Vosso pai Abraão exultou, por ver o meu dia.
Neste Evangelho, Jesus, numa argumentação judicial com as autoridades da
seu país, prova que é o Messias. Ao esperar o nascimento do seu filho Isac,
Abraão esperava com alegria, uma descendência bendita de Deus, que é o Cristo.
Abraão viu em Isac o cumprimento da promessa de Deus de que o Messias nasceria
da sua descendência.
E mais: o nascimento de Isac era mais uma vinda da Sabedoria ou do Verbo
de Deus, que séculos mais tarde se encarnaria. Diz o livro dos Provérbios: “O
Senhor me gerou no início de suas obras, antes de ter feito coisa alguma, no
princípio; desde a eternidade... Eu estava brincando no globo terrestre, e
alegrando-me em estar com os filhos dos homens” (Prov 8,22-31). Abraão não viu
Jesus como homem. Mas Jesus é uma Pessoa com o Verbo eterno, e Abraão viu a
manifestação desse Verbo. Por isso que Jesus fala: “Vosso pai Abraão exultou,
por ver o meu dia”.
“Antes que Abraão existisse, eu sou”. Mais uma vez, Jesus declara a sua
divindade. Ele é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade que se encarnou,
conforme diz J 1,1-5: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de
Deus, e o Verbo era Deus. Ele existia, no princípio, junto de Deus. Tudo foi
feito por meio dele, e sem ele nada foi feito de tudo o que existe. Nele estava
a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz brilha nas trevas, e as travas
não conseguiram dominá-la”.
Na pessoa de Jesus, as duas naturezas, a humana e a divina, eram
estanques, isto é, não se comunicavam uma com a outra, a não ser que quisessem.
A natureza divina só se comunicava com a humana quando era necessário e útil à
missão de Jesus. Fora isso, Jesus agia apenas com os recursos humanos. Era
homem como nós em tudo, exceto no pecado.
Só assim a gente entende todo o sofrimento que Jesus teve, no corpo e no
espírito (Cf Hb 4-7). Entendemos também por que ele disse que não sabia a data
do fim do mundo: “Quanto a esse dia e a essa hora, ninguém sabe nada, nem os
anjos do céu, nem o Filho. Somente o Pai é quem sabe” (Mt 24,36).
A natureza divina deixava a natureza humana se virar, com os recursos e
as limitações humanas. Esse é o mistério da união hipostática.
Entretanto, nós sabemos que “em Cristo habita, de forma corporal, toda a
plenitude da divindade” (Cl 2,9).
“O que é da terra, pertence à terra e fala das coisas da terra. Aquele
que vem do céu está acima de todos” (Jo 3,31). Só quem era do céu podia reabrir
a porta do céu para a humanidade, porta que fora fechada após o pecado de Adão
e Eva.. Quem não veio do céu não tem credencial nem competência para isso. Os
fundadores de religiões, por exemplo, são, como nós, da terra, pertencem à
terra. Portanto, eles não têm nenhuma competência para fundar uma religião. Com
exceção, é claro, de Jesus que veio do céu e fundou a Igreja. “Eu e o Pai somos
um” (Jo 10,30).
Justamente devido à sua condição divina, Jesus fala e garante: “Se
alguém guardar a minha palavra, jamais verá a morte”. Morre fisicamente, mas
permanece vivo em Deus, na vida eterna.
Como é importante nós ouvirmos e guardarmos a Palavra de Jesus, sendo
aquela terra fértil, onde a semente cai e produz fruto!
Havia, certa vez, um rapaz, que tinha a memória um pouco fraca. Esquecia
facilmente as coisas. Como na quaresma ele queria se confessar, começou logo a
marcar em um pau os seus pecados. Cada vez que ele fazia um pecado, fazia um
pique no pau.
Numa tarde em que o padre estava de plantão para atender as confissões,
ele foi para a igreja. Chegando lá, colocou o pau atrás da porta e ajoelhou-se
no banco a fim de se preparar para a confissão.
Depois foi para a salinha onde estava o padre, e se esqueceu de levar o
pau. Ele era um rapaz bem forte. Ao chegar lá, o padre lhe disse: “Fale os seus
pecados”. Ele falou: “Espere aí, padre, eu vou buscar o pau ali atrás da
porta”. O padre disse: “Não, não precisa não, moço! Já está tudo perdoado. Pode
ir tranqüilo” Já pensou, um rapaz daquele querendo ir pegar pau!
Quaresma é tempo de fazermos uma boa confissão. Nós não precisamos ter
medo do padre nem o padre de nós, pois o que prevalece ali é a misericórdia de
Deus. Não precisamos também anotar os pecados. Na hora, nós falamos aquilo de
que nos lembramos e o resto fica tudo perdoado. O principal na confissão não é
falar pecados, pois na confissão comunitária nós nem falamos os pecados. O
principal é o perdão de Deus e, da nossa parte, o arrependimento.
Maria Santíssima é Mãe de Deus, porque é Mãe de Jesus que é Deus. Que
ela interceda por nós, já que tem tanto credencial junto da Santíssima
Trindade.
Vosso pai Abraão exultou, por ver o meu dia.
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