dia 26
Um de vós me entregará- Padre Queiroz
Um
de vós me entregará... O galo não cantará antes que me tenhas negado
três vezes
Hoje, terça-feira da semana santa, o Evangelho narra aquela cena triste
em que Judas Iscariotes se retira do grupo dos Apóstolos para vender Jesus, e
Jesus diz que Pedro também o negará.
"Então Jesus molhou um pedaço de pão e deu-o a Judas, filho de
Simão Iscariotes." Foi um sinal de distinção de Jesus a Judas, convidando
a mudar seus planos homicidas e reaver uma amizade rompida pela sua ambição e
ressentimento. Tudo foi inútil. Judas rejeitou definitivamente o amor a Jesus.
"Judas saiu imediatamente. Era noite." O traidor é um exemplo
das trevas sobre as quais brilhou em vão a luz. "A luz veio para o que era
seu, mas os seus não a acolheram" (Jo 1,11). Entretanto, as trevas foram
definitivamente vencidas e dominadas pela luz, o que aconteceu do domingo de
Páscoa.
Nós somos fracos e, se não tomarmos cuidado, caímos mesmo, ainda que
tenhamos cargos importantes na Igreja, como tinham o Apóstolo Judas e S. Pedro.
S.
Paulo nos adverte: "Irmãos, não quero que ignoreis o seguinte: os nossos
pais estiveram debaixo da nuvem... comeram o maná... No entanto, a maior parte
deles desagradou a Deus e, por isso, caíram mortos no deserto. Esses
acontecimentos se tornaram símbolos para nós, a fim de não desejarmos coisas
más, como eles desejaram... Essas coisas foram escritas como advertência para
nós. Quem julga estar de pé tome cuidado para não cair... Deus é fiel e não
permitirá que sejais provados acima de vossas forças" (1Cor 10,1-13).
E S. João nos diz: "Todo aquele que espera em Cristo purifica-se a
si mesmo, como também ele é puro. Todo aquele que comete o pecado pratica a
iniqüidade, pois o pecado é a iniqüidade. Vós sabeis que Cristo se manifestou
para tirar os pecados, e que nele não há pecado. Todo aquele que permanece nele
não continua pecando, e todo aquele que continua pecando mostra que não o viu
nem o conhece" (1Jo 3,3-6).
S.
João chama o pecado de iniqüidade. Iniqüidade é o contrário de eqüidade, que é
a igualdade de direitos e de julgamento. A eqüidade pertence à lei natural, que
está acima da lei positiva, isto é, das leis promulgadas pelos homens.
Basta
olharmos ao nosso redor que vemos o pecado sendo praticado das mais diversas
formas, e vemos também os frutos do pecado.
Muitos
se parecem com um carro sem alinhamento, isto é, anda torto, gastando os pneus
de um lado só e correndo o risco de capotar.
"Eu
coloco diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe pois a
vida, amando ao Senhor teu Deus e obedecendo à sua voz!" (Dt 30,19-20).
"O
meu povo abandonou-me a mim, fonte de água viva, e cavou para si cisternas,
cisternas rachadas que não podem reter a água" (Jr 2,19). Entretanto, nós
temos ao nosso lado as fontes de água viva: os sacramentos, a Comunidade cristã...
O
Papa Pio XII dizia que a sociedade moderna perdeu o senso do pecado. As pessoas
desobedecem a Deus e vivem de cara limpa, como se estivesse tudo certo. As
crianças até passam a pensar que pecado não existe mais.
O
pecado é como uma árvore, que tem raízes, galhos e folhas. A raiz são os nossos
pensamentos. Se consentidos, eles se transformam em palavras, depois em ações,
e finalmente em hábitos. A pessoa então começa a pecar sem nem perceber.
O
contrário, isto é a virtude, segue o mesmo caminho: começamos pelos pensamentos
pecaminosos, depois vamos para as palavras, ações, hábitos.
Que
nós, agora na semana santa, ao meditar sobre a paixão de Jesus, pensemos um
pouco na relação que existe entre os sofrimentos de Cristo e os nossos pecados.
Certa
vez, durante uma campanha eleitoral, um homem estava fazendo um discurso em
favor de um candidato a vereador. Uma senhora de outro partido, que também era
candidata, ouviu o discurso e gostou muito. No fim, ela foi lá parabenizar o
rapaz: "É de gente assim que nós precisamos" – disse ela – "de
cidadãos conscientizados, competentes e sem medo de expor suas idéias".
Logo
que ela acabou de falar, o orador lhe disse: "Muito obrigado pelas suas
palavras. Eu sei que a senhora também é candidata. Se a senhora me pagar mais
que ele, eu posso passar a fazer campanha para a senhora, não para ele".
A
candidata caiu das nuvens. Pensava que estava conversando com um cidadão, mas
na verdade estava conversando era com um otário, mercenário, covarde e
enganador do povo.
O
pecado é terrível; ele penetra em toda parte. Se penetrou até no grupo dos
Apóstolos, quanto mais na política. Mas Cristo o venceu, e nós com a graça de
Deus podemos concretizar no dia a dia essa vitória.
Campanha
da fraternidade. a nossa obediência às leis civis é necessária e importante,
mas não é de obrigação absoluta. Temos o direito, e às vezes o dever, de
apresentar reclamações contra o que nos parece contra a paz, a dignidade das
pessoas e o bem comum. "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de
Deus (Mt 22,21).
Nós
temos uma pessoa interessadíssima em nos ajudar a não pecarmos. É aquela que,
unida com o Filho, pisou a cabeça da serpente enganadora. "Rogai por nós
pecadores, agora e na hora de nossa morte, amém".
Um
de vós me entregará... O galo não cantará antes que me tenhas negado três
vezes.
Padre Queiroz
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