Neste Evangelho, Jesus nos fala da
necessidade e da eficácia de uma oração perseverante. Para esclarecer, ele
conta duas parábolas.
A primeira é a do amigo que chega à
meia-noite à casa do vizinho e pede emprestado os pães, sobressai a insistência
daquele que pede. Insistência tão perseverante que se torna impertinência. Foi
por isso que o amigo foi atendido. Assim devemos fazer com Deus. Pedir, pedir,
pedir... e continuar pedindo. A demora dele em nos atender tem mil razões que
nos escapam, mas todas a nosso favor, pois ele é nosso Pai amoroso. O correto é
termos tanta fé, esperança e amor, que continuamos tranqüilos e com a mesma
alegria como se tivéssemos recebido a graça pedida. O bebezinho é feliz porque
confia na mãe e no pai; assim devemos ser.
A parábola da criança que pede ao pai o
peixe ou o ovo está, bem relacionada com a anterior. Naquela região havia
cobras muito parecidas com uma espécie de peixe; e havia escorpiões que, quando
enroladinhos, pareciam um ovo. Uma criança podia se enganar, pensar que a cobra
é peixe, ou que o escorpião é ovo, e pedi-los ao pai. Na verdade, a criança
quer peixe, quer ovo; mas o que ela está apontando para o pai lhe dar não é
isso, e sim animais venenosos que podem prejudicá-la. O pai sabe e não atende
ao pedido. A criança, por não saber, chora, sapateia, emburra e até se revolta.
Que comparação acertada para entendermos
por que muitas vezes não somos atendidos por Deus! A diferença de conhecimento
entre nós e Deus é muito maior do que entre uma criança e seu pai. Deus sabe
tudo e, como pai amoroso que é, não vai nos atender se lhe pedirmos algo que
vai nos prejudicar, mesmo que nos revoltemos.
Por isso, a nossa melhor atitude quando
não somos atendidos por Deus é abaixar a cabeça, vestir a carapuça e continuar
a vida em frente, com a mesma fé e alegria. E principalmente persistir rezando
e pedindo coisas a Deus. Quem pede sempre recebe, se não aquilo que pede, outra
coisa melhor.
Nós precisamos rezar com humildade, como
Jesus nos ensinou no Pai Nosso: “seja feita a vossa vontade...”; ou como Jesus
mesmo rezou: “Pai, se quiseres, afasta de mim este cálice; contudo, não seja
feita a minha vontade, mas a tua!” (Lc 22,42). Precisamos pedir a Deus com
humildade, sem determinar o dia e a hora para Deus nos atender. Afinal, quem é
o Senhor é ele e não nós. Muitas vezes queremos que Deus se comporte como nosso
empregado, que atende todos os nossos pedidos, sem nem questionar. Ao rezar,
não podemos fechar a questão sobre o que queremos, porque pode ser que o melhor
para nós seja outra coisa. Quantas vezes acontece algo conosco que pensamos ser
um mal e, mais tarde, descobrimos que foi um bem!
Muitos rezam de manhã e à noite e pensam
que é o suficiente. Mas não é, pois Jesus nos disse: “Orai sempre”. O nosso
pensamento, ferido pelo pecado, várias vezes no dia começa a se voltar para o
mal. É a hora de cortarmos o mal pela raiz, através de uma pequena oração, uma
jaculatória, mesmo apenas mental.
Imediatamente Deus, que está sempre ao
nosso lado, entra na nossa vida e resolve. Por respeito à nossa liberdade, ele
não entra se não pedirmos.
Quanta gente sofre na vida, lutando,
lutando contra um mal ou para conseguir um bem, e se esquece de rezar!
Na última frase do Evangelho, Jesus nos
fala que ganharemos o Espírito Santo, pois ele contém todas as bênçãos e graças
de Deus.
Certa vez, um homem estava trabalhando
na horta, no quintal de sua casa, junto com o filho de dez anos. Estavam
preparando a terra para um novo canteiro.
Olhando de lado, o pai viu o garoto
lutando para remover uma pedra. Ele usava toda a sua força, mas não conseguia.
Experimentava de um lado, de outro... nada.
Então o pai lhe disse: “Está difícil,
é?” O menino respondeu: “Sim, a pedra é muito pesada!”
O pai perguntou: “Você já usou todos os
meios?” “Sim” – disse o garoto – “já tentei de tudo que foi jeito”.
O pai insistiu: “Mas há um meio que você
não empregou”. “Qual?” perguntou o menino. O pai virou-se para ele e disse,
sorrindo: “Eu estou aqui e você não me pediu ajuda!” O pai foi lá e os dois
juntos removeram a pedra com facilidade.
Isso vale bem para nós, em relação a
Deus. Ele está ao nosso lado, caminha conosco nas vinte e quatro horas do dia e
nos esquecemos de contar com ele nas lutas da nossa vida. Deus quer nos dar a
mão, pois é para isso que está junto. Sua mão é infinitamente sábia,
infinitamente forte. Mas ele espera o nosso pedido.
Maria Santíssima mantinha um diálogo com
Deus o dia inteiro, mas sempre numa total disponibilidade, como mostrou na
Anunciação: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”.
Pedi e recebereis.
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