11/07/2015
S. Bento, Abade
S.
Bento, patriarca dos monges ocidentais, nasceu em Núrcia, no ano 480. Ainda
muito jovem, seduzido e impelido pelo Espírito, abraçou um período de absoluta
solidão numa gruta em Subiaco. A sua fama atraiu-lhe discípulos. Organizou para
eles a vida cenobítica, inicialmente em doze pequenos mosteiros à volta de
Subiaco e, depois, no célebre cenóbio de Monte Cassino. Escreveu uma Regra que
resume sabiamente a tradição monástica oriental, adaptando-a ao mundo latino.
Esta escola de “serviço ao Senhor” é construída à volta da Palavra de Deus
(Lectio divina), da Liturgia de louvor realizada em coro, e do trabalho em
ambiente de fraternidade, de humilde e obediente serviço. S. Bento faleceu com
67 anos de idade, em Monte Cassino, no ano 547.
Lectio
Primeira
leitura: Provérbios 2, 1-9
Meu filho, se
receberes as minhas palavrase guardares cuidadosamente os meus mandamentos,2prestando o teu ouvido à
sabedoria, e inclinando o teu coração ao entendimento; 3se invocares a inteligência e
fizeres apelo ao entendimento, 4se a buscares como se procura a prata e a pesquisares como
um tesouro escondido,5então,
compreenderás o temor do Senhor e chegarás ao conhecimento de Deus.6Porque o Senhor é quem dá a
sabedoria e da sua boca procedem o saber e o entendimento. 7Ele reserva a salvação para os
rectos e é um escudo para os que procedem honestamente. 8Protege os caminhos dos justos
e dirige os passos dos seus fiéis. 9Então, compreenderás a justiça e a equidade, a rectidão e
todos os caminhos que conduzem ao bem.
Só a busca interessada
da verdade permite estabelecer uma relação correta com Javé, que dá a sabedoria
e protege o sábio. É o ensinamento preciso que um pai dá ao seu filho, segundo
esta página do livro dos Provérbios.
S. Bento utiliza o
mesmo estilo literário ao introduzir a Regra que escreve para os seus monges:
“Escuta, filho, os preceitos do Mestre, e inclina o ouvido do teu coração;
recebe de boa vontade e executa eficazmente o conselho de um bom pai,…” Acolher
a Palavra de Deus é o caminho seguro para nos conformarmos a Cristo, Sabedoria
do Pai.
Evangelho:
Mateus 19, 27-29
Naquele tempo, disse
Pedro a Jesus: «Nós deixámos tudo e seguimos-te. Qual será a nossa recompensa?» 28Jesus respondeu-lhes:
«Em verdade vos digo: No dia da regeneração de todas as coisas, quando o Filho
do Homem se sentar no seu trono de glória, vós, que me seguistes, haveis de
sentar-vos em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel. 29E todo aquele que tiver
deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou campos por causa do meu nome,
receberá cem vezes mais e terá por herança a vida eterna
Jesus responde a Pedro
com a linguagem figurada do profeta Daniel (cf. Dn 7, 9-14), onde se fala de
tronos e do Filho do homem. Jesus realça o aspeto judicial desta figura misteriosa.
Os discípulos, a quem foi dado conhecer o mistério do Reino (13, 11), estão
intimamente associados a Jesus. O prémio prometido por Jesus parece que terá
lugar “no dia da regeneração de todas as coisas” (v. 28), isto é, no mundo
renovado, que resultou da última intervenção de Deus na história, que já teve
lugar, quando enviou o seu Filho. A “regeneração” é a nova vida do homem novo
concedida pela ação de Deus. Indica, pois o tempo da Igreja e refere-se a todos
os crentes, àqueles que se submetem à senhoria de Deus e participam dela. Os
discípulos são “juízes”, isto é, “dirigentes” do povo de Deus, que devem
administrar e defender esse povo.
Meditatio
S. Bento, depois de
longo tempo na presença de Deus, a escutar a sua Palavra, vivendo em total desapego
do mundo, em completo silêncio e em austera solidão, tornou-se um homem, capaz
de orientar outros, que buscavam a Deus. Só dá fruto quem acolhe no coração e
medita a Palavra de Deus, quem se deixa transformar por ela. As comunidades
criadas por S. Bento caraterizam-se pela busca apaixonada de Deus, pela escuta
atenta da Palavra, meditada e guardada no coração. Assim descobrem Jesus Cristo
como sabedoria do Pai, como o verdadeiro tesouro, ao qual nada se deve antepor.
Permanecendo estavelmente unidos a Ele, os discípulos permitem ao Espírito
produzir neles os seus frutos. Esses frutos são o melhor prémio para quem deixa
tudo para estar com o Senhor e “permanecer” n´Ele.
A união de S. Bento
com Deus explica a sublimidade da sua Regra, exigente e equilibrada, e a sua
influência perene na vida de perfeição da Igreja. Bossuet falou assim da Regra
de S. Bento: “Suma do cristianismo, resumo douto e misterioso do Evangelho, das
instituições dos Santos Padres, de todos os conselhos de perfeição, na qual
atingem o seu mais alto apogeu a prudência e a simplicidade, a humildade e o
valor, a severidade e a doçura, a liberdade e a dependência, na qual a correção
encontra toda a firmeza, a condescendência todo o encanto, a voz de comando
todo o vigor, a sujeição todo o repoiso, o silêncio a sua gravidade, a palavra
a sua graça, a força o seu exercício e a debilidade o seu apoio”.
Chamado por Pio XII
“Pai da Europa”, S. Bento foi proclamado por Paulo VI patrono do mesmo
continente, em 1964.
Oratio
Senhor, nosso Deus e
nosso Pai, eis-nos aqui, como filhos que se sentem amados por ti. Os nossos
ouvidos estão atentos à tua palavra. Queremos corresponder ao teu amor. Sabes
como ainda somos instáveis na fé e frágeis na caridade. Faz-nos, uns para os
outros, sinais e sacramentos da tua mansidão e da tua bondade. Que todos possam
verificar como é bom amar-nos como filhos do mesmo Pai, que és Tu, e servir-nos
e honrar-nos uns aos outros em teu santo Nome. Ámen.
Contemplatio
S. Bento teve também a
graça de trabalhar pelas almas. Na sua solidão, catequizava os pastores da
montanha. Mais tarde, aceitou fazer a educação de alguns jovens piedosos de
Roma, que as suas famílias lhe confiavam em Subiaco. Foi entre eles que
recrutou S. Mauro e S. Plácido, seus amáveis discípulos. Sabia falar
corajosamente aos grandes e recordar-lhes os seus deveres. Repreendeu ao
bárbaro Tótila as suas depredações e as suas crueldades. Ordenou-lhe que não
abusasse das suas vitórias, especialmente na ocupação da cidade de Roma. Que
variedade nas suas obras e na sua ação social! Os seus discípulos, ao longo dos
séculos, dedicar-se-ão também ao apostolado em todas as suas formas, segundo os
tempos e as necessidades da Igreja. É preciso tomar forças no recolhimento,
especialmente em cada manhã, e dedicar-se depois às obras, segundo a nossa
vocação, segundo a vontade de Deus que nos é conhecida. É um dever para nós
hoje rezar pela conservação da vida regular e monástica através das
dificuldades que o demónio lhe suscita. Senhor, não priveis a vossa Igreja dos
asilos que lhe destes para pôr os seus filhos ao abrigo das tempestades do
século; mas fazei que, ao renunciarem ao mundo, se entreguem verdadeiramente à
perfeição no claustro. (Leão Dehon, OSP 3, p. 314s.).
Actio
Repete muitas vezes e
vive hoje a palavra:
“O Senhor é quem dá a
sabedoria” (Prov 2, 6).
----
S. Bento, Abade,
Padroeiro da Europa (11 Julho)
Nenhum comentário:
Postar um comentário