11 Março
2020
Lectio
Primeira leitura: Jeremias 18, 18-20
Primeira leitura: Jeremias 18, 18-20
18*Eles disseram: «Vinde e tramemos uma
conspiração conta Jeremias, porque não nos faltará a lei se faltar um
sacerdote, nem o conselho se faltar um sábio, nem a palavra divina por falta de
um profeta! Vinde, vamos difamá-lo, e não prestemos atenção às suas palavras!»
19SENHOR, ouve-me! Escuta o que dizem os meus adversários. 20É assim que se
paga o bem com o mal? Abriram uma cova para me tirarem a vida. Lembra-te de que
me apresentei diante de ti, a fim de interceder por eles e afastar deles a tua
cólera.
o versículo 18 situa o texto que hoje
escutamos. Jeremias está novamente sob ameaça de morte (cf. Jer 11, 18s.).
Agora são os próprios chefes de Israel que tentam reduzi-lo ao silêncio. Daí a
dureza da invocação de vingança que, de acordo com a lei vetero-testamentária
de Talião, sai da boca do profeta. Mas o nosso texto omite esses versículos,
orientando-nos, sim, para a escuta do evangelho.
Jeremias é tipo do Servo sofredor (cf. Is 53,
8-10) e é perseguido por causa da fidelidade à sua vocação e do seu amor ao
povo. Jeremias abandona-se confiadamente a Deus, de quem espera a salvação.
Tudo aquilo que o profeta faz por amor do seu
povo, e diz na sua oração, irá realizar-se de modo perfeito no verdadeiro Servo
sofredor, Jesus. Ele será morto pelos chefes do povo. Mas não pedirá vingança a
Deus; pedirá perdão para os seus inimigos, e oferecerá livremente a vida em
favor daqueles que O crucificam.
Evangelho: Mateus 20, 17-28
Naquele tempo, 17*ao subir a Jerusalém, pelo
caminho, Jesus chamou à parte os Doze e disse-lhes: 18«Vamos subir a Jerusalém
e o Filho do Homem vai ser entregue aos sumos-sacerdotes e aos doutores da Lei,
que o vão condenar à morte. 19Hão-de entregá-lo aos pagãos, que o vão
escarnecer, açoitar e crucificar. Mas Ele ressuscitará ao terceiro dia.»
20Aproximou-se então de Jesus a mãe dos filhos
de Zebedeu, com os seus filhos, e prostrou-se diante dele para lhe fazer um
pedido. 21 *«Que queres?» perguntou-lhe Ele. Ela respondeu: «Ordena que estes
meus dois filhos se sentem um à tua direita e o outro à tua esquerda, no teu
Reino.» 22*Jesus retorquiu: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que
Eu estou para beber?» Eles responderam: «Podemos.» 23Jesus replicou-lhes: «Na
verdade, bebereis o meu cálice; mas, o sentar-se à minha direita ou à minha
esquerda não me pertence a mim concedê-lo: é para quem meu Pai o tem
reservado.»
240uvindo isto, os outros dez ficaram
indignados com os dois irmãos. 25*Jesus chamou-os e disse-lhes: «Sabeis que os
chefes das nações as governam como seus senhores, e que os grandes exercem
sobre elas o seu poder. 26Não seja assim entre vós. Pelo contrário, quem entre
vós quiser fazer-se grande, seja o vosso servo; e 27quem no meio de vós quiser
ser o primeiro, seja vosso servo. 28Também o Filho do Homem não veio para ser
servido, mas para servir e dar a sua vida para resgatar a multidão.»
Jesus sobe a Jerusalém consciente daquilo que
lá O espera. Pela terceira, vez fala aos discípulos da sua paixão. Fala
claramente. Para espanto e confusão dos seus contemporâneos, identifica-se com
o Filho do homem, figura celeste e gloriosa esperada para instaurar o reino
escatológico de Deus, mas também se identifica com outra figura, de sinal
aparentemente oposto, a do Servo sofredor. Os discípulos não conseguem compreender
e aceitar tais perspectivas e preferem cultivar as de sucesso e poder (vv.
20-23). Jesus explica-lhes, mais uma vez, o sentido da sua missão e o sentido
do seguimento que lhes propõe: Ele veio para «beber o cálic(!» (v. 22), termo
que, na linguagem dos profetas, indica a punição divina a reservada aos
pecadores. Quem aspira aos lugares mais elevados no Reino, terá que, como Ele,
estar pronto a expiar o pecado do mundo. É mesmo o único privilégio que pode
oferecer, porque não Lhe compete distribuir lugares no Reino. Ele é o Filho de
Deus, mas não veio para dominar. Veio para servir como o Servo de Javé,
oferecendo a sua vida em resgate para que os homens, escravos do pecado e
sujeitos à morte, sejam libertados.
Meditatio
À mãe dos filhos de Zebedeu, que pensava que a
vida vale pelos lugares que se ocupam na sociedade, pelo poder de que se
dispõe, o profeta Jeremias e, sobretudo, Jesus oferecem o exemplo de uma vida
gasta no serviço, por amor. Não é fácil compreender uma tal perspectiva. Jesus
vê-se na necessidade de, por três vezes, preparar e anunciar aos discípulos a
sua paixão, dizendo-lhes que será preso, condenado, escarnecido, crucificado.
Mas eles continuam a procurar satisfazer as suas ambições. Hoje, são os filhos
de Zebedeu que, por meio da mãe, tentam a sua sorte. Jesus tinha falado de
humilhações. Eles pedem honras, lugares de privilégio: sentar-se «um à tua
direita e o outro à tua esquerda, no teu Reino. (v. 21).
Isto mostra-nos a necessidade da paixão. Só
ela poderia mudar o coração do homem. Não eram suficientes palavras, mesmo que
fossem as de Jesus. A paixão de Jesus revela-nos onde se encontra a verdadeira
alegria, a verdadeira glória, a verdadeira vida: servir, amar como Ele, até ao
sacrifício da própria vida pelos outros vistos como mais importantes do que nós
mesmos. Isto pressupõe a humildade, virtude que torna verdadeiro todo o gesto
de amor e o liberta de equívocos, da busca dos interesses. Foi o caminho do
profeta Jeremias. Só depois de o percorrer, descobriu o seu verdadeiro significado.
Por isso, gritava a Deus: «É assim que se paga o bem com o met;» (v. 20).
Também no caminho espiritual de cada um de
nós, a provação é importante para nos transformar interiormente. Depois, dela
já não ambicionamos a satisfação terrena que antes procurávamos. E, se a
vivemos unidos a Cristo, d ' Ele recebemos a força para realizar o bem
incondicionalmente, sabendo que não se perderá, mas que, a seu tempo, dará
fruto: depois da paixão e da morte, vem a ressurreição (cf. Mt 20, 18ss.). O
serviço humilde, até ao fim, motivado pelo amor, conduz à vida, a glória
eterna.
O Espírito faz-nos superar o nosso egoísmo ou
amor de exigência e impele-nos para o amor oblativo; faz-nos ultrapassar a
busca dos interesses e comodidades pessoais, para actuar conforme a justiça em
relação a cada uma das pessoas e em relação à comunidade, para não violarmos os
seus direitos. O Espírito impele-nos a dar-nos aos outros, especialmente aos
mais pobres e marginalizados, não só com aquilo que temos, mas também com
aquilo que somos: tempo, capacidades, cultura, etc. O Espírito leva-nos à vida
de amor e serviço desinteressado, mas também universal, porque deita por terra
todas as barreiras de raça, de cultura, de sexo:
"Todos os que fostes baptizados em
Cristo, vos revestistes de Crist
o. Não há judeu nem grego; não há servo nem livre, não há homem nem mulher, pois todos vós sois um só em Cristo' (Gal 3, 27-28).
o. Não há judeu nem grego; não há servo nem livre, não há homem nem mulher, pois todos vós sois um só em Cristo' (Gal 3, 27-28).
Oratio
Obrigado Senhor Jesus, porque, com doçura e
firmeza nos conduziste pelo caminho da cruz. Quando nos apontas o Calvário,
talvez nos escandalizemos como Pedro, talvez discutamos entre nós sobre quem é
o maior, talvez Te apresentemos pedidos de privilégio e de poder. Tem paciência
connosco, diz-nos e repete-nos que a verdadeira grandeza está em servir e em
dar a vida pelos amigos e inimigos. Como bom pedagogo, conduz-nos pela mão
pelas várias etapas, rumo à vida, à alegria eterna. Contigo saberemos passar
pelas provações, beber o cálice e aguardar a recompensa que só o Pai nos
destina e quer dar. O importante é aprendermos Contigo a amar e a servir até
dar a vida para que todos experimentem a graça da para redenção. Amen.
Contemplatio
Tiago e João, filhos de Zebedeu e de Salomé,
eram de Betsaida, como S. Pedro, e pescadores como ele. João tinha conhecido o
Salvador junto de João Baptista no Jordão. Tinha conversado com Ele, tinha
comunicado a Tiago, seu irmão. E alguns dias depois, quando estavam ocupados a
consertar as suas redes, Jesus chamou um e outro, dizendo-lhes: «Vinde comigo,
farei de vós pescadores de homens». Nosso Senhor já tinha chamado Pedro e
André. Estes quatro ficaram os seus preferidos, os seus privilegiados.
Tiago e João tinham um ardor exuberante. Nosso
Senhor formou-os. Para os advertir dos seus defeitos, tratava-os como
Boanerges, filhos do trovão. Um dia propõem a Jesus que faça cair um raio sobre
toda uma cidade de Samaritanos que não tinha querido receber o Salvador e os
seus. «Não sabeis de que espírito sois, diz Nosso Senhor; Deus é paciente,
espera os pecadores e trata-os com misericórdia». Noutro dia os dois irmãos vêm
com sua mãe pedir a Nosso Senhor o primeiro lugar no reino de Deus. «Estas
honras, diz Nosso Senhor, dependem dos desígnios da Providência; mas em todo o
caso, para ter um bom lugar no reino de Deus é preciso beber o cálice do
sacrifício».
Deixemo-nos formar por Nosso Senhor, como
Tiago e João, os seus discípulos bem amados (Leão Dehon, OSP 3, p. 90).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«O Filho do homem veio para servir e dar a
vide» (cf. Mt 20, 28).
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