5 Março
2020
Lectio
Primeira leitura: Ester 4, 17 n.p-r.aa-bb.gg-hh
Primeira leitura: Ester 4, 17 n.p-r.aa-bb.gg-hh
Naqueles dias, a rainha Ester, tomada de
angústia mortal, procurou refúgio no Senhor e fez esta súplica ao Senhor, Deus
de Israel: «Meu Deus, meu único rei, assiste-me no meu desamparo, pois não
tenho outro socorro senão a ti, 15porque vou pôr a minha vida em risco. 16*No
seio da família, ouvi desde criança, Senhor, que escolheste Israel entre todos
os povos, e os nossos pais entre todos os seus antepassados, para fazer deles a
tua herança perpétua, e que cumpriste todas as promessas. 23Lembra-te de nós, Senhor.
Manifesta-te no dia da nossa tribulação e dáme coragem, Senhor, rei dos
deuses, dominador de todos os poderes! 24Coloca nos meus lábios, quando estiver
na presença do leão, palavras apropriadas e muda o seu coração em ódio contra
aquele que nos é hostil, a fim de que pereça com todos os seus partidários.
25Livra-nos com a tua mão e assiste-me no meu abandono, a mim, que não tenho
senão a ti, Senhor.
A jovem esposa do rei da Pérsia, Ester, toma
conhecimento de que, devido a intrigas palacianas, fora decretado o extermínio
dos hebreus deportados no reino. A rainha, na tentativa de salvar o povo a que
pertencia, decide expor-se ao perigo, intercedendo por ele junto do marido.
Mas, antes de se apresentar ao rei, apresenta-se ao Senhor, numa atitude de penitência
e de oração.
Assim reconhece que o verdadeiro rei é Deus e
professa que Ele é o Único. Só Ele pode salvar o seu povo.
Apresenta-se diante de Deus na sua pequenez e
fragilidade e fala-lhe da sua solidão. E Deus escuta a sua súplica angustiada:
o Só é o único auxílio daquela que está só. O «Só», a «só». A distância
torna-se proximidade. Ester lembra a Deus as suas promessas em favor de Israel
(v. 17) e, por outro lado, confessa o pecado do seu povo. As promessas de Deus,
e o arrependimento do seu povo, levam-na a pedir ao Senhor a salvação da sua
gente e a pedir, para si mesma, a coragem, a sabedoria e a ajuda necessárias
para cumprir com êxito a sua missão de intercessora.
Evangelho: Mateus 7, 7-12
Naquele tempo, disse Jesus aos seus
discípulos: 7«Pedi, e ser-vos-é dado; procurai, e encontrareis; batei, e hão-de
abrir-vos. 8Pois, quem pede, recebe; e quem procura, encontra; e ao que bate,
hão-de abrir. 9Qual de vós, se o seu filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra?
100u, se lhe pedir peixe, lhe dará uma serpente? 110ra bem, se vós, sendo maus,
sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está no
Céu dará coisas boas àqueles que lhas pedirem.» 12*«Portanto, o que quiseraes
que vos façam os homens, fazei-o também a eles, porque isto é a Lei e os
Profetas.»
Jesus ensina, de modo semelhante aos rabinos,
a necessidade da oração de súplica e que a mesma é seguramente escutada. Haverá
contradição com o que ensinou pouco antes (cf. Mt 6, 7s.)? Não, certamente,
porque na oração não é preciso desperdiçar muitas palavras. O Pai «sabe», mas é
preciso assumir a atitude do mendigo, isto é, reconhecer a própria condição de
fraqueza e dependência de Deus.
E Deus dá a quem pede e abre a quem bate:
«Será dedos, «será sberto-, por Deus, entenda-se! Se um pai dá pão ao filho que
lhe pede pão, e não outra coisa parecida, também Deus dará «coisas boes- a quem
Lhas pedir. O Pai escuta sempre os pedidos dos filhos e dá-lhes o que é melhor
para eles.
O modo de agir de Deus, leva-nos a agir de
modo semelhante com os irmãos. É preciso estar atentos às suas necessidades. O
verdadeiro discípulo põe no centro o Pai e os outros, e não a si mesmo: «O que
qútserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles, porque isto é a Lei e
os Protetes» (v. 12).
Meditatio
A palavra de Deus leva-nos, hoje, a meditar
sobre a oração. A primeira leitura apresenta-nos a oração de Ester, numa
situação de extrema angústia, não por causa dela própria, mas por causa do seu
povo ameaçado de morte. A rainha, de raça judaica, apresenta-se só diante de
Deus para Lhe recordar a vocação do seu povo e a história passada semeada de
benefícios divinos. Ester não confia em si mesma, nos seus méritos, mas na
bondade e na misericórdia de Deus tantas vezes demonstrada. E alcança o que
pede.
Jesus ensina-nos a rezar de modo confiante e
perseverante, porque Deus é nosso Pai e nos ama com um amor eterno, de que não
se arrepende. Ouvimos tantas vezes estas afirmações que talvez já não nos
impressionem. Mas são a pura verdade, que nos hão-de encher de confiança, e
mesmo de atrevimento, na nossa oração.
A comunhão com Deus, a que Jesus nos convida,
é uma experiência que nos renova interiormente: «Pedi, e ser-vos-e dado;
procurai, e encontrareis; batei, e hãode abrir-vos. Pois, quem pede, recebe; e
quem procura, encontra; e ao que bate, hãode abrir» (vv. 7-8). A oração
confiante e perseverante não desilude, porque Deus só pode dar coisas boas a
quem lhas pede. Ele sabe do que precisamos. Na oração, mais do que apresentar
os nossos desejos, há que abandonar-nos aos que Ele tem sobre nós.
A nossa oração há-de começar, pois, com um
acto de contemplação gratuita, fixando o nosso olhar no rosto do Pai
misericordioso. Então deixaremos cair os nossos muitos pedidos, deixando
crescer em nós um só pedido: que se cumpra em nós a sua vontade. É que,
contemplando o rosto de Deus, experimentamos a certeza de que somos seus filhos
muito amados e que, portanto, nada nos faltará daquilo que realmente
precisamos.
Se precisamos de rezar demorada mente, não é
para convencer a Deus das nossas necessidades, mas para transformarmos os
nossos desejos e fazê-los coincidir com a vontade divina que quer o nosso bem.
Ser "féis à oraçãd' (Act 2, 42) é ser
fiéis ao "nosso carisma profético" (Cst 27), é realizar a primeira
união da nossa "vida religiosa e apostólica à oblação reparadora de Cristo
ao Pai pelos homens" (Cst 6). Só realizando com a ajuda do Espírito, dos
seus dons, dos seus frutos, dos seus carismas, o nosso carisma de oblação,
damos um conteúdo de vida, de realismo à "fidelidade" que nos
recomenda o n. 76 das nossas Constituições.
É pouco ser fiéis às certamente necessárias
práticas de piedade pessoais e comunitárias. As orações devem levar-nos à
oração e ajudar-nos a descobrir o seu núcleo vital: rezar é amar. A caridade é
a oração que dá valor a todas as orações e práticas de piedade e torna fecundo
o "nosso apostolado".
Cristo convida-nos, como Seus discípulos e,
sobretudo, como Seus "amigos" à "assid
uidade" na oração-caridade, e "nós queremos corresponder a esse convite": é preciso "rezar incessantemente ... " (1 Tes 5, 17; cf. Ef 5, 20).
uidade" na oração-caridade, e "nós queremos corresponder a esse convite": é preciso "rezar incessantemente ... " (1 Tes 5, 17; cf. Ef 5, 20).
Oratio
Senhor, hoje, quero aprender a apresentar-Te
os meus pedidos sem condicionar as tuas respostas, porque sei que só dás coisas
boas a quem Te pede. Tu não és um distribuidor automático, que dás
necessariamente aquilo que Te é pedido, nem a oração é magia para obter um
qualquer efeito pretendido. Quero pedir-Te confiadamente e com perseverança
aquilo que julgo importante pata mim, para a Igreja, para o mundo. Mas deixo-te
o cuidado de encontrar a melhor solução, de escolheres o dom que me queres
fazer. E estou certo que sempre o farás com uma criatividade que em muito
ultrapassará os meus pedidos. E, quando me deres o que Te peço, aproveitarei
essa graça para crescer na união Contigo, transformando o teu dom em
instrumento de progresso espiritual, abrindo-me ao teu amor e ao amor dos
irmãos. Amen.
Contemplatio
«Até aqui, diz-nos Nosso Senhor, não pedistes
nada ao meu Pai em meu nome com uma fé viva; pedi e recebereis, e a vossa
alegria será ptens».
«Pedi em meu nome, e não tenho necessidade de
vos dizer que rezarei a meu Pai por vós e que serei o vosso poderoso
intercessor, podeis pensá-lo. Aliás, o meu Pai ama-vos ternamente e está todo
pronto para vos atender, porque me amastes, a mim seu Filho, porque me
seguistes. Prendestes-vos a mim, acreditastes na minha divindade, pedi a meu
Pai e recebereis».
Nosso Senhor teve de acrescentar, todavia, que
estas promessas consoladoras não se realizariam senão depois da grande prova da
sua morte. «Antes destes belos dias, acrescentou, em que a vossa oração será
todo-poderosa, sereis desencorajados e dispersos, mas preveni-vos a fim de que
a vossa fé seja fortalecida para a perseguição».
Para nós, a ressurreição do Salvador e as
maravilhas da acção do Espírito Santo são factos adquiridos, tenhamos,
portanto, uma confiança invencível na bondade de Deus e no valor dos méritos de
Nosso Senhor, tenhamos confiança no Coração de Jesus o qual nos foi aberto
simbolicamente pela lança do centurião (Leão Dehon, OSP 3, p. 467s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Pedi, e ser-vos-é dado» (Mt 7, 7).
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