QUARTA FEIRA DA OITAVA DA
PÁSCOA 03/04/2013
1ª Leitura Atos 3, 1-10
Salmo 104 (105)3b
“Guardai-me, ó Deus, porque é em Vós que procuro refúgio
Evangelho Mateus 24,
13-35
"CAMINHANDO COM JESUS"-
Diac. José da Cruz
Nhá Maria era uma
senhora bem pobre que gostava muito de vir em nossa casa para receber alguma
ajuda. Naquele tempo, o pedinte não era um estranho que causava medo e
insegurança como hoje, e nós a acolhíamos na mesa da refeição, porque jamais
minha mãe permitia que ela ficasse na porta ou na calçada, um filho de Deus tem
que sentar-se á mesa, nos dizia sempre. Claro que os tempos eram outros e
ninguém pensava em seqüestro ou assalto. Depois de ouvi-la atentamente, a
conversa sempre terminava com a frase tão batida lá em casa, “Se for da vontade
de Deus, tudo vai melhorar e dar certo”, que minha mãe dizia, enquanto
preparava um cafezinho fresco que a Nhá Maria tomava antes de ir embora, toda
agradecida, não sem antes ajudar a arrumar a cozinha.
Este evangelho
mostra algo que hoje não se pratica muito em nossas relações: ouvir as pessoas,
caminhar com elas, saber como está a vida, o que anda pensando ou sonhando, ou
porque andam tristes. Passamos de carro, sempre apressados, e no máximo fazemos
um aceno ou buzinamos para os conhecidos.
O caminhante que
se junta aos dois peregrinos age diferente, percebe que estão tristes e
desanimados, se junta a eles, quer saber o que aconteceu, qual a causa da
tristeza, ouve com atenção e somente depois é que vai falar, não deixou suas
inquietações sem uma resposta, não terminou a prosa com aquele jeito resignado
“fazer o que, a vida é assim mesmo...” Como muitas vezes encerramos nossa
conversa com alguém que está sofrendo ou desanimado. É bem verdade que os
censurou por serem tão lerdos na compreensão da escritura antiga, mas a
conversa foi agradável, marcada pela ternura, pois não se pode anunciar o
evangelho com gestos bruscos e cara feia, como se quisesse dar uma lição de
moral em quem ouve, isso é perda de tempo! O texto não deixa dúvidas quanto a
isso, seus corações ficaram abrasados, enquanto Jesus lhes falava, levando-os a
descoberta de algo novo, o sofrimento faz parte da vida, mas não é a última
palavra.
Considerando-se a
intencionalidade do autor, o texto trata de uma celebração eucarística, com
duas partes bem distintas: a Palavra e a Eucaristia, aliás, coisa que nós
cristãos herdamos do Judaísmo em uma junção da Sinagoga, lugar da reflexão da
Palavra, e Templo, lugar do Sacrifício. Vivemos um tempo histórico diferente do
que viveram esses discípulos, porém a situação é quase a mesma, achamos difícil
perceber a presença do Senhor em meio a um quadro muitas vezes desolador, e a
história de Emaús, mais parece uma bela lembrança. Eis uma fé distorcida e
fragilizada como a dos dois discípulos peregrinos! No coração do Cristão, Jesus
Ressuscitado na maioria das vezes é alguém distante de nossa vida e de nossos
problemas, parece que o Jesus da história é um, e o Jesus da Salvação é outro,
Pois esse
evangelho, belíssimo por sinal, nos mostra que na comunidade, em cada
celebração a história se repete o Senhor nos questiona sobre o que estamos
falando pelo caminho desta vida, em que acreditamos, quais são nossas
aspirações, o que queremos ver realizado. A palavra que celebramos nos fala da
vida de Jesus e de nossa vida também, ela nos encoraja porque penetra em nosso
coração, não se restringindo a um mero rito.
Uma caminhada com
uma prosa saudável e edificante, fortalecedora e motivadora, não tem coisa mais
revigorante neste mundo, assim é que Jesus vem ao nosso encontro em cada
domingo. A palavra de Jesus que caminha com eles, não é conversa fiada,
lamentação e choramingos, porque as coisas não vão bem, em casa, na comunidade,
no trabalho ou na política, Jesus é alguém diferente, que encontrou um sentido
novo e sua palavra renovadora, fortalecedora é revigorante, porque nos faz dar
a volta por cima, por isso, aos seus discípulos de ontem e de hoje, ele vem
confirmar o seu projeto de salvação, anunciando que a morte e a força do mal,
não têm nenhum poder sobre o Reino que ele instalou no meio dos homens.
E depois de uma
boa conversa, em uma mesa de refeição, Cleofas e seu amigo de caminhada sentem
que não podem mais viver sem aquele homem, e o acolhem no coração, quando o
conhecem no partir do pão, onde o Senhor partilha com eles seus sonhos e
projetos de vida, que ajudam a construir o reino novo.
Não tenhamos medo
de percorrer o caminho de Emaús, onde levamos, é verdade, nossos desânimos e
fracassos, mas diante da palavra que nos aquece o coração, , manifestemos o
desejo de que o Senhor fique sempre conosco, “Fica conosco Senhor pois é tarde,
e a noite vem chegando”. E no pão que se parte e reparte, nos fortalecemos, e
voltamos com pressa á nossa comunidade, onde não há mais noite, mas na fé
caminhamos com os irmãos e irmãs, diante da luz sempre reluzente que é o
próprio Deus, presente em Cristo - Jesus!
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