E quem é o meu
próximo?
Este Evangelho começa
com duas perguntas de um mestre da Lei a Jesus, pra pô-lo em dificuldade. São
pontos sobre os quais não havia acordo nas escolas rabínicas. Jesus, na sua
sabedoria, faz com que o próprio mestre da Lei responda as duas.
A primeira é: “Que
devo fazer para receber em herança a vida eterna?” O próprio mestre da Lei
responde: “Amarás o Senhor teu Deus...”
Entretanto, o mestre
da Lei não se dá por vencido e faz outra pergunta: “E quem é o meu próximo?”
Também sobre esta questão eles se dividiam. Para uns, eram os amigos. Para
outros, eram os parentes. Para outros, eram os da mesma nação ou raça...
O mestre da Lei quer
saber quais são os limites do amor. Jesus fala que não tem limites. São todos e
todas que encontrarmos pelos caminhos da vida, como o samaritano, que cuidou de
um judeu, povo rival.
Todo homem e toda
mulher que encontrarmos pela vida, e estão em situação de necessidade, são
nossos próximos.
Dos três viajantes
que, no caminho, se encontraram com o ferido, os dois primeiros são membros
ativos e líderes da religião: o sacerdote, e o levita que tinha uma função
parecida com os nossos líderes cristãos. Com isso, Jesus deixa claro que o que
vale para entrar no céu não são títulos ou cargos importantes na Igreja, mas a
prática da caridade.
Já o amor do
samaritano foi bonito: espontâneo, desinteressado, generoso, terno, serviçal,
eficaz e gratuito.
Após terminar a
parábola, Jesus devolve a segunda pergunta ao seu interlocutor, mas a inverte.
Ele não focaliza o destinatário (quem é o meu próximo?), e sim o seu sujeito:
“Qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” E o
mestre da Lei respondeu corretamente, usando inclusive uma expressão bíblica:
“Foi aquele que usou de misericórdia para com ele”.
A conclusão de Jesus –
“Vai e faze a mesma coisa” – é dirigida a todos nós. O amor verdadeiro sempre
coloca como centro o outro, não eu. A pergunta correta que devemos nos fazer
hoje é: “Quem espera ajuda de mim?” Vemos que o amor não tem limites, pois ele
parte das necessidades do outro.
O sacerdote e o levita
viram o ferido, mas seguiram adiante pelo outro lado do caminho. Eles se
colocaram propositalmente à distância do necessitado. Corresponde um pouco aos
nossos condomínios fechados, muros altos, vidros fumê nos carros... são
estratégias atuais de seguir em frente pelo outro lado. Já quem ama faz o
contrário: quer estar no meio dos necessitados.
Como vemos, a parábola
é atual, e toca no núcleo da nossa vida cristã, que é o amor ao próximo. É o
que Jesus, como Juiz, vai cobrar de nós no Juízo final: “Vinde, benditos de meu
Pai! Recebei em herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do
mundo!... Pois eu estava doente, e cuidastes de mim”(Mt 25,34ss).
Ser o próximo do outro
é não apenas estar perto, mas estar perto de coração, aproximar-se afetiva e
efetivamente dele. Quem tem o coração duro, fica distante de quem está próximo
em situação de necessidade. Isso pode acontecer dentro das famílias e até das
comunidades religiosas.
O capitalismo
interessa-se pelo próximo, mas apenas por uma parte dele: o seu bolso. Até no
caso de doença, ou de acidente como foi este da parábola, o capitalista vê como
oportunidade de ganhar dinheiro.
“Este mandamento que
hoje te dou não é difícil demais, nem está fora do teu alcance... Está em teu
coração, para que o possas cumprir” (Dt 30,10-14). De fato esta lei do amor ao
próximo já está escrita em nosso coração desde que nascemos. Se alguém não a
cumprir, não terá desculpas.
Uma maneira frutuosa
de meditar sobre esta parábola é tentar descobrir com qual dos personagens que
aparecem nela nós mais nos parecemos. Claro que o nosso desejo é nos parecer
com o samaritano, e até com Jesus. Mas a resposta verdadeira nós a damos com a
nossa vida concreta do dia a dia. Será que nos parecemos com o dono da pensão:
fazemos o bem quando somos remunerados? Ou somos como o sacerdote e o levita:
vivemos tão preocupados com os nossos afazeres que “nem vemos” quem está em
necessidade ao nosso lado? Ou, pior ainda, somos assaltantes disfarçados do
nosso próximo? A sociedade atual que construímos mostra claro que os “bons
samaritanos” não passam de uns 5%. Claro que cada um de nós se julga entre
esses 5%. No entanto, o resultado está aí.
Certa vez, numa grande
região, faltou chuva e a colheita foi pobre. Entretanto, uma grande fazenda,
que tinha irrigação artificial, teve uma colheita abundante. O administrador
encheu os celeiros, depois disse para o dono da fazenda: “A colheita ruim
aumentou o preço dos cereais. Agora é o tempo propício para vender e ganhar
muito dinheiro”. O fazendeiro respondeu: “Eu penso nos pobres lavradores que
não colheram nada e estão com as suas despensas vazias. Agora é tempo propício
para dar”.
O amor é assim,
freqüentemente ele inverte o pensamento cego dos capitalistas, baseado na sede
de lucro.
Existem pessoas que
disfarçam o seu egoísmo, como aquele que disse: “Os homens são maus. Só pensam
em si. Só eu penso em mim!” Quem falou isso não percebe que a primeira pessoa
má do mundo é ele mesmo!
É próprio das mães
perceber as necessidades dos filhos e colocar-se ao lado deles. Vamos pedir à
nossa querida Mãe Maria Santíssima que nos ajude a ser bons samaritanos,
socorrendo o nosso próximo em suas necessidades, e assim “recebendo como
herança a vida eterna” Mãe do amor, rogai por nós.
E quem é o meu
próximo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário