12 de abril – sexta
SEXTA
FEIRA DO TEMPO PASCAL 12/04/2013
1ª
Leitura Atos 5, 34-42
Salmo
26(27), 4ab “Uma só coisa peço ao Senhor:é habitar na casa do Senhor todos os
dias de minha vida”
Evangelho
João 6, 1-5
"JESUS, O PÃO DOS POBRES"–
Diac. José da Cruz
Convoquei
meu grupo de “teólogos” para refletir esse evangelho da multiplicação dos pães,
pois com o evangelista João, todo cuidado é pouco, já que o seu escrito é
rebuscado e nem sempre o ensinamento é o que parece.. O “Mota”, que é
aposentado na área administrativa e auxilia a nossa secretaria, abriu um enorme
sorriso quando viu o texto “Está na cara que Jesus faz uma dura crítica ao
capitalismo, é preciso repartir o pouco que se tem, para matar a fome de todos,
sempre soube que esse Jesus é dos nossos....” concluiu Mota, que defende de
unhas e dentes o socialismo, e briga quando se fala sobre a CEBs. Neste
momento, o João Ernesto que trabalha de encarregado em uma grande empresa,
balançou a cabeça e respondeu “Olhe, se for prá discutir nessa visão, eu desisto,
o Mota pensa que só ele sabe de tudo”.
Calma
pessoal...- Intervi - Não vamos censurar o Mota, pois esse
evangelho realmente nos faz a olhar questão da fome, e se não tocarmos nesse
ponto, estaremos sendo omissos - comentei, tentando apaziguar os ânimos dos
debatedores que começaram bastante exaltados.
Em
uma visão bem simples, parece que o evangelho ensina que Jesus estando por
perto, ninguém vai passar fome. “Ué, mas não é isso? Tinha só cinco pães e dois
peixes, não ia dar nem pro cheiro, daí Jesus deu a bênção e mandou servir,
todos comeram a vontade e ainda sobrou...” – exclamou Maneco, ao que Dona
Maria, a doméstica, aparteou “Gente, isso me lembra um ditado popular, o pouco
com Deus é muito, mas o muito sem Deus é nada”.
“Vocês
ficam brabos quando eu falo em CEBs, mas é um trabalho onde se valoriza muito a
partilha e a comunhão de vida, exatamente como Jesus ensinou.” – retrucou Mota
com mais calma, sem intenção de disparar farpas.
“Eu
sei Mota, todos aqui sabem disso, mas é que você fala como se a CEBs
representasse a salvação do mundo, e isso não é verdade” respondeu Roseli,
nossa catequista, que continuou “A CEBs é uma eclesiologia, uma maneira de ver
as coisas, mas não é a única, no cristianismo existe uma essência que é o eixo
de tudo, perguntemos, por exemplo, qual a missão de Jesus entre nós, será que
foi para resolver o problema da fome que ele veio? E se foi, por que não
resolveu?”
Roseli
é muito inteligente e sabe como provocar o grupo, um rei que tivesse o poder de
multiplicar os alimentos e saciar a fome de uma multidão, estava de bom tamanho
para aquele povo, aliás, no final do evangelho é exatamente isso que quiseram
fazer, mas Jesus “pulou fora”. A Salvação que ele oferece não se restringe a
deixar o homem com a “barriga cheia”, saciado da fome material. É muito mais
que isso!
“Mas
a vida plena que ele veio nos dar, como diz em João, supõe o homem em sua
totalidade, inclusive com suas necessidades vitais onde a fome é uma delas” -
argumentou Mota. “Está certo, mas temos outras necessidades que não se
encontram por aí em supermercados, como os alimentos.”. - retrucou Roseli.
“Esse
João é um danado, escreveu uma coisa, mas no fundo está querendo dizer outra” –
comentou o Maneco em sua simplicidade, acertando na “mosca”. Os milagres
narrados por João são “iscas” para nos convencer de algo que está por trás de
cada um deles.
O
homem sempre terá necessidade de algo que lhe é essencial, e que somente Jesus
de Nazaré poderá lhe oferecer .Todos os problemas humanos, conseqüentes do
pecado, poderão de fato ser resolvidos, se o homem se dispuser a receber a
Salvação que Jesus oferece, então é exatamente nesse sentido que está o
ensinamento da multiplicação dos pães e peixes, Jesus apresenta o problema,
Filipe alega que não têm recursos para resolvê-lo, o irmão de Simão Pedro diz
que há um recurso, mas que ele é insuficiente em relação as necessidades da
multidão. Na vida em comunidade acabamos sendo influenciados pela sociedade
consumista que se move a partir do valor econômico, onde sempre é preciso ter
“muito” para poder ser feliz, se esse conceito fosse verdadeiro, apenas uma
minoria da população, considerada rica, seria feliz, mas sabemos que ao
contrário, há pessoas pobres, muito felizes com a v ida que têm, enquanto por
outro lado, há ricos infelizes, que as vezes recorrem até ao suicídio,
insatisfeitos com o que são e têm. Isso mostra o quanto tal premissa é enganosa
e falsa.
O
acúmulo de bens financeiros e patrimoniais nas mãos de poucos, é no fundo uma
tremenda ilusão, primeiro porque alimentam a mentira de que, com o dinheiro e a
riqueza a gente tem tudo, e em segundo, porque da noite para o dia toda essa
fortuna pode ir água abaixo se mal administrada, basta ver os grandes impérios
econômicos que ruíram, e no demais, no final da vida, o rico irá descobrir que
a morte o espera, para separá-lo eternamente de todos os seus bens, daí toda a
sua riqueza de nada valerá.
Já
os que são saciados pelo amor de Deus, manifestado na salvação que Jesus traz,
podem esperar muito mais, os doze cestos que sobraram prenunciam a vida plena
do novo povo de Deus, que se tornará perene -no exato momento em que, ao
término da existência terrena, tudo parece ser um trágico fim. Sou então
obrigado a concordar com a Dona Maria, que nos dizia lá no início da reflexão
“O pouco com Deus é muito, e ainda sobra para a vida nova que Jesus nos deu,
mas o “muito” que esta vida nos oferece, é nada, se a humanidade teimar em
menosprezar a Salvação, da qual somente Jesus, o Filho de Deus, é portador.
(17º. Domingo do Tempo Comum)
Nenhum comentário:
Postar um comentário