Este
evangelho é anunciado logo após Jesus ter tratado do pecador incorrigível, caso extremo
que leva a excomunhão. Neste contexto, Ele passa a situação contraria e bem
mais comum do perdão e da reconciliação dentro da comunidade. A situação é a
mesma: "Se teu irmão tiver pecado..." Mas neste
caso, o pecador escuta a parte ofendida, ou algumas testemunhas, ou toda a
comunidade. Mas, outra questão surge.. Quantas vezes essa pessoa deve ser
perdoada? Pedro, novamente como porta voz do grupo, responde a si mesmo, com o
que imagina ser uma resposta generosa: "Até sete vezes?" Porem Jesus
o corrige e surpreende quando responde: setenta vezes sete. Não se deve
entender literalmente este número, mas sim com o simbolismo que ele traz em si.
Na Bíblia, o 7 tem significado de totalidade, plenitude, completação. Assim é
vingado Caim (Gn 4,24a).
Quando
aparece multiplicado por ele mesmo, como no caso de Lamec, vingado por setenta
vezes sete (Gn 4,24b), não significa excesso, mas sim a retirada do limite
implicado na totalidade. Essa mesma idéia de totalidade, plenitude, do numero
sete, é usada no Novo Testamento. São sete os pães multiplicados e sete os
cestos de pedaços que sobraram (Mt 15,34.37). O que deve ser apreendido deste
trecho é que ao cristão não cabe colocar limites ao perdão.
Para
melhor esclarecer o perdão sem limites, Jesus usa como exemplo, a parábola do
devedor implacável. Esta parábola é uma outra forma narrativa para o
segundo pedido que fazemos ao rezar o Pai Nosso: "perdoai-nos as nossas
ofensas, assim como nos perdoamos aos que nos ofenderam" (Mt 6,12). Desta
maneira, Ele evidencia que a disposição de Deus para nos perdoar depende da
nossa disposição de perdoar os que nos ofendem. Devemos identificar o rei, da
parábola, com Deus. Notemos que esse rei é tratado como senhor, exige uma
prestação de contas, e demonstra sua misericórdia ao perdoar a dívida
enorme. Entretanto, o servo implacável nada aprende com o exemplo de seu rei e
age de forma cruel com outro servo, que lhe é devedor, fato que resulta na
revogação do seu perdão.
Este
trecho do evangelho nos adverte de que o perdão de Deus, e inesgotável, mas
está condicionado a nossa disposição de perdoar os outros. Mostra-nos também
que até o perdão concedido por Deus pode ser revogado, se não soubermos, como
Ele, perdoar. Cuidem-se! Os implacáveis São excluídos da misericórdia divina, e
aqueles que desejam receber essa misericórdia, precisam ser misericordiosos com
os outros.
O
evangelista termina sua narrativa dizendo que Jesus, tendo terminado esses
discursos, deixou a Galileia, entrando no território da Judéia. Para melhor
compreender esta focalização, e preciso esclarecer que, para Mateus, a Galileia
é lugar de revelação (cf.4,12-17) e a Judéia é o lugar de rejeição e morte.
Sabendo disso, fica claro que este texto de Mateus tem a intenção de orientar
as comunidades cristãs sobre como lidar com problemas de busca de posição,
escândalo, deslizes, reconciliação e perdão.
Maria
Cecília
Nenhum comentário:
Postar um comentário