DIA 17/03
Jo 8,1-11
Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma
pedra.
Este Evangelho, do 5º domingo da quaresma, nos traz a cena da mulher
adúltera, que estava para ser apedrejada e Jesus a libertou.
Os mestres da Lei e os fariseus fizeram uma armadilha “para terem motivo
de o acusar”. Eles tinham certeza que Jesus não ia aprovar o apedrejamento,
pois ele sempre defendia os mais fracos. E, não aprovando, iria contra a Lei de
Moisés e podia ser, por isso, condenado à morte.
Mas Jesus teve uma saída magistral. Jogou o problema nas próprias
autoridades que ali estavam, transformando-as de juízes em réus: “Quem dentre
vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”.
Assim, não só libertou a mulher, mas deixou para nós uma grande
mensagem: Deus ama os que erram, e quer que os amemos, pois todos nós erramos
também. O melhor estímulo para uma pessoa se recuperar é sentir-se amada e
perdoada do erro que fez.
Deus mesmo fez isso, quando a humanidade pecou. Ele nos mandou seu Filho
que veio com amor, para salvar e não para condenar. “Deus enviou o seu Filho ao
mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” Jo
3,17). Admirada com esse gesto, a Igreja canta, no exultet da vigília pascal:
“Ó culpa tão feliz que há merecido a graça de um tão grande Redentor!”
Nós somos convidados a imitar esse gesto de Jesus, no nosso caso, com
mais razão, porque somos nós que fazemos a lama na qual as pessoas escorregam e
caem. Foi isso que Jesus quis mostrar, quando disse: “Quem dentre vós não tiver
pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”. Nós também somos pecadores, e
temos parte de culpa nos erros que os outros cometem, pois são frutos deste
mundo pecador, que ajudamos a construir.
Em vez de jogar pedras, devemos abraçar a todos os que erram, desde a
criança que comete pequenas travessuras, até os que praticam grandes crimes.
Abraçar os que estão na lama, mesmo que fiquemos enlameados também.
Os jovens costumam dizer: “Estou na fossa”. Uma fossa cheira mal. Mesmo
assim, devemos abraçar os que estão lá dentro, e dar-lhes a mão para que saiam.
E sempre, sem perder a paciência, mesmo que caiam mil vezes.
“Podes ir, e de agora em diante não peques mais.” Jesus não disse que a
mulher era inocente, nem fez pouco caso do erro dela. O que fez a diferença foi
que Jesus não a condenou por que ela errou, mas a abraçou por que ela errou,
para ajudá-la a se levantar e ser feliz.
Muitos chamam os que praticam crimes de “bandidos”. Esta palavra tem uma
conotação farisaica, porque quem a usa divide a sociedade em dois grupos: os
“bons”, entre os quais se coloca, e os que não são bons. Jesus condenou essa
divisão, pois colocou uma pedra nas mãos desses que se consideram “bons”. É
perigoso jogar pedras, porque elas podem voltar a nós.
Todos somos um pouco bandidos. Talvez os que tiveram boa formação e boa
família são mais bandidos do que os coitados e coitadas que nunca aprenderam o
caminho certo. “Eu sou pior do que ele ou ela”, é o que devíamos pensar com
humildade, ao ouvir falar de crimes e pecados. Se não chegamos a fazer aquilo,
é por pura graça e misericórdia de Deus.
A grande imprensa é como urubu: só procura carniça. E, ao se referir aos
que praticam os crimes, comporta-se exatamente como aqueles mestres da Lei e
fariseus. E quantos de nós vão na onda, pegando em pedras para apedrejar aquele
criminoso!
A Lei de Moisés, citada pelos mestres da Lei e fariseus, está em Dt
22,22s e em Lv 20,10. Segundo ela, a mulher adúltera devia ser apedrejada. Mas
não só ela, também o homem com quem ela adulterou (Cf caso da Susana, em Dn
13). Acontece que os fariseus, que eram machistas, aplicavam a Lei somente para
as mulheres.
A prostituição feminina é muito ligada à luta pela sobrevivência. A
sociedade pecadora compra tudo, até o corpo da mulher. “Não podeis servir a
Deus e ao dinheiro”.
Certa vez, uma jovem da roça, líder de uma Comunidade, foi fazer
tratamento médico numa cidade grande, onde ficou hospedada na casa de uma
família de parentes, durante alguns meses. As famílias católicas vizinhas, ao
saberem do seu trabalho de líder cristã, começaram a convidá-la para rezar o
terço em suas casas. Ela ouviu vários comentários negativos a respeito de uma
vizinha que morava sozinha. As pessoas diziam à moça: “Naquela casa ali mora
uma mulher que não presta!” Entretanto, a jovem, na sua prática pastoral, não
deu muita importância aos comentários, e procurou aproximar-se da tal “mulher que
não presta”. De início, aproveitava os momentos em que ela saía de casa, para
conversar. Dias depois, foi convidada pela mulher para ir à sua casa. A jovem
ouvia mais do que falava, porque percebia que a senhora sentia necessidade de
falar e de se abrir com alguém. Resultado: as duas ficaram amigas. A mulher
começou a participar dos terços, e acabou nos vizinhos aquele “estigma” de
“mulher que não presta”. Depois que a jovem voltou para a roça, ficou sabendo
que aquela mulher se transformou, tornando-se uma pessoa alegre e social.
O amor transforma as pessoas. O amor é tão necessário ao ser humano como
a água para o peixe.
Que Maria Santíssima, a imaculada, nos ajude a olhar para dentro de nós
mesmos, antes de atirar pedras!
Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma
pedra.
Padre Queiroz
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