Comentário
Prof.Fernando(*) Páscoa 2013 – PRIMEIRA Parte: 28-29
março2013
Quinta-feira da Ceia
do Senhor e Sexta-feira de sua Morte na Cruz
NOTA PRÉVIA – A FESTA ANUAL DA PÁSCOA
·
A
Páscoa, no cristianismo ocidental, ocorre no primeiro domingo após a lua cheia
após o equinócio da primavera (no hemisfério norte; outono, no sul), entre
março,22 e abril, 25. Para os judeus começa no anoitecer do dia 14 do mês lunar
Nisan e é festa de 8 dias. Recorda a libertação dos hebreus da escravidão do
Egito (cf. livro do Êxodo). No cristianismo oriental (ortodoxos e católicos
orientais) não se acompanha o calendário gregoriano de 1582. Então, para os
judeus a Páscoa neste ano de 2013 é celebrada no dia 25 de março; no
cristianismo ocidental (católicos e protestantes) a Páscoa é celebrada no
domingo 31 de março. Nos diversos Patriarcados ortodoxos, a Páscoa é celebrada,
em 2013, no dia 7 de abril.
1.
SEMANA
SANTA
·
Temos
notícia de que já no séc.IV cristãos em Jerusalém se reuniam desde o horto das
Oliveiras levando ramos como na entrada de Jesus em Jerusalem. Por volta do
séc. VIII o “domingo da Paixão” (nome usado desde os primeiros cristãos) passou
a ser conhecido como Domingo de Ramos. A semana focaliza os últimos dias de
Jesus até sua morte e, finalmente, celebra no Domingo sua Ressurreição. Há
diversas tradições na liturgia cristã. Recentemente foi restaurada, dentro do
catolicismo, a Forma Extraordinária do Rito Romano. A Semana Santa católica foi
reformada pela antiga Congreção dos Ritos (Decreto Maxima Redemptionis), de modo que (desde 1956) foram alterados os
horários das cerimônias para tornar mais fácil a participação de todos nos
ritos desses dias.
2. Vieram os FERIADOS
·
Ao
feriado da 6ª.feira muitos conseguem juntar o dia de quinta e o final da
semana, formando uma “feriadão” para viagem e lazer. O clima cultural de
cristandade ainda pode ser encontrado no interior do país durante a semana
santa, mas, dificilmente, nas capitais e grandes cidades onde predomina o
ambiente cosmopolita e pluralista. A mudança de cristandade para um mundo no
qual o cristianismo não dá mais o tom acelerou-se a partir, sobretudo, dos anos
60 do século passado. Muitos foram os fatores que levaram ao que a teologia
chama de processo de secularização: mais sensibilidade para o “século” (o mundo)
do que para o “eterno” (valores da fé e das religiões). Mergulhados nessa
cultura contemporânea é também grande o número de cristãos que dão menos
importância aos ritos e orações da semana da Paixão e mesmo da festa da Páscoa.
Nas escolas em geral, entre as crianças e no comércio fala-se mais de coelhos e
chocolate do que do significado da Páscoa. Na Páscoa judaica, ao menos entre as
famílias mais religiosas, a celebração é feita em família, envolvida desde a
preparação da casa até a ceia com orações e rituais.
3. A QUINTA-FEIRA
·
O
cristianismo, ao menos na liturgia católica, recorda-se a última Ceia de Jesus
com seus amigos, na qual realizou o gesto conhecido com “Lava-pés”. O próprio
Jesus mostrou a ligação entre o serviço humilde dos irmãos (lavar os pés naquele
tempo era próprio dos escravos) e o gesto de repartir o pão e o vinho: seu
corpo entregue e seu sangue, que será
derramado por todos. Já lembramos, no domingo anterior: os evangelistas repetem
o tema da “entrega” com o verbo (em
grego = dídomi e seus compostos) que
significa tanto trair o outro como dar a própria vida.
·
Vejamos,
por exemplo, as narrativas paralelas nos vários evangelistas, a respeito de
Judas: Jo13,21= um de vos me entregará //Mt26,23//; Mc14,21//Lc22,22. Em Jo18,2 e 5,
traduzimos em geral “traidor” onde se lê “o
que o entregou”). No mesmo sentido está escrito para indicar que Pilatos
“entregou” (o Inocente) aos inimigos (cf. Mt 27,26 //Mc1515 /[/Lc23,25. Em Mt
26,45: eis que chega quem vai me entregar
nas mãos dos pecadores.
A mesma raiz
do verbo dídomi é usada por Lucas
para dizer que Jesus “entrega” o pão e o vinho – sinal da doação de vida (isto é meu corpo – distribuiu-o; isto é meu sangue derramado em favor de
muitos //de vós //para remissão dos pecados. Há, portanto, dois gestos opostos
nesse “entregar”. Um é trair ou deixar nas mãos de bandidos (como Judas e
Pilatos). Outro, é dar ou oferecer a própria vida pelo outro.
4.
A
SEXTA-FEIRA – PAIXÃO E MORTE
·
Costumes
e devoções têm às vezes suas origens religiosas e culturais perdidas na
distância dos séculos passados e é difícil localizar sua instituição. São mais
conhecidas pela mídia, as auto-flagelações e crucifixões nas Filipinas, assim
como os “pasos” (procissões de encapuzados) na Espanha e em outros lugares. No
Brasil e em outros países organizam-se encenações da paixão de Cristo,
procissões e a tradicional Via-sacra. O cinema produziu uma infinidade de
versões da “vida de Cristo”, com maior ou menor realismo nas cenas da Paixão.
Parece que é espontânea uma solidariedade com o Inocente, com aquele que foi
injustamente condenado e crucificado. Parece que surge nessa época,
naturalmente, um sentimento puro sob tantas expressões religiosas e artísticas.
Talvez seja porque queremos exorcizar nossos medos ou para perceber em Jesus de
Nazaré o “Ecce Homo” apontado por Pilatos, como o Homem das dores reunindo todo
o sofrimento do mundo.
·
No
entanto, não é isso que constitui o núcleo da memória que fazemos da crucifixão
e morte de Jesus de Nazaré. Ela não pode ser reduzida apenas às imagens da
violência. O núcleo da Fé deve centrar-se no gesto – antecipado por Jesus na
última Ceia – na entrega livre da vida, naquela palavra “amou-os até o fim”.
Não desistiu de sua missão que foi de anunciar o Reino e mostrar o rosto do Pai
misericordioso, sendo capaz de morrer – não apenas por uma “causa” – mas para resgatar
todos os desvios humanos em relação ao Bem. Os apóstolos resumirão mais tarde: mergulhados
com Cristo em sua morte, com ele poderemos reconquistar a vida.
5.
“com
ele crucificaram dois outros, um de cada lado E JESUS NO MEIO
(cf. Jo19,18 // Mt 27,18 //Mc 15,27 //
Lc 23,33)
·
Como
Adão lidera a raça humana, assim o novo Adão, Homem-Deus, vai à frente da longa
fila de todos os crucificados. A famosa “Pietà” é escultura que representa
Jesus morto nos braços da mãe dolorosa. Ainda hoje muitíssimas são as mães que
choram seus filhos, morrendo como moscas, na droga, pela bala perdida, de fome
ou sob a guerra (pensemos apenas numa: a da Síria com mais de 100mil
assassinados em dois anos). Tantos estão
crucificados por doenças, pelas condições inumanas no presídio ou num
trabalho clandestino como imigrantes ilegais. Milhões sobrem subnutrição e
insalubridade, endêmicas em muitas regiões. Milhões juntam moedas para dar
algum pão à família presos à teia de aranha que é um sistema diabólico, gerido
pelos donos do mundo que se desculpam acusando a “crise” ou o “mercado” (e não
vivemos mais da coleta de alimentos na floresta mas depois da indústria e da
revolução tecnológica).
·
O
Cristo está misteriosamente presente junto dos crucificados de todos os tempos,
na liberdade da Encarnação (não se agarrou à sua condição divina mas fez-se
escravo, lemos domingo passado em Filipenses). Ele continua dizendo: “também tu
estarás comigo no Paraíso”. O Mistério da Semana Santa é o Mistério do silêncio
de Deus.
6. MISTÉRIO AINDA MAIOR.
(Páscoa
2013 – 2ª.Parte: 31 de março2013DOMINGO DA RESSURREIÇÃO)
RESUMOS : Atos 10,34a.37-43 – Colossenses 3,1-4 – João
20,1-9
● somos
testemunhas de tudo o que Jesus fez -
passou fazendo o bem e curando a todos - Eles o mataram numa cruz, mas Deus o ressuscitou ● Quando Cristo vossa vida aparecer em seu triunfo vós também sereis revestidos de glória ● No primeiro dia da semana
Maria Madalena foi ao túmulo: viu que a
pedra tinha sido tirada
·
O
inexplicável acontecido na flagelação, nos pregos e na coroa de espinhos
torna-se Mistério maior. Se nos fosse permitida a expressão, contemplamos como
Deus quis “provar” na própria pele a vida humana completa. Passou pela
fragilidade do nascimento às tentações e perplexidades do viver e do conviver.
Chegou a experimentar o que é ser esmagado pela inveja, pelo ódio, pela
perseguição, pela injustiça até o abandono dos amigos e, finalmente, até a
morte inevitável. Enquanto isso, Deus parece ausente. O que para os seres
humanos é a condição natural do seu ser de criatura no Cosmos, foi para Jesus
de Nazaré uma opção livre, mesmo carregada de dores. Ao tornar-se humano abriu
a passagem para que os humanos cheguem a ser como Deus. “Filhos no Filho” –
dirá o Apóstolo.
·
Um
dos resumos mais completos da Paixão está no grito da cruz – que Mateus e
Marcos colocam no salmo: meu Deus, meu
Deus, por que me abandonaste? e Lucas traduz na extraordinária palavra de
confiança quando se encerra a vida em Jesus: Pai, coloco entre tuas mãos o meu espírito. É nesse Mistério que é
difícil penetrar. Da angústia e medo, como na Agonia em que nem os amigos
conseguem velar com ele, passando depois pela tortura, renegado até por Pedro,
terminando nas dores do calvário até o último suspiro.
7. DOMINGO DA RESSURREIÇÃO
·
O
Mistério se amplia ao infinito. Se nos é impossível encontrar um sentido par a
morte, mais inexplicável ainda é aceitar a possibilidade de retomar a vida. E
uma vida humana integral pois somos uma unidade mais complexa que as relações
atualmente investigadas pelas ciências: entre Mente, Cérebro e o Corpo e como
agem nesse contexto a Vontade e a Liberdade, além da Ética. Somos uma unidade
integrada (usando termos bíblicos) de alma, corpo, mente e espírito.
·
Não
se trata apenas da crença na imortalidade da “alma”, que é quase uma intuição
universal em todas as religiões e culturas. Não se trata de aceitar a
imortalidade da “alma” que poderia entrar em outros “corpos” como se fossem
ambos “duas” substâncias diferentes, parecendo um perfume colocado em vários
frascos. Mas, das pirâmides do Egito às investigações da ciência grega, todas
as filosofias e crenças sempre expressaram o mesmo desejo humana de ter uma “alma”
imortal.
·
A
Fé ou confiança no Senhor ressuscitado é muito mais que isso. É confiar no
Criador da Vida, visto na comparação do pai, na parábola do “Filho pródigo”. Mais
do que nosso desejo de ter (pelo menos) a alma imortal é crer no “desejo” dele.
É ele quem nos chama com a ternura expressa na figura do pai, da parábola. Ele
nos convida, conforme é seu desejo amoroso, para morar com ele, ficar na sua
casa, com todos os direitos de filhos, herdeiros (humanos) das potências
divinas. É como se ele esquecesse, ao abraçar o “pródigo” que houve um tempo de
afastamento de todo o Bem e de tudo que é Belo (que existem pulverizados pelo Universo)
que foram destinados, juntamente com a Sabedoria e o Conhecimento sobre o Cosmo
inteiro, aos seus filhos feitos à sua imagem e semelhança.
·
Feliz
Páscoa aos que caminham na Fé e a todas as pessoas de boa vontade
oooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo
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(homiliadominical2.blogspot.com.br) (*)P rof.(Usu-Rio)Educação teologia e ética fesomor2@gmail.com
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