dando a Deus abundantes frutos, com adesões cada vez mais numerosas à fé cristã.
Meditatio
José, de quem nos fala a primeira leitura, é uma impressionante figura de Jesus, tal como o filho herdeiro de que nos fala o evangelho. Em ambas as leituras escutamos já o «Crucifica-Ol». «Eis que se aproxima o homem dos sonhos. Vamos matemo-lo», disseram os
irmãos de José; «Este é o herdeiro. Matemo-lo», disseram os vinhateiros malvados. O único protagonista é, portanto, Jesus, escondido na figura de José e na figura do filho herdeiro da parábola. Estes textos fazem-nos pensar nos sofrimentos do Coração de Jesus, morto por inveja, como nos referem os relatos da paixão. Foi a inveja que mobilizou a má vontade dos irmãos contra José e a dos vinhateiros contra o filho herdeiro da parábola.
Mas também se fala de nós nas leituras que escutamos hoje. Jesus é o protagonista. Mas nós também entramos na sua história. Somos os irmãos, somos os vinhateiros malvados. Mas não devemos desesperar com os nossos pecados. Na história de José, a inveja foi maravilhosamente vencida: no Egipto, José não puniu os irmãos, mas salvou-os. Soube ler a história das suas tribulações, do seu exílio, como preparação, querida por Deus, para poder salvar os seus irmãos e todo o seu povo no tempo da carestia. Jesus também venceu a inveja aceitando tornar-se o último de todos. Quando O contemplamos na cruz, não podemos dizer que cause inveja a alguém! Pondo-se no último lugar, Jesus revelou o seu poder. O domínio que o Pai lhe prometeu é um domínio de amor, no serviço de todos.
Ao escutarmos as leituras de hoje, não devemos, portanto, sentir-nos condenados, mas devemos erguer os olhos mais alto, para o coração do Pai. Jesus veio revelá-I' O. É Ele, o Pai, que, por amor, envia Jesus, como fora enviado José, a «procurar os irmãos» (cf. Gn 37, 16). A predilecção de Israel por José, ou do Pai por Jesus, não é mais do que uma particular participação no amor paterno. É esse amor, que tem origem no coração do Pai, que os torna diferentes e capazes de vencer a inveja, o ódio e a rivalidade, com o perdão.
Este mesmo amor do Pai foi derramado nos nossos corações. Tornando-nos diferentes, tornando-nos participantes da natureza divina, fez-nos capazes de amar ao jeito de Deus, de vencer a inveja, o ódio, com o perdão. Mas, provavelmente, como José, e como Jesus, Filho de Deus, teremos também nós que passar por algumas tribulações. Assim poderemos tornar-nos colaboradores de Deus na obra da reconciliação que está a realizar no coração do mundo. "A vida reparadora será, por vezes, vivida na oferta dos sofrimentos suportados com paciência e abandono, mesmo na noite escura e na solidão, como eminente e misteriosa comunhão com os sofrimentos e com a morte de Cristo pela redenção do mundo" (Cst. 24). "Para Glória e Alegria de Deus" (Cst. 25).
Oratio
Senhor Jesus, quanto me impressionam a história de José e a parábola dos vinhateiros malvados! Em José, e no filho herdeiro, vejo-Te a Ti mesmo, enviado pelo Pai, a reunir os seus filhos dispersos, a procurar os teus irmãos. Eu também sou um desses filhos, um dos teus irmãos. Contemplo-Te, vítima da inveja e do ódio, e penso nos sofrimentos do teu Coração sensível e inocente. Contemplo o amor obediente com que realizaste o projecto do Pai e nos alcançaste o perdão e a graça de uma vida nova. Um amor verdadeiramente vencedor! Por isso, Te peço: purifica o meu coração de todo o sentimento de inveja e de ciúme, e enche-me de mansidão e humildade para, Contigo, estar ao serviço de todos os irmãos. Amen.
Contemplatio
Quem vem? O irmão ao seu irmão culpado, para o reconduzir e lhe perdoar. - Sim, embora Deus, não se envergonhe de nos chamar seus irmãos: non confunditur fratres eos vocare. S. Paulo exprime abundantemente a sua admiração sobre este assunto, nos primeiros capítulos da sua carta aos Hebreus. «Outrora, diz, Deus falou aos nossos pais pelos profetas, mas nos nossos dias foi pelo seu próprio Filho, que criou o mundo com ele e que o fez herdeiro de todas as coisas. Ele é o esplendor da sua glória e imagem da sua substância; tudo sustém pelo poder da sua palavra, e depois de nos ter purificado dos nossos pecados, sentou-se no mais alto dos céus, à direita da Majestade divina, sendo também elevado acima dos anjos que o seu nome comporta, porque quem é o anjo ao qual Deus tenha alguma vez dito: Vós sois meu Filho, hoje vos gerei, e ainda: serei o seu Pai e ele será meu Filho? ... A Escritura diz dos anjos que Deus os fez seus ministros, mas diz ao Filho de Deus: o vosso trono, ó Deus, será um trono eterno ... E, noutro lugar, reconhecendo-o como Criador de todas as coisas, ela diz-lhe: Senhor, criastes a terra desde o começo do mundo ... Também, quem é o anjo ao qual o Senhor tenha dito: Sentai-vos à minha direita até que eu tenha reduzido os vossos inimigos a servir de escabelo? ...
«Entretanto o seu Filho adorável, Deus tornou-o por um pouco de tempo inferior aos anjos, tornando-o passível e mortal, mas em seguida coroou-o de glória e de honra.
Era digno de Deus que, para conduzir à glória os seus filhos, consumisse pelos sofrimentos aquele de entre eles que devia ser o autor da sua salvação. Porque o Salvador e os resgatados são da mesma raça humana e não se envergonha de os chamar seus irmãos ... ».
Tal é o magnífico ensino de S. Paulo. O hóspede do sacrário é nosso irmão, um irmão amoroso, que se sacrificou por nós, como haveríamos de hesitar em ir dizer-lhe o nosso amor? (Leão Dehon, OSP 3, p. 652s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«A pedra que os construtores rejeitaram transformou-se em pedra angular» (cf. Mt 21, 42).


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