Dai esmola do que vós possuís e tudo
ficará puro para vós.
Este Evangelho conta que um fariseu
convidou Jesus para jantar na sua casa, mas ficou pensando mal dele, porque não
lavou as mãos antes da refeição. Lavar as mãos antes da refeição, o que era um
rito religioso deles, nascido da tradição.
Jesus é claro com o fariseu: “Vós
limpais o copo e o prato por fora, mas o vosso interior está cheio de roubos e
maldades”.
Deus quer a nossa pureza completa, e é
da interior que nasce a exterior. Mudando o nosso coração, isto é, as nossas
intenções e desejos, vai mudar o nosso agir.
Quem segue a Jesus não tem malícia,
maldades, nem segundas intenções. Não é falso nem engana ninguém, mas é
verdadeiro e transparente.
“Felizes os puros de coração, porque
verão a Deus” (Mt 5,8). Quem é puro de coração é honesto, sem fingimento e sem
máscaras. Essas pessoas são parecidas com Deus, por isso o verão, e nelas
podemos confiar, porque falam a verdade. Uma sociedade feita de pessoas assim
seria bem mais feliz.
“Dai esmola do que vós possuís e tudo
ficará puro para vós.” A esmola nos deixa muito mais puros do que as repetidas
e inúteis purificações. Isso porque, quando partilhamos os nossos bens com os
necessitados, atraímos sobre nós a bênção de Deus, que nos purifica.
Os ritos fazem parte da nossa relação
com Deus. O perigo é absolutizá-los, colocando-os na frente dos mandamentos de
Deus. Foi isso que fizeram os mestres religiosos do povo judeu do tempo de
Jesus. De tal modo deram a primazia aos ritos, como este de lavar as mãos antes
da refeição, que se esqueceram do principal, que é amar a Deus e ao próximo.
“Eu farei uma nova aliança com a casa de
Israel... Colocarei a minha lei no seu coração. Serei o Deus deles e eles serão
o meu povo (Jr 31,31-33). É isso que Deus quer conosco, já que vivemos na Nova
Aliança. A Lei escrita no nosso coração nos dá liberdade para escolher o que é
melhor. Em vez da letra da Lei, passamos a obedecer ao espírito da Lei.
Conta uma lenda que certo dia um bezerro
precisou atravessar uma floresta virgem para voltar ao seu pasto. Sendo ele um
animal irracional, abriu uma trilha tortuosa, cheia de curvas, subidas e
descidas inúteis.
No dia seguinte, um cão que passava por
ali usou esta trilha para atravessar a floresta. Depois foi a vez do carneiro,
líder de um rebanho, que fez seus companheiros seguirem pela trilha torta.
Mais tarde, os homens começaram a usar
aquele caminho. Viravam à direita e à esquerda, abaixavam-se para não bater nos
troncos de árvores, reclamavam, mas nada faziam para mudar a trilha. Depois de
tanto uso, a trilha acabou virando uma estrada onde os animais se cansavam sob
as cargas pesadas, sendo obrigados a percorrer em três horas um caminho que
podia ser feito em uma hora.
Muitos anos se passaram e a estrada
tornou-se a rua de uma vida e depois a avenida principal de uma cidade. Eram
milhares de pessoas que seguiam a trilha do bezerro.
Os homens infelizmente têm a tendência
de seguir cegamente tradições de pessoas que nem sempre conheciam o caminho que
estavam traçando. Existem mentalidades ou modos de viver, antigos ou novos, que
nem sempre combinam com o principal, que é amar a Deus e ao próximo.
Maria Santíssima era todinha de Deus.
Sua obediência era livre e brotava do coração. Que ela nos ajude a evitar a
hipocrisia e a tomar cuidado com o fermento dos fariseus (Lc 12,1).
Dai esmola do que vós possuís e tudo
ficará puro para vós.
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