DIA 16/03
Jo 7,40-53
Porventura o Messias virá da Galiléia?
Este Evangelho mostra que o povo estava dividido a respeito de Jesus:
uns achavam que ele era um profeta, ou até o Messias, e outros objetavam, pelo
fato de ele ser galileu. Também a cidade dele era vista com preconceito: “De
Nazaré pode sair algo de bom?” (Jo 1,46).
Preconceito, como a própria palavra diz, é um conceito formado
antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento da pessoa, baseado em
fatores externos a ela. É um prejulgamento. A pessoa preconceituosa baseia-se nas
aparências, e faz já o seu julgamento sobre a pessoa.
Entre nós, há preconceito entre Estados, entre cidades, entre pessoas
que têm a pele de outra cor, entre os que têm estudo e os que não têm, até
entre os que moram na cidade e os que moram na roça. Quanta gente sofre por
causa do preconceito!
Nós cristãos não devíamos ter preconceito de ninguém, pois o batismo nos
igualou a todos. “Vós todos sois filhos de Deus... Vós todos que fostes
batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo... Não há mais judeu ou grego,
escravo ou livre, homem ou mulher, pois todos vós sois um só, em Cristo Jesus”
(Gl 3,26-28).
O preconceito é um tabu difícil de combater, porque ele cega a pessoa.
Veja a resposta que deram a Nicodemos, que tentou combater o preconceito contra
Jesus. Nicodemos acabou sendo também atacado: “Também tu és galileu,
porventura? Vai estudar...”
O encontro do humano com o divino, na pessoa de Jesus, é paradoxal. É o
encontro do relativo com o absoluto, do imperfeito com o perfeito, do limitado
com o sem limites. A humanidade nunca entendeu nem entenderá o mistério de
Cristo, no qual aconteceu o encontro da humanidade com a divindade. Houve
épocas na história em que divinizavam tanto Jesus que sacrificavam a sua
humanidade, e houve épocas contrárias, em que humanizavam tanto Jesus que
sacrificavam a sua divindade.
Também a Igreja carrega em si esse paradoxo, pois ela é, ao mesmo tempo,
humana e divina, santa e pecadora. Há pessoas que querem fazer da Igreja um
grande movimento social agindo no mundo. Outro, ao contrário, a espiritualizam
demais, distanciando-a da vida humana e do dia a dia das pessoas. Inclusive os
que estão à frente da Igreja – bispos, padre, religiosos, lideres leigos – são
sempre objeto de críticas: uns querem que eles sejam mais inseridos na
sociedade, outros querem que sejam mais separados; uns querem que eles vivam na
sacristia, outros querem que eles vivam na rua.
O princípio que obriga a quem usa, pagar, não pode ser lido ao
contrário: “quem não paga, não usa”, ou ainda, “quem não pode pagar, não pode
usar”. Precisamos criar condições para que os que não têm dinheiro possam
também viver dignamente. Economia e vida.
Certa vez, um menino de uns sete anos estava na igreja matriz. Era uma
tarde ensolarada. O garotinho ficava na frente dos vitrais, na direção do sol,
para ver os santos dos vitrais refletidos na sua roupa. Uma senhora que estava
por ali achou a cena engraçada e perguntou ao menino: “O que você está
fazendo?” Ele respondeu: “Estou vendo o santo refletido na minha roupa”. A mulher
então perguntou: “O que é santo?” Ele disse, apontando para o vitral: “É aquele
ali, que deixa a luz do sol passar”.
Ser santo não é ser diferente dos outros. É viver na graça de Deus e
deixar que ela ilumine os que estão ao nosso redor. Ser santo é deixar a luz do
Sol, que é Deus, passar através de nós e refletir no mundo.
Maria Santíssima viveu numa sociedade que tinha vários preconceitos. Por
exemplo, contra a mulher, a qual tinha de ser caseira e não podia nem falar em
público. Ela, porém, passou por cima de todos os preconceitos. Que Maria nos
ajude a vencer os preconceitos e a entender o seu Filho como ele realmente é:
verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Porventura o Messias virá da Galiléia?
Padre Queiroz
Sábias Palavras!
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